«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

33º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

 Evangelho: Lucas 21,5-19 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Com a nossa perseverança salvaremos a nossa vida

Para compreender a passagem do Evangelho que vamos examinar agora, é necessário recorrer a um episódio ocorrido cerca de sete séculos antes, quando Senaqueribe, o poderoso rei da Assíria em 701 a.C., depois de ter incendiado 46 cidades, também sitiou Jerusalém e a cidade se viu perdida! Para grande surpresa, pela manhã, quando a batalha deveria começar, o acampamento de Senaqueribe estava deserto. O que tinha acontecido? Provavelmente o rei Ezequias havia pagado o seu tributo, mas a tradição pensava que Deus havia intervindo. Então isso levou os judeus a acreditar que, no momento de maior perigo para Jerusalém, haveria uma intervenção divina que a salvaria. Isso também foi celebrado nos Salmos, por exemplo no Salmo 46,6, onde lemos: “Deus está em seu meio”, de Jerusalém, “ela não se abalará”.

Bem, a passagem do evangelho que agora examinamos é o capítulo 21 de Lucas, dos versículos 5 ao 19; o contexto é posterior ao episódio da viúva (Lc 21,1-4), que oferece tudo o que tinha para viver ao templo.

E Deus não tolera uma instituição religiosa, em vez de socorrer os mais pobres, se faz manter pelos mais pobres, sugando realmente o sangue das suas veias. 

Lucas 21,5-6: «Quando alguns comentavam, a respeito do templo, que era enfeitado com belas pedras e ofertas votivas, Jesus disse: “Aquilo que admirais, dias virão em que não ficará disso pedra sobre pedra. Tudo será destruído”.»

O templo era uma das magnificências da época, havia começado a ser construído por Herodes, o Grande, com um esplendor inimaginável. O verbo grego usado significa “admirar”; portanto, os discípulos ainda não romperam com esta instituição, a qual admiram! No entanto, Jesus havia denunciado o templo como um covil de ladrões (Lc 19,46). É o que acontecerá, então, em 70 d.C., com o cerco dos romanos que vão minar toda esta maravilhosa construção. 

Lucas 21,7-8: «Eles, porém, perguntaram: “Mestre, quando será, e qual o sinal quando isso irá acontecer?” Ele respondeu: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’, e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não andeis atrás deles!»

Assim, diante do anúncio da destruição do templo de Jerusalém, os discípulos não só não parecem assustados, mas quase excitados! Exatamente por quê? Porque eles sabiam que no momento de maior perigo Deus interviria em defesa. Mas, para Jesus, Deus não intervém. Qualquer instituição que, em vez de ajudar a pessoa, a demole, a destrói, não está no plano de Deus e, portanto, só merece desaparecer. E Jesus responde, empregando o imperativo: “Cuidado para não serdes enganados!” Haverá um tempo em que muitos alegarão ter mensagens divinas, ser um messias, para fazer o quê? Para restaurar o reino de Israel. O reino de Israel está extinto.

Jesus não veio para reviver o reino de Israel, mas para inaugurar o Reino de Deus. 

Lucas 21,9: «Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que essas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”.»

E Jesus, usando a linguagem típica dos profetas ao descrever as grandes convulsões de época, fala: “Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados”. A mensagem de Jesus não é, de forma alguma, uma mensagem que cause medo; tanto que no versículo 28, que não consta da passagem evangélica deste domingo, o evangelista escreve que Jesus diz: “Quando essas coisas começarem a acontecer, reerguei-vos e levantai a cabeça, porque está próxima a vossa libertação”. Portanto, não é uma mensagem que pretenda aterrorizar, mas é o anúncio de uma libertação, uma libertação que, no entanto, infelizmente não será indolor: “É preciso que essas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”. 

Lucas 21,10-11: «Jesus lhes dizia: “Há de se levantar nação contra nação e reino contra reino. Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em vários lugares; acontecerão coisas pavorosas, e haverá grandes sinais no céu.»

É a imagem do que vem de repente, o terremoto e toda guerra traz a fome, a peste. Jesus diz: “acontecerão coisas pavorosas, e haverá grandes sinais do céu”, não no céu, “do céu”; todos os fenômenos do céu, dos relâmpagos ao granizo, foram vistos e interpretados como sinais divinos. Pois bem, tudo isso fará parte desse processo de libertação por parte da humanidade.

Todo poder, baseado na dominação, na exploração das pessoas, especialmente em nome de Deus, está destinado a desaparecer. 

Lucas 21,12-19: «Antes disso tudo, porém, vos prenderão e perseguirão, vos entregarão às sinagogas e aos cárceres, e sereis conduzidos à presença de reis e governadores por causa do meu nome. Será a ocasião para dardes testemunho. Determinai não preparar a vossa defesa, porque eu vos darei palavras e sabedoria a que não poderão resistir ou contradizer todos os vossos adversários. Sereis entregues até pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. A alguns de vós matarão. Sereis odiados por todos, por causa de meu nome, mas nem um só fio de cabelo cairá da vossa cabeça. Por vossa perseverança salvareis a vossa vida!”»

Por que a adesão a Jesus por parte dos seus discípulos com a radical subversão de valores é um crime tão grave que consegue atrair o ódio de alguém? Daquelas instituições sagradas que foram a base da sociedade: Deus, pátria e família. Pois bem, Jesus denuncia que estes, que eram considerados valores sagrados, são na realidade valores diabólicos porque são contrários e inimigos do plano do Criador para a humanidade. E, aqui, está Jesus que diz: “vos entregarão às sinagogas”, portanto à religião; “aos cárceres e sereis conduzidos à presença de reis e governadores”, isto é, à nação, à pátria. Mas Jesus chega a dizer: “Sereis entregues até pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. A alguns de vós matarão. Sereis odiados por todos, por causa de meu nome”. O que isso significa? Deus, pátria e família são os três âmbitos onde o poder absoluto é exercido:

* o poder de Deus através da instituição religiosa,

* o poder do rei ou governantes na pátria e

* também na família, onde o homem/macho era o senhor absoluto dos membros, da esposa aos filhos. Pois bem, Jesus veio para denunciar esses valores que não são sagrados, mas são satânicos e os substituiu.

Em vez de Deus falará de Pai, se em nome de Deus se pode tirar a vida de alguém, em nome do Pai só se pode dar a própria; invés de pátria a substituirá pelo Reino de Deus, ou seja, aquele espaço sem fronteiras, sem muros, sem limites, onde todos podem ser acolhidos. E mesmo a família será substituída por Jesus por uma comunidade de ideais, não mais ligada pelo valor do sangue, mas pelo próprio ideal do amor. Portanto, ao poder, Jesus substitui os três valores sagrados que são distintos pelo amor generoso que se coloca ao serviço dos outros

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021.

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“Quando o poder do amor superar o amor pelo poder, o mundo conhecerá a paz.”

(Jimi Hendrix [1942-1970] – guitarrista, cantor e compositor norte-americano)

Uma coisa é certa: Jesus sempre foi um crítico do sistema religioso israelita fundamentado, sobretudo, no templo de Jerusalém, para onde acorriam os fiéis, ao menos uma vez por ano, a fim de fazer realizar os seus sacrifícios, penitenciar-se e ficarem “de bem” com Deus. Por que Jesus era crítico desse tipo de religião? Muito simples, porque toda a religiosidade israelita era centrada no bom relacionamento com o templo, fundamentado em rituais e tradições. Enquanto, Jesus veio inaugurar um novo modo de relacionar-se com Deus, o seu Pai, precisamente, a boa relação com os demais seres humanos: “todas as vezes que fizestes isso [matar a fome, saciar a sede, acolher o forasteiro, vestir o maltrapilho, cuidar dos doentes e visitar os prisioneiros] a um destes mínimos que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25,40). 

O que é fundamental para Jesus não é se as pessoas são fiéis aos ritos, às tradições religiosas, à visita ao templo e aos seus sacrifícios! O tratamento, o cuidado, o amor e atenção que dispensamos uns aos outros, fazendo-nos próximos àqueles que necessitam é o que mais conta para Jesus! Por isso, as autoridades que dirigiam o templo e dele se aproveitavam não podiam tolerar essa atitude de Jesus. No julgamento religioso que ele sofreu no Sinédrio, a acusação mais grave era sobre a sua pretensa intenção de destruir o templo (Mc 14,58). Na realidade, o que Jesus anunciou não foi a destruição da religião, simbolizada pelo templo de Jerusalém, mas a transformação dela! 

Essa passagem do Evangelho é, para nós, motivo de esperança! Sim, Jesus não deseja assustar e amedrontar os seus seguidores de ontem e de hoje! As crises que o mundo enfrenta são ocasiões especiais para o testemunho dos cristãos (cf.: Lc 21,13). No entanto, Jesus é realista! Ele constata que os cristãos sofrerão perseguições, calúnias, julgamentos, prisões e, até mesmo, morte (cf.: Lc 21,12.16-17). Porém, tudo isso faz parte de um processo de libertação! Libertação dos poderes deste mundo que não comungam com o Reino de Deus! 

A sociedade atual é pródiga em:

* concentrar as riquezas em pouquíssimas mãos;

* privilegiar e premiar mais o dinheiro especulativo aplicado em bolsas de valores, títulos bancários, papéis, criptomoedas etc., do que o capital produtivo, aplicado na geração de empregos e conhecimento;

* contribuir para produzir um exército de desocupados, fomentando um desemprego crônico, que frustra a vida de milhões de pessoas;

* produzir uma massa imensa de seres humanos famintos, miseráveis e sem o mínimo de dignidade;

* destruir a natureza a fim de manter uma produção, cada vez mais, intensa e supérflua;

* gerar a emergência climática que vivemos, ameaçando a sobrevivência de bilhões de seres humanos e espécies animais e vegetais por todo o planeta;

* provocar guerras, conflitos e violência que obriga milhões de famílias a se deslocarem e deixarem suas terras, casas e, até mesmo, países;

* alienar as pessoas, estimulando o consumo de álcool, drogas, jogos eletrônicos, fumo e tudo aquilo que vicia e serve para distrair a mente daquelas pessoas deprimidas pela vida que levam;

* a lista é longa e poderia prosseguir, mas isso já basta!

Diante dessa realidade, interroguemo-nos sobre as nossas atitudes:

a) “Assumimos posições responsáveis, despertando em nós um sentido básico de solidariedade, ou estamos vivendo de costas a tudo aquilo que possa disturbar a nossa tranquilidade?

b) O que fazemos a partir de nossos grupos e comunidades cristãs?

c) Estabelecemos uma linha de ação generosa ou vivemos celebrando nossa fé à margem do que está acontecendo?” (José Antonio Pagola)

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Bom Deus, cujo reino é todo amor e paz, cria em nossa alma aquele silêncio que é necessário para que tu te comuniques a ela. Agir com calma, desejo sem paixão, zelo sem agitação: tudo isso só pode vir de ti, sabedoria eterna, atividade infinita, repouso inalterável, princípio e modelo de verdadeira paz. Tu nos prometeste esta paz pela boca dos profetas, tu a fizeste vir por meio de Jesus Cristo, tu nos deste a garantia com o derramamento do teu Espírito. Não permitas que a inveja do inimigo, a perturbação das paixões, os escrúpulos da consciência nos façam perder este dom celeste, que é o penhor do teu amor, o objeto das tuas promessas, a recompensa do sangue do teu Filho. Amém.»

(Fonte: Santa Teresa de Jesus, Vida 38,9-10) 

Assista ao vídeo com a íntegra da homilia acima, clicando sobre esta imagem: 


Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – XXXIII Domenica del Tempo Ordinario – Anno C – 17 novembre 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 08/11/2022).

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