«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Por que somos pobres ? ? ?

Afinal, por que é que o Brasil nunca deixa
de ser pobre?

Felippe Hermes

Porque o único caminho para enriquecer é diluir a concentração
de poder político-econômico. E o que fazemos é justamente o contrário 
Sem esgoto e sem água tratada, boa parte da população brasileira vive sem as mínimas condições de saúde

Mais de 40 milhões de brasileiros moram em residências sem acesso a água potável, mesmo estando no país com as maiores reservas de água doce do mundo. Em um terço dos 1.444 municípios do semi árido nordestino, mais de 10% das crianças sofre de desnutrição – no país que mais produz proteína animal no planeta.

Mergulhando um pouco mais na história brasileira, não é difícil perceber que riquezas naturais e qualidade de vida para a população não são necessariamente coisas que andam lado a lado. Nosso imenso potencial tem feito justamente o contrário, nos ajudando a empacar em uma nada agradável 80ª posição mundial quando o assunto é a riqueza produzida por cada cidadão. Não faz sentido. Lendo a próxima página, no entanto, você vai entender os porquês.

Primeiro, vamos rebobinar a fita da história até o século 17. Na época, o Brasil e as colônias britânicas que viriam a formar os Estados Unidos já representavam polos antagônicos na economia mundial, mas na posição inversa da de hoje. 
No Brasil-Colônia e Império, o país vivia do plantio e colheita de um só produto,
primeiro a cana, depois o café

Por aqui, produzíamos a maior riqueza conhecida na época, a cana de açúcar, que foi capaz de tornar Recife uma das cidades mais ricas do mundo. Nas colônias da América do Norte não havia um clima propício para a cana. A solução, então, foi improvisar. Primeiro, elas se tornaram um grande fornecedor de alimentos e animais de tração para as ilhas caribenhas que disputavam a produção de cana com o Brasil – já que nessas ilhas todo o território se destinava à produção de açúcar.

Aí que as coisas começaram a se desenhar. Enquanto nós e os caribenhos caíamos de cabeça na monocultura de cana, a América do Norte usava o ouro que recebia das Antilhas para criar variedade na agricultura, na pecuária, na pesca. Tudo num círculo virtuoso capaz não só de distribuir melhor a riqueza, como de criar mais riqueza. Da necessidade cada vez maior de barcos de pesca, por exemplo, surgiu uma indústria naval que logo passaria a vender embarcações para as potências europeias.

No Brasil, acontecia justamente o contrário. A cana enriquecia meia dúzia de senhores de engenho, e essa renda permanecia concentrada. Em vez de regar outros setores da economia, acabava reinvestida em mais monocultura. E seguimos assim até o século 20. Agora, o café era a nova cana. Fora isso, pouco havia mudado.

A concentração de renda na economia fomentou a concentração de poder na política. Nisso, a república brasileira consolidou-se como uma sociedade extrativista, na qual esse pequeno grupo se alimentava do poder político para manter inabalado seu poder econômico, dificultando qualquer forma de inovação ou de empreendedorismo.

Lá fora, por outro lado, a diversificação dos negócios diluiu tanto o poder econômico como o político, e a inovação ganhou um papel relevante. “Inovação”, aliás, já virou uma palavra vazia, de tão mal usada. Então vamos aqui para um exemplo clássico. No Brasil, construímos nossas ferrovias com o intuito de escoar o café. Nos Estados Unidos, a malha ferroviária desenvolveu-se num primeiro momento para transportar a produção de alimentos. Num segundo, para escoar petróleo, popularizado por John D. Rockfeller na segunda metade do século 19 (ainda como fonte de energia para lâmpadas de querosene, não para carros). E aí veio uma inovação de fato: tendo de pagar cada vez mais aos donos das ferrovias, John D. Rockfeller decidiu construir oleodutos. Aos donos das ferrovias, coube buscar novos clientes. E aí aconteceu uma inovação ainda mais importante.

As ferrovias acabaram fomentando o comércio à distância, que também estava nascendo no final do século 19. Resultado: cem anos atrás, um americano típico já conseguia mobiliar a casa toda comprando produtos por catálogos, mesmo que morasse em uma cidade afastada. Numa cajadada só, isso bombou a demanda e a oferta de todo tipo de produto. Ou seja: ao mesmo tempo em que atiçava o comércio, isso diluía ainda mais o poder econômico – e, com ele, o poder político.

Como virar o jogo?

Para que a sua economia cresça você precisa unir:
* trabalho (população),
* capital (máquinas, terras, equipamentos) e
* tecnologia (educação).
A concentração de poder econômico e político joga contra os dois últimos fatores. É que ela gera aquilo que o pessoal da economia chama de “instituições extrativistas”. Estamos falando em leis escritas por quem se beneficia dessas mesmas leis, em governos que, via impostos, fazem com que os pobres banquem privilégios dos ricos, em uma educação que só atende um pequeno grupo de privilegiados.

Tais instituições aniquilam a educação e dão um tiro de carabina no empreendedorismo. Ou seja: o capital continua fixo nas mãos da meia dúzia de sempre, além de perdermos a capacidade de produzir tecnologia.

Na prática, isso explica por que um americano médio produz quatro vezes mais riqueza que um brasileiro, ou por que alcançaremos apenas em 2026 a mesma produtividade que cada cidadão americano tinha no início da década de 1960.

Pudera. Em termos proporcionais ao PIB, investimos três vezes menos em educação básica do que a média dos países ricos, ao mesmo tempo em que gastamos mais do que a média em ensino superior. Na prática, seis em cada dez alunos que entrem hoje na Universidade de São Paulo (USP) estão entre os 20% mais ricos da população.

Ainda que de maneira invisível, fomentamos a manutenção da desigualdade e o extrativismo de renda de formas que vão bem além do furto que você sofre todos os dias ao pagar impostos para financiar Joesley Batista e cia.
Colheita de soja - continuamos a ser exportadores de produtos agrícolas e de baixo custo

Vendedores de matéria-prima

Tudo isso ajuda a explicar por que os grandes produtos de exportação do Brasil sejam:
* soja,
* minério de ferro,
* petróleo cru,
* carne,
* café e
* açúcar,
enquanto os dos Estados Unidos são:
* aviões,
* medicamentos,
* circuitos integrados.
Ainda que não nos consideremos mais um país agrário, mantemos instituições idênticas às dos nossos tempos de colônia, moldadas para perpetuar problemas.

Enquanto a nossa EDUCAÇÃO for uma piada;
nossos IMPOSTOS, uma forma de transferir renda dos pobres para os ricos,
e boa parte dos NOSSOS POLÍTICOS, meros capachos de grandes empresas, não vai ter outro jeito: seguiremos na mesma,
como um país desigual que vive para exportar matéria-prima.

Vai um caldo de cana?

Fonte: Super Interessante – Essencial – Edição 378 – Agosto de 2017 – Págs. 12-13 – Internet: clique aqui. 

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