«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Já ultrapassamos os limites

 A maior parte dos limites para uma vida humana segura no planeta foi ultrapassada 

Antonio Cerrillo

«La Vanguardia», 31-05-2023 

JOHAN ROCKSTRÖM

Resultado: os seres humanos estão correndo riscos colossais

Os limites biológicos e físicos do planeta, fronteira a partir do qual a Terra deixa de ser um lugar seguro e habitável para a vida humana, estão sendo superados pelas alterações causadas pelo homem. A superexploração de recursos e seus impactos estão colocando contra as cordas a capacidade da Terra de se sobrepor (de resiliência) e de continuar fornecendo suporte à vida e serviços ambientais essenciais e, assim, evitar o risco de colapso. O resultado é que “os seres humanos estão correndo riscos colossais” que comprometem o futuro da civilização e de todos os seres que vivem na Terra, segundo um estudo publicado na revista Nature.

Uma equipe de 40 cientistas, liderada por Johan Rockström, copresidente da Comissão da Terra, definiu os cinco grandes limites do planeta, algo como os cinco semáforos vermelhos que a humanidade não deve ultrapassar. E a conclusão é que a maior parte desses limites está sendo ultrapassada.

“Estamos no Antropoceno, colocando em risco a estabilidade e a resiliência de todo o planeta”, sentencia Johan Rockström, autor principal e diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático.

Os cientistas fazem a primeira grande tentativa de objetivar os limites seguros e justos do sistema Terra para vários dos processos e sistemas biológicos e físicos que o regulam. Contudo, não avaliam apenas o estado de saúde planetário, mas também a dimensão da justiça, ou seja, utilizam como critério as condições que evitam as consequências e os danos significativos desta situação sobre as populações humanas.

Concretamente, a Comissão da Terra quantificou os limites considerados seguros e justos para a preservação do clima, da biodiversidade, das massas de água doce, dos ciclos de nutrientes e da presença de aerossóis poluentes na atmosfera; e conclui que a maioria desses indicadores foi ultrapassada.

Os limites climáticos e na natureza

Por exemplo, já se ultrapassou o limite justo e seguro para o clima, fixado em um aumento de temperatura de 1 grau acima dos níveis de temperatura pré-industriais, pois dezenas de milhares de pessoas já estão sendo prejudicadas atualmente pela mudança climática. O limite “seguro”, no sentido estrito, é de 1,5 grau, uma faixa que define a alta probabilidade de múltiplos pontos críticos climáticos. No entanto, o critério de “justiça” penaliza a “nota final” e, por isso, conclui-se que o limite climático foi ultrapassado.

Para alcançar a proteção da natureza, o limite “seguro e justo” é que de 50 a 60% do mundo contêm com ecossistemas predominantemente naturais. No entanto, apenas de 45 a 50% do planeta possuem ecossistemas intactos.

Em áreas alteradas pelos seres humanos, como fazendas, cidades e zonas industriais, a Comissão diz que pelo menos de 20 a 25% da terra deve ser dedicada a habitats seminaturais, como parques naturais, áreas arborizadas para manter o ecossistema, ou que fornecem serviços de polinização, regulação da qualidade da água, controle de pragas e doenças e proporcionam o acesso à natureza. No entanto, cerca de dois terços das paisagens alteradas não atingem esse objetivo.

Alteração dos cursos da água

O ponto de referência para as águas superficiais é que não mais do que 20% dos fluxos de rios e arroios podem ser alterados ou bloqueados em qualquer área de captação, já que isso provoca uma diminuição da qualidade da água e a perda de habitats para as espécies de água doce. Este “limite seguro” já foi ultrapassado em um terço da terra do mundo por hidrelétricas, sistemas de drenagem e construções.

O balanço também reprova o que está acontecendo com os sistemas de águas subterrâneas, cujo limite seguro é que os aquíferos não se esgotem mais rápido do que podem ser repostos. No entanto, 47% das bacias hidrográficas do mundo estão se esgotando a um ritmo alarmante. Este é um grande problema em centros populacionais como Cidade do México e áreas de agricultura intensiva como a Planície do Norte da China.

Poluição

Outro objetivo diz respeito à poluição por aerossóis, que se acumula nos canos de escapamento de automóveis, fábricas e usinas de carvão, petróleo e gás.

Localmente, por exemplo, nas cidades, segue-se o critério da Organização Mundial da Saúde que estabelece um limite de 15 microgramas por metro cúbico de exposição média anual a pequenas partículas, conhecidas como PM2.5, que podem prejudicar os pulmões e o coração.

Esse é um problema de justiça social porque as comunidades mais pobres, muitas vezes, predominantemente negras, tendem a sofrer os piores resultados, já que muitas estão localizadas em áreas vulneráveis.

Excesso de nutrientes

Os nutrientes, ou seja, o excesso de fertilizantes (nitrogênio e fósforo) é outro foco de preocupação porque os agricultores nos países mais ricos estão aplicando mais nitrogênio e fósforo nas terras do que as plantas e o solo podem absorver. Essas práticas aumentam temporariamente os rendimentos, mas provocam infiltrações, derramamentos e escoamentos de água que levam à contaminação de lagos, lagoas e à proliferação de algas que contaminam os recursos hídricos.

As nações mais pobres precisam de mais fertilizantes, enquanto as nações ricas precisam reduzir o excedente. O “limite seguro e justo” é um equilíbrio complexo: no momento, provocam um excedente global de 61 milhões de toneladas de nitrogênio e cerca de 6 milhões de toneladas de fósforo.

“Os resultados são bastante preocupantes. A menos que ocorra uma transformação a tempo, é muito provável que se torne inevitável ultrapassar os pontos de uma mudança irreversível (tipping points) e, consequentemente, um impacto generalizado no bem-estar humano. Evitar esse cenário é crucial se quisermos garantir um futuro seguro e justo para as gerações atuais e futuras”, acrescenta Rockström.

Até o momento, os especialistas identificaram dezessete elementos climáticos críticos, sendo nove relacionados à criosfera[1]. “A criosfera em áreas de altas montanhas da Ásia está mudando rapidamente, a ponto de se tornar um novo ‘elemento crítico climático’, o que pode repercutir na socioeconomia regional”, explicou o professor Qin Dahe, copresidente da Comissão da Terra e diretor do Comitê Acadêmico da Academia Chinesa de Ciências.

As consequências maléficas da emergência climática e do descontrole do uso da natureza já se fazem sentir em todas as partes do planeta, mas penaliza, sobretudo, os mais pobres!

Objetivos baseados na ciência

Os limites do sistema Terra serão a base para o estabelecimento de novos objetivos baseados na ciência (em inglês: science-based targets) para empresas, cidades e governos abordarem as diferentes crises:

a) a crescente exposição humana à emergência climática,

b) o declínio da biodiversidade,

c) a escassez de água,

d) os danos aos ecossistemas pelo uso excessivo de fertilizantes em algumas partes do mundo (junto à falta de acesso em outras) e

e) os danos à saúde pela poluição atmosférica.

Uma transformação segura e justa requer urgentemente a ação coletiva por parte de múltiplos atores, especialmente de governos e empresas para atuar dentro dos limites do sistema Terra e manter intacto o sistema que sustenta a vida no planeta. A gestão adequada dos bens comuns globais nunca foi tão urgente, nem tão importante”, afirma Wendy Broadgate, diretora executiva da Comissão da Terra e diretora do Future Earth Global Hub, da Suécia.

Os autores acreditam que esta avaliação científica global fornece à sociedade alguns limites dentro dos quais o desenvolvimento mundial próspero e equitativo pode ocorrer, em um planeta estável.

“Os objetivos baseados na ciência podem ser adotados por cidades, empresas e países para enfrentar as crises sistêmicas globais de mudança climática, perda de biodiversidade, sobrecarga de nutrientes, uso excessivo de água e poluição atmosférica”, conclui Rockström

NOTA

[1] Criosfera: Os cientistas classificam a Terra em cinco esferas, sendo a quinta chamada criosfera (do grego kryos, que significa glacial, frio ou gelado, e sphaira, que significa esfera). É constituída por regiões da superfície terrestre cobertas permanentemente por gelo e neve e aquela parte do solo que contem gelo. Cobrem 10% da superfície terrestre e têm enorme importância na regulação dos processos hídricos e atmosféricos. Inclui: mantos e calotas de gelo, geleiras, mar congelado (gelo marinho), lagos e rios congelados, permafrost (solo e rochas congeladas) e neve sazonal. A água congelada representa 80% de toda a água doce disponível na Terra. 

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quinta-feira, 1 de junho de 2023 – Internet: clique aqui (Acesso em: 05/06/2023).

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