«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 29 de junho de 2019

Solenidade de S. Pedro e S. Paulo, Apóstolos – Homilia

Primeira leitura: Atos 12,1-11
Segunda leitura: 2 Timóteo 4,6-8.17-18
Evangelho: Lucas 9,18-24
Para ler as leituras, clique aqui.


TELMO JOSÉ AMARAL DE FIGUEIREDO
Padre da Diocese de Jales (SP) e Biblista
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SÃO PEDRO
Estátua postada diante da Basílica de São Pedro, no Vaticano

Dois apóstolos, dois sinais de contradição

            Neste 13º domingo do Tempo Comum, somos convidados a celebrar o martírio de dois grandes discípulos de Jesus: Pedro & Paulo. Sem nos esquecermos que este domingo é o «Dia do Papa», ocasião pela qual se realiza a coleta denominada «Óbolo de São Pedro».

            Interessante essa associação! Afinal, estamos diante de duas pessoas bem diferentes entre si.

            Pedro tinha um barco com outros homens ao seu serviço. Era o que, em termos atuais, poderíamos chamar de um microempresário do ramo da pesca, homem rude, simples, provavelmente analfabeto (At 4,13), habituado ao serviço braçal, ao esforço físico. Porém, um ser humano «habituado a reparar nos ventos, nas nuvens, nas correntes do lago e nos pequenos pormenores da ondulação, pois dessa qualidade dependia o seu sustento e por vezes a sua própria vida e a dos seus homens» (Fonte: http://www.estudos-biblicos.net/pedro.html). Portanto, apesar de simples, era um homem observador, talhado a tomar decisões rápidas, fisicamente robusto, bom nadador (cf. Jo 21,7).

            Paulo, segundo suas próprias palavras: «Eu sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas criado aqui nesta cidade [Jerusalém]. Como discípulo de Gamaliel, fui instruído em todo o rigor da Lei de nossos antepassados e tornei-me zeloso da causa de Deus, como vós o sois hoje. Persegui até à morte os adeptos deste Caminho, prendendo homens e mulheres e lançando-os na prisão. Disso são minhas testemunhas o sumo sacerdote e todo o conselho dos anciãos. Eles deram-me cartas de recomendação para os irmãos de Damasco. Fui para lá, a fim de prender todos os adeptos que aí se encontrassem e trazê-los para Jerusalém, a fim de serem castigados» (At 22,3-5). Portanto, Paulo era uma pessoa instruída, falava várias línguas (aramaico e grego, provavelmente, o latim) lia em hebraico, com certeza. Homem com o dom da oratória (cf. At 13,13-43: pregação em Antioquia da Pisídia, onde profere uma visão global da história do Povo de Deus).

            Pedro tinha mais familiaridade com pessoas de origem judia pela facilidade de comunicação e comunhão com os hábitos semelhantes (cf. At 8,14). No entanto, não se furtava a pregar e anunciar o Cristo aos pagãos (exemplo: At 10 – na casa de Cornélio; cf. At 12,18).

            Paulo, primeiramente provou converter os judeus ao cristianismo, mas como isso foi se tornando difícil e várias resistências foram surgindo, optou por priorizar a evangelização dos pagãos (cf. At 13,45-46). Realizou, ao menos, três grandes viagens missionárias (a datação é incerta, apenas como referência, tomei a cronologia da Bíblia de Jerusalém):
1ª. Anos 40-41; narrativa em At 13,1-14,28: dá-se uma abertura aos pagãos;
2ª. Anos 47-51; narrativa em At 15,36-18,22: o Evangelho entra na Europa e
3ª. Anos 52-57; narrativa em At 18,23-21,26: a Ásia Menor confirmada no cristianismo.

            Houve uma quarta e derradeira viagem, que foi aquela de sua prisão (mais ou menos nos anos 60 a 64/67 – cf. At 27,1-28,16).
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SÃO PAULO
Estátua postada diante da Basílica de São Pedro, no Vaticano
            Dirijamo-nos para as leituras deste domingo. Uma primeira constatação: tanto a primeira (At 12,1-11) como a segunda (2Tm 4,6-8.17-18) têm o cenário do cárcere como contexto de fundo. Pedro encontra-se aprisionado em Jerusalém, segundo Atos, por ordem de Agripa I, filho mais novo de Herodes, o Grande. Paulo, quando escreve a Timóteo, está em Roma, também em prisão domiciliar, aguardando seu julgamento definitivo. Portanto, ambos, Pedro e Paulo, sofrem as consequências de uma vida devotada à pregação do Evangelho de Jesus Cristo.

            No entanto, aquilo que nos é narrado nessas duas primeiras leituras contrasta grandemente. Vejamos.

            Na prisão, Pedro está adormentado (At 12,12,6), condição daquele que não está vigilante, como já havia ocorrido com ele no Getsêmani (cf. Lc 22,39-46 // Mt 26,36-46). Ao encontrar Pedro e os filhos de Zebedeu dormindo, Jesus lhes diz: «Não fostes capazes de ficar vigiando uma só hora comigo? Vigiai e orai, para não cairdes em tentação; pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca» (Mt 26,40-41). Essa era, também, a condição da Igreja naquele momento. Uma Igreja adormecida, acorrentada, fechada em seus temores e limitações. Em sua fraqueza, Pedro, mesmo após ter sido despertado pelo anjo (= Deus), pensa que tudo aquilo que está se passando com ele fosse uma visão, um sonho (At 12,9). O maior problema não é ser perseguido por causa do Cristo, mas não saber discernir a presença de Deus em nossa vida!

            Os comandos que o anjo dá a Pedro são todos no sentido de colocá-lo em posição de saída, de missão:
* «Levanta-te depressa!»;
* «Coloca o cinto e calça tuas sandálias!»;
* «Põe tua capa e vem comigo!» (At 12,7.8).

            Quando Pedro «cai em si», percebe que Deus estava o tempo todo com ele (At 12,11)! A grande tentação da Igreja é, justamente, não se dar conta de que Deus jamais a abandona! Não se dar conta que Deus jamais está do lado dos poderosos!

            A Igreja, os seguidores (= discípulos) que Cristo quer devem estar vigilantes, atentos aos sinais dos tempos, preparados para sair de suas prisões interiores, de sua zona de conforto e segurança!

            Já Paulo, em Roma, faz um balanço geral de sua vida, de sua atuação como missionário de Cristo e constata os êxitos que teve:
* «Combati o bom combate»;
* «completei a corrida» (= a minha missão);
* «guardei a fé»;
* «o Senhor esteve ao meu lado e me deu forças»;
* «Ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente...»;
* «... e ouvida por todas as nações»;
* «e eu fui libertado da boca do leão» (= venci minhas perseguições) – 2Tm 4,7.17).

            As palavras de Paulo ecoam confiança, segurança e a sensação da missão cumprida. Ele não é um convencido! Ele não é um orgulhoso! Ele não é um pretensioso! Mas alguém que, chegando ao final de sua vida, se dá conta que suas batalhas não foram em vão.

            Isso, somente, acontecerá àqueles que não se intimidarem diante do mundo, diante dos homens, diante dos inimigos do Evangelho. Como muito bem nos admoesta Jesus: «Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas são incapazes de matar a alma! Pelo contrário, temei Aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno!» (Mt 10,28).

            Nesses tempos de falsos messias, de manipulação descarada da fé do povo, do uso da religiosidade pelos poderosos, do crescimento do egoísmo, da aversão ao diferente, do ódio e da vingança; Pedro e Paulo são figuras que nos ajudam a discernir o bem do mal!

            Esses apóstolos nos ajudam a não nos intimidar diante das adversidades e perseguições de que são vítimas todos aqueles que preferem ser fiéis a Deus do que aos seres humanos! Como bem se expressou Pedro na segunda vez que foi obrigado a comparecer diante do Sinédrio: «É preciso obedecer a Deus antes que aos homens» (At 5,29).

            Não tenhamos receio de sermos, diante deste mundo, um «sinal de contradição», como nos estimulou o papa João Paulo II em uma de suas obras, antes de tornar-se cardeal.

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