«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Pregar o Evangelho também é uma questão de estilo

Enzo Bianchi*
revista JESUS
Agosto/2013


O estilo com o qual o cristão está no mundo e na história é determinante: dele depende a própria fé, que nunca pode ser contradita pelos meios e pelos modos com os quais é narrada, transmitida ou testemunhada.

De Buffon se fez a pergunta: "O que é o estilo?", e tentou respondê-la em 1753 com o Discurso sobre o Estilo, sintetizável na locução: "O estilo é o próprio homem". Mais tarde, vieram outras definições do estilo: "O estilo é a fisionomia do espírito" (Arthur Schopenhauer). "Não há arte onde não há estilo" (Oscar Wilde). "O estilo é superior à verdade, traz em si a demonstração da existência" (Gottfried Benn).

Sim, o estilo é o próprio homem, o homem real, concreto, de carne e osso, corpo e espírito, racionalidade e sentimento. Se não há estilo, não há pessoa, há tohu wa-bohu (Gn 1, 2), ou o vazio ou o caos; se não há estilo, não sabemos quem somos, o que fazemos, o que temos.

É por isso que o estilo deixa uma aura indefinível na pessoa: uma aura que depende da sua intimidade, da sua vida interior, mas também do seu falar que escolhe tonalidades de voz diferentes, adequadas à situação e ao interlocutor, do seu modo de caminhar, capaz de narrar a pessoa, do seu modo de comer, fazendo desse ato um evento sempre convivial, contra toda barbárie, consumismo e depredação. O estilo assim exercido se divide no comer, no tocar, no sentir o mundo, no repousar e no divertir-se.

Assumir um estilo requer muita vigilância e muito tempo: é preciso vigiar sobre si mesmo, cuidar do corpo, assim como da interioridade, e é preciso dedicar muito tempo a isso, porque aquilo que se tenta fazer, com dificuldade, só no tempo e às vezes depois de muitas tentativas fracassadas, torna-se habitual, um habitus que confere e manifesta o estilo.

O estilo – ouso dizer – é a epifania da paixão de um homem; é a epifania da sua cela mais secreta, o coração; é o clarão emanado do fogo que cada um faz arder em si mesmo. Por isso, o estilo ou é sincero ou não é estilo!

O que emerge dos Evangelhos é que Jesus tinha um estilo preciso: na vida cotidiana, no falar, ao estar com os outros, ao encontrá-los, ao tocá-los e ao se deixar tocar, ao olhá-los e ao se deixar olhar, ao caminhar um pouco com pressa e com uma meta precisa, o rosto voltado para o invisível, mas capaz de colocar os próprios olhos nos olhos daqueles que ele encontrava...

Por isso, os cristãos, discípulos de Jesus, nunca deveriam prescindir do estilo de comunicação e de práxis: isso porque o estilo é tão importante quanto o conteúdo da mensagem


Não se pode comunicar uma boa notícia – muito menos a Boa Notícia que é o evangelho – através de uma má comunicação, não se pode anunciar a paz, a mansidão, a reconciliação, a misericórdia com um estilo arrogante que quer impor e parece pretensioso.

É significativo que, nos evangelhos, se encontram na boca de Jesus mais advertências sobre o estilo do que sobre o conteúdo da mensagem a ser pregada. A mensagem é sempre breve, sintética e refere-se essencialmente à vinda do reino de Deus, enquanto as palavras de Jesus sobre como tal mensagem deve ser anunciada são muitas, precisas e pontuais: 
  • "Vão como ovelhas no meio de lobos" (cf. Mt 10,16); 
  • "Aprendam de mim que sou manso e humilde de coração" (Mt 11,29); 
  • "Não sejam como os hipócritas" (cf. Mt 6,2.5.16)...
O estilo com o qual cristão está no mundo e na história é, portanto, determinante: dele depende a própria fé, que nunca pode ser contradita pelos meios e pelos modos com os quais é narrada, transmitida ou testemunhada. É por isso que, a meu ver, entre as mais graves contradições a um testemunho cristão eficaz hoje deve ser assinalada justamente a falta de estilo: ao comunicar, acima de tudo, mas também ao tentar viver as exigências evangélicas.

Homens e mulheres, cristãos generosos e convictos, assumem muitas vezes um estilo que impede que a sua mensagem alcance os corações dos outros. A sua segurança ostentada, o fato de se sentirem possuidores da verdade, a sua presença totalitária, o seu falar autorreferencial, o fato de se sentirem os verdadeiros cristãos, a sua obsessão em "mostrar os músculos" e de ter importância: tudo isso é uma negação do evangelho que gostariam de anunciar.

Realmente, ainda nos resta muito a aprender com a mansidão e com a humildade de Jesus: disso depende a qualidade da nossa vida e das nossas relações com os outros, mas, antes ainda, o percurso do Evangelho na história.

Tradução do italiano por Moisés Sbardelotto.

* Enzo Bianchi é o prior e fundador da comunidade de Bose, na Itália, que se dedica ao diálogo ecumênico, ao estudo da Bíblia e à espiritualidade cristã.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Segunda-feira, 12 de agosto de 2013 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/522646-pregar-o-evangelho-tambem-e-uma-questao-de-estilo-artigo-de-enzo-bianchi

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