«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Papa Francisco: por que as resistências?

A busca por uma Igreja que seja comunidade,
não uma monarquia

Martin Spilker
agência Katholisch.de
27-03-2019

Entrevista com Marco Politi
Jornalista especializado em Vaticano

Politi explica o que distingue o papa argentino dos seus antecessores
e fala sobre as lições que ele aprendeu a partir
dos seus primeiros anos de ministério e
das possíveis reformas
MARCO POLITI

O jornalista Marco Politi escreveu livros sobre os últimos três papas. Ele observa os eventos como que a partir de uma central de comando. E afirma que nunca viu no Vaticano uma oposição tão agressiva contra o Papa Francisco quanto a que está em andamento.

Eis a entrevista.

Politi, o seu livro “Francesco tra i lupi” [Francisco entre os lobos] foi publicado em 2014. Enquanto isso, o Papa Francisco conseguiu domesticar os lobos?

Marco Politi: Não, absolutamente! O título do livro se baseia na história de Francisco de Assis, na qual se narra que um lobo deu a sua pata ao santo como sinal de fidelidade. Aqui ocorre o contrário. A oposição contra as reformas de Francisco é muito forte. Há um processo de deslegitimação em relação ao papa.

É uma afirmação muito forte.

Marco Politi: Sim. Isso já havia começado com uma série de livros por ocasião do Sínodo sobre a família. Depois, houve os quatro cardeais que o criticaram teologicamente. E, em um “Manifesto”, algumas partes da exortação Amoris laetitia foram definidas como heréticas.

Você já viu algo assim no Vaticano?

Marco Politi: Tão agressivo, não. Andrea Riccardi, historiador da Igreja italiana, afirmou que nos últimos 100 anos nunca houve uma oposição tão forte contra um pontífice. E isso por parte de bispos, clero e fiéis.

Como você explica isso?

Marco Politi: O Papa Francisco quer uma forte mudança. Ele não concebe mais a Igreja como uma monarquia, mas como uma comunidade. E a Igreja não deve mais ser tão dogmática, mas sim um lugar onde os fiéis dão testemunho do amor ao próximo.

Há também temas sobre os quais o Papa Francisco se expressa de maneira definitiva. Para ele, por exemplo, o sacerdócio para as mulheres está fora de discussão.

Marco Politi: É verdade. Mas ele também é o primeiro papa a tematizar o diaconato para as mulheres. Existe uma comissão que elaborou um documento, mas que ainda não foi publicado. Aqui se vê como Francisco deve prestar muita atenção para que não haja uma divisão tão grande dentro da Igreja.

Ele não tem a coragem de pôr essas coisas sobre a mesa?

Marco Politi: O Papa Francisco certamente ficou mais cauteloso.

No seu livro, você menciona a origem do papa: a América do Sul e a metrópole de Buenos Aires, onde Francisco foi arcebispo. Isso explica as diferenças no Vaticano?

Marco Politi: Na América do Sul, assim como na Europa, há bispos conservadores, bispos muito cautelosos e bispos comprometidos socialmente. Mas o que certamente moldou a ele e a sua atividade foram as suas experiências em uma metrópole pluralista. Francisco não provém de um ambiente de maioria católica como o bávaro Bento XVI, o polonês João Paulo II e os papas italianos anteriores.

Onde está a diferença?

Marco Politi: Naquela metrópole, existem judeus, muçulmanos, protestantes, maçons, pentecostais. Por isso, ele tem a concepção de uma sociedade pluralista e secularizada. Para ele, um não crente não é alguém a quem falta alguma coisa. Ele nutre um grande respeito por quem pensa diferente.

O Sínodo para a Amazônia ocorrerá no fim deste ano. É possível que no futuro, na Igreja Católica presente nos diversos continentes, valham regras diferentes?

Marco Politi: Uma ideia de fundo do Papa Francisco no início do seu mandato foi esta: nem tudo deve ser decidido a partir do centro. Ele também iniciou um processo de descentralização. Padres e bispos podem hoje tomar decisões que antes eram tomadas em um degrau mais alto. Esses são passos rumo à descentralização. Ele não compreende mais a Igreja como uma monarquia. No Sínodo sobre a Amazônia, levanta-se a interrogação sobre se é possível empregar padres não celibatários em âmbitos regionais por causa da enorme falta de padres. O papa, por exemplo, levantou esse assunto para algumas comunidades particulares em lugares muito remotos na selva.

Que consequências isso teria?

Marco Politi: Seria um grande passo! Porque, bem em breve, outras vozes se levantariam para pedir a mesma coisa. Na América do Norte, pode-se dizer que, na selva da cidade, a falta de padres é igualmente grande.
PAPA FRANCISCO

Dentro da Igreja, seriam grandes passos. Mas eles parecem desaparecer totalmente por causa do atual debate sobre os abusos.

Marco Politi: A Igreja é provocada pelos abusos, e o Papa Francisco disse claramente desde o início que, para ele, existe apenas uma tolerância zero. Por isso, diversos eclesiásticos de alto nível foram depostos. No entanto, a resistência silenciosa e a sabotagem na Igreja universal contra a estratégia do papa continuaram.

Como isso se demonstra?

Marco Politi: Deveria haver um tribunal dentro do Vaticano sobre a ocultação dos casos de abuso. Mas ele nunca foi instituído. Além disso, deveria haver diretrizes para lidar com as vítimas de abuso. Mas a maioria das Conferências Episcopais não fez nada até agora! As Igrejas locais têm um grande medo de que muitos casos encobertos venham à tona.

O Papa Francisco tem 82 anos agora. O que ainda se pode esperar dele?

Marco Politi: Francisco é muito tenaz e decidido. Mas é preciso observar – no caso dos abusos – o que ocorre com as suas diretrizes nas Igrejas locais individuais do mundo. Se, até o ano que vem, for instituído um sistema de elaboração e de prevenção, como na região alemã e anglo-saxônica, então se poderá dizer: é um sucesso! Mas se, ao contrário, essas coisas continuarem acontecendo e surgirem cada vez mais escândalos, então poderemos nos dar conta de que até mesmo o papa não é onipotente e que este papa realmente encontra uma grande resistência.

Mas muitas pessoas depositam muita confiança neste papa. O que está faltando?

Marco Politi: Pode-se ver uma diferença com os tempos posteriores ao Concílio. Naquela época, havia no povo de Deus um forte impulso para a reforma. Havia bispos, cardeais, teólogos, grupos de trabalho e associações de fiéis comprometidos.

Traduzido do alemão por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 8 de abril de 2019 - Internet: clique aqui.

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