«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

4º Domingo do Advento – Ano B – Homilia

 Evangelho: Lucas 1,26-38 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas)

 

Deus sempre realiza o seu plano, cabe a nós acolhê-lo e colaborar com ele

O anjo Gabriel, cujo nome significa “a força de Deus”, falhou em sua primeira missão. Ele havia sido enviado para a Judeia, região que leva o nome de Judá, o progenitor das doze tribos. Nesta região, ele foi enviado a Jerusalém, a cidade santa; na cidade santa, ele foi enviado ao templo, o lugar mais sagrado, e foi enviado para levar um anúncio a um sacerdote chamado Zacarias, que pertencia às dez primeiras importantes classes sacerdotais. Um sacerdote casado com a nata da aristocracia religiosa de Israel, com Isabel que é neta de Aarão, ou seja, irmão de Moisés. Esse sacerdote foi escolhido para o momento mais importante e solene da sua vida, o qual só poderia acontecer uma vez, ou seja, oferecer incenso ao Senhor. Deve anunciar a este sacerdote algo que na história daquele povo, tinha dado origem à história de Israel, e havia acontecido muitas vezes, isto é, uma mulher estéril dar à luz um filho.

E é precisamente no livro do Gênesis que, quando há este anúncio a Abraão e Sara, o Senhor diz: “Existe alguma coisa impossível ao Senhor?” (Gn 18,14a). Então Zacarias tinha que saber e Zacarias não acredita, não confia e torna-se mudo (cf. Lc 1,18-20); porque...

... quando você não escuta a palavra do Senhor, você não tem mais nada a fazer!

Pois bem, agora o pobre Gabriel tem uma missão ainda mais árdua, uma missão impossível e difícil, porque ele tem que propor a uma moça que seja uma autêntica blasfêmia, que tenha um filho de Deus. Sabemos, pelo evangelho, quando Jesus admite que é o Filho de Deus, o sumo sacerdote o que faz? Ele rasgou suas roupas, exclamando: “Ele blasfemou” (cf. Mc 14,63-64). 

Lucas 1,26: «Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré,»

Ele começa dizendo: “Quando Isabel estava no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia”. As coisas já estão se complicando por aqui: justamente na Galileia? A Galileia era uma região turbulenta ao norte do país, habitada por arruaceiros, gente rude, gente violenta. Na época de Jesus, dizer “galileu” não indicava alguém vindo daquela região, indicava um indivíduo beligerante. Um historiador da época, Flávio Josefo, escreveu: “Os galileus são briguentos desde tenra idade”. Era a terra dos revolucionários; recorde-se da famosa revolta de Judas, o Galileu, que se voltou contra os romanos e terminou num banho de sangue. Esta região não tinha nome; foi o profeta Isaías quem a nominou, com desprezo, no capítulo 8 do seu livro como “o distrito dos gentios”, isto é, dos pagãos (cf. Is 8,23). “Distrito”, em hebraico, é ghelil (fonético), daí o termo Galileia.

Chamada Nazaré”: as coisas também não vão bem aqui! Quem conhece esse lugar? Nazaré nunca foi mencionada em nenhum lugar da Bíblia; não só é uma cidade desconhecida, mas também tem má reputação. Há um dos discípulos, Natanael, que recebe um lindo elogio de Jesus: “Aqui está verdadeiramente um israelita em quem não há falsidade”, ora Natanael comentou, um pouco antes desse elogio: “Pode vir alguma coisa de bom de Nazaré?” (Jo 1,46.47). Foi o covil dos revolucionários, dos terroristas da época, dos zelotas, daqueles que zelosamente se voltaram contra os romanos. 

Lucas 1,27: «a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da virgem era Maria.»

Então vemos que o caminho é todo difícil e há, ainda, mais uma surpresa: a quem se destina a mensagem de Gabriel? A uma moça chamada Maria; mas por que justamente este nome Maria? Maria é um nome que aparece apenas uma vez na Bíblia e depois não aparece novamente porque evoca a maldição de Deus. Era um nome que trazia azar. Quem era essa Maria? Ela era irmã de Moisés, uma mulher ambiciosa e intrigante que, aproveitando o declínio da popularidade do irmão que se casara com uma etíope, tentou ocupar o seu lugar. Bem, Deus a puniu com o castigo mais terrível que foi o da lepra (cf. Nm 12). 

Lucas 1,28-38: «O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” Maria ficou perturbada com essas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim”. Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?” O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível”. Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se.»

Pois bem, o anjo se dirige a essa moça e ela aceita. Depois, Isabel dirá de Maria: “Bem-aventurada aquela que acreditou nas palavras do Senhor” (Lc 1,45). Maria disse que sim, ela acreditava que havia um plano de Deus em sua existência, então ela ouviu esse plano, confiou e, acima de tudo, agiu de acordo. Ela entendeu o que São Paulo escreveu, mais tarde, na primeira carta aos Coríntios, que o Senhor escolhe o que é ignóbil, o que é desprezado no mundo para fazer sobressair a sua força (cf. 1Cor 1,28). Ela, nessa ínfima região, nessa cidade infame de baixa condição, é uma mulher que acredita, acredita que Deus tem um plano para ela porque: “Nada é impossível para Deus”! Assim, com esta bela expressão, conclui-se o Evangelho deste domingo, que é também o desejo para nós. Deus sempre realiza o seu plano, cabe a nós acolhê-lo e colaborar. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994.

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«Fazer a vontade de Deus é fazer o que Deus quer e querer o que Deus faz.»

(Santo Afonso Maria de Ligório: 1696-1787 ― bispo católico italiano, escritor, filósofo escolástico, teólogo e fundador da Congregação do SSmo. Redentor)

Que diferença constatamos entre a acolhida da anunciação do nascimento de Jesus e aquela de João, o Batista! Entre a incredulidade de Zacarias, pai de João, e a fé e confiança de Maria, mãe de Jesus, há uma diferença imensa! No entanto, a fé não brota das provas, das confirmações, da realidade segura, mas do incerto, do caótico, do impossível! Maria é o exemplo vivo disso, pois sua fé está na Palavra de Deus, que é tudo para ela: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38). 

Mas, qual é a palavra a qual Maria consente? O mensageiro de Deus, que na Bíblia é sempre o próprio Deus, é o portador dessas preciosas palavras ditas a Maria. Vejamos o sentido de algumas delas, as mais enfáticas:

1) “Alegra-te, cheia de graça”: Deus se manifesta para trazer alegria genuína aos seres humanos. Será que as nossas comunidades, hoje, experimentam essa alegria que é trazida pela Boa Nova de Jesus? Ou estamos por demais contagiados pelo pessimismo, pelo derrotismo, pela fata de esperança? Recuperar a alegria do Evangelho e a paz que Jesus nos deixou de herança são atitudes urgentes nos tempos de hoje. Somente, assim, as nossas comunidades se converterão em espaços de amizade, fraternidade, entreajuda e comunhão.

2) “O Senhor está contigo!”: É fundamental não apenas dizer que Deus está conosco, mas sentir concretamente essa presença na vida da Igreja e de cada um de nós! Afinal, Jesus nos garantiu: “Não vos deixarei órfãos, venho a vós” (Jo 14,18). Jesus é, sempre, o nosso bom pastor, está nos buscando em continuidade. Com ele tudo é possível! É nisso que precisamos crer, do contrário, seremos um grupo sem expressão neste mundo.

3) “Não tenhas medo, Maria”: Vivemos em tempos de medo. Medo do futuro, medo de certos avanços tecnológicos, medo das mudanças climáticas, medo da falta de trabalho, medo de epidemias mortais, medo de uma grande e definitiva guerra mundial, medo de tudo e de todos! O medo, porém, nos prejudica muitíssimo! De um lado, nos paralisa, nos impede de ser criativos e darmos respostas novas ao novo que aí está, ou seja, de termos esperança. De outro lado, nos faz querer conservar um passado que não volta mais. As vítimas dessas duas atitudes são o realismo e o bom senso do Evangelho!

4) “Conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus”: Jesus foi definido por João como: “No princípio era a Palavra... Tudo foi feito por meio dela... Nela havia vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,1-4). Maria deu à luz a luz! Este não é um jogo de palavras, mas a verdade! A missão de Maria passa a ser a nossa, também, isto é, dar luz em meio às trevas deste mundo. O cristão não está no mundo para julgá-lo, para fugir dele, para negá-lo, mas para trazer-lhe esperança. Nossa maior missão é ajudar os homens e mulheres de hoje a descobrir e se encontrar com Jesus. Todo o resto é secundário! 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Senhor Jesus, a tua Palavra apresenta-nos o mistério, antigo e sempre novo, do teu amor que se encarna, do teu dom que não pede reciprocidade, do teu serviço que se sacrifica na cruz. Tu conheces a nossa fragilidade, a incapacidade de seguir a mensagem da tua Palavra. Concede-nos a disponibilidade de Maria para que a sua história de graça se realize também através dos gestos humildes, simples e altruístas da nossa colaboração. Faz, Senhor, que estes dias de espera sejam marcados pelo fervor da oração, pelo silêncio das paixões, pela conversão do coração, pelo desejo de contemplação para que na noite santa possamos proclamar a tua glória nos céus e construir a paz para os homens na terra. Amém.»

(Fonte: GOBBIN, Marino, O.Carm. Orazione iniziale. In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno liturgico B. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 44)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – 4ª Domenica di Avvento – Anno B – 20 dicembre 2020 – Internet: clique aqui (Acesso em: 19/12/2023).

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