«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

2º Domingo do Tempo Comum - Ano "C" - Homilia

Evangelho: João 2,1-11


Naquele tempo, 
1 houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava presente. 
2 Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento. 
3 Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. 
4 Jesus respondeu-lhe: “Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou”. 
5 Sua mãe disse aos que estavam servindo: “Fazei o que ele vos disser”. 
6 Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros.
7 Jesus disse aos que estavam servindo: “Enchei as talhas de água”. Encheram-nas até a boca. 
8 Jesus disse: “Agora tirai e levai ao mestre-sala”. E eles levaram. 
9 O mestre-sala experimentou a água, que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água. 
10 O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora!”
11 Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele. 

JOSÉ ANTONIO PAGOLA


UM GESTO POUCO RELIGIOSO

"Houve um casamento em Caná da Galileia". Assim começa este relato, o qual nos diz algo inesperado e surpreendente. A primeira intervenção pública de Jesus, o Enviado de Deus, não tem nada de religioso. Não acontece num lugar sagrado. Jesus inaugura sua atividade profética "salvando" uma festa de casamento que poderia ter terminado muito mal.

Naquelas aldeias pobres da Galileia, a festa de casamento era a mais apreciada de todas. Durante vários dias, familiares e amigos acompanhavam os noivos, comendo e bebendo com eles, dançando danças festivas e cantando músicas de amor.

O evangelho de João nos diz que foi em meio de uma destas festas de casamento, que Jesus fez seu "primeiro sinal", o sinal nos oferece a chave para entender toda a sua atuação e o sentido profundo de sua missão salvadora.

O evangelista João não fala de "milagres". Aos gestos surpreendentes que Jesus realiza, chama-os sempre de "sinais". Não deseja que seus leitores se fixem no que possa haver de prodigioso em sua atuação. Convida-nos para que descubramos seu significado mais profundo. Para isso, oferece-nos umas pistas de caráter simbólico. Vejamos somente uma.

A mãe de Jesus, atenta aos detalhes da festa, se dá conta que "o vinho veio a faltar" e o indica ao seu filho. Talvez os noivos, de condição humilde, se viram sobrecarregados pelos convidados. Maria está preocupada. A festa corre perigo. Como pode terminar uma festa de casamento sem vinho? Ela confia em Jesus.

Entre os camponeses da Galileia, o vinho era um símbolo muito conhecido da alegria e do amor. Todos o sabiam. Se na vida falta a alegria e o amor, no que pode terminar a convivência? Maria não se equivoca. Jesus intervém para salvar a festa proporcionando vinho abundante e de excelente qualidade.

Este gesto de Jesus nos ajuda a captar a orientação de sua vida inteira e o conteúdo fundamental de seu projeto do Reino de Deus. Enquanto os dirigentes religiosos e os doutores da Lei se preocupam da religião, Jesus se dedica a tornar mais humana e suportável a vida das pessoas.

Os evangelhos apresentam Jesus concentrado não na religião, mas na vida! Ele não é só para as pessoas religiosas e piedosas. Ele é também para aqueles que ficaram decepcionados pela religião, porém sentem necessidade de viver de modo mais digno e feliz. Por quê? Porque Jesus difunde a fé num Deus em que se pode confiar e com o qual se pode viver com alegria, e porque atrai para uma vida mais generosa, movida por um amor solidário.


FALTA VINHO

O episódio de Caná é de grande riqueza para quem se adentra na estrutura e intensão teológica do relato.
Esta festa de casamento anônima, na qual os esposos não têm rosto nem voz própria, é figura da antiga aliança judaica.

Nesta festa falta um elemento indispensável. Falta o vinho, sinal de alegria e símbolo do amor, como cantava o Cântico dos Cânticos.
É uma situação triste que somente será transformada pelo "vinho" novo trazido por Jesus. Um "vinho" que somente o saboreiam aqueles que acreditaram no amor gratuito de Deus Pai e vivem animados por um espírito de verdadeira fraternidade.

Vivemos numa sociedade onde, cada vez mais, se enfraquece a raiz cristã do amor fraterno desinteressado. Com frequência, o amor fica reduzido a um intercâmbio mútuo, prazeroso e útil, onde as pessoas somente buscam seu próprio interesse. Entretanto, ainda se pensa que seja melhor amar que não amar. Porém, na prática, muitos estariam de acordo com aquela afirmação anticristã de Sigmund Freud *: "Se amo alguém, é preciso que este o mereça por algum motivo".

Não se sabe que tipo de alegria pode, ainda, sobreviver numa sociedade moldada segundo o pensamento de professores como Fernando Savater ** que escreve assim: "Dizem que devo preocupar-me com os outros, não conformar-me com o meu próprio bem, mas buscar ajudar o estrangeiro, inclusive, renunciar à minha riqueza ou ao meu bem-estar pessoal ou à minha segurança para ajudar a obter formas mais elevadas de harmonia na sociedade, ou para colaborar para o fim da exploração do homem pelo homem. Porém, por que devo fazê-lo?... Não é sinal de saúde que eu ame, acima de tudo, a mim mesmo?".

Compreende-se que, quando não se crê num Deus Pai, seja tão fácil esquecer-se dos irmãos. Na nova constituição de nosso país [a Espanha] desapareceu o termo "fraternidade" substituído pela palavra "solidariedade". Cabe perguntar-se se saberemos nos comprometer numa verdadeira solidariedade quando não nos reconhecemos como irmãos.

É suficiente reduzir a convivência a uma correlação de direitos e obrigações? Basta organizar a nossa vida social como uma mera associação de interesses privados?


Esta sociedade onde qualquer ser humano pode ser dominado e manipulado a serviço de tantos interesses, necessita da reação vigorosa daqueles que acreditam que todo homem seja intocável, pois é filho de Deus e nosso irmão.

O amor ao ser humano, como alguém digno de ser amado de modo absoluto, é um "vinho" que começa a escassear. Porém, não nos esqueçamos. Sem este "vinho" não é possível a verdadeira alegria entre os seres humanos.

* Para saber mais sobre Sigmund Freud, clique neste link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sigmund_Freud.
** Para saber mais sobre Fernando Savater, clique neste link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Savater

Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Terça-feira, 15 de janeiro de 2013 - 16h40 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

2 comentários:

  1. Fantastica reflexão,que este ensinamento nos faça crescer na Fé,Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

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    1. Obrigado, Maria Terezinha, por acompanhar este singelo blog! Você tem razão, o padre PAGOLA possui o dom de extrair a "seiva" da Palavra de Deus que necessitamos para os dias de hoje. Um ótimo domingo e uma abençoada semana!

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