«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A proposta do cardeal Kasper para os divorciados

Andrea Tornielli
Vatican Insider
21-02-2014
Cardeal Walter Kasper - alemão

A Igreja não pode colocar em dúvida as palavras de Jesus sobre a indissolubilidade do matrimônio. Quem espera que após as discussões do Consistório e depois do Sínodo surjam soluções “fáceis” e gerais, para todos, comete um erro. Mas, diante das dificuldades que as famílias enfrentam atualmente e diante do crescimento exponencial de casamentos fracassados, é possível explorar novas vias para responder às profundas exigências dos divorciados recasados no civil, que reconhecem seu fracasso, convertem-se e, depois de um período penitencial, pedem para ser readmitidos aos Sacramentos. Esta é a hipótese proposta pelo cardeal Walter Kasper na sua longa e profunda exposição feita aos cardeais do Consistório e ao Papa. Foi o próprio Francisco quem pediu a Kasper para que não oferecesse respostas, mas que colocasse perguntas. E parece que Kasper respondeu perfeitamente a este pedido.

O cardeal convidou, sobretudo, para considerar o problema dos divorciados recasados na perspectiva de quem sofre e pede ajuda. Eles devem ser convidados a participar da vida da Igreja. Tudo isto diante da evidência de que existem muitos casos em que qualquer razoável tentativa de salvar o casamento é inútil. Há algo de heróico nos cônjuges abandonados que ficam sozinhos, tocam a vida em frente e educam os seus filhos. Mas muitos outros ex-cônjuges abandonados, inclusive pelo bem dos seus filhos, casam-se novamente no civil e não podem renunciar ao novo matrimônio sem novas culpas.

A Igreja, explicou Kasper, não pode propor uma solução diferente ou que vá contra as palavras de Jesus. A indissolubilidade de um matrimônio sacramental e a impossibilidade de um novo matrimônio, enquanto o cônjuge anterior continua vivo, não pode ser abandonado ou rompido com base em um apelo à misericórdia. Sobretudo, fez notar o cardeal, porque a fé e a misericórdia andam juntas.

Todavia, Kasper indicou que não existe nenhuma situação humana para a qual não haja solução. Por mais baixo que o ser humano possa cair, nunca poderá escapar da misericórdia de Deus.

O cardeal recordou que a Igreja do último século deu alguns passos: no Código de Direito Canônico de 1917, os divorciados recasados eram considerados bígamos e, portanto, “infames”, possíveis candidatos à excomunhão. O novo Código, promulgado pelo Papa Wojtyla, não prevê estes castigos: os divorciados recasados não incorrem na excomunhão e, afirma-se, fazem parte da Igreja.

Segundo Kasper, a Igreja encontra-se hoje em uma situação semelhante àquela do último Concílio, o Vaticano II. Nessa época também havia, por exemplo, em relação a questões como o ecumenismo ou a liberdade religiosa, encíclicas, pronunciamentos e decisões do Santo Ofício que pareciam negar outras possíveis vias. O Concílio Vaticano II, sem violar a tradição dogmática vinculante da Igreja, abriu as portas apesar de tudo. Por isso, o cardeal se perguntou se não era possível, de maneira análoga, um novo desenvolvimento com respeito aos divorciados recasados, mas sem abolir a tradição vinculante da fé.

A resposta possível pode ser uma resposta que leve em conta as diferenças, posto que uma solução geral, explicou, não poderá existir. Existem, por exemplo, todos esses casos (recordados pela Familiaris Consortio, de João Paulo II) dos divorciados recasados e que estão completamente convencidos de que seu casamento anterior, irremediavelmente desfeito, nunca teve validade. Mas estas situações não podem ser deixadas a apreciações subjetivas. Ao mesmo tempo, a via judicial também não é a única que poderia resolver estas questões.

Buscar uma solução simplesmente tratando de suavizar os procedimentos para chegar à nulidade matrimonial seria como se a Igreja procedesse desonestamente, concedendo, sob um disfarce, divórcios católicos.

Kasper observou que os divorciados recasados não podem receber a comunhão sacramental, mas podem receber a comunhão espiritual, caso se encontrarem bem dispostos espiritualmente: afirmaram-no tanto a Congregação para a Doutrina da Fé como Bento XVI (durante o encontro com as famílias do mundo em Milão). Mas os que recebem a comunhão espiritual são considerados um só com Jesus. Então, perguntou-se o cardeal alemão, é uma contradição com o mandamento do próprio Jesus? Por que não podem receber inclusive a comunhão sacramental?

Kasper citou a Igreja dos primórdios e uma prática que em 1972 o então professor Joseph Ratzinger mencionava. Recordando o que acontecia com os apóstatas, os cristãos que durante as perseguições, por fraqueza, negavam o próprio batismo. Diante destes “lapsus”, a Igreja desenvolveu uma prática penitencial canônica, algo como um segundo batismo, não com água, mas com as “lágrimas da penitência”. Depois do naufrágio do pecado, o náufrago não teria à disposição uma segunda embarcação, mas um bote salva-vidas.

Inclusive em relação à prática matrimonial, em algumas Igrejas locais existia o costume segundo o qual os cristãos que, embora seu primeiro cônjuge ainda estivesse vivo, e vivessem uma segunda união, depois de um período de penitência podiam chegar a ter, não um segundo matrimônio (uma nova embarcação), mas, através da participação na comunhão, um bote salva-vidas. Falam disso tanto Orígenes como Basílio o Grande, e inclusive Gregório Nazianzeno.

Poder-se-á percorrer este caminho no futuro? É a pergunta que o cardeal Kasper fez aos cardeais do Consistório. Não se trataria de “graças a um bom preço”, de misericórdia “low cost”. Mas, se existem casos de divorciados recasados arrependidos pelo fracasso do primeiro casamento; se estes esclareceram as obrigações do primeiro matrimônio (que seguirá sendo, para a Igreja, único e indissolúvel); se fica completamente excluída qualquer possibilidade de que possam voltar atrás; se não podem abandonar sem novas culpas os compromissos assumidos com um novo casamento civil; se se esforçam para viver da melhor maneira seu segundo casamento a partir da fé; se se comprometem a educar os filhos na fé; se têm o desejo dos Sacramentos como fonte de força em suas situações, é possível negar-lhes o Sacramento da penitência e depois o da comunhão sacramental? Os cardeais discutirão sobre estas dúvidas.

Tradução de André Langer.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014 - Internet: clique aqui.

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