«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

ENTENDENDO A ECONOMIA MUNDIAL HOJE...

Esta era de bolhas


Paul Krugman*
Presidentes dos países que integram os BRICS - da esquerda para a direita:
Manmohan Singh (Índia), Xi Jinping (China), Jacob Zuma (África do Sul),
Dilma Rousseff  (Brasil) e Vladimir Putin (Rússia).

Ah, mais um BRIC caiu. Na verdade, nunca gostei do conceito dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). A Rússia é essencialmente uma economia petroleira e não se enquadra de forma alguma ao grupo; e existem grandes diferenças entre os outros três. Ainda assim, é difícil negar que Índia, Brasil e diversos outros países estão agora enfrentando problemas semelhantes. E esses problemas compartilhados definem a crise econômica do momento.

O que está acontecendo? É uma variante da mesma velha história: os investidores se apaixonaram por essas economias com mais entusiasmo que juízo, e agora estão abandonando os objetos de sua afeição. Dois anos atrás, os investidores ocidentais -desencorajados pelos baixos retornos nos Estados Unidos e nas nações europeias que escaparam à crise - começaram a despejar grandes quantias nos mercados emergentes. Agora reverteram seu curso. Como resultado, a rúpia indiana e o real brasileiro estão despencando, acompanhados pela rúpia indonésia, o rand sul-africano, a lira turca e outras moedas.

Será que essa reversão de fortuna representa uma grande ameaça para a economia mundial? Não acredito que represente (mas estou fazendo figa por trás das costas ao afirmá-lo). É verdade que a perda de confiança dos investidores e as quedas de câmbio resultantes causaram severas crises econômicas em boa parte da Ásia em 1997-1998. Mas o ponto crucial, então, era que, nos países em crise muitas empresas tinham pesadas dívidas em dólares, e a queda da taxa de câmbio fez disparar o valor de suas dívidas, criando perturbações financeiras generalizadas. Esse problema não está completamente ausente desta vez, mas parece muito menos sério.

Na verdade, podem me incluir entre aqueles que acreditam que a maior ameaça no momento é a de uma reação exagerada de política econômica nos mercados emergentes - que seus bancos centrais elevem as taxas de juros acentuadamente em uma tentativa de sustentar suas moedas, o que não é o que esses países ou o resto do mundo necessitam no momento.

Ainda assim, mesmo que as notícias da Índia e outras paragens não sejam apocalípticas, não são aquilo que você gostaria de ouvir quando as economias mais ricas do planeta, ainda que estejam se saindo um pouco melhor do que há alguns meses, continuam profundamente deprimidas e enfrentando dificuldades para se recuperar. E as mais recentes turbulências financeiras acarretam uma questão mais ampla: por que temos encontrado tantas bolhas?

Pois está claro que o fluxo de dinheiro aos mercados emergentes - que por breve período causou alta de quase 40% na moeda brasileira, uma alta que agora se reverteu completamente - foi mais uma da longa lista de bolhas financeiras que vimos nas duas últimas décadas. Houve a bolha da habitação, claro. Mas antes dela tivemos a bolha da Internet; e antes disso a bolha asiática da metade dos anos 1990, e ainda antes a bolha dos imóveis da década de 1980. Esta última bolha, aliás, impôs pesados custos aos contribuintes norte-americanos, que tiveram de socorrer as instituições de poupança e crédito imobiliário.

Mas a realidade é que nem sempre foi assim. Os anos 50, 60 e até os problemáticos 70 não foram tão propensos a bolhas. O que mudou, portanto?

Uma resposta popular é atribuir a culpa ao Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) - às políticas monetárias frouxas de Ben Bernanke e seu predecessor, Alan Greenspan. E é decerto verdade que, nos últimos anos, o Fed se esforçou para baixar as taxas de juros, tanto por meio de políticas convencionais quanto de medidas heterodoxas como a compra de títulos de longo prazo. As taxas de juros baixas assim obtidas certamente ajudaram os investidores a buscar outros lugares nos quais aplicar seu dinheiro, entre os quais os mercados emergentes.

Mas o Fed estava só fazendo seu trabalho. O banco central tem o dever de forçar baixa dos juros quando a economia está deprimida e a inflação é baixa. E quanto à série de bolhas anteriores, que a essa altura já se estendem por uma geração?

Sei que existem pessoas que acreditam que o Fed vem mantendo os juros baixos demais, e imprimindo dinheiro demais, nos últimos anos. Mas as taxas de juros dos anos 80 e 90 na realidade eram altas do ponto de vista histórico, e mesmo durante a bolha da habitação elas estavam enquadradas às normas históricas. Além disso, o sinal de que o banco central está imprimindo dinheiro demais não é uma alta da inflação? Tivemos toda uma geração de bolhas sucessivas - e a inflação é menor agora do que no começo do processo.
Paul Krugman - economista

OK, o outro culpado óbvio é a desregulamentação financeira - não apenas nos Estados Unidos mas em todo o mundo, o que inclui a remoção da maior parte dos controles sobre o movimento internacional de capital. Bancos descontrolados tiveram posição central na bolha dos imóveis comerciais dos anos 80 e na bolha da habitação que estourou em 2007. O fluxo internacional de dinheiro teve papel central na crise asiática de 1997-1998 e na crise que está irrompendo agora nos mercados emergentes - e também na crise europeia que prossegue.

Em resumo, a principal lição desta era de bolhas - lição que a Índia, Brasil e outros estão aprendendo de novo - é que quando o setor financeiro é deixado livre para agir como quiser, cambaleia de crise a crise.

Tradução de PAULO MIGLIACCI.

* PAUL KRUGMAN é prêmio Nobel de Economia (2008), colunista do jornal "The New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA). Um dos mais renomados economistas da atualidade, é autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200 artigos científicos publicados.

Fonte: Folha de S. Paulo - Colunistas - 23/08/2013 - 10h29 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/paulkrugman/2013/08/1330817-esta-era-de-bolhas.shtml

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