«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Para ler o Deuteronômio

“Abre tua mão para o teu irmão” (Dt 15,11)

Pe. Dr. Telmo José Amaral de Figueiredo
Paróquia São Benedito – Urânia (SP)
Diocese de Jales – SP
Setembro: Mês da Bíblia - Diocese de Palmas - Francisco Beltrão
Todos os anos, o Mês da Bíblia nos oferece para estudo, reflexão e oração um livro ou uma importante passagem bíblica. Neste ano, é o livro do Deuteronômio que nos é ofertado. Vamos saber o que nos espera ao abrirmos esse quinto livro da Bíblia Sagrada.

Comecemos pelo nome do livro, o que significa esse vocábulo “Deuteronômio”? Em língua grega, significa “segunda Lei” (dêuteros nómos). Foi a tradução grega do Antigo Testamento, conhecida como Setenta (Septuaginta), que deu esse nome ao quinto livro da Bíblia, fundamentando-se em Dt 17,18, entendendo a expressão “uma cópia desta lei”, como sendo uma “segunda lei”. Apesar da interpretação ser imprecisa, não deixa de ser uma verdade. Afinal, o Deuteronômio foi visto pelos judeus como a segunda promulgação da Lei de Deus, nas planícies de Moab, enquanto que, a primeira promulgação, havia ocorrido aos pés do monte Sinai, segundo nos relata o livro do Êxodo.

Quando foi redigido esse livro? A resposta a essa questão não é fácil, pois o Deuteronômio (Dt) é o produto de uma redação que durou séculos, isso mesmo! Em seu interior há materiais que são da época pré-estatal de Israel (1200-1000 a.C.); da época monárquica do Reino de Israel Norte (século VIII a.C.); do período do rei Josias, Reino de Judá Sul (620-609 a.C.); do período em que a elite de Judá viveu exilada na Babilônia (587-538 a.C.); e da época após o exílio babilônico (538-400 a.C.). Portanto, é um livro que recolhe diversas circunstâncias da vida do Povo de Deus e as suas respectivas preocupações. Por isso, é importante buscar compreender cada lei presente no Dt em seu contexto.

Quem escreveu esse livro? Levando em consideração o que foi dito no parágrafo anterior, houve várias mãos que colaboraram para a feitura dessa obra. Desde as tradições genuínas das famílias, dos clãs e tribos da época que, ainda, não havia uma monarquia em Israel; passando pela influência de profetas do Reino de Israel Norte, pelos escribas das cortes dos reis Ezequias (716-701 a.C.) e Josias (620-609 a.C.), ambos do Reino de Judá Sul; até os escribas levitas do período exílico e pós-exílico (587-400 a.C.). Em linhas gerais, o Dt é o resultado de um movimento renovador denominado Deuteronomista. Esse movimento atravessou séculos e procura interpretar aquilo que acontece com o povo à luz da vontade de Deus, é o que poderíamos chamar de ler e compreender os “sinais dos tempos”.

Para que o Dt foi escrito? Sendo fruto de um longo processo de redação e tendo sofrido a influência de vários grupos de escritores, não é tão simples determinar um objetivo único para esse livro. No entanto, observando sua forma final, aquela que está em nossas bíblias, podemos afirmar que são dois esses objetivos: o primeiro é fazer com que o povo observe (obedeça) melhor a Lei de Deus, uma lei que promove e preserva a vida, acima de tudo! Para tanto, leia Dt 30,19-20. O segundo objetivo, esse mais ligado às tradições das cortes monárquicas de Israel e Judá, é fazer um apelo para que o povo se converta ao Deus oficial, o Deus único e poderoso, bem como, à sua lei do puro e do impuro e à unidade do povo eleito, Israel. Para nós, hoje, é mais importante, obviamente, o primeiro objetivo.

O que o Dt nos diz de mais importante? Mergulhando nos textos do livro ficamos fascinados com a quantidade de leis, normas, decretos etc. Porém, não se engane! Esse é um livro no qual as leis brotam da vida! As leis comparecem para preservar aspectos fundamentais da vida do povo. É claro que há, também, algumas leis estranhas: leis desumanizadoras (Dt 20,10-14); leis de centralização a serviço do poder e do lucro (Dt 12,2-7) e a lei do Deus violento e castigador (Dt 13,7-12). Nada disso deve nos escandalizar ou assustar, pois é fruto da mentalidade de certas épocas da história do Povo de Deus. O que predomina no livro, e que mais nos interessa, é aquilo que frei Carlos Mesters e Francisco Orofino muito bem definiram como os sete temas ou as sete janelas pelas quais podemos ler o Dt:
a) “O amor de Deus é a chave para interpretar os fatos da história. Foi por amor que Deus tirou o povo do Egito” (Dt 7,7-8);
b) “Sem memória, o povo perde a sua identidade e o rumo da sua missão” (Dt 6,20-21);
c) “Pelo seu jeito de servir, o povo revela o rosto de Deus... Nosso privilégio é poder servir os outros” (Dt 15,11);
d) “Viver em estado permanente de êxodo, ‘saída’” (Dt 24,18);
e) “A vida do povo deve ser um sinal da presença de Deus... Quando todos observam os Mandamentos de Deus, não surge pobre” (Dt 15,4);
f) “O verdadeiro Deus é aquele que libertou o seu povo da escravidão do Egito e lhe garantiu a vida”, isso jamais pode ser esquecido (Dt 5,6-8);
g) há um compromisso mútuo entre Deus e o povo, o livro do Dt é o livro da Aliança, uma aliança feita hoje, sempre atual e renovada (Dt 5,2-3).

Agora, é abrir o livro do Dt e iniciarmos nossa leitura!

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