«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 26 de março de 2019

Como educar mal seu filho!

Pais superprotetores cruzam limites por filhos
e “roubam” seu amadurecimento

Claire Cain Miller & Jonah Engel Bromwich
The New York Times

Criação que livra caminho das crianças de obstáculos pode prejudicar aprendizado de resolução de problemas
O que está na moda, hoje em dia, é uma educação "limpa-trilhos", que tenta retirar da vida dos filhos
todos os problemas, dificuldades e obstáculos para o seu sucesso.

O filho mais velho de Nicole Eisenberg, 49, queria ser um astro dos palcos desde que era bebê. Ele teve aulas de canto, dança e teatro e frequentou o famoso acampamento de verão Stagedoor Manor por cerca de seis anos, mas ela estava ansiosa porque talvez isso não bastasse para colocá-lo nos melhores cursos de artes cênicas.

Por isso, Eisenberg e outros em Bloomfield Hills, no estado de Michigan, nos EUA, a ajudaram a fundar uma entidade sem fins lucrativos com amigos que levantou mais de US$ 250 mil (R$ 950 mil) em quatro anos.

"Fomos quatro ou cinco mães que começamos isso. Nós a criamos, ajudamos, mas não o fizemos por eles", disse Eisenberg. "Nós pedimos patrocínio para eles? Sim. Pedimos dinheiro por eles? Sim. Mas eles tinham de fazer o trabalho."

Ela até pensou em fazer uma doação à faculdade que ele escolhesse. "Não há valor que poderíamos pagar para colocá-lo lá dentro", disse Eisenberg. "Porque, acredite, meu sogro perguntou." (O filho de Eisenberg foi admitido em dois dos melhores cursos de teatro musical dos Estados Unidos, segundo ela, juntamente com mais nove das 26 escolas em que ele se inscreveu.)

A faculdade estava no radar deles desde que o filho usava fraldas. "Tive de levá-lo a 20 audições de teatro musical. Mas ele fez tudo comigo. Não sinto que eu fiz isso. Eu o apoiei. Não fui uma mãe-helicóptero. Fui uma copiloto."

Os pais-helicópteros, que pairam ansiosamente perto dos filhos, monitorando toda a sua atividade, são muito século 20. Algumas mães e pais ricos hoje são mais como limpa-trilhos: máquinas que avançam na frente, limpando qualquer obstáculo no caminho de seus filhos para o sucesso, para que eles não encontrem fracassos, frustrações ou oportunidades perdidas.

Levado ao extremo criminoso, isso significa subornar os bedéis no teste de aptidão escolar (SAT, na sigla em inglês) e pagar treinadores de colégios para colocar seus filhos nas faculdades de elite — e depois fazer o possível para garantir que eles nunca enfrentem a humilhação de saber como chegaram lá.
FELICITY HUFFMAN
atriz do famoso seriado norte-americano "Desperate Housewives", envolvida em
escândalo de suborno em faculdade em favor de seu filho

Essas são algumas das denúncias no recente escândalo de suborno em faculdades, em que 50 pessoas foram acusadas em uma extensa fraude para garantir a admissão de estudantes. Entre elas estavam atrizes como Felicity Huffman (de "Desperate Housewives") e Lori Loughlin (de "Full House"), além de empresários e técnicos esportivos de prestigiosas instituições de ensino como Yale e Stanford. 

Segundo a investigação, um pai mentiu sobre seu filho jogar polo aquático, mas depois ficou preocupado que a criança fosse vista pelos colegas como uma "pessoa que segura lugar para outras". (Garantiram a ele que o filho não precisaria participar realmente do time.)

Outro, segundo as acusações, pagou a alguém para fazer o exame ACT, equivalente ao vestibular, por seu filho — e depois fingiu aplicá-lo ao jovem pessoalmente em casa, para ele pensar que estava realmente fazendo o exame.

Os pais acusados na investigação, cujo codinome é Operação Varsity Blues (algo como "depressão no time"), estão muito longe da norma. Mas eles agiram como perfeitos limpa-trilhos: liberando o caminho para seus filhos entrarem na faculdade, enquanto os protegiam de qualquer dificuldade, risco e possível decepção nesse processo.

Em sua forma menos ofensiva — e totalmente legal —, limpar trilhos (também conhecido como "roçar gramados" ou "escavar") se tornou o modo mais ousado de criar filhos privilegiados na geração "todo mundo ganha um troféu".

Começa cedo:
a) quando os pais entram em listas de espera para pré-escolas de elite, antes de seus bebês nascerem, e
b) tentam garantir que os pequenos jamais serão obrigados a fazer nada que possa frustrá-los.
c) Fica mais intenso quando a escola começa: levar uma tarefa esquecida correndo até a escola, ou telefonar para o treinador pedindo que a criança entre no time.
d) Mais tarde, é escrever desculpas se eles atrasarem nos trabalhos de casa,
e) pagar a um conselheiro de faculdade milhares de dólares ou ligar para professores para discutir notas.

O escândalo de propinas "apenas salientou um lado incrivelmente escuro do que se tornou a norma, que é garantir que seu filho tenha o melhor, seja exposto ao melhor, tenha todas as vantagens, sem compreender como isso pode ser prejudicial", disse Madeline Levine, psicóloga e autora de "Teach Your Children Well: Why Values and Coping Skills Matter More Than Grades, Trophies or ‘Fat Envelopes’" (Ensine seus filhos direito: por que valores e técnicas de relacionamento são mais importantes que notas, troféus ou 'envelopes recheados').

"Eles tiraram tudo do caminho de seus filhos", disse ela.

Em seu consultório, Levine disse que vê com frequência calouros de faculdade que "tiveram de voltar para casa de universidades como Emory ou Brown porque não tinham as mínimas capacidades adultas necessárias para estar na faculdade".

* Um voltou para casa porque tinha um rato no dormitório.
* Alguns não gostavam dos colegas de quarto.
* Outros disseram que era trabalho demais e eles não tinham aprendido técnicas de estudo independente.
* Uma não gostava de comer alimentos com molho. Durante toda a sua vida, seus pais a ajudaram a evitar molhos, ligando antes para os amigos quando iam jantar em suas casas. Na faculdade, ela não sabia lidar com as opções da lanchonete — cobertas de molho.

"São pais que passaram 18 anos cuidando de seus filhos com o que eles consideravam vantagens, mas não são", disse Levine.

Sim, é tarefa de um pai ou uma mãe apoiar e usar sua sabedoria de adultos para preparar os jovens para o futuro quando eles ainda não têm maturidade suficiente.

Mas se as crianças nunca enfrentam um obstáculo, o que acontece quando elas entram no mundo real?

Elas fracassam, disse Julie Lythcott-Haims, ex-diretora de novos alunos em Stanford e autora de "How to Raise an Adult: Break Free of the Overparenting Trap and Prepare Your Kid for Success" (Como criar um adulto: livre-se da armadilha da criação exagerada e prepare seu filho para o sucesso).

Em Stanford, ela disse que viu alunos contarem com os pais para marcar datas de jogos com colegas de dormitório ou reclamar com os chefes do filho quando um estágio não levava à contratação. A causa original, disse ela, eram pais que nunca deixaram seus filhos cometer erros ou enfrentar desafios.

“O negócio é preparar a criança para a estrada,
em vez de preparar a estrada para o filho”,
diz Lythcott-Haims.

Pais-helicópteros é uma expressão que entrou na moda nos anos 1980 e surgiu do medo sobre a segurança física dos filhos — que eles caíssem de um brinquedo no playground ou fossem sequestrados no ponto de ônibus. Nos anos 1990, ela evoluiu para cuidados intensivos, o que significava não apenas monitorar as crianças constantemente, mas também ensiná-las.

Foi quando os pais começaram a encher as tardes e fins de semana com aulas, tutores e esportes. Os pais de hoje gastam mais com a criação dos filhos do que qualquer geração anterior, segundo dados da Pesquisa de Despesas do Consumidor analisados pelos sociólogos Sabino Kornrich e Frank Furstenberg.

Segundo dados de uso do tempo analisados por Melissa A. Milkie, socióloga na Universidade de Toronto, as mães trabalhadoras de hoje passam tanto tempo fazendo atividades práticas com seus filhos quanto as mães que não trabalhavam nos anos 1970. As mensagens eletrônicas e redes sociais permitiram que os pais acompanhem cada vez mais de perto seus rebentos.

A criação limpa-trilhos é uma forma ainda mais obsessiva.

"Há um monitoramento constante de onde o filho está e o que está fazendo, tudo com a intenção de evitar que algo aconteça e se torne um obstáculo para o sucesso da criança", disse Laura Hamilton, autora de "Parenting to a Degree: How Family Matters for College and Beyond" (Criação até certo ponto: como a família é importante para a faculdade e depois) e socióloga na Universidade da Califórnia em Merced.

O destino no fim da estrada é muitas vezes a admissão na faculdade. Para muitas famílias abastadas, sempre foi um símbolo necessário de realização para a criança — e para os pais. Um diploma universitário também se tornou cada vez mais essencial para ganhar um salário de classe média.

Mas a admissão nas faculdades tornou-se cada vez mais competitiva. O número de inscrições nos EUA duplicou desde os anos 1970, e o aumento do número de vagas não acompanhou, continuando basicamente o mesmo nas escolas mais cobiçadas.

Ao mesmo tempo, não é mais garantido que as crianças se sairão tão bem quanto seus pais. Jovens nascidos em 1950 tinham uma probabilidade de 80% de ganhar mais que os pais, segundo o trabalho de uma equipe de economistas chefiada por Raj Chetty, em Harvard. Os nascidos em 1970 tinham probabilidade de 61%. Mas desde 1980 os filhos têm a probabilidade de ganhar menos ou o mesmo que seus pais.

É doloroso para qualquer pai ver seu filho se sair mal ou não realizar seus objetivos (ou os dos pais?). Hoje, porém, as apostas são muito mais altas.

O problema é que limpar trilhos é um hábito de criação difícil de romper.

"Se você faz isso no colégio, não vai parar na faculdade", disse Lythcott-Haims. "Se você faz na faculdade, não consegue parar quando chega ao local de trabalho. Você criou um papel para si mesma de sempre estar lá para cuidar das coisas para seu filho, então isso piora porque seu jovem adulto está mal equipado para cuidar das tarefas básicas da vida."

[...]

Não são só os ricos. Pesquisa recente sugere que pais de todas as camadas sociais e raças estão adotando a ideia da criação intensiva, quer possam pagar por ela quer não.

Muitas vezes isso envolve intervir em nome dos filhos. Em um estudo recente que pesquisou um grupo nacionalmente representativo de pais sobre quais opções de criação eles consideravam melhores, as pessoas, independentemente de raça, renda ou educação, disseram que os filhos deviam ser matriculados em atividades extracurriculares para que não se sentissem entediados. Se uma criança não gostava da escola, eles achavam que os pais deviam falar com o professor para dar trabalho diferente ao filho.

Mas a verdadeira criação limpa-trilhos é feita principalmente por pais privilegiados, que têm dinheiro, conexões e informação para se manter dois passos à frente dos filhos. Famílias sem esses recursos não têm necessariamente o dinheiro para investir em aulas e conselheiros educacionais, e talvez não tenham experiência em admissões em faculdades ou mercados de trabalho ultracompetitivos.

[...]

Traduzido do inglês por Luiz Roberto Mendes Gonçalves.

Fonte: Folha de S. Paulo – Equilíbrio e Saúde – Terça-feira, 26 de março de 2019 – 02h00 (Horário Oficial de Brasília – DF) – Internet: clique aqui.

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