«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Você não pode perder este filme!

Documentário “O Dilema das Redes” mostra que a democracia está em risco 

Leila Kiyomura

 Entrevista com Giselle Beiguelman

Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP 

Giselle Beiguelman comenta o alerta de ex-executivos do Google, Facebook e de Shoshana Zuboff, Professora Emérita da Universidade Harvard

Cena do filme-documentário "O DILEMA DAS REDES"

O Dilema das Redes, dirigido por Jeff Orlowski, que estreou recentemente na Netflix, é o filme que Giselle Beiguelman comenta em sua coluna Ouvir Imagens, na Rádio USP (clique e ouça o player abaixo). “O documentário é sobre o lado B das redes sociais, isto é, a manipulação algorítmica de nossas afetividades e visões políticas.” 

Para ouvir a entrevista com a professora Giselle, clique sobre o link a seguir, vale a pena (!): aqui. 

O filme reúne ex-funcionários do primeiro escalão de gigantes da tecnologia. “São ex-executivos de companhias como o Google e o Facebook e especialistas como a sensacional Shoshana Zuboff, Professora Emérita da Universidade Harvard e autora do conceito de capitalismo de vigilância”, explica Giselle Beiguelman. “O filme costura a narrativa mostrando o cotidiano de uma família ficcional, com filhos adolescentes, e é a partir dela que os temas abordados pelos especialistas ganham clareza, especialmente para o público mais leigo.” 

A professora lembra, no entanto, que o filme não traz novidades para o público mais especializado, com um olhar mais complexo para a tecnologia das redes sociais. “Mas é muito interessante ouvir os engenheiros e designers responsáveis pelo desenvolvimento dos recursos de captura do público contarem como é o processo de sua concepção.” 

O Dilema das Redes mostra que o uso das redes sociais pode ter sérios impactos políticos. “Um dos pontos altos é o debate que o filme suscita acerca da responsabilidade das redes sociais sobre o conteúdo que circula nesses espaços”, pontua. “Já que não me parece ser possível reverter esse processo da presença das redes sociais nas nossas vidas, é preciso que se criem instrumentos para responsabilizá-las. Caso contrário, a democracia pode ser colocada em risco pela manipulação das redes.” 

Fonte: Jornal da USP – Coluna de Giselle Beiguelman – Segunda-feira, 21 de setembro de 2020 – Internet: clique aqui (acesso em: 12/10/2020). 

“Se você puder sair das redes, saia”

 Marcelo Marthe

 Entrevista com Tristan Harris

Ativista digital, ex-Google

 

TRISTAN HARRIS

As redes representam de fato uma ameaça à humanidade, como faz crer o documentário? Não é um exagero? 

Tristan Harris: Se a tecnologia continuar levando o mundo para o caminho atual, a ameaça existencial será concreta. A lógica das redes destrói a noção de uma realidade compartilhada por todos, ao fragmentar as pessoas em bolhas sem contato entre si. Se você não tem uma realidade em comum com as pessoas a sua volta, terá violência. As redes servem para fornecer a cada grupo um espelho de autoafirmação, e não para informar. 

Essas bolhas de opinião dentro das redes são culpadas pela polarização de hoje?

Harris: As inteligências artificiais das redes criam uma espécie de túnel da realidade que leva as pessoas cada vez mais para o interior de suas próprias bolhas. Por definição, personalização é lucrativo, e polarização também, porque você dá à pessoa uma versão extrema da própria realidade. Se uma adolescente começa a ver vídeos de dietas no YouTube, o aplicativo vai mostrar mais vídeos de dietas. O YouTube não sabe se são bons ou ruins, apenas calcula se as ofertas vão prender a atenção. 

Não é alarmismo sustentar que todos somos manipulados pelas redes sociais?

Harris: Evoluímos para nos importarmos com coisas como a aprovação social. Se muitas pessoas falam coisas ruins sobre mim no Twitter ou no Instagram, isso machuca. Mesmo que haja milhares de comentários positivos, se houver dois negativos, eu só terei olhos para os negativos. Quando as redes usam essa suscetibilidade para seus propósitos, isso é manipular. Se você tenta se afastar no Instagram ou do Facebook, eles mandam e-mails para fazer você voltar. É como um traficante de drogas perguntando se você não quer um pouco mais de cocaína. 

O vício nas redes e a dependência química se equivalem?

Harris: Os traficantes são apenas uma metáfora — mas que funciona. O ponto é: você se sente no controle quando olha o TikTok, o Facebook e o YouTube, ou entra para dar uma olhada e uma hora depois não sabe por que continuou ali? Isso é um sintoma de que a humanidade perdeu o controle do próprio destino.

Se eles controlam nossa informação, eles controlam nossas ações.

Se quisermos retomar o controle, precisamos reconhecer que eles controlam mais a gente do que nós controlamos a tecnologia. 

Como as redes afetam nosso bem-estar?

Harris: Está muito claro que as empresas de mídias sociais não são construídas para que as pessoas se sintam realizadas em viver suas vidas. Nós valemos mais para o Facebook se formos viciados, distraídos, indignados, polarizados, narcisistas e desinformados do que se vivermos livremente de maneira rica, e não grudados nas telas. Uma pessoa que acampa com os amigos ou passa horas jogando futebol não é tão rentável para o Facebook como aquelas que passam a maior parte do tempo preocupadas com a aprovação social desse sistema. 

Percebe algum movimento das empresas para mudar essa lógica?

Harris: As companhias nunca vão mudar seu modelo por conta própria. Isso só vai acontecer com uma pressão externa poderosa e regulamentações governamentais. Espero que o filme crie um desejo coletivo, e que as pessoas acordem. Muitos primeiros-ministros, senadores, membros do Parlamento britânico e líderes de empresas de tecnologia assistiram ao documentário e estão respondendo positivamente. Funcionários dessas empresas veem o filme e sabem que é a verdade. 

No Brasil, as fake news são um problema muito debatido, mas sem solução. Como lidar com elas?

Harris: É um problema grave. Vi um estudo mostrando que, na última eleição brasileira, mais de 80% das pessoas tiveram acesso a pelo menos uma fake news antes de Jair Bolsonaro ser eleito presidente. Agora mesmo há pessoas mal-intencionadas tentando manipular eleições nos Estados Unidos e na África. A terceira guerra mundial não se dará com armas e munição, mas com bombardeios de informação. 

Como evitar isso?

Harris: É complicado. Nós acreditamos no que queremos acreditar, porque queremos afirmação. Um dos atalhos da mente é deduzir que, se todos acreditam em algo e dizem que é verdade, então deve ser verdade. Precisamos dar um passo para trás e nos questionar se podemos confiar em qualquer informação que se espalhe de modo viral. Separar a verdade da mentira cabe a nós. 

Um dos conselhos do filme é checar tudo o que se lê nas redes. Qual a importância da imprensa profissional nesse esforço?

Harris: As redes, especialmente o Facebook e o Twitter, transformaram a imprensa: agora, o jornalismo precisa se enquadrar em posts virais para ganhar visibilidade. Até os bons jornalistas têm de entrar no jogo e exagerar alguns aspectos dos fatos. As pessoas precisam de fontes de informação que as tratem como consumidores que pagam por uma assinatura e têm de ser respeitados. 

Como é sua relação com o celular e as redes sociais hoje?

Harris: Eu uso o mínimo possível. Estou no Twitter e no Facebook, mas não os utilizo muito, e sou muito consciente do que compartilho. Tenho um perfil no Instagram que, após ficar desativado por oito anos, ganhou 30000 seguidores na semana passada, por causa do filme. Mas meu conselho é: se você puder sair das redes, saia. 

Fonte: VEJA – Edição 2706 – Ano 53 – nº 40 – 30 de setembro de 2020 – Págs. 64-65 – Internet: clique aqui (acesso em: 13/10/2020).

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