«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

18º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Homilia

Evangelho: Mateus 14,13-21

Assista à narração do Evangelho deste
domingo, clicando sobre a imagem abaixo:

  
DAI-LHES VÓS DE COMER

Jesus está ocupado em curar àquelas pessoas enfermas e desnutridas que lhe são trazidas de todas as partes. Faz isso, segundo o evangelista, porque seu sofrimento lhe comove. Enquanto isso, seus discípulos veem que está ficando muito tarde. O diálogo deles com Jesus nos permite penetrar no significado profundo do episódio chamado, erroneamente, “a multiplicação dos pães”.

Os discípulos fazem a Jesus uma exposição realista e razoável: Despede esta gente para que vá comprar víveres na aldeia”. Já receberam, de Jesus, a atenção que necessitavam. Agora, que cada um retorne para sua aldeia e compre algo de comer segundo seus recursos e possibilidades.

A reação de Jesus é surpreendente:Não é necessário: dai-lhes vós mesmos de comer”. A fome é um problema demasiado grave para que fiquemos indiferentes uns aos outros e deixemos que cada um resolva em seu próprio povoado como puder. Não é o momento de separar-se, mas de unir-se mais que nunca para compartilhar entre todos o que há, sem excluir ninguém.

Os discípulos lhe fazem ver que há, somente, cinco pães e dois peixes. Não importa. O pouco basta quando se divide com generosidade. Jesus manda que se sentem todos sobre a grama para celebrar uma grande comida. Imediatamente, tudo muda. Aqueles que estavam a ponto de separar-se para saciar sua fome em sua própria aldeia, se sentam juntos ao redor de Jesus para compartilhar o pouco que têm. Assim quer ver Jesus a comunidade humana.

O que aconteceu com os pães e os peixes nas mãos de Jesus? Não os “multiplica”. Primeiro bendiz a Deus e lhe dá graças: aqueles alimentos vêm de Deus, são de todos. Em seguida, vai partindo-os e dando-os aos discípulos. Estes, por sua vez, os dão ao povo. Os pães e os peixes vão passando uns aos outros. Assim, todos puderam saciar sua fome.

O arcebispo de Tanger [cidade ao norte do Marrocos, África] levantou, certa vez, sua voz para recordar-nos “o sofrimento de milhares de homens, mulheres e crianças que, abandonados à sua própria sorte ou perseguidos pelos governos, e entregues ao poder usurário e escravizante das máfias, mendigam, sobrevivem, sofrem e morrem no caminho da emigração”.

Em vez de unir nossas forças para erradicar, pela raiz, a fome no mundo, somente pensamos em nos fechar em nosso “bem-estar egoísta” levantando barreiras cada vez mais degradantes e assassinas. Em nome de que Deus despedimos essas pessoas para que se afundem em sua miséria? Onde estão os seguidores de Jesus?

Quando é que se ouve, em nossas Eucaristias, o grito de Jesus: “Dai-lhes vós mesmos de comer”?
 The Feeding of the 5,000 -
Bruno Maggioni
Biblista italiano

TROCAR O “COMPRAR” PELO “COMPARTILHAR”

[...] O ser humano atormentado por uma fome e por uma sede que somente Deus é capaz de saciar encontra-se também no relato evangélico de Mateus 14,13-21: a multidão segue Jesus não tanto pelo pão, mas para escutar a sua palavra. Primeiramente, portanto, a escuta da Palavra!

Mas à multidão que o havia seguido para escutá-lo, Jesus doa também o pão, porque “sente compaixão por eles” (vers. 14). A compaixão de Jesus – transparência da compaixão de Deus – é um sentimento rico nunças: é a atitude de quem sente-se envolvido e responsável, uma atitude feita de simpatia, amor e misericórdia.

É a partir desse sentimento [compaixão] que se compreendem todos os gestos de Jesus que o texto evangélico pontualmente narra:
* Jesus dá uma ordem aos discípulos,
* ora e agradece,
* parte os pães e
* entrega-os aos discípulos para que os distribuam.
Jesus “recitou a benção” (vers. 19): é esta a atitude mais autêntica do ser humano diante de Deus, das coisas e dos irmãos. Bendizer significa reconhecer que as coisas são um dom de Deus e, portanto, agradecer: dons de Deus para desfrutar na alegria. Mas, também, para partilhar, porque Deus criou-os para todos os seus filhos, não somente para alguns.

Os discípulos se preocupam com a multidão, mas acreditam que deva ser a multidão mesma que resolverá o problema: “Despeça a multidão para que vá aos vilarejos comprar o que comer” (vers. 15). Jesus, pelo contrário, envolve os discípulos e lhes compromete. Diz respeito a eles resolver o problema: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (vers. 16). Uma ordem impossível: “Aqui não temos senão cinco pães e dois peixes!” (vers. 17).

Mas nada é impossível para Deus. [...] nas mãos de Jesus o pouco torna-se muito, o pão repartido torna-se abundante. Em essência, Jesus quer que o “comprar” venha substituído pelo “compartilhar”, e isso significa que devem mudar as relações entre você e os outros, entre você e as coisas. Você é responsável pelo outro e, por isso, pessoalmente envolvido em sua necessidade. O problema do pão para todos é problema seu, não somente dos famintos, e as coisas que você possui – mesmo que fossem cinco pães e dois peixes – são bens de Deus para desfrutar com os outros, não sem os outros.

O esquema do “comprar” cria os sortudos e os azarados, alguns têm muito, outros poucos, outros nada. É necessário passar do comprar para o compartilhar. Se mesmo que, paradoxalmente, os discípulos tivessem comprado com seu dinheiro o pão para distribuir, teriam realizado um gesto de caridade, não um sinal que introduz nas relações uma lógica diferente.

É Jesus que realiza o “milagre”, mas não é ele quem distribui o pão às multidões:Deu-lhes aos discípulos, e os discípulos à multidão” (vers. 19). É uma imagem da Igreja: é Cristo que dá a Palavra e a vida, mas tudo passa pelas mãos dos seres humanos que o representam.

Fontes: PAGOLA, José Antonio. La Buena Noticia de Jesús – Ciclo A. Boadilla del Monte (Madrid): PPC, 2016, páginas 195-197; MAGGIONI, Bruno. Ecco, io sono com voi... Meditazioni sulle letture dell’anno A. Padova: Edizioni Messaggero Padova, 2013, páginas 166-167.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.