«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 29 de março de 2024

Paixão do Senhor – Sexta-feira Santa – Homilia

 Evangelho: João 18,1―19,42 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Cristo não morre, mas entrega o Espírito, a força vital do amor

O risco que corremos nessas ocasiões é o de nos emocionarmos, indignarmos e nos alegrarmos com acontecimentos bem datados no tempo e que nos provocam reações emocionais, mas com os quais temos o cuidado de não nos identificar. Afinal, o que tem a ver conosco um traidor como Judas ou um covarde como Pedro? Nós NUNCA teríamos traído Jesus! E o que dizer, então, dos discípulos tão orgulhosos quanto covardes... e aquele Pilatos oportunista?

Vejamos, portanto, os protagonistas da paixão, personagens representativos nos quais cada um de nós pode ver-se representado, e as diferentes respostas dos seres humanos ao anúncio do amor de Deus manifestado em Jesus. 

Firmemente amarrado, Jesus é o único homem livre em toda a história da paixão. Ele é livre porque é movido exclusivamente pelo amor, e o amor nos torna livres. Fiel ao seu compromisso de comunicar o amor, ele passa incólume por este ambiente saturado de ódio que, em vez de o limitar, aumenta a sua capacidade de amar, que o leva ao dom do seu espírito (cf. Jo 19,30). 

João 18,1-18: «Naquele tempo, 1Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cedron. Havia aí um jardim, onde ele entrou com os discípulos. 2Também Judas, o traidor, conhecia o lugar, porque Jesus costumava reunir-se aí com os seus discípulos. 3Judas levou consigo um destacamento de soldados e alguns guardas dos sumos sacerdotes e fariseus, e chegou ali com lanternas, tochas e armas. 4Então Jesus, consciente de tudo o que ia acontecer, saiu ao encontro deles e disse: “A quem procurais?” 5Responderam: “A Jesus, o Nazareno”. Ele disse: “Sou eu”. Judas, o traidor, estava junto com eles. 6Quando Jesus disse: “Sou eu”, eles recuaram e caíram por terra. 7De novo lhes perguntou: “A quem procurais?” Eles responderam: “A Jesus, o Nazareno”. 8Jesus respondeu: “Já vos disse que sou eu. Se é a mim que procurais, então deixai que estes se retirem”. 9Assim se realizava a palavra que Jesus tinha dito: “Não perdi nenhum daqueles que me confiaste”. 10Simão Pedro, que trazia uma espada consigo, puxou dela e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O nome do servo era Malco. 11Então Jesus disse a Pedro: “Guarda a tua espada na bainha. Não vou beber o cálice que o Pai me deu?” 12 Então, os soldados, o comandante e os guardas dos judeus prenderam Jesus e o amarraram. 13Conduziram-no primeiro a Anás, que era o sogro de Caifás, o Sumo Sacerdote naquele ano. 14Foi Caifás que deu aos judeus o conselho: “É preferível que um só morra pelo povo”. 15Simão Pedro e um outro discípulo seguiam Jesus. Esse discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote e entrou com Jesus no pátio do Sumo Sacerdote. 16Pedro ficou fora, perto da porta. Então o outro discípulo, que era conhecido do Sumo Sacerdote, saiu, conversou com a encarregada da porta e levou Pedro para dentro. 17A criada que guardava a porta disse a Pedro: “Não pertences também tu aos discípulos desse homem?” Ele respondeu: “Não!” 18Os empregados e os guardas fizeram uma fogueira e estavam-se aquecendo, pois fazia frio. Pedro ficou com eles, aquecendo-se. 19Entretanto, o Sumo Sacerdote interrogou Jesus a respeito de seus discípulos e de seu ensinamento. 20Jesus lhe respondeu: “Eu falei às claras ao mundo. Ensinei sempre na sinagoga e no Templo, onde todos os judeus se reúnem. Nada falei às escondidas. 21Por que me interrogas? Pergunta aos que ouviram o que falei; eles sabem o que eu disse”. 22Quando Jesus falou isso, um dos guardas que ali estava deu-lhe uma bofetada, dizendo: “É assim que respondes ao Sumo Sacerdote?” 23Respondeu-lhe Jesus: “Se respondi mal, mostra em quê; mas, se falei bem, por que me bates?” 24Então, Anás enviou Jesus amarrado para Caifás, o Sumo Sacerdote. 25Simão Pedro continuava lá, em pé, aquecendo-se. Disseram-lhe: “Não és tu, também, um dos discípulos dele?” Pedro negou: “Não!” 26Então um dos empregados do Sumo Sacerdote, parente daquele a quem Pedro tinha cortado a orelha, disse: “Será que não te vi no jardim com ele?” 27Novamente Pedro negou. E na mesma hora, o galo cantou.»

Pedro o seguiu de longe. E ele acaba traindo a Jesus. Jesus não pode ser seguido a partir de uma certa distância de segurança que garanta a nossa proteção em caso de acidente! Ou nos arriscamos com ele ou o negamos!

A distância de Jesus significa proximidade daqueles que o capturaram. Pedro era um discípulo e, agora, está com os inimigos do mestre. Até o ponto de negar ser seu discípulo: “Não, não sou!”. Pedro não sabe mais o que é, perdeu a identidade. O entusiasmo de seguir Jesus transforma-se em desmoralização e abandono quando a lealdade ao Senhor provoca perseguições. 

João 18,28―19,24: «28De Caifás, levaram Jesus ao palácio do governador. Era de manhã cedo. Eles mesmos não entraram no palácio, para não ficarem impuros e poderem comer a páscoa. 29Então Pilatos saiu ao encontro deles e disse: “Que acusação apresentais contra este homem?” 30Eles responderam: “Se não fosse malfeitor, não o teríamos entregue a ti!” 31Pilatos disse: “Tomai-o vós mesmos e julgai-o de acordo com a vossa lei”. Os judeus lhe responderam: “Nós não podemos condenar ninguém à morte”. 32Assim se realizava o que Jesus tinha dito, significando de que morte havia de morrer. 33Então Pilatos entrou de novo no palácio, chamou Jesus e perguntou-lhe: “Tu és o rei dos judeus?” 34Jesus respondeu: “Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isto de mim?” 35Pilatos falou: “Por acaso, sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?” 36Jesus respondeu: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”. 37Pilatos disse a Jesus: “Então tu és rei?” Jesus respondeu: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”. 38Pilatos disse a Jesus: “O que é a verdade?” Ao dizer isso, Pilatos saiu ao encontro dos judeus, e disse-lhes: “Eu não encontro nenhuma culpa nele. 39Mas existe entre vós um costume, que pela Páscoa eu vos solte um preso. Quereis que vos solte o rei dos Judeus?” 40Então, começaram a gritar de novo: “Este não, mas Barrabás!” Barrabás era um bandido. 19,1Então Pilatos mandou flagelar Jesus. 2Os soldados teceram uma coroa de espinhos e colocaram-na na cabeça de Jesus. Vestiram-no com um manto vermelho, 3aproximavam-se dele e diziam: “Viva o rei dos judeus!” E davam-lhe bofetadas. 4Pilatos saiu de novo e disse aos judeus: “Olhai, eu o trago aqui fora, diante de vós, para que saibais que não encontro nele crime algum”. 5Então Jesus veio para fora, trazendo a coroa de espinhos e o manto vermelho. Pilatos disse-lhes: “Eis o homem!” 6Quando viram Jesus, os Sumos Sacerdotes e os guardas começaram a gritar: “Crucifica-o! Crucifica-o!” Pilatos respondeu: “Levai-o vós mesmos para o crucificar, pois eu não encontro nele crime algum”. 7Os judeus responderam: “Nós temos uma Lei, e, segundo esta Lei, ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus”. 8Ao ouvir estas palavras, Pilatos ficou com mais medo ainda. 9Entrou outra vez no palácio e perguntou a Jesus: “De onde és tu?” Jesus ficou calado. 10Então Pilatos disse: “Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar?” 11Jesus respondeu: “Tu não terias autoridade alguma sobre mim, se ela não te fosse dada do alto. Quem me entregou a ti, portanto, tem culpa maior”. 12Por causa disso, Pilatos procurava soltar Jesus. Mas os judeus gritavam: “Se soltas este homem, não és amigo de César. Todo aquele que se faz rei, declara-se contra César”. 13Ouvindo estas palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado “Pavimento”, em hebraico “Gábata”. 14Era o dia da preparação da Páscoa, por volta do meio-dia. Pilatos disse aos judeus: “Eis o vosso rei!” 15Eles, porém, gritavam: “Fora! Fora! Crucifica-o!” Pilatos disse: “Hei de crucificar o vosso rei?” Os sumos sacerdotes responderam: “Não temos outro rei senão César”. 16Então Pilatos entregou Jesus para ser crucificado, e eles o levaram. 17Jesus tomou a cruz sobre si e saiu para o lugar chamado “Calvário”, em hebraico “Gólgota”. 18Ali o crucificaram, com outros dois: um de cada lado, e Jesus no meio. 19Pilatos mandou ainda escrever um letreiro e colocá-lo na cruz; nele estava escrito: “Jesus o Nazareno, o Rei dos Judeus”. 20Muitos judeus puderam ver o letreiro, porque o lugar em que Jesus foi crucificado ficava perto da cidade. O letreiro estava escrito em hebraico, latim e grego. 21Então os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: “Não escrevas ‘O Rei dos Judeus’, mas sim o que ele disse: ‘Eu sou o Rei dos judeus’”. 22Pilatos respondeu: “O que escrevi, está escrito”. 23Depois que crucificaram Jesus, os soldados repartiram a sua roupa em quatro partes, uma parte para cada soldado. Quanto à túnica, esta era tecida sem costura, em peça única de alto a baixo. 24Disseram então entre si: “Não vamos dividir a túnica. Tiremos a sorte para ver de quem será”. Assim se cumpria a Escritura que diz: “Repartiram entre si as minhas vestes e lançaram sorte sobre a minha túnica”. Assim procederam os soldados.»

Para condenar Jesus, os sumos sacerdotes não hesitam em negar o seu Deus: “Não temos outro rei senão César!” (Jo 19,15). Os sumos sacerdotes estão dispostos a fazer qualquer coisa para manter o poder, até mesmo trair a Deus, o único Senhor de Israel. Eles preferem continuar a ser dominados pelos romanos, mas poder dominar o povo por sua vez, em vez de aceitarem o Messias libertador e perderem o poder. Eles negam a Deus e traem o povo que Jesus, o Messias, veio libertar.

Pilatos quer libertar Jesus?

Contudo, os líderes religiosos judeus têm algumas cartas na manga, aqui estão elas:

1ª) E já prepararam o pedido de libertação de Barrabás. É verdade que Barrabás é um bandido (Jo 18,40), e Jesus um homem inocente, mas para os líderes, denunciados por Jesus como “ladrões e bandidos” (Jo 10,1.8), o Filho de Deus é mais perigoso que um criminoso. Pilatos, então, pensa que uma lição severa será suficiente para apaziguar a ira das autoridades e manda açoitar Jesus. Ele é submetido ao castigo com que o condenado era esfolado vivo, e muitas vezes morria sob os golpes (cf. 2Mc 3,38). Os soldados, então, se deixam levar e descarregam toda a sua frustração e agressividade sobre o condenado indefeso, dando-lhe tapas e colocando-lhe uma coroa de espinhos na cabeça (cf. Jo 19,2). Mas isso não adiantou de nada: “Quando os sumos sacerdotes e os guardas o viram, gritaram, dizendo: ‘Crucifica! Crucifica!’” (Jo 19,6). O perigo não é o rei dos judeus, nem o Messias, mas o homem. É a visão dele que os líderes, “inimigos de todos os homens” (1Ts 2,15), não toleram. Jesus é o Verbo de Deus que se fez homem (Jo 1,14), plena realização do plano do Criador para a humanidade: um homem com a condição divina (Jo 1,1). Mas isto é intolerável para as autoridades religiosas, que veem na manifestação do plano de Deus uma ameaça ao seu poder e à sua própria existência: se Deus se funde com o homem, já não há lugar para eles, razão pela qual não podem tolerar a visão do “homem”.

2º) Os líderes não desistem e tiram a segunda carta, a acusação religiosa: “Temos uma Lei e segundo esta Lei ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus” (Jo 19,7). Pilatos certamente não se interessa pelas leis religiosas, mas há o fato de que “ele se fez Filho de Deus” que o preocupa (“teve ainda mais medo”, Jo 19,8). E se ele realmente se deparasse com um ser divino? Bastaria que Jesus respondesse a Pilatos como respondeu a Nicodemos: “Deus não enviou o Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo 3,17), e ele confirmaria sua condição divina. Mas Jesus permanece em silêncio. Pilatos deve julgar um homem, um homem simples e não uma divindade.

3º) As autoridades conhecem os seus pares e deixaram para o final a carta vencedora, aquela à qual, sabem, ninguém resiste: a carreira!Se soltas este homem, não és amigo de César. Todo aquele que se faz rei, declara-se contra César” (Jo 19,12). “Amigo de César” era um título honorífico concedido pelo imperador a alguns amigos íntimos. Pilatos conseguira, através do seu conhecimento, obtê-lo, e este título era a única esperança que lhe restava de abandonar aquela terra desolada que era a Judeia e retornar à esplêndida Roma imperial. Agora, tudo isso está em perigo, e por causa daquele estranho Galileu. O que sacrificar? Sua carreira ou um inocente? Não há dúvidas. Aqueles que sacrificaram tudo pela sua carreira e sucesso não hesitarão em sacrificar um inocente. Pilatos, como todo homem de poder, age com base na conveniência e no interesse, e não no que é bom e certo.

Jesus, apresentado como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, veio batizar no Espírito Santo para eliminar o pecado do mundo (cf. Jo 1,29-34).

Os representantes do pecado pedem que Jesus seja eliminado: são as trevas que não suportam a visão da luz que lhes são detestáveis: “todo aquele que pratica o mal odeia a luz” (Jo 3,20). Eles preferem o domínio do Império Romano ao seu rei, o portador da paz e da liberdade! 

João 19,25-27: «25Perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. 26Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher, este é o teu filho”. 27Depois disse ao discípulo: “Esta é a tua mãe”. Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu consigo.»

Maria junto à cruz não é apresentada como uma mãe esmagada pela dor, mas como a discípula corajosa que escolheu seguir o mestre arriscando a própria vida. Próximo à cruz, não está apenas uma mãe que sofre pelo filho, mas a mulher que sofre com o homem das dores. Maria coloca-se ao lado do condenado, ficando assim, para sempre, ao lado dos oprimidos e desprezados.

E aquela que soube carregar a cruz, desafiando julgamentos e preconceitos e seguindo os condenados até ao cadafalso, agora não chora um morto, mas continua a seguir o Vivo (Ap 1,17). A mãe não olha para o túmulo, mas para a vida

João 19,28-42: «28Depois disso, Jesus, sabendo que tudo estava consumado, e para que a Escritura se cumprisse até o fim, disse: “Tenho sede”. 29Havia ali uma jarra cheia de vinagre. Amarraram numa vara uma esponja embebida de vinagre e levaram-na à boca de Jesus. 30Ele tomou o vinagre e disse: “Tudo está consumado”. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. 31Era o dia da preparação para a Páscoa. Os judeus queriam evitar que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque aquele sábado era dia de festa solene. Então pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas aos crucificados e os tirasse da cruz. 32Os soldados foram e quebraram as pernas de um e, depois, do outro que foram crucificados com Jesus. 33Ao se aproximarem de Jesus, e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas; 34mas um soldado abriu-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. 35Aquele que viu, dá testemunho e seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que fala a verdade, para que vós também acrediteis. 36Isso aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: “Não quebrarão nenhum dos seus ossos”. 37E outra Escritura ainda diz: “Olharão para aquele que transpassaram”. 38Depois disso, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus ― mas às escondidas, por medo dos judeus ― pediu a Pilatos para tirar o corpo de Jesus. Pilatos consentiu. Então José veio tirar o corpo de Jesus. 39Chegou também Nicodemos, o mesmo que antes tinha ido de noite encontrar-se com Jesus. Levou uns trinta quilos de perfume feito de mirra e aloés. 40Então tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no, com os aromas, em faixas de linho, como os judeus costumam sepultar. 41No lugar onde Jesus foi crucificado, havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. 42Por causa da preparação da Páscoa, e como o túmulo estava perto, foi ali que colocaram Jesus.»

Os últimos momentos da vida de Cristo são descritos em todos os aspectos pelo evangelista. Quanto mais as trevas se avolumam sobre Jesus e parecem envolvê-lo, mais emana de Cristo uma luz, a do amor, que dissipa as trevas (Jo 1,5), uma luz que se torna insuportável para quem habita nas trevas.

Mas a luz do amor continua a difundir-se através de Jesus e a oferecer-se até aos seus algozes. Pregado no cadafalso, já moribundo, Jesus pede para beber: “Tenho sede” (Jo 19,28). Jesus também pediu água à mulher samaritana. Na verdade, foi um pedido de aceitação, de disponibilidade para que ele pudesse, então, oferecer-lhe a “água que jorra para a vida eterna” (Jo 4,14).

Agora, na cruz, Jesus moribundo pede um mínimo gesto de misericórdia, um sinal de compaixão que lhe permita romper os seus corações endurecidos. Mas os seus assassinos não têm amor, o que possuem é apenas “um vaso cheio de vinagre”, uma imagem de ódio (“Puseram veneno na minha comida e quando tive sede deram-me vinagre”, Sl 69,22), e é com vinagre que atendem ao pedido de Jesus e Jesus bebe tudo.

E, inclinando a cabeça, entregou o Espírito” (Jo 19,30). Cristo não morre, mas entrega o Espírito, a força vital do amor. A morte não interrompe a vida, mas permite-lhe florescer numa forma nova, plena e definitiva. Alguns notarão.

Jesus era, verdadeiramente, um perigo para as instituições, até mesmo um membro respeitável do Sinédrio, como José (Mc 15,32), e um dos líderes, como o fariseu Nicodemos, ficaram fascinados por Cristo! E não foram os únicos, de fato: “mesmo entre os líderes, muitos acreditaram nele, mas por causa dos fariseus não o declaravam, para não serem expulsos da sinagoga” (Jo 12,42).

Então tomaram o corpo de Jesus…” (Jo 19,40). Este é o primeiro fruto da morte de Jesus: a transgressão da Lei por parte de José e Nicodemos. Na verdade, ao tomarem o corpo de Jesus, ficarão impuros durante sete dias, conforme prescrito no Livro dos Números e não poderão celebrar a festa da Páscoa (cf. Nm 19,11).

Jesus não morreu pelos nossos pecados, e muito menos por ser essa a vontade de Deus, mas pela ganância da instituição religiosa, capaz de eliminar qualquer um que interfirisse em seus interesses, até mesmo o Filho de Deus: “Este é o herdeiro: vamos! Matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança” (Mt 21,38). O verdadeiro inimigo de Deus não é o pecado, que o Senhor em sua misericórdia sempre consegue apagar, mas o interesse, a conveniência e a cobiça que tornam os homens completamente refratários à ação divina. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Ó Sabedoria Eterna, ó Bondade Infinita, Verdade Inefável, perscrutador dos corações, Deus Eterno, dá-nos a entender, tu que podes, sabes e queres! Ó Cordeiro amoroso e suador, Cristo crucificado, cumpra-se em nós o que disseste: “Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). Ó luz indefectível, da qual procedem todas as luzes! Ó luz, pela qual a luz foi feita, sem a qual todas as coisas são trevas, com a qual todas as coisas são luz. Ilumina, ilumina, ilumina! E deixas a tua vontade penetrar em todos os autores e colaboradores que elegeste nesta obra de renovação. Jesus, Jesus amor, Jesus, transforma-nos e conforma-nos contigo. Sabedoria Incriada, Palavra Eterna, doce Verdade, Amor tranquilo, Jesus, Jesus Amor!»

(Fonte: Santa Maria Madalena de Pazzi, O.Carm., La renovatione della Chiesa, 90-91)

Fonte: Anotações do próprio autor – Acesso em: 28/03/2023.

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