«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

A continuar, assim, estamos perdidos!

Bibi Trump e Donald Netanyahu

Thomas Friedman
Jornalista especializado em questões internacionais e Oriente Médio
«The New York Times»

Ambos veem os problemas do mundo como oportunidades
para consolidar seu poder
Primeiro Ministro Netanyahu (Israel) encontra o Presidente Trump na Casa Branca - Washington
Março de 2019

Foto: Doug Mills (The New York Times)

Há dois países com os quais estive envolvido profissional, emocional e intelectualmente durante minha carreira de jornalista – os Estados Unidos da América [EUA] e Israel. Nunca fiquei tão preocupado com ambos quanto agora, porque o presidente Donald Trump e o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu são essencialmente a mesma pessoa.

Ambos são homens totalmente desprovidos de vergonha, apoiados por partidos sem dignidade e protegidos por nichos da grande mídia totalmente sem integridade. Ambos são bancados por um magnata dos cassinos de Las Vegas, Sheldon Adelson. Ambos apoiam uma causa “republicana” em Israel – não mais uma causa bipartidária. Podem atirar num inocente em plena luz do sol na Quinta Avenida e seus apoiadores dirão que são vítimas.

Cada um deles está livre para ultrapassar limites que seus predecessores nunca teriam ousado. É por isso que acredito que mais quatro anos para Netanyahu e mais seis para Trump, uma possibilidade real, vão levar ao surgimento de uns EUA e um Israel nos quais respeito à civilidade, democracia, Judiciário independente e mídia independente não serão mais exemplos a serem seguidos.

Em vez disso, os dois países serão exemplos de como as preciosas normas e instituições que dão liga a uma democracia podem ser facilmente solapadas por líderes dispostos a contar qualquer mentira, esmagar qualquer competidor e cortejar qualquer extremista para se manter no poder.

A primeira providência de Netanyahu será fazer um acordo com seus potenciais parceiros de coalizão, a maioria de extrema direita, no qual, segundo informou o jornal Haaretz, esses partidos vão concordar em criar uma legislação que livre Netanyahu de seus muitos indiciamentos por corrupção – em troca do que ele concordará em anexar assentamentos na Cisjordânia a Israel. E Trump vai concordar com isso, talvez como parte de seu próprio plano de paz. Seguramente, será um negócio sujo.
Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu na sede de seu partido político, o Likud, em Tel Aviv
Quarta-feira, 10 de abril de 2019

Foto: Thomas Coex/Agência France Presse

Mas que mais poderíamos esperar? Netanyahu abraçou abertamente um partido israelense racista e antiárabe e uma retórica também antiárabe, diferentemente de qualquer primeiro-ministro israelense anterior. Ao mesmo tempo, ele vem ininterruptamente embaçando a Linha Verde que separa Israel da Cisjordânia e seus 2,5 milhões de palestinos – com ajuda do embaixador de Trump em Israel –, tornando cada vez mais improvável que Israel vá algum dia se separar dessa área e cada vez mais provável que Israel venha a se tornar um Estado binacional no qual judeus desfrutarão de direitos negados aos palestinos.

Enquanto isso, Trump vem cada vez mais depressa transformando os EUA numa república de bananas, demitindo funcionários do governo e altos burocratas que se recusam a cumprir suas ordens temperamentais, geralmente ilegais e na maioria das vezes destinadas a impedir a imigração ilegal e legal e a conceder asilo ao longo da fronteira México-EUA.

Trump prefere governar através de secretarias “atuantes” – ele demitiu os chefes e não os substituiu –, que são muito mais vulneráveis a seus desígnios e aceitam melhor suas mais de 10 mil mentiras e falsidades acumuladas desde que ele assumiu o poder.

Netanyahu, por sua vez, prefere acumular múltiplas funções: durante boa parte de seu último mandato, ele foi ao mesmo tempo primeiro-ministro, ministro da Defesa, ministro do Exterior e ministro da Saúde.

Nenhum dos dois têm amigos próximos. A maior diferença entre os dois é que Netanyahu é muito esperto, ávido leitor e hábil em administrar relações com vizinhos de Israel e com grandes potências, como EUA, Rússia, Índia e China. Trump também é esperto, mas provavelmente há anos não lê um livro. Ele é informado pela Fox News e outros veículos da mídia de direita e, mais do que manejar Putin, é manejado por ele.

Tanto Trump quanto Netanyahu são investigados por sérias impropriedades financeiras. O procurador-geral de Israel recomendou que Netanyahu seja indiciado por acusações de fraude, suborno e quebra de confiança em três casos de corrupção. Trump foi inocentado pelo procurador especial em casos de conluio com a Rússia na eleição de 2016, mas continua sob investigação. Cinco assessores próximos a Trump já admitiram culpa ou foram condenados.

Nenhum dos dois têm interesse em liderar seu povo. Ambos optaram por governar dividindo a população, mais que a unindo. A cada um deles basta ganhar por 50,1%, usando o medo do estrangeiro e salientando diferenças culturais ou religiosas entre seus cidadãos.

A estratégia de Netanyahu foi demonizar árabes-israelenses. A de Trump foi demonizar muçulmanos, mexicanos e imigrantes. Nenhum dos dois está totalmente errado sobre o mundo em torno deles. Os EUA têm um problema de imigração ilegal que os democratas não levaram suficientemente a sério. Israel tem inimigos como o Irã e outros próximos a ele. Mas os inimigos externos de Israel estão bem contidos. A verdadeira ameaça para Israel é interna – é anexar a Cisjordânia e sua população palestina, e ser visto pelo mundo com a África do Sul do apartheid.

[Comentário pessoal: impressionantes as semelhanças no modo de agir de Trump-Netanyahu e Bolsonaro no Brasil! Dividindo para reinar! Colocando-se como a “única” opção antipetista e conquistando o poder via a demonização de seus adversários! Qualquer semelhança, então, não é mera coincidência! O Brasil, ora o Brasil! O importante é vencer, dominar, esmagar o adversário!]

Para Netanyahu, pensar imaginativamente sobre como se separar da Cisjordânia, e para Trump, como administrar o problema da imigração com uma estratégia nacional coerente, é um sacrifício que vai exigir de cada um que confronte os ultranacionalistas que formam a base de seu apoio. Nenhum dos dois tem coragem ou vontade de fazer isso.

Na verdade, Netanyahu foi tão fundo que nesta última eleição aceitou como parceiro um partido antiárabe pequeno e racista – um partido tão vil que a 
Suprema Corte de Israel
impediu que seu líder disputasse a eleição.
Não preciso dizer até onde Trump foi em desculpar supremacistas brancos.
Resultado de imagem para Bernard Avishai
BERNARD AVISHAI
Professor de Administração (Business) na Hebrew University (Jerusalém),
Duke University,  Massachusetts Institute of Technology (MIT) e Dartmouth College (Estados Unidos)

Netanyahu passará à história como o líder israelense que concretizou a distinção entre “israelenses” e “judeus”, como notou Bernard Avishai num ensaio na New Yorker: “A ameaça, entende Netanyahu, não são apenas os árabes, mas o que pode ser chamado de “israelismo” – uma identidade legal e cultural disponível para qualquer cidadão que participe da sociedade civil e fale hebraico, incluindo os 20% que são árabes”.

Netanyahu fez aprovar a recente Lei da Nação-Estado, que estipula que Israel é “a pátria nacional do povo judeu na qual esse povo exerça seu direito natural, cultural, religioso e histórico à autodeterminação”. Embora muitos judeus americanos que apoiam tradicionalmente Israel possam tentar “blindar Netanyahu, é cada vez mais claro que ele está em atrito com os padrões democráticos desses judeus americanos, que estão cada vez mais sob ataque”, concluiu Avishai. “Judeus americanos, como eleitores israelenses, têm escolhas a fazer.” Será Israel um Estado para judeus ou para todos esses cidadãos?

Trump pode não dizer explicitamente, mas sua visão é que, basicamente, verdadeiros americanos são brancos judeus-cristãos – certamente, não muçulmanos – e todo imigrante negro ou mestiço é suspeito.

Finalmente, tanto Trump como Netanyahu idolatram apenas uma coisa – o poder nu, explícito, e não se acanham em exercê-lo. Netanyahu está convencido de que, se Israel for forte militar, econômica e tecnologicamente, o mundo se curvará a sua vontade e virá bater a sua porta. Os palestinos vão se render; os árabes terão de ir à mesa de negociação; e China, Índia e Rússia correrão a comprar softwares israelenses. E até agora ele tem acertado. Netanyahu acredita que os judeus americanos liberais têm pouco valor e logo desaparecerão pelo casamento entre raças, e os judeus ortodoxos e cristãos evangélicos terão poder suficiente para representar Israel em Washington.

[Comentário pessoal: o mesmo está se passando no Brasil! Seria pura coincidência?!]
THOMAS L. FRIEDMAN
Autor deste artigo

Trump está substituindo toda a lógica da política exterior dos EUA desde a 2.ª Guerra – a de que mais integração global e regras e instituições globais mais fortes levarão a um mundo mais próspero e, se os EUA estão pagando um pouco mais que os outros por isso, é porque colherão mais benefícios, pois afinal são a maior economia do mundo.

Para Trump, todas as instituições globais criadas após a 2.ª Guerra – Otan, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, Organização Mundial do Comércio, Nações Unidas – são apenas instrumentos para pequenos países sugarem os EUA. Trump na verdade quer ver a União Europeia fracionada, pois entende que, se os EUA negociarem bilateralmente com cada nação, terão mais meios de impor a essas nações acordos comerciais assimétricos.

Assim, não tenham dúvidas: quatro anos mais para Netanyahu e seis mais para Trump não vão mudar apenas os EUA e Israel. Vão mudar o mundo – e não para melhor.

Traduzido do inglês por Roberto Muniz. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional / Artigo – Quinta-feira, 11 de abril de 2019 – Pág. A10 – Internet: clique aqui.

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