«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 23 de abril de 2019

Reformas de Papa Francisco

Papa propõe um abalo radical na Cúria Romana

Christopher Lamb
The Tablet
22-04-2019

A prioridade será a missão de evangelizar da Igreja,
limitando os poderes da toda poderosa 
Congregação para a Doutrina da Fé
O Papa Francisco cumprimenta o cardeal Angelo Sodano,
decano do Colégio dos Cardeais, durante a reunião anual antes do Natal do papa
com os funcionários da Cúria Romana e do Colégio Cardinalício.
Foto: Foto do CNS / Mídia Vaticana

As reformas do Papa Francisco na Cúria Romana contarão com a criação de um novo “superministério” dedicado à evangelização, que terá precedência sobre o outrora poderoso órgão doutrinal Vaticano.

A Congregação para a Doutrina da Fé, anteriormente Santo Ofício da Inquisição, é a instituição mais antiga da Cúria e conhecida como “La Suprema”. Durante anos, ela policiou teólogos, estabeleceu as linhas demarcatórias da doutrina católica e carimbou todos os principais documentos vaticanos.

Mas, de acordo com a Vida Nueva, a respeitada publicação católica espanhola, a Congregação não ocupará mais o primeiro lugar na Cúria. Com Francisco, a Congregação para a Doutrina da Fé já perdeu uma influência significativa, e a nova constituição estabelece formalmente que ela agora estará submetida à nova missão de pregar o Evangelho.

As mudanças estão contidas na nova constituição apostólica sobre a Cúria Romana, Praedicate Evangelium (“Preguem o Evangelho”), elaborada pelo papa e pelo seu conselho de cardeais conselheiros ao longo dos últimos cinco anos, e que poderia ser publicada no dia 29 de junho, Festa de São Pedro e São Paulo.

Toda a força da constituição põe a evangelização no centro da missão da Cúria Romana, o que significa que todo aspecto do serviço civil do catolicismo deve fluir a partir disso.

“O Papa Francisco sempre enfatiza que a Igreja é missionária. Por isso, é lógico que colocamos em primeiro lugar o Dicastério para a Evangelização e não a Doutrina da Fé”, disse à revista Vida Nueva o cardeal Oscar Rodríguez Maradiaga, coordenador do Conselho dos Cardeais, em uma reportagem que será publicada na revista no próximo sábado e que foi vista pela The Tablet.

“Desse modo, o Santo Padre enviou uma significativa mensagem de reforma ao Povo de Deus.”
ÓSCAR ANDRÉS RODRÍGUEZ MARADIAGA
Cardeal-Arcebispo de Tegucigalpa (Honduras) e Coordenador do Conselho de Cardeais
que assessora o Papa Francisco

O cardeal Oswald Gracias, outro membro do Conselho dos Cardeais – que agora é composto por seis membros – destacou que esse novo departamento se tornará o “primeiro dicastério”.

Ele explicou: “O ponto-chave da nova constituição apostólica é que a missão da Igreja é a evangelização. Ela [a Constituição] coloca a evangelização no centro da Igreja e de tudo o que a Cúria faz. Esse será o dicastério principal. O título do texto mostra que a evangelização é o objetivo número um, tendo prioridade sobre qualquer outra coisa”.

Em termos práticos, o superdicastério para a evangelização surgirá a partir de uma fusão entre o Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, instituído por Bento XVI em 2010, e a Congregação para a Evangelização dos Povos, que supervisiona a Igreja nos antigos territórios de missão. Conhecida como Propaganda Fidei, é uma parte poderosa da Cúria, com um grande orçamento e influência sobre a nomeação dos bispos. Seu prefeito é conhecido como o “Papa Rosso” (“papa vermelho”).

Outra reforma estabelecida pela constituição é a instituição do Pontifício Conselho para a Proteção dos Menores como parte da Cúria, que daria uma maior autoridade ao órgão protetor das crianças instituído pelo papa e o tornaria mais eficaz. Uma das dificuldades que a comissão enfrentou foi a falta de qualquer status legal no Vaticano.

Junto com seu trabalho teológico, a Congregação para a Doutrina da Fé supervisiona os julgamentos da Igreja sobre os padres acusados de abuso sexual clerical, embora não esteja claro como o órgão de proteção dos menores trabalhará com o doutrinal nesse assunto.

Enquanto isso, a Vida Nueva relata que um novo dicastério que realiza obras de caridade em nome do papa também poderia ser criado na nova constituição.

Francisco já reforçou o ofício caritativo do esmoleiro papal, criando cardeal Konrad Krajewski, seu atual presidente, embora seu papel esteja sediado em Roma e possa ser expandido. Um departamento baseado na caridade também demonstraria que pregar o Evangelho significa que as palavras devem ser acompanhadas por ações.

“Depois da evangelização, tem que vir a caridade”, disse o cardeal Maradiaga.

Fundada em 1542, a Congregação para a Doutrina da Fé foi criada para difundir a “sã doutrina católica”.

Durante a liderança de 23 anos do cardeal Joseph Ratzinger – agora Papa Emérito Bento XVI –, ela ganhou a reputação de investigar e disciplinar os teólogos e desempenhou um papel importante nas batalhas doutrinais internas da Igreja.

Durante o pontificado de Francisco, as investigações de teólogos por parte da Congregação minguaram, e a Congregação para a Doutrina da Fé ficou em segundo plano com um papa pastoral que quer que a doutrina seja aplicada à missão da Igreja em vez de se transformar em ideologia.
OSWALDO GRACIAS
Cardeal-Arcebispo de Bombaim, na Índia - Membro do Conselho de Cardeais que assessora o papa

Mas o cardeal Gerhard Müller, que atuou como prefeito da Congregação com Francisco até a sua demissão em 2017, argumentou que o seu papel significava que a Congregação era responsável por “estruturar teologicamente” o papado de Francisco, porque o primeiro papa latino-americano era “mais pastoral”.

No entanto, isso pareceu ser um exagero do seu papel, pois, até 1965, os papas atuaram como prefeitos da Congregação doutrinal, e é o Romano Pontífice que tem o poder “supremo, pleno, imediato e universal” sobre a Igreja.

Desde a sua saída do cargo, o cardeal Müller tornou-se um dos críticos mais proeminentes de Francisco.

A nova constituição deve enfatizar a importância do Vaticano e da Cúria Romana a serviço do papa e das Igrejas locais [= dioceses], colocando os bispos diocesanos em pé de igualdade com os prefeitos dos departamentos da Cúria.

Nas décadas desde o Concílio Vaticano II (1962-1965), que previu um papel reforçado para os bispos e as Igrejas locais, houve inúmeras queixas de que algumas autoridades da Cúria Romana excediam sua autoridade.

Em vez de trabalhar com os bispos locais, nos últimos anos, os bispos diocesanos viram-se sendo mandados pelas autoridades vaticanas, particularmente quando se tratava de questões litúrgicas e doutrinais incômodas.

O Papa Francisco fez das reformas do Concílio a luz orientadora do seu pontificado, pedindo uma “saudável descentralização” da Igreja e conferindo mais poderes aos bispos locais no que se refere às traduções litúrgicas.

A nova constituição também prevê que sejam postos mais leigos em posições de liderança – algo falado há muito tempo – e que sejam fundidos o Pontifício Conselho para a Cultura e a Congregação para a Educação Católica em um só órgão. Não haverá mais distinções entre Conselhos e Congregações, que serão conhecidas como Dicastérios [parecidos com os Ministérios].

Mas o cardeal Maradiaga deixou claro que a reforma não tratou apenas da fusão de Congregações: “O principal objetivo é ressaltar a importância dos leigos na Igreja e para a Igreja”.

A nova constituição deixa claro que não são apenas os clérigos que precisam estar no comando dos departamentos (atualmente, há um único leigo encarregado de um dicastério vaticano – Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação).

Há também um possível rebaixamento na influência do papel da Secretaria para a Economia, antigamente liderada pelo cardeal George Pell.

O cardeal Pell, agora em uma prisão australiana depois de ter sido condenado por abuso sexual contra crianças, tentou se tornar o “administrador da Santa Sé” em questões financeiras. Mas a Vida Nueva relata que, no organograma hierárquico, essa secretaria ficará abaixo dos principais dicastérios.

O Conselho dos Cardeais deve discutir a Praedicate Evangelium, que atualiza a constituição Pastor Bonus de João Paulo II, de 1988, durante sua reunião entre os dias 25 e 27 de junho.

Embora seja possível que a Praedicate Evangelium seja promulgada pelo papa no dia 29 de junho, Festa de São Pedro e São Paulo, a data poderia ser adiada, já que as Conferências Episcopais em todo o mundo e a Cúria Romana foram solicitadas a oferecer um retorno sobre o esboço do texto. As revisões precisam ser enviadas até o fim de maio.

Não são esperadas mudanças significativas no texto, pois esta é a rodada final de consulta.

O papa queria um processo longo, em que as ideias pudessem decolar sem deixar as pessoas para trás”, disse o cardeal Gracias.

Depois que o novo documento for publicado, o Conselho dos Cardeais continuará aconselhando o papa sobre as reformas, incluindo uma atualização do Código de Direito Canônico e o debate de novas ideias sobre questões como a gestão financeira e o papel das mulheres.

O cardeal Maradiaga disse à Vida Nueva que um Sínodo dos Bispos poderia ser convocado para aplicar a “eclesiologia prática” prevista pela nova constituição.

O Espírito Santo continua soprando”, disse ele. “Ele não tira uma sesta nem sai de férias.”

Traduzido do inglês por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 23 de abril de 2019 – Internet: clique aqui.

Três critérios para avaliar a reforma da Cúria
por parte de Francisco

Thomas J. Reese
Padre jesuíta norte-americano e ex-editor-chefe da revista “America” dos jesuítas
dos Estados Unidos (1998-2005)
National Catholic Reporter
23-04-2019

Os cardeais que votaram no conclave para eleger o Papa Francisco
o fizeram esperando que ele reformasse a Cúria vaticana,
atormentada pelo escândalo, e a tornasse mais sensível às
preocupações da Igreja universal
Papa Francisco fala à Cúria Romana na Sala Clementina no Vaticano em 22 de dezembro de 2014
Foto: AP / Andreas Solaro, Pool

Seis anos depois, suas propostas de reforma deverão ser promulgadas no fim de junho, embora provavelmente sejam vazadas antes. Elas satisfarão os críticos da Cúria?

Reformar a Cúria vaticana tem sido um tema constante desde que o Concílio Vaticano II terminou em 1965. A Cúria tem sido acusada de ser ineficiente, bizantina, ditatorial e fora de sintonia com as necessidades dos católicos comuns. Acima de tudo, ela tem sido atormentada por escândalos financeiros e sexuais.

Os papas desenvolveram reformas, mas elas tiveram pouco impacto.

Paulo VI fez o máximo nos anos seguintes ao Vaticano II, exigindo que os chefes de escritórios da Cúria apresentassem suas renúncias aos 75 anos e forçando a saída de bispos e cardeais das Congregações (as comissões de cardeais e bispos que supervisionam o trabalho dos escritórios do Vaticano) quando eles completavam 80 anos.

Ele também criou novos escritórios, em resposta às prioridades do Concílio, para o diálogo com outras Igrejas cristãs e com outras religiões. Ele criou outro escritório para se focar nas questões de justiça e paz.

Papas posteriores acrescentaram escritórios para lidar com seus projetos favoritos.

Mas, em meio a essa inovação, os escritórios existentes não foram substancialmente modificados. Surgiu um conflito entre os antigos escritórios e os novos, como quando os envolvidos no diálogo ecumênico e inter-religioso foram repreendidos pela Congregação para a Doutrina da Fé e pela Congregação para a Evangelização dos Povos.

Francisco fez algumas mudanças iniciais na Cúria quando se tornou papa, fundindo alguns dos escritórios pós-Vaticano II para que menos pessoas se reportassem diretamente a ele. Ele também reuniu os vários escritórios de mídia, mas, por causa de uma liderança ineficaz, a fusão jogou as comunicações vaticanas no caos.

Talvez seu maior impacto tenha sido na cultura da Cúria, e não em sua estrutura. Sua ênfase constante no serviço e na escuta mudou o modo como as autoridades da Cúria interagem com os bispos visitantes. No passado, 55 minutos de uma reunião de uma hora seriam dedicados para que as autoridades da Cúria “ensinassem” aos bispos. Agora, dedica-se mais tempo para ouvir as preocupações dos bispos.

As novas propostas de reforma, no entanto, estão sendo apresentadas como uma reforma abrangente das estruturas da Igreja. Aqui estão três perguntas a serem feitas ao avaliar essas reformas:

Primeiro, a reforma converte o Vaticano de uma corte em um serviço civil?

O Vaticano ainda é organizado como uma corte real do século XVIII, em que príncipes (cardeais) e nobres (bispos) ajudam o rei (papa) a governar a nação (Igreja). O problema com tal estrutura é que você não pode demitir príncipes e nobres quando eles se mostram incompetentes. A Igreja precisa de um bom serviço civil, não de uma corte.

No passado, eu argumentei que as autoridades da Cúria não deveriam ser bispos ou cardeais, o que cria a impressão de que eles são a administração intermediária entre os bispos e o papa. Em vez disso, deveriam ser padres e leigos, com expertise em sua área de responsabilidade. Como tal, ficaria claro que eles não fazem parte do magistério. Pelo contrário, são servos do papa e do Colégio dos Bispos. São membros da equipe, não governantes.

Em segundo lugar, a reforma promove a descentralização? Quais decisões atualmente tomadas no Vaticano serão tomadas agora no nível diocesano ou da Conferência Episcopal?

Por exemplo, há mais de duas décadas, as Conferências Episcopais de língua inglesa desenvolveram uma tradução muito boa da liturgia, que foi vetada por Roma. O Vaticano, então, forçou os bispos a aceitarem a terrível tradução que temos hoje. Se o Vaticano não abrir mão do seu domínio sobre esse tipo de tomada de decisão, as novas reformas serão insignificantes. Se todas as decisões importantes devem ser revistas por Roma, então as coisas não mudaram.

No passado, os progressistas pressionaram pela descentralização, e os conservadores promoveram o poder papal. Isso mudará agora que progressistas como o papa e conservadores questionam suas políticas? Serão necessários mais cinco anos até que grande parte da velha guarda se aposente e que a Conferência dos Bispos dos Estados Unidos alcance o Papa Francisco. Enquanto isso, os progressistas querem lhes dar mais poder?
THOMAS J. REESE - padre jesuíta autor deste artigo

Terceiro, a reforma leva o Vaticano a separar os poderes executivo, legislativo e judiciário?

Como o Vaticano é modelado a partir de uma monarquia absoluta, não há nenhuma separação de poderes. Hoje, os escritórios da Cúria fazem as regras, policiam as regras e julgam aqueles que violam as regras.

Uma separação de poderes significaria dar mais autoridade ao Sínodo dos Bispos, tornando-o mais como uma verdadeira legislatura. Talvez o Sínodo pudesse ter comissões permanentes que substituíssem as comissões de cardeais que compõem as Congregações vaticanas.

O Vaticano também precisa de um DEPARTAMENTO DE JUSTIÇA separado para investigar e processar os crimes canônicos, sejam eles sexuais, financeiros ou outros. O acusado deve ser julgado perante um judiciário independente.

Eu espero, infelizmente, que as respostas para todas as minhas perguntas sejam “não”. Embora eu goste de Francisco, espero ficar desapontado com as suas propostas de reforma. Francisco é um pastor, não um especialista em gestão. Além disso, há fortes opositores da reforma na Cúria. Algumas das “caixinhas” do organograma serão movidas, mas isso fará pouca diferença.

Finalmente, todos nós que propomos reformas precisamos fazê-lo com humildade. As Ciências Sociais e a experiência nos advertem que toda reforma tem consequências imprevistas. É por isso que a Igreja tende a improvisar mudanças incrementais em vez de promover uma verdadeira revolução. Por outro lado, as mudanças incrementais não lidarão com os problemas enfrentados pela Igreja hoje. Precisa-se de mais.

Traduzido do inglês por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original do artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 24 de abril de 2019 – Internet: clique aqui.

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