«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Vigília Pascal na Noite Santa – Ano A – Homilia

 Evangelho: Mateus 28,1-10 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Ressuscitou! Deus é sempre pela vida!

Nenhum evangelista descreve a ressurreição de Jesus. A conhecida imagem clássica tradicional do Cristo triunfante, que sai do túmulo, não pertence, de fato, aos evangelhos, mas a um apócrifo do século II, chamado Evangelho de Pedro [35-45]. Mas todos os evangelistas dão indicações sobre como encontrar o Cristo vivo. Com efeito, a experiência de Cristo ressuscitado não foi um privilégio concedido há dois mil anos a um pequeno grupo de pessoas, mas uma possibilidade para os crentes de todos os tempos. Vejamos o que Mateus nos conta sobre isso, no capítulo 28, o capítulo da ressurreição. 

Mateus 28,1: «No fim do sábado, ao raiar do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro.»

Aqui o evangelista começa com uma observação: a observância do preceito do sábado atrasou a comunidade primitiva de realizar a experiência com o Cristo ressuscitado. “No fim do sábado, ao raiar do primeiro dia da semana”: o primeiro dia recorda o primeiro dia da criação, em Jesus se realiza a nova e definitiva criação da semana. O primeiro dia da semana é o oitavo dia, e o número oito, na Igreja primitiva, será o número que terá o significado do Cristo ressuscitado, e é de fato o número das bem-aventuranças. “Maria Madalena e a outra Maria foram ver o túmulo”, falta uma mulher. Na crucificação de Jesus, estavam presentes três mulheres: Maria de Magdala, a outra Maria, mãe de Tiago e José, mas também estava a mãe dos filhos de Zebedeu. Esta última, aqui, não está, por quê? Esta mulher ambiciosa, que queria glória e sucesso para seus filhos, ao ver que seu messias morre definitivamente, perdeu toda a esperança, portanto não testemunhará a ressurreição. 

Mateus 28,2-3: «De repente, houve um grande terremoto: um anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se, removeu a pedra e sentou-se nela. Sua aparência era como um relâmpago, e suas vestes, brancas como a neve.»

O terremoto, na Bíblia, é um sinal da manifestação divina, “um anjo do Senhor”, por anjo do Senhor não entendemos um anjo enviado pelo Senhor, mas Deus quando entra em contato com os homens. Neste Evangelho ele aparece três vezes:

a) para anunciar a vida de Jesus (Mt 1,19-21),

b) para protegê-la dos desígnios assassinos de Herodes (Mt 2,13.19-20), e

c) para confirmar, agora, que, quando a vida vem de Deus, ela é indestrutível.

Essa pedra já foi chamada de grande pedra (cf. Mt 27,60), sentar-se sobre ela é sinal de conquista. Ao contrário das mulheres que, no capítulo anterior, o evangelista nos indicou sentadas diante do túmulo em sinal de luto (Mt 27,61), o anjo senta-se sobre a pedra em sinal de vitória. “Sua aparência era como um relâmpago e suas vestes, brancas como a neve” são as mesmas descrições da transfiguração de Jesus e as cores da glória divina. 

Mateus 28,4: «Os guardas ficaram com tanto medo dele, que tremeram e ficaram como mortos.»

Há a irrupção da plenitude da vida, mas aqueles que pertencem ao mundo da morte, para eles não é uma experiência de vida, mas afundam ainda mais na morte. O evangelista é irônico, porque aquele que eles pensavam estar morto, na verdade está vivo, e os que estavam vivos, diz ele, estão como mortos, são mortos. 

Mateus 28,5-7: «Então o anjo falou às mulheres: “Vós não precisais ter medo, pois sei que procurais Jesus, o crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito! Vinde ver o lugar onde ele estava. Ide depressa dizer a seus discípulos: ‘Ele ressuscitou dos mortos e vai à vossa frente para a Galileia. Lá o vereis’. É o que tenho a vos dizer”.»

Mas “o anjo falou às mulheres: ‘Vós não precisais ter medo’”, o que é estranho, porque são os guardas que têm medo, mas o anjo ignora-os e volta-se para as mulheres, diz: “Vós não precisais ter medo, pois sei que procurais Jesus, o crucificado”, ou seja, o maldito, aquele que foi considerado morto por uma maldição divina, “Ele não está aqui!”. O anjo não diz que ele não está mais aqui, mas ele não está aqui: o sepulcro nunca foi capaz de conter aquele que era o vivo. “Ressuscitou”, e aqui está uma repreensão velada, “como havia dito”, ele havia dito isso três vezes. Prossegue dizendo: “vinde, vede o lugar onde ele jazia”, melhor do que dizer “onde ele estava”, pois ele não estava lá! A Galileia é importante na narração da ressurreição, ela aparecerá três vezes, “lá o vereis”, este verbo “ver” é o mesmo que apareceu na bem-aventurança de: bem-aventurados os puros de coração, e não indica a visão física, mas uma profunda experiência interior. Jesus ressuscitado neste evangelho, o evangelho de Mateus, nunca se manifestará em Jerusalém, a cidade assassina, a cidade que, desde o início, esteve sob um manto de trevas, mas, para ver Jesus, para experimentá-lo, deve-se ir à Galileia, isto é, o lugar de sua pregação. 

Mateus 28,8-9a: «E saindo às pressas do túmulo, com temor e grande alegria, correram para dar a notícia aos discípulos. Nisso, o próprio Jesus veio ao encontro delas e disse-lhes: “Alegrai-vos!”»

À medida que abandonam o sepulcro, que nunca pôde conter o vivo, uma grande alegria toma conta, e “as mulheres correram para fazer o anúncio/dar a notícia”, o termo “anúncio”, em grego, contém em si a raiz da palavra anjo. As mulheres, consideradas os seres mais distantes de Deus, na verdade são as mais próximas, desempenham a mesma função que os anjos. “Nisso/E eis”, a expressão indica surpresa, “Jesus veio ao encontro delas”,

... quando se vai comunicar a vida, quando se vai anunciar a vida, há sempre o Senhor que vem ao encontro, para fortalecer o anúncio com a sua presença.

No final das bem-aventuranças, na última bem-aventurança, a dos perseguidos, Jesus disse: “Alegrai-vos e exultai porque grande é a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,12a). Aqui está a recompensa: uma vida indestrutível, uma vida capaz de superar a morte

Mateus 28,9b-10: «Elas se aproximaram e, abraçando seus pés, prostaram-se diante dele. Jesus lhes disse: “Não tenhais medo; ide anunciar a meus irmãos que se dirijam à Galileia. Lá me verão”.»

Os pés indicam um encontro físico real não é um espírito, um fantasma. O fato de o adorarem, significa que reconhecem nele a plenitude da condição divina. “Jesus lhes disse: Não tenhais medo; ide anunciar”, novamente o papel dos anjos (o anúncio), “a meus irmãos”, pela primeira vez os discípulos são chamados de irmãos de Jesus, “que se dirijam à Galileia”, e, novamente, o convite, “lá me verão”. Por que é possível ver Jesus na Galileia? Veremos, mais tarde, que os discípulos irão para a Galileia para “a montanha que Jesus lhes havia indicado” (Mt 28,16). Mas Jesus não indicou nenhuma montanha. Qual é esta montanha? É a montanha das bem-aventuranças. Qual é então a mensagem do evangelista?

Vivendo, acolhendo as bem-aventuranças, manifestando plenamente a boa nova de Jesus, existe a possibilidade de fazer a experiência, de encontrar na própria vida aquele que está vivo.

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 6. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2022. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«Você não pode encontrar a paz evitando a vida.»

(Virginia Woolf: 1828-1910 — escritora, ensaísta e editora britânica)

O que há de mais significativo e importante neste Evangelho são as afirmações que o Mensageiro de Deus faz às mulheres (versículos 5 a 7) e as palavras do próprio Jesus a essas mesmas mulheres (versículos 9a e 10), as reproduzimos abaixo, destacando aquilo que é comum a ambas as falas:

Não ter medo, anunciar a ressurreição, Galileia e ver a Jesus são as ideias que comparecem em ambos discursos:

(a) O maior erro que podemos cometer é buscar Jesus onde não há VIDA! Em Jerusalém, essa cidade que simboliza o ritualismo religioso e a prática devocional vazios e não mais agradáveis a Deus, constituídos, sobretudo, pelos sacrifícios que não promovem o amor e o encontro verdadeiro entre os seres humanos entre si e com Deus, somente existe MEDO! O temor apodera-se das pessoas, porém, Deus não se deve experimentar pelo medo, mas pela ternura e compaixão! 

(b) Isso deve ser anunciado ao mundo! Os cristãos não podem reter para si essa grande notícia, essa grande verdade: Deus nos ama, nos salva, nos liberta, nos quer sempre mais humanos para podermos ser felizes, de verdade! O nosso Deus é o criador da VIDA e PROMOTOR DE VIDA! Por isso, Jesus, seu Filho, passou pelo mundo acolhendo a todos, curando a todos, perdoando a todos! Não é uma doutrina que temos de anunciar, mas o AMOR ENCARNADO no Filho de Deus, no próprio Deus! 

(c) Em oposição ao que representava Jerusalém, o evangelista situa a Galileia:

«Na Galileia, se escutou, pela primeira vez e em toda a sua pureza, a Boa Notícia de Deus e o projeto humanizador do Pai» (José Antonio Pagola).

Estando muito perto do Templo, em Jerusalém, apegando-se ao tradicionalismo estéril de uma religiosidade que não promovia uma vida plena e um mundo novo para os seus praticantes, a Igreja começava a perder-se, a declinar! Era preciso ir à Galileia, recuperar o Evangelho, a autêntica Boa Nova, aquela experiência única e pessoal que os discípulos tiveram com o Mestre. 

(d) Somente fazendo isso, poderiam ver Jesus novamente! Não se vê Jesus, não se vê Deus no ritualismo e no devocionismo muito rebuscado, mas que não revela a VIDA presente na pessoa e ação de Jesus Cristo neste mundo. Deus se deixa ver, se deixa encontrar, como o evangelista Mateus já havia deixado bem claro, nos gestos e nas atitudes que se assemelham àqueles de Jesus (cf. Mt 25,31-46):

* dar de comer aos famintos;

* saciar a sede dos sedentos;

* acolher os forasteiros, os migrantes;

* vestir os nus (recuperar a dignidade das pessoas);

* cuidar dos enfermos e

* ir ao encontro dos encarcerados. 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Agradeço-te, Senhor, por esta manhã de ressurreição que trouxeste à minha vida! Eu não acreditava, sabe... Já pensava que tudo estivesse perdido, que não haveria esperança para mim. E, em vez disso, tu superaste todas as expectativas. Obrigado pela pedra, pelo pedregulho que removeste do meu coração! Eu estava com medo do teu terremoto, do teu toque na minha vida, mas então a alegria levou a melhor sobre mim. Obrigado pela força para sair correndo, para voltar para os irmãos. Recomeço contigo, ó Jesus. Amém.»

(Fonte: M. A. CUCCA. Veglia Pasquale nella Notte Santa: orazione finale. In: CILIA, Anthony O.Carm. Lectio Divina sui vangeli festivi: per l’anno liturgico A. Leumann [TO]: Elledici, 2010, p. 221-222.)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni –Domenica di Pasqua – Anno A – 12 aprile 2020 – Internet: clique aqui (Acesso em: 04/04/2023).

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