«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 6 de novembro de 2011

Destinatário desconhecido

José de Souza Martins *

Universitários da USP não sabem a quem dirigir sonhos e revolta: o endereço é difuso e está em toda parte, até no cenário bucólico do fumacê
A agitação estudantil na Cidade Universitária repõe na pauta das curiosidades da hora a questão cíclica da inquietação juvenil. Renova o interesse pelos rumos que nas novas gerações as minorias traçam para si mesmas e para a sociedade que as deu à luz e as amamentou até esses dias de impasse entre a condição de adolescentes e a condição de adultos. As tensões entre as gerações tornaram-se cíclicas e constituem uma das características desta pós-modernidade de rumos incertos e vacilantes.


Desde a clássica explicação que a essas crises deu Karl Mannheim, passando pelas análises de Marialice Foracchi e de Octavio Ianni, aqui no Brasil, sabemos que a rebelião dos jovens repousa primariamente na necessidade de dar sentido ao vazio que os separa da geração dos pais. Ianni demonstrou, em seu seminal estudo sobre O Jovem Radical, que as diferenças de inserção e de experiência social, às vezes numa mesma família, como em Rocco e seus Irmãos, de Luchino Visconti, conduzem a ações que vão do político ao criminal, opostas entre si.


É sempre complicado peneirar nesses espasmos de rebeldia a historicidade propriamente dita de ações que pouco diferem de uma curiosa terapia coletiva à custa do dinheiro público e dependem do suporte explícito de sindicato de funcionários públicos que não têm habilitação como terapeutas. Coisas dos filhos de uma classe média próspera, liberados das ansiedades próprias da busca do primeiro emprego. Filhos magoados, porque retardatários da história, que lamentam não ter vivido quando se desenrolaram os episódios supostamente decisivos da nossa contemporaneidade. Jovens que imitam o suposto passado dos pais para ser o que não são nem poderão ser, pois os tempos são outros, são outras as necessidades radicais que movem a história. Imaginando propor a negação da negação, ignoram que negação é superação determinada por mediações, que é preciso ser e saber para transformar e superar. A história não se repete senão como caricatura, disse o pai da ideia. São personagens da incerteza própria da transição e da busca.


Os estudos sociológicos sobre a juventude, nos últimos 60 anos, acrescentaram um fundamental capítulo ao nosso conhecimento da sociedade contemporânea, a dos conflitos administrados e das rebeldias politicamente impotentes. Até o século 18, as sociedades foram marcadas pelas revoluções camponesas de cunho disfarçadamente político. A decisiva Revolução Francesa, que anunciou ao mundo os novos valores da civilidade, centrados nas concepções de cidadania e dos direitos do homem, pegou carona na revolta popular dos parisienses que, no bairro de Saint Antoine, protestavam contra o preço iníquo do pão. Não foi o brioche de Maria Antonieta que a motivou; foi a padaria da esquina.


Nesse cenário de mudanças, o século 19 europeu foi marcado pela ascensão política da classe operária, mas também pela consolidação das contraideologias repressivas e pelas instituições de segurança do Estado. Mesmo a Revolução Russa, de 1917, não foi propriamente uma revolução operária. Foi uma revolução doutrinariamente operária, mas de fato uma revolução popular difusa.


Aqui, o proletariado se formou tarde e nunca se constituiu numa força política de classe suficientemente densa e organizada para se propor a disputa do poder em nome próprio. Até porque desprovido de doutrina que o iluminasse em relação às concretas e singulares condições históricas de um capitalismo de periferia. Aqui nos chegaram as doutrinas importadas, já eivadas de fragmentação e de dúvidas suscitadas por experiências históricas que eram bem diversas das nossas. O mais próximo que chegamos de uma revolução popular urbana, que remotamente lembra a Comuna de Paris, de 1871, foi a greve geral de 1917, em São Paulo. A greve mostrou que as elites não estavam preparadas para lidar com a conflitividade decorrente da industrialização. Um país em marcha para a industrialização, administrado por mentalidade de fazendeiro de café, educado nas premissas da escravidão.


Os anos 60 anunciaram, nos países ricos, que novos sujeitos políticos ocupavam o cenário até então ocupado pelas classes sociais e seus embates. Novos personagens pediam a palavra e passavam a protagonizar os conflitos próprios da nova era da pós-modernidade: as gerações, os gêneros. A revolução juvenil parisiense de 1968, que respingou aqui no Brasil sua mobilização intensa e romântica, anunciou o novo tempo das lutas fragmentárias dos recém-chegados à cena histórica e sua ação política inovadora. Com razão, queriam sonhar. Contrapunham-se à sociedade da coisificação, da confusão entre mercadoria e gente, entre coisa e pessoa. Mas, como agora aqui na USP, não sabiam o endereço do destinatário da revolta e do sonho pela simples razão de que o destinatário é difuso, está em todos os lugares, até mesmo e sobretudo no cenário bucólico e poluído do fumacê ao lado do prédio de História e Geografia, onde o sonho é cotidianamente comercializado por traficantes e mercenários.


* É SOCIÓLOGO E PROFESSOR EMÉRITO DA USP. AUTOR DE A POLÍTICA DO BRASIL LÚMPEN E MÍSTICO (CONTEXTO 2011).


Fonte: O Estado de S. Paulo - ALIÁS - Domingo, 6 de novembro de 2011 - Pg. J3 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,destinatario-desconhecido,795347,0.htm
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São apenas delinquentes mimados


Gilberto Dimenstein *


O que estamos vendo na USP não tem nada de político ou ideológico. É apenas delinquência. Não existe nenhuma causa. Não representa nem remotamente aquela comunidade universitária.


Aquele grupo que invadiu a reitoria imagina-se acima da lei e o ataque físico que fizeram contra os jornalistas apenas reforça a visão de que ali não há valores democráticos. Não respeitaram nem mesmo uma decisão da própria assembleia dos estudantes.


O que incomoda no caso da PM do campus não é a questão da autonomia universitária - como se um posto policial ferisse a autonomia universitária - mas a vontade de que, naquele espaço, não tenha ordem.


São como adolescentes mimados que querem fazer o que bem entendem sem limites.


Autonomia universitária é uma coisa. O que eles fazem com o dinheiro do contribuinte, danificando uma propriedade pública, é outra.


* Gilberto Dimenstein, 54, integra o Conselho Editorial da Folha de S. Paulo e vive nos Estados Unidos, onde foi convidado para desenvolver em Harvard projeto de comunicação para a cidadania.


Fonte: FOLHA.COM08/11/2011 - 09h11 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gilbertodimenstein/1003264-sao-apenas-delinquentes-mimados.shtml

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