sábado, 3 de julho de 2021

Solenidade do Martírio de Pedro e Paulo – HOMILIA

 Evangelho: Mateus 16,13-19 

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus. Naquele tempo: 13 Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos: «Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?» 14 Eles responderam: «Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; Outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas». 15 Então Jesus lhes perguntou: «E vós, quem dizeis que eu sou?» 16 Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo». 17 Respondendo, Jesus lhe disse: «Feliz es tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. 18 Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. 19 Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus».

Palavra da Salvação.

Alberto Maggi*

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

Não basta professar a fé, é preciso seguir o verdadeiro Messias 

O Evangelho deste domingo é Mateus capítulo 16, versículos 13 a 20, também muito importante para a história da Igreja. Qual é o contexto? Jesus advertiu seus discípulos do fermento dos fariseus, uma doutrina religiosa baseada no deus da lei, do sacrifício, do mérito, do puro e do impuro. Jesus quer que eles entendam que Deus é um pai que é somente AMOR. Para isso, ele os leva para o extremo norte do país - mesmo em terras pagãs - para Cesareia de Filipe, uma cidade que estava em construção, onde havia uma das três nascentes do rio Jordão e, acima de tudo, onde havia um grande abismo, uma caverna, que se acreditava ser a entrada para o reino dos mortos. 

Justamente nesse lugar, distante da influência dos fariseus, Jesus pergunta aos discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do homem?» E o evangelista contrasta o filho do homem - o homem que tem a condição divina - e os homens que não a têm. A resposta é decepcionante e a resposta é consequência da confusão que os discípulos têm em mente e da pregação que [os líderes religiosos] fizeram. Na verdade, eles falam de todos os personagens do passado, os grandes reformadores; alguns dizem que ele seja João Batista porque se pensava que os mártires ressuscitariam; outros pensam ser Elias, o famoso profeta que viria antes do Messias; outros Jeremias ou alguns dos profetas. Todas as respostas dizem respeito ao passado, eles não compreenderam a novidade de Jesus: são todos personagens que são reformadores das instituições, mas Jesus não veio para reformar as instituições, mas para eliminá-las. O que se acreditava permitir a comunhão com Deus, para Jesus, ao contrário, é o que a impedia. 

Então, Jesus pergunta: «E vós, quem dizeis que eu sou?» Simão Pedro responde por todos afirmando que «Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo». Finalmente, um dos discípulos, Simão Pedro, entende que Jesus não é filho de Davi, mas filho de Deus. O filho de Davi é aquele que se assemelha ao famoso rei Davi, que impôs o reino tirando a vida de seus inimigos, o filho de Deus é aquele que dará a vida até pelos seus inimigos. Portanto, Simão Pedro entende, mas veremos que essa compreensão não é plena [cf. Mt 16,21-23]! 

Jesus o elogia, chamando-o de «bem-aventurado» [feliz], é a bem-aventurança dos puros, daqueles que veem a Deus, e lhe diz: «Tu és Simão, filho de Jonas». Por que filho de Jonas? Quem é Jonas? Jonas é o único profeta que fez exatamente o oposto do que Deus lhe ordenou. Deus o havia ordenado a pregar a conversão a Nínive e Jonas foi para outro lugar; então, no final, ele se converte. Assim sendo, chamando-o de filho de Jonas, Jesus faz uma fotografia de Pedro para fazer as pessoas entenderem qual será seu itinerário, sempre em oposição a Jesus, mas ele finalmente se converterá. 

E Jesus afirma que foi o Pai quem lhe revelou isso. E aqui está um versículo muito difícil, mas não tanto pelo conteúdo quanto pelas traduções. Vejamos: «E eu te digo: Tu és Pedro» - Pedro é a tradução do termo grego «pétros» que indica uma pedra, um tijolo ou, em qualquer caso, algo adequado para uma construção. Prossegue Jesus: «e sobre esta pedra», e o evangelista usa o termo «petra» que não é o feminino de «pétros», mas significa rocha; um pouco como em português, se digo «o porto» e «a porta», não é que um seja masculino e o outro seja feminino. Então Jesus diz:

«Você é um tijolo, uma pedrinha, sobre esta pedra, sobre esta rocha que eu sou».

Jesus já tinha falado desta rocha, é aquela onde o homem constrói a sua casa e quando vêm as enchentes, os ventos, permanece firme [Mt 7,24-27 // Lc 6,47-49]. A rocha é a fé em Jesus ou o próprio Jesus, então, é importante essa distinção entre «pétros», que significa tijolo, e «petra», a rocha sobre onde construir. 

Uma vez que, finalmente, um dos discípulos compreendeu que ele é o Filho de Deus que comunica a vida, Jesus diz: «Eis que tu és o primeiro tijolo com o qual construirei, edificarei a minha igreja». A palavra grega «ekklesía» significa assembleia dos convocados. Continua a dizer Jesus: «E as portas dos infernos não prevalecerão sobre ela». O lugar [aonde Jesus profere essas palavras] é importante: dissemos que havia essa famosa caverna que se acreditava ser a entrada para o reino dos mortos; então, Jesus diz...

«Eis que as forças da morte nunca terão poder sobre uma comunidade fundada sobre o Deus vivo», a vida será sempre mais forte que a morte.

E Jesus continua: «Eu te darei as chaves do Reino dos Céus»; é útil lembrar que «reino dos céus» em Mateus não significa a vida após a morte, mas a sociedade alternativa que Jesus veio inaugurar. Essas chaves não são, tal como se transformaram no imaginário dos cristãos, como se Pedro tivesse as chaves com as quais ele abre e fecha, elas não são isso. Qual é o significado das chaves? Aquele, a quem eram entregues as chaves da cidade, tornava-se o responsável pela saúde e bem-estar das pessoas que moravam nela; este é o significado de ter as chaves. 

E então Jesus usa uma expressão típica dos rabinos: «... tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus». É a linguagem rabínica usada para indicar ensinar, interpretar a lei, declarando verdadeira ou não a doutrina. São os escribas que tinham as chaves da ciência.

Portanto, Jesus garante que uma comunidade que está fundamentada sobre a fé no Deus vivo e, por conseguinte, coloca o objeto da criação, o bem, o bem-estar do homem em primeiro lugar, o ensino dessa comunidade é avalizado [garantido] pelo céu.

* Traduzido do italiano e editado por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

As palavras que Jesus dirigiu a Pedro devem ser tomadas como referentes a todos os apóstolos e não, apenas, a uma pessoa em particular. Essa percepção já se observou, desde a Idade Média, uma vez que esse texto evangélico era utilizado nas missas de ordenação de bispos, durante todo o primeiro milênio cristão (Yves Congar). O que demonstra a consciência de que Pedro foi o porta-voz do grupo apostólico. 

Portanto, duas revelações claras podemos extrair do Evangelho deste domingo:

1ª) A Igreja tem consciência de ser “apostólica”, isto é, fundamenta-se sobre a fé transmitida pelos apóstolos de Jesus. Portanto, a Igreja é hierárquica, uma vez que o episcopado provém do “apostolado”.

2ª) A figura de Pedro se destaca no Novo Testamento. Por isso, é justo o argumento sobre o papel especial exercido pelo bispo de Roma, sucessor de Pedro, que é o Papa. Isso não fundamenta, obviamente, o tipo atual de organização e gestão que a nossa Igreja possui, fruto, muito mais, de fatores históricos pós-Novo Testamento (Igreja primitiva). 

Na Igreja, vai bem a distinção que já fazia o Papa São Gelásio I (492-496) entre “autoridade”, que corresponde aos Pontífices (papas), e “poder”, que é próprio dos imperadores. Na Igreja, todo o poder deve ser “serviço”, como fica evidente nas palavras de Jesus:

“Quem quiser ser o maior, no meio de vós, seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro, no meio de vós, seja vosso servo, da mesma forma que o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (Mt 20,26b-28; cf. Mc 9,35; Lc 9,48).

Portanto, no interior da Igreja, está sempre presente a tentação de assumirmos, muito mais, uma atitude de PODER do que de SERVIÇO! Por isso, é fundamental termos a resposta certa para a pergunta lançada por Jesus, no evangelho deste domingo: “E vós, quem dizeis que eu sou?”. Se não tivermos uma ideia certa do tipo de messias, do tipo de salvador que Jesus é, podemos cair na tentação de vários seguidores de Jesus que não conheceram quem ele era, de verdade. 

Esse foi o caso do próprio Pedro, que em Mt 16,21-23, converte-se em “pedra de tropeço” (grego: skandalon) de Jesus, ao querer desviá-lo do caminho que deseja percorrer para salvar a humanidade. 

Portanto, é oportuno perguntar-nos:

* Qual é a MINHA opinião sobre Jesus?

* Quem sou eu para Jesus?

* Pedro foi pedra em dois modos (que ajudou na edificação da Igreja e que desejava fazer Jesus tropeçar, desviar-se de seu caminho – Mt 16,18 e 16,23). Que tipo de pedra sou eu para os outros? Que tipo de pedra sou eu para a minha Igreja? Que tipo de pedra é a nossa comunidade?

* A partir de tudo isso, qual é a missão que temos? 

Oração após a meditação do Santo Evangelho

Amo-te, ó meu Deus, nos teus dons;

amo-te na minha nulidade,

porque também nesta compreendo

a tua infinita sabedoria;

amo-te nos acontecimentos múltiplos, variados e extraordinários,

com os quais acompanhas a minha vida...

Amo-te em tudo,

seja no trabalho, como na paz;

porque não procuro,

nem jamais procurei,

as tuas consolações;

mas a ti, Deus das consolações.

Por isso, jamais me gloriei

nem mi agradei,

daquilo que me fizestes provar

no teu Divino amor somente pela graça gratuita,

nem me angustiei ou fiquei perturbada,

se lançada na aridez e carência.

(Beata Teresa Scrilli, carmelita, Autobiografia, 62)

(Fonte: Anthony Cilia, O.Carm. (a cura di). Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno litúrgico A. Leumann (TO): Elledici, 2010, p. 503 – Traduzido por: Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo) 

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie – XXI    Domenica del Tempo Ordinario – 23 agosto 2020 – Internet: clique aqui (acesso em: 23/06/2021).

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