«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Solenidade de N.S. Jesus Cristo, Rei do Universo – Ano A – Homilia

 Evangelho: Mateus 25,31-46 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Quem se fecha para a vida se amaldiçoa

No Evangelho de Mateus que comentamos, capítulo 25, versículos 31 a 46, é relatado o último ensinamento importante de Jesus. Para este ensinamento, Jesus se refere a uma imagem conhecida no mundo judaico e que encontramos no Talmud onde lemos que «na vida após a morte, o Santo, bendito seja ele, pegará um rolo da Torá, a Lei, colocará entre os joelhos e dirá: “Quem se ocupou disso, venha receber a sua recompensa”».

Pois bem, Jesus toma esta descrição como modelo, mas muda o seu conteúdo. O que determina a realização do indivíduo não é a relação que terá tido com a lei, com Deus, mas o comportamento, a relação que terá tido com as outras pessoas. Por que isso? Com Jesus, Deus – como Mateus descreve no início do seu evangelho – é o Deus conosco. Então, com Jesus, a direção da humanidade não é mais para Deus, mas com Deus e como Deus para com os homens.

O Deus de Jesus nunca perguntará se você acreditou nele, mas se você amou como ele!

Mateus 25,31-33: «Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.»

Vejamos então o ensinamento de Jesus: Jesus apresenta-se como o Filho do Homem que aparece na sua glória e divide os povos pagãos. Não é um julgamento universal. Israel já foi julgado neste evangelho, é o julgamento daqueles que não conheceram a Deus.

Assim como o agricultor distingue os frutos bons dos frutos podres, assim como o pescador, neste Evangelho, soube distinguir os peixes bons e descartar os podres, assim o Senhor reconhece imediatamente aqueles que orientaram a sua vida para o bem dos outros

Mateus 25,34-36: «Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’.»

Ele os abençoa porque foram eles que realizaram o plano de Deus para a humanidade. E, depois, elenca seis ações de carência, de sofrimento, de necessidade por parte da humanidade com as respostas que foram dadas.

Destas seis ações nada diz respeito à atitude perante a religião, nada diz respeito ao comportamento para com Deus, mas sim para com as necessidades dos necessitados da humanidade.

O que permite a vida eterna não é, portanto, o comportamento religioso, mas o comportamento humano.

O que se destaca nessas seis situações é o encarcerado. “Eu estava na prisão e viestes me visitar.” Naquele tempo, o preso não despertava compaixão, não despertava piedade, mas apenas desprezo. Ir visitar um preso também significava alimentá-lo, já que os carcereiros certamente não forneciam sua alimentação. 

Mateus 25,37-40: «Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’ Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’»

A surpresa é a reação dessas pessoas a quem Jesus disse que lhe fizeram todas essas coisas: “Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, etc.” Pois bem, a resposta de Jesus: “Em verdade vos digo: tudo o que fizeste a um destes meus menores irmãos...” Quem são os menores irmãos? São as pessoas invisíveis da sociedade, são os necessitados, os marginalizados, os excluídos. Bem, Jesus considera isso feito a ele.

Isto não significa que devemos amar os outros por Jesus, mas amá-los com Jesus e como Jesus.

Mateus 25,41-43: «Depois o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. Pois eu estava com fome e não me destes de comer; eu estava com sede e não me destes de beber; eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não fostes me visitar’.»

E aqui está o outro lado da moeda. “Depois o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos!’” É importante sublinhar isto. Enquanto, anteriormente, Jesus chamou os justos de “bem-aventurados por meu Pai”, aqui, ele declara “amaldiçoados” os injustos, mas não por seu Pai; Deus não amaldiçoa, Deus só abençoa! Esta maldição – é a única vez que aparece no Evangelho – recorda a primeira maldição da Bíblia, no livro do Gênesis, lançada contra Caim, que assassinou o seu irmão (cf. Gn 4,11).

Então Jesus é muito severo. Não oferecer ajuda, não responder às carências básicas, ao sofrimento e às necessidades dos outros equivale a homicídio! Eles não são amaldiçoados por Deus, mas o seu egoísmo, o seu fechamento às necessidades dos outros, faz com que se amaldiçoem!

Quem se fecha para a vida se amaldiçoa.

Ide para o fogo eterno”, fogo eterno significa aquilo que tudo destrói, “preparado para o diabo”. É a última vez, neste evangelho, que o diabo aparece em sua destruição final, significa sua derrota definitiva porque termina no fogo eterno que tem a imagem daquilo que tudo destrói, “e seus anjos”, ou seja, seus emissários, aquelas pessoas que se tornaram instrumentos de morte. Jesus não repreende estas pessoas por terem feito algo de mau, mas por se tornarem instrumentos de morte porque não fizeram o bem em ocasiões de necessidade, em ocasiões de sobrevivência. 

Mateus 25,44-45: «E responderão também eles: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro, ou nu, doente ou preso, e não te servimos?’ Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!’»

Estes também respondem – e o fazem resumindo todas as situações de sofrimento da humanidade, a fome, a sede, mas é interessante o final:e não te servimos?Os justos não dizem isso! Obviamente, estes acreditam que serviram ao Senhor, que o serviram na liturgia, no culto, não compreenderam que, com Jesus, Deus não pede para ser servido, mas ele que é Deus se coloca ao serviço da humanidade para que os homens, com ele e como ele, se coloquem a serviço dos outros.

Em verdade eu vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!” Portanto, mais uma vez, o que determina o sucesso na vida e o comportamento de uma pessoa não é o relacionamento que se teve com Deus, mas o relacionamento que se teve com os outros.

Quando nos fechamos aos outros, fechamo-nos a Deus!

Mateus 25,46: «Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna”.»

E aqui está a sentença de Jesus:estes irão para o suplício eterno”. Esta é uma imagem tirada do livro do profeta Daniel, capítulo 12, versículo 2, que significa o fracasso definitivo da própria vida. O termo traduzido como “suplício”, em grego significa “mutilar”. O castigo, portanto, não é devido ao Pai, mas foram eles próprios que se puniram, pois a sua vida é mutilada, uma vida que não atingiu a sua plenitude.

Portanto não se trata de um castigo, mas de um fracasso total, que no Apocalipse será definido como “segunda morte” (Ap 20,14). Mas o evangelho termina com uma imagem positiva:os justos irão para a vida eterna”. Quem viveu fazendo o bem, comunicando vida a quem precisava, realizou a sua existência e, sobretudo, cumpriu o plano de Deus para a humanidade. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«Filhinhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas com ações e em verdade!»

(1João 3,18)

Se alguém, ainda, tivesse alguma dúvida, neste Evangelho Jesus deixa claríssimo uma verdade absoluta: não é a religião que salva, mas o amor vivido, concretamente, em favor dos necessitados e marginalizados deste mundo! É chocante constatar que Jesus não menciona nem mesmo um único item religioso entre os critérios que serão levados em conta na avaliação de nossa vida nesta terra!

Com isso, todos os critérios humanos de sucesso, realização e êxito na vida caem por terra! Afinal, o que “dá um valor imperecível à vida não é o status social, o talento pessoal ou o sucesso alcançado ao longo dos anos. O decisivo é o amor concreto e solidário aos necessitados de auxílio” (J. A. Pagola).

Da mesma forma, ficam relativizadas todas as práticas devocionais e religiosas, pois de nada vale frequentar igrejas, sacramentos, celebrações, novenas e buscar observar doutrinas, preceitos e mandamentos se a nossa vida concreta não for a manifestação do serviço em favor dos mais necessitados deste mundo.

Desse modo, o pobre, o despossuído, o esquecido, o marginalizado é posto no lugar de “sacramento” (sinal) da presença de Deus! Isso mesmo, e não estou exagerando! Quem desejar duvidar disso, ouça o que diz o próprio Cristo:

“Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25,40).

 Uma vez que Cristo é o sacramento original, o sacramento radical, pois Jesus, o Messias, é o Filho de Deus. Isso significa dizer que Cristo é Deus de uma maneira humana, e homem de uma maneira divina. Por isso, o Deus invisível e inacessível se faz visível e próximo em Jesus:

“Quem me viu, viu o Pai... Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim?” (João 14,9b.10a).

Portanto, “Jesus pode ser considerado o sacramento por excelência, na medida em que é a única realidade que pode expressar plenamente o que Deus é (cf. Jo 1,18), e na medida em que só ele pode assumir plenamente o que no homem tem ou pode ter de experiência de Deus” (J. M. Castillo). Sendo assim, quando Cristo se reconhece na pessoa do pobre, do sofredor, do invisível, ele os eleva à categoria de “sacramento-símbolo” como ele o é do Pai, ou seja, de Deus.

Quem não frequentar e apoiar esse sacramento, que é o pobre, não terá lugar ao lado de Deus em seu Reino! 

Oração após a meditação do Santo Evangelho

 «Senhor Deus, tu fizeste de teu Filho Jesus rei e juiz universal. Ele virá no fim dos tempos para julgar todas as nações. Ele vem até nós todos os dias de mil maneiras e nos pede para acolhê-lo. Nós o encontramos na Palavra e no pão partido. Mas também o encontramos, especialmente, nos irmãos partidos e desfigurados pela fome, pela opressão, pela injustiça, pela doença, pela culpa da sociedade... Abre os nossos corações para poder acolhê-lo no hoje da nossa vida, para sermos acolhidos por ele na eternidade do seu Reino. Pedimos-te isto pelo próprio Cristo, nosso Senhor. Amém.»

(Fonte: VELLA, Alexander, O.Carm. 34ª Domenica: Gesù Cristo Re dell’Universo: orazione finale. In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno liturgico A. Leumann [TO]: Elledici, 2010, p. 612.)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – 34ª Domenica del Tempo Ordinario – Cristo Re – Anno A – 22 novembre 2020 – Internet: clique aqui (Acesso em: 21/11/2023).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.