«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O DESAFIO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL!!!

PROLETÁRIOS DO GIZ

Entrevista com Alfredo Bosi

Mônica Manir

Professores não suportam mais as condições que fazem do ensino
a trava do IDH brasileiro, diz historiador e acadêmico
Prof. Alfredo Bosi - USP/Academia Brasileira de Letras

Quando mestre de literatura no colegial, nos anos 1960 e 70, Alfredo Bosi oferecia Camões aos alunos. E recebia em troca Gigantes Adamastores empoleirados nas cadeiras, recitando estrofes completas do poeta português. Era sua voz contra a "pedagogia da preguiça", que dava o mínimo do mínimo à juventude, quando ela estava pronta para o máximo.

Professor há quatro décadas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, ele continua num traçado pessoal pela qualidade do ensino. Daí sua preocupação com o resultado do último Índice de Desenvolvimento Humano das cidades brasileiras, que aponta a educação como a bigorna a puxar o índice para baixo.

Não é questão de distribuir kits e comprar mais computadores. Nem de sair às ruas pedindo Mais Professores, nos moldes do Mais Médicos. Para ele, falta valorizar econômica, social e culturalmente a profissão que seus alunos da faculdade não querem mais seguir. "O punctum dolens ainda é o desestímulo sofrido pelo professor pelo excesso de trabalho, quase sempre em mais de uma escola, e pela angustiante falta de tempo para preparar as aulas e acompanhar de perto o aproveitamento dos alunos." Sem retorno, eles preferem trabalhar em empresas, laboratórios ou em pesquisa avançada. Não aceitam ser proletários do giz e da lousa. Ou do pincel atômico e do power point, que seja.

Este elegante imortal de 76 anos também refletiu sobre a avaliação dos alunos, "que passou de um extremo a outro, ambos lastimáveis", e sobre o repasse dos royalties do petróleo, "que precisa ser administrado à altura das nobres intenções que o motivaram". Refletir, aliás, é algo que cultiva em toda a sua carreira de crítico literário, historiador, ensaísta e ponto de resistência durante a ditadura, quando reunia padres, sindicalistas e intelectuais em sua casa em Cotia, onde mora. Em setembro ele voltará a matutar em conjunto no Colégio do Brasil, no Rio de Janeiro. Ali começam as reuniões do Círculo do Pensamento, bolado por 20 intelectuais - Bosi entre eles - para lutar contra a "dieta reflexiva de astronauta dos nossos tempos", como afirma o escritor Eduardo Portella. Dieta rala, modesta, que Alfredo Bosi certamente vai encorpar: "Ele é um homem de literatura que se distingue pela capacidade de pensar", finaliza o também professor Portella.

O IDH avançou 47,8% no Brasil. No entanto, a educação ainda é apontada como um entrave, pois se mantém num degrau médio. Como soltar esse freio de mão?

Alfredo Bosi - Como professor secundário e universitário que fui durante quatro décadas, pude observar de perto tanto os pontos altos como as carências dessa área capital para o desenvolvimento e qualidade de vida de nosso povo. Os pontos altos encontram-se, em geral, no ensino superior e, mais particularmente, nos cursos de pós-graduação. Quem acompanha a produção em várias áreas de pesquisa dita "de ponta", e o trabalho intenso desenvolvido por agências como Fapesp, CNPq, Finep, não pode deixar de alimentar esperanças em termos de nível intelectual, que, em alguns casos, iguala o de centros universitários de reputação internacional. No entanto, quando voltamos o olhar ao ensino primário e secundário, temos um panorama inquietante em que as exceções, embora honrosas, são ainda poucas. 

Ao mesmo tempo, a educação foi o indicador que mais teve avanço desde 1991. 

Alfredo Bosi - Os índices apontam para um avanço significativo ocorrido nestes primeiros anos do século 21, fato em si mesmo alvissareiro. Houve, de fato, um progresso quantitativo, pois, salvo em alguns bolsões de extrema pobreza, pode-se dizer que quase toda a população em idade escolar está nas salas de aula. Mas também fica evidente que há muito por fazer em termos de qualidade para chegarmos a um patamar suficiente, se comparamos nossa situação com a de outras nações, não só com as desenvolvidas, mas com algumas de economia modesta, como Uruguai, Cuba, Chile e Costa Rica. O crescimento econômico medido em termos de PIB não é garantia de uma política enérgica de educação, para a qual o valor prioritário deve ser a formação intelectual e ética do cidadão.

Em que estamos patinando?

Alfredo Bosi - Há muito tempo venho me preocupando com o diagnóstico dos males de nossa educação fundamental. Em artigos que escrevi para a Folha de S. Paulo (O Ponto Cego do Ensino Público) e para o Jornal do Brasil (Educação: as Pessoas e as Coisas), relatei os resultados de uma pesquisa que fiz registrando os salários dos professores dos cursos básicos em todo o País. Até os anos 1990, a maioria absoluta dos nossos mestres-escola não ganhava sequer um salário mínimo mensal. Eram proletários do giz e da lousa, que precisavam dar um número altíssimo de aulas para receberem um salário que significava então metade e às vezes um terço do que recebiam os docentes universitários em início de carreira. Era uma desproporção injusta e lesiva para o professor, para os alunos e para toda a sociedade brasileira. A pesquisa tocava no ponto cego do nosso ensino público: a desvalorização econômica, social e cultural do professor como o fator mais significativo do baixo rendimento do sistema educacional

O que mudou de lá para cá?

Alfredo Bosi - A política dos poderes estaduais e municipais, que são os responsáveis pelo ensino básico, continuou subestimando a questão da valorização efetiva, e não só retórica, do professorado. Atribuiu-se equivocadamente o insucesso escolar a problemas de saúde do aluno pobre ou à "carência cultural" de suas famílias. Ou, então, especialistas em pedagogia davam excessiva importância ao uso deste ou daquele método de alfabetização, deste ou daquele sistema de ensino de matérias fundamentais como a matemática, a história, as ciências. Eram fatores relativamente importantes, mas desviavam a atenção para o que é essencial. O punctum dolens [ponto doloroso, o ponto fraco] era e ainda é o desestímulo sofrido pelo professor pelo excesso de trabalho, quase sempre em mais de uma escola, e pela angustiante falta de tempo para preparar suas aulas e acompanhar de perto o aproveitamento dos alunos. A distribuição de kits, livros, computadores e material escolar não deve substituir uma política corajosa de elevação salarial e valorização social do professor. As coisas por si sós não movem o processo educacional: o centro vivo são as pessoas, sua vontade cidadã de contribuir para o desenvolvimento intelectual e moral do jovem aluno.

No molde do "Mais Médicos", a população deveria ir às ruas pedir "Mais Professores"?

Alfredo Bosi - Não sei se é o caso de reclamar por "mais professores", embora me pareça razoável, salvo melhor juízo, que em alguns municípios carentes se reclame por mais médicos. O fato é que em escolas de periferia de São Paulo (não conheço a situação de outros Estados) muitas classes ficam sem docentes de matérias fundamentais como português e matemática, porque os professores contratados faltam às aulas com uma frequência inquietante. Pergunto se não é o caso de pesquisar as causas desse comportamento que, de minha parte, se deveria atribuir ao desânimo de profissionais que ganham mal e não recebem do Estado o respeito e o estímulo de que necessitam para enfrentar as dificuldades cotidianas de seu trabalho. Como professor de uma das melhores faculdades de letras e humanidades do País, verifico que grande parte dos alunos graduados em matérias humanísticas e literárias não escolhe o magistério primário e secundário como carreira prioritária, embora tenha recebido formação específica para exercê-la. Há situações semelhantes entre alunos formados em matemática, física, química, biologia. Preferem trabalhar em empresas, laboratórios ou pesquisa avançada e dão as costas para a missão de transmitir seus conhecimentos em condições que estão aquém de suas expectativas profissionais. Trata-se de um sintoma de desistência do magistério, que precisamos interpretar corretamente para passar do diagnóstico à terapia.

Qual é o seu diagnóstico sobre o aprendizado do aluno?

Alfredo Bosi - Do ponto de vista estritamente pedagógico, a avaliação do aluno passou de um extremo a outro, ambos lastimáveis. Com a boa intenção de minorar o mal da repetência, endêmico até os anos 1990, algumas Secretarias de Educação optaram por um sistema de tolerância máxima pelo qual se evita sistematicamente reprovar todo e qualquer aluno, aprovando-o "para inglês ver", isto é, para parecer que o ensino foi bem-sucedido e fazer esse êxito numérico constar das estatísticas escolares. A situação assemelha-se à triste farsa dos que fingem que ensinam e dos que fingem que aprendem. Já é consenso lamentar que boa parte dos alunos que chegam ao último ano do ensino fundamental ainda tenha problemas graves de alfabetização, leitura, escrita, raciocínio matemático, etc. Parece-me que o bom senso exige uma revisão de alguns procedimentos automáticos e irresponsáveis desse processo que está desmoralizando o ensino básico brasileiro. O maior gargalo parece ser o da passagem do ensino fundamental para o médio. Mas não devemos desanimar, pois a qualidade da educação pública já foi excelente até os anos 1950, antes da explosão da sociedade de massas. Se não podemos voltar atrás, pois as condições objetivas são tão diferentes, devemos pelo menos apostar em estratégias que se ajustem às necessidades atuais, trabalhando nas duas pontas: valorizando o professor e oferecendo ao aluno o que ele merece, sem deixar de exigir o que ele pode dar.

Por que a inclusão social brasileira dos últimos 20 anos não atingiu a população nesse particular? Ainda vigora entre nós uma cultura escolar elitista?

Alfredo Bosi - Quando se fala em "cultura escolar elitista", pensa-se na questão candente da exclusão escolar e cultural. O remédio proposto ultimamente é o das cotas concedidas a alunos de famílias de baixa renda, provenientes de escolas públicas, e de preferência não brancos, negros e índios. A matéria é controversa e não sei se poderia tratá-la nesta entrevista, na medida em que me faltam dados confiáveis para avaliar o que está acontecendo e sobretudo o que vai acontecer a partir da concessão obrigatória das cotas. É sempre problemático querer resolver um mal pelo seu efeito final, no caso, a dificuldade de um aluno (prejudicado pelas condições acima descritas) superar a barreira de um vestibular público. O que me parece absolutamente necessário é dar a todos os alunos do ensino médio condições intelectuais para concorrerem em qualquer tipo de vestibular. Em outras palavras, enfrentar corajosamente a situação desfavorável do aluno da escola média pública quando confrontada com a das escolas particulares escolhidas pela alta classe média. A revolução educacional tem de começar de baixo para cima. O que é, sem dúvida, mais difícil e mais demorado do que remediar, pelo alto, uma situação desequilibrada que vem de longe. Em educação, democracia significa dar igualdade de oportunidades de conhecimento a todos os cidadãos sem distinção de idade, cor, gênero, nacionalidade ou renda familiar. 

Como resposta às manifestações, a presidente Dilma apontou o uso dos royalties do petróleo na educação como um dos cinco pactos firmados com prefeitos e governadores. Esse montante, porém, só estará disponível em 2020. E questiona-se a forma como será aplicado. A educação já faz parte da agenda estratégica dos governos? Quero dizer, falta-lhes apenas mais dinheiro?

Alfredo Bosi - Espero que o grande aporte ao sistema educacional, proposto pela presidente Dilma, relativo aos royalties do pré-sal, seja administrado à altura das nobres intenções que o motivaram. E que, na hora decisiva da distribuição das verbas federais, as redes sociais e o Ministério Público fiquem atentos aos desvios que tantas vezes os executivos municipais operam, à socapa, canalizando o dinheiro concedido à educação para a prática do nepotismo e a construção de obras eleitoreiras. Finalmente, que seja equacionado com justeza o problema da valorização econômica do professor primário e secundário.
Fonte: O Estado de S. Paulo - Suplemento ALIÁS - Domingo, 4 de agosto de 2013 - Pg. E2 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,proletarios-do-giz-,1060264,0.htm
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FORMAÇÃO DE PROFESSOR 
FICA LONGE DA REALIDADE DA ESCOLA


Fábio Takahashi


A educação no Brasil ainda é um ponto crítico para o desenvolvimento do país
A qualidade do que se ensina nas escolas puxa o Índice de Desenvolvimento Humano brasileiro para baixo e coloca o Brasil no fim da lista de países em termos de qualidade de ensino de ciências e de matemática.

As causas disso dividem a opinião de educadores, de gestores e de especialistas. Muitos, no entanto, concordam que um dos gargalos da educação está justamente na formação do professor.

De acordo com especialistas ouvidos pela Folha de S. Paulo, o que se ensina nos cursos de pedagogia (que formam quem dá aula para as crianças de seis a dez anos, do ensino fundamental 1), e nas licenciaturas (que graduam os docentes dos jovens de 11 a 17 anos, do fundamental 2 e do ensino médio) está bem longe da realidade encontrada na escola.

Isso porque os estágios ocupam, em média, 10% da carga horária da graduação para formar professores.
Em países como os EUA, a relação é oposta: a maioria das disciplinas é prática.

DIPLOMA

Para dar aula no Brasil, é preciso, desde 2009, ser graduado em uma licenciatura.

Isso significa que, por aqui, um engenheiro não pode lecionar matemática porque não é licenciado.

Hoje, 24% dos que estão na sala de aula não fizeram curso universitário. Há, inclusive, quem nem tenha concluído o ensino médio (8,4 mil de 2,1 milhões docentes).

A obrigatoriedade do diploma de licenciatura para dar aula fez ainda com que a graduação de pedagogia à distância ganhasse força.

O número de cursos remotos de formação de professor aumentou de 6.077 para 273 mil de 2000 a 2010.

Mesmo assim, ainda faltam docentes na sala de aula. O Ministério da Educação calcula que pelo menos 170 mil vagas para professores de matemática, química e biologia estejam sem dono [veja matéria abaixo].

Os motivos disso? Aqui também há divergências. Há quem diga que o problema seja o salário. Para alguns, o piso nacional para o professor, estipulado em R$ 1.567, não consegue atrair nem segurar grandes talentos da educação.

Por essas e por outras, quem se forma em matemática no Brasil, por exemplo, acaba preferindo não ir para a sala de aula.

Hoje, o professor brasileiro é, em geral, uma mulher que tem entre 30 e 50 anos que veio de uma família de baixa ou média renda. A maioria (78%) trabalha em uma única escola.

Boa parte dos docentes reclama do salário e da condição das escolas, mas não de sua própria formação.

Apesar dos problemas, 68% dos pedagogos se sentem bem preparados, de acordo com dados do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes).

CARGA HORÁRIA

Um dos mais amplos estudos no país sobre currículos das licenciaturas foi feito recentemente pelas fundações Victor Civita e Carlos Chagas.

O trabalho apontou que nos cursos de licenciatura do país que formam professores de português e de ciências, a carga horária voltada à docência fica em 10%.

Já o tempo destinado aos conhecimentos específicos das áreas passa dos 50%.

"Os professores chegam às escolas com bom conhecimento da sua disciplina, mas não sabem como ensinar", disse à Folha o secretário estadual de Educação de São Paulo, Herman Voorwald.

Na opinião do secretário, cuja rede tem 200 mil professores, um docente de matemática, por exemplo, é muito mais um matemático do que um professor.
Prof. Manoel Oriosvaldo de Moura - USP

Para Voorwald, as licenciaturas deveriam ter menos conteúdos específicos das matérias e mais técnicas sobre como dar aulas.

Presidente da comissão de graduação da Faculdade de Educação da USP, Manoel Oriosvaldo discorda que a formatação dos cursos de pedagogia e de licenciatura seja responsável pela má qualidade do ensino básico.

"Com o salário que se paga ao professor, é difícil convencer um jovem a assumir uma sala de aula", afirma. "Se as condições de trabalho melhoram, sobe o nível de quem seguirá na carreira."

Especificamente sobre os currículos, ele diz que diminuir a teoria dos cursos "simplifica o papel do professor".

Para Oriosvaldo, a teoria permite que o professor consiga refletir sobre sua atividade constantemente. E corrigi-la quando necessário.


Além disso, o docente deve ter condição de ensinar aos alunos o histórico que levou à resolução de uma equação, por exemplo. Assim, o jovem conseguirá também produzir conhecimento.

Fonte: Folha de S. Paulo - Especial - Segunda-feira, 5 de agosto de 2013 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/122148-formacao-de-professor-fica-longe-da-realidade-da-escola.shtml
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4 EM CADA 5 ESCOLAS TÊM TURMA SEM PROFESSOR


Paulo Saldaña


Na rede estadual de São Paulo há um déficit de mais de 49 mil professores - o que representa 21% dos cargos efetivos; 
mesmo com a contratação de temporários, problema não se resolve e,
no 1º semestre, 4,8 mil turmas ficaram sem aula de alguma disciplina
Dados da coordenadoria de Recursos Humanos de 15/06/2013

O Estado de São Paulo tem um déficit de 49.085 professores efetivos na rede de ensino - 21% dos cargos necessários. Para atender os alunos, o governo lança mão de 49 mil docentes temporários, o que ainda assim é insuficiente: no fim do primeiro semestre, a rede tinha 4,8 mil turmas sem aula de alguma disciplina - fazendo-se uma média é como se quatro em cada cinco escolas tivessem turma sem professor. Os dados, que não são divulgados pelo Estado - alegando a grande dinâmica de atribuição de aulas -, estão em um documento encaminhado ao Ministério Público.

O cálculo do déficit é da própria Coordenadoria de Gestão de Recursos Humanos da Secretaria de Estado de Educação. Os dados foram obtidos com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo. Falta de professores e a grande quantidade de profissionais temporários são os grandes gargalos da gestão tucana na Educação.

A maior necessidade é de professores de Matemática, com um déficit de 10.508 efetivos. Em seguida, aparecem as disciplinas de Português, Geografia e Educação Artística. Mesmo recorrendo a um grande número de temporários, que cresceu 69% desde maio de 2012, o Estado não consegue preencher todas as aulas. Entre as 4,8 mil sem professor atribuído, Matemática também tem a pior situação: são 833 turmas livres nessa disciplina, seguida de Geografia (767) e Sociologia (767).

A situação de aulas sem atribuição de professor atinge todo o Estado. No levantamento, com data de 7 de junho, a divisão é feita por diretoria de ensino e não detalha em quais escolas há o problema.

Apenas 9 de 91 diretorias de ensino tinham todas as aulas com professores. A situação é mais complicada na capital e na Região Metropolitana. Na diretoria de Suzano, por exemplo, havia 260 aulas sem professor, a pior situação. Na capital, as zonas leste e sul registram os maiores números de aulas livres. Juntas, concentram 78% das lacunas. Só na zona leste, 203 turmas estavam sem professor de Matemática. Na sul, eram 144.

A Secretaria de Educação defende que os alunos podem ter ficado sem a aula da disciplina, mas há professores eventuais. Segundo o chefe de gabinete da pasta, Fernando Padula, faltam 200 professores para suprir essas aulas não atribuídas. "Não quer dizer que não teve professor, teve atividade com professor eventual", diz. "São dois problemas: a falta de professores e professores que faltam. Nem sempre a escola tem à disposição professor de determinada disciplina, há um problema nacional em Exatas."

Segundo Padula, há 22 mil servidores da educação em licença médica atualmente. Em média, cada professor da rede estadual teve 21 ausências no ano passado por licença-saúde. Ele também cita a dificuldade de fixação de profissionais em determinadas regiões, como as franjas sul e leste da cidade.
Aulas livres (sem atribuição de professor) em 07/06/2013
Ao todo: 4.804 turmas ficaram sem aula nesta data
Sem aula
A estudante Jennifer Portugal, de 15 anos, não teve professor de Química no ano passado inteiro. Aluna da Escola Estadual Roberto Mange, na zona sul de São Paulo, ela também ficou sem aulas de Português e Sociologia neste ano, problema só resolvido pouco antes do fim do semestre. "A gente reclamou e falaram que iam resolver. Mas nada foi feito, parece que não se importam", diz. "Ninguém falou nada sobre recuperar ou repor as aulas." Segundo a Secretaria de Educação, as escolas têm de organizar reposições ou reforço.

Para Priscila Cruz, da ONG Todos Pela Educação, o prejuízo é claro. "O aluno que não tem aula aprende menos e acumula deficiências", diz. "Os dados mostram que a proporção de alunos com aprendizado adequado vai caindo a cada ano."

O Grupo de Atuação Especial de Educação (Geduc), do Ministério Público Estadual, acompanha o tema do absenteísmo e falta de professores na rede. "Qualquer solução para a educação tem pouca efetividade sem o professor. Há um cenário de desresponsabilização, da secretaria aos professores", diz o promotor João Paulo Faustinoni e Silva.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Metrópole - Segunda-feira, 5 de agosto de 2013 - Pg. A16 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,4-em-cada-5-escolas-tem-turma-sem-professor--,1060691,0.htm

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