«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Um sistema contra o Evangelho

O “ódio consciente” ao Papa Francisco é o sinal mais evidente do “ódio inconsciente” que grande parte do clero tem pelo Evangelho

José María Castillo
Teólogo católico espanhol
blog “Teología sin Censura”
13-06-2019

«Por que o Papa Francisco é tão desaprovado e odiado
por tantos “homens de Igreja”?
A resposta é muito simples e é uma coisa evidente:
o clero, que fez carreira na Igreja e com a Religião, não pode suportar
um papa que tomou como eixo e centro,
de sua vida e da vida da Igreja, justamente o Evangelho da paz,
a bondade, os direitos dos pobres e o sofrimento dos fracos»
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Quando todos os dias assistimos os telejornais, oferecidos por diferentes canais de TV, a impressão inevitável de muitos de nós, telespectadores, é que vivemos em um mundo descontrolado. Ou seja, o mundo saiu de nossas mãos e não podemos controlá-lo pela simples razão de que, todos os dias, dependemos mais e mais da tecnologia.

Mas, a tecnologia está controlada, dirigida e a serviço dos interesses do capital. Significa que estamos nas mãos do que convém a um número reduzido de magnatas, a quem importa muito pouco o imenso sofrimento de milhões de seres humanos. E, além disso, trata-se do pequeno grupo dos mais poderosos, que administram a economia, a política e o direito como lhes convêm e à custa de milhões de escravos, de submissos e de seres humanos abandonados a sua sorte, sem outras possibilidades e, é claro, sem futuro.

A Religião não nos retira deste imbróglio

Sendo assim as coisas, não cabe contar com uma solução que possa brotar do sistema descontrolado em que vivemos. Porque o sistema é o primeiro interessado a que isto não tenha outra solução. Todos os dias recebemos notícias de reuniões e encontros “do mais alto nível”. Para que servem tantos e tão importantes encontros dos nomes e cargos tão conhecidos e, sobretudo, dos nomes daqueles que mais mandam e cujos nomes menos são conhecidos? Servem unicamente para fortalecer a eles mesmos. E para enganar a nós, que não conseguimos saber mais a fundo do assunto.

Tudo isto tem alguma saída? Resta-nos alguma esperança? A Religião não nos retira deste imbróglio. Porque a Religião, seja a que for, faz parte do sistema e, por isso mesmo, compõe o sistema gerador de tantos e tantos atropelos e desgraças. Basta pensar que, com frequência, as religiões (e os homens da religião), ainda que falem de justiça, amor, comportamentos éticos irrepreensíveis e outras coisas do estilo, na realidade, vive do sistema e são custeadas pelo sistema.

Ao mesmo tempo, a Religião prega uma doutrina que ensina, entre outras coisas, que os crentes precisam ser “bons cidadãos”, um programa de vida que inclui, entre outras coisas, a importância e a necessidade de “respeitar o sistema”. Com isso, sem se dar conta do que fazem, os dirigentes da Religião se constituem um dos pilares mais sólidos da manutenção e a fortaleza do sistema.
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Esta ideia não é de Marx e dos marxistas. Muito antes de nascer o marxismo, Nicolau Maquiavel, em seus “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio” (I, 12), disse isto:
“Os príncipes e os estados que querem se manter incorruptos devem, sobretudo, manter incorruptas as cerimônias de sua religião..., pois não há maior indício da ruína de uma província do que ver que nela se despreza o culto divino”.

Nas origens do cristianismo, São Paulo sentenciou com firmeza: “Submetam-se todos às autoridades constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus” (Rm 13,1-2). E, na atualidade, o comportamento da Hierarquia Eclesiástica, com seu silêncio sobre todo este assunto, é um dos fatores mais determinantes da estabilidade e solidez do sistema canalha gerador de tantos sofrimentos e, sobretudo, do “mundo descontrolado” que está nos conduzindo para o desastre total.

Evangelho e Religião

Isto tem alguma solução? O que os poderes deste mundo oferecem de si não trará uma solução. Na tradição cristã, temos o Evangelho de Jesus, o Senhor.

Pois bem, se há algo claro no Evangelho
é que a solução ao problema do sofrimento, neste mundo,
não está nos poderosos e nos ricos, mas, sim, nos fracos, pequenos,
marginalizados e excluídos.

Ao dizer isto, insisto em que o Evangelho não é uma Religião a mais. Nunca nos esqueçamos que foi a Religião que perseguiu e matou Jesus. O Evangelho e a Religião são incompatíveis. E são justamente por causa do assunto que aqui estamos tratando. Precisamente, a condenação de Jesus à morte foi sentenciada pelo Sinédrio porque viu em Jesus um perigo mortal para o sistema religioso de Israel (Jo 11,47-53).
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Jesus diante do Sinédrio, antes de ser condenado à morte

Por que o Papa Francisco é tão desaprovado e odiado por tantos “homens de Igreja”? A resposta é muito simples e é uma coisa evidente: o clero, que fez carreira na Igreja e com a Religião, não pode suportar um papa que tomou como eixo e centro, de sua vida e da vida da Igreja, justamente o Evangelho da paz, a bondade, os direitos dos pobres e o sofrimento dos fracos. O “ódio consciente” ao Papa Francisco é o sinal mais evidente do “ódio inconsciente” que grande parte do clero tem pelo Evangelho.

Traduzido do espanhol pelo Cepat. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 19 de junho de 2019 – Internet: clique aqui

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