«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

"Democracia precisa de classe média forte"

Entrevista com Thomas Piketty

Christian Pricelius
Deutsche Welle

As controversas teses em "O capital no século 21", do economista francês, provocaram críticas, mas também elogios entusiásticos

Thomas Piketty - economista francês
"Os ricos ficarão sempre cada vez mais rapidamente mais ricos, pois dispõem de um estoque de rendimentos de capital que traz significativamente mais rendimentos do que o trabalho."
"Para a maioria da população, em contrapartida, os rendimentos dos salários não são mais suficientes para que criem reservas."

Com tais teses, o francês Thomas Piketty vem gerando furor internacional. Ele é professor de economia da Paris School of Economics e da École des Hautes Études en Science Sociales (EHESS), e vive na capital francesa, com a esposa e três filhas. Tendo lecionado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), entre outros, há 20 anos ele se ocupa dos temas renda, capital e justiça social.

Seu best-seller Le capital au 21e siècle (O capital no século 21), publicado em 2013, está sendo lançado este mês na Alemanha [e em 1º de novembro no Brasil].

DW: Seu livro é um sucesso de público. Quantas cópias foram vendidas, até agora?

Thomas Piketty: Em inglês e francês, juntos, 800 mil. Em inglês, foram 600 mil.

DW: O senhor acredita que vai conseguir influenciar algo com seu livro?

TP: Minha intenção era convencer o leitor de que os temas renda e prosperidade são importantes demais para serem simplesmente relegados aos estatísticos e economistas. Meu objetivo foi fornecer fundamentos históricos aos leitores, para que possam fazer seus próprios julgamentos. Porém se trata de ciências sociais, no sentido mais amplo, que não são uma ciência exata. Por isso, também não espero que todos os leitores concordem comigo.

DW: Como o sistema econômico deve ser melhorado, para que os assalariados voltem a ter maiores rendimentos com seu trabalho?

TP: Há diferentes soluções. A longo prazo, investindo na educação. Universidades são um instrumento muito poderoso para reduzir a desigualdade. Um dos principais problemas da Europa é que investimos mais dinheiro na redução das nossas dívidas públicas do que na formação universitária. Isso não é bom presságio para o futuro. Deveríamos investir mais nas universidades.

DW: Que outras soluções existem, para que o valor do trabalho cresça?

TP: A tributação progressiva dos altos salários e rendimentos de capital também é importante. Precisamos, portanto, de um sistema tributário que tribute menos aqueles que só vivem de seus salários e entram na vida sem capital nem prosperidade.

DW: Com isso, chegamos à sua declaração central, de que hoje em dia muitos assalariados só conseguem sobreviver com os seus salários. Por que é assim?

TP: No início da geração dos baby boomers [os nascidos no pós-guerra, entre 1946 e 1968], também era possível reservar poupanças, a partir do salário. Pois, com as altas taxas de crescimento econômico, era possível partir do zero e depois, trabalhando, chegar a uma relativa prosperidade e acumular reservas.

No entanto, para as atuais gerações, se você quiser poupar numa cidade grande, então precisa ter um salário muito bom. No entanto, quando se tem uma taxa de crescimento de apenas 1,5%, isso significa que os rendimentos com capital ainda são de 4% a 5% – ou mais, nos investimentos de risco, cerca de 7%, no caso das ações. Com isso, as desigualdades iniciais são reforçadas.

DW: Com que consequências?

TP: Esse estado de coisas reduz a mobilidade social numa sociedade. E, no entanto, a chance de subir à classe rica é uma boa coisa para a eficiência da economia e para o empreendedorismo. A esse respeito, Warren Buffet disse certa vez: ninguém quer que, dos Jogos Olímpicos de 2030, só participem os filhos das equipes de 2000.

DW: O senhor colheu dados dos principais países industrializados e emergentes. São, em maioria, estatísticas de órgãos fiscais. Mas na Alemanha, a riqueza sequer é registrada nas estatísticas.

TP: Precisamos de mais transparência sobre rendimentos e riqueza. E o resultado de uma tributação progressiva do capital e rendas também seria podermos exigir informações confiáveis sobre os grupos de renda.

DW: O senhor defende que haja impostos internacionais. Mas como isso funcionaria? Afinal, os países da União Europeia competem entre si por investidores e capital, com os menores impostos possíveis.

TP: O senhor está certo com esta suposição. Se cada país mantiver seu próprio sistema fiscal, vai ser muito difícil. O resultado é que, já agora, as multinacionais pagam relativamente menos impostos do que empresas pequenas e médias. A Alemanha, França e Itália competem para atrair investidores. Isso permite que os grandes conglomerados joguem com os diferentes sistemas fiscais, conseguindo, no final, pagar impostos relativamente mais baixos. Isso não é ruim somente para o tratamento igualitário, mas também para o crescimento e a eficiência da economia.

DW: Então, o que sugere?

TP: A solução é muito simples: precisamos de uma política fiscal comunitária. Não é possível, com uma moeda única, como o euro, que mantenhamos simultaneamente 18 sistemas fiscais diferentes, que competem uns com os outros, com 18 diferentes dívidas públicas e 18 diferentes taxas de juros dos títulos estatais. Precisamos, portanto, uma união fiscal e política muito mais coesa na Europa, começando com um pequeno grupo de países e depois, com vários.

DW: De onde o senhor tira o otimismo de que isso venha a funcionar?

TP: Durante a coleta de informações sobre depósitos de capital dos bancos, conseguimos obter essas informações, mas isso leva tempo e exige uma disposição para se implementar sanções. Não podemos pedir educadamente que os paraísos fiscais deixem, finalmente, de ser paraísos fiscais. Na Europa, fomos extremamente ingênuos em nossa abordagem. A Suíça agora fornece automaticamente informações bancárias sobre seus clientes. E isso apenas porque os Estados Unidos impuseram sanções contra os bancos suíços.

DW: Quais são as consequências para a classe média do acúmulo de capital nas mãos dos mais ricos?

TP: Precisamos de uma classe média forte, para o crescimento e para o funcionamento da democracia. Europa ainda é estruturada de forma mais igualitária do que um século atrás, e mais igualitária ainda do que os Estados Unidos. Mas nos EUA, a concentração de renda e riqueza é tão forte que muitos acreditam que isso poderia comprometer a democracia. Grupos individuais poderiam dominar a política. Nos EUA, há dinheiro privado ilimitado na política. Esse é um problema real.

DW: Como o senhor avalia a situação econômica na Europa e nos EUA?

TP: Em Paris e na zona do euro, a economia está estagnada, as taxas de crescimento tendem a zero, assim como a inflação. O desemprego está aumentando. O que acho particularmente triste é que nossa dívida pública inicial não era mais dramática do que nos EUA, no Reino Unido ou no Japão. Mas aqui permitimos com que a grande crise da dívida desembocasse numa crise de confiança, esse é o nosso principal problema.

DW: Como esses problemas se manifestam para as pessoas na rua?

TP: Em alguns países europeus, um quarto da geração jovem está desempregado. E mesmo quando as pessoas têm uma renda, é extremamente difícil formar capital. O grande perigo na Europa é que cada vez mais gente tem a impressão de que a globalização não está funcionando para elas ou de que os ganhos dos donos do capital são desproporcionalmente grandes. Acho isso perigoso, pois favorece aos movimentos extremistas.

DW: Os adeptos de uma ordem econômica liberal dizem que no momento dinheiro suficiente está sendo impresso e distribuído de forma justa, e que os altos lucros do capital não são simplesmente tomados dos trabalhadores.

TP: Mas a questão é: será que é bom para a eficiência do sistema econômico os executivos ganharem 10 milhões de dólares? Eu estudei os dados cuidadosamente e não encontrei nenhuma prova de que isso faça sentido. Afinal de contas, são os custos com que o resto da economia arca, e que incidem sobre os salários baixos e médios.

Para uma visão mais ampla e profunda
das teorias de Thomas Piketty, leia esta entrevista,
clicando aqui.
Para uma avaliação de sua teoria, veja esta análise,
clicando aqui.

L I V R O

Título: O capital no século XXI
Autor: Thomas Piketty
Tradutora: Monica Baumgarten de Bolle
Publicação: prevista para 1º de novembro de 2014
Editora: Intrínseca
Páginas: 672
Preço de capa: R$ 59,90

Fonte: Carta Capital – Economia – 22/10/2014 – 05h37 – Internet: clique aqui.





Ganhos dos mais ricos ficaram intactos, diz estudo
 
 
Flavia Lima
Valor Econômico
27-10-2014
 
 
Alimentado por uma eleição extremamente polarizada, o discurso de que as classes mais abastadas foram deixadas de lado nos últimos anos talvez não seja acolhido pelos números.

Prof. Marcelo Medeiros - Unb/Ipea
Não há evidência que a renda dos ricos esteja caindo e sim que o grupo conseguiu manter-se resistente aos esforços de redução da desigualdade feitos nos últimos anos. Segundo o sociólogo e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcelo Medeiros, a redistribuição de renda, "ocorreu muito mais dos 5% mais ricos para baixo do que dos 5% mais ricos para cima da distribuição". Ou seja, é possível que não tenha sido afetado um grupo que, olhando mais de perto, está longe de ser efetivamente rico - pois ganha a partir de R$ 5.340 por mês -, mas detém nada menos do que a metade da renda do país.

"Não há evidência que a renda dos ricos esteja caindo e sim que está estável, assim como não há evidência que foram deixados de lado pelo governo. Há evidência contrária: que conseguiram se manter e não só pelos dados do Imposto de Renda. A Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios] também mostra isso", diz Medeiros.

Ao lado de Fábio de Castro, especialista em tributação, e Pedro de Souza - orientando, em Berkeley, de Emmanuel Saez, parceiro de Thomas Piketty nos estudos sobre desigualdade -, Medeiros tem sido bastante demandado desde o fim de setembro, quando veio a público um estudo no qual os autores apontam que o índice de Gini (indicador que mede o grau de concentração de renda) de indivíduos acima de 18 anos é 11% maior do que apontava a Pnad em 2012 e mantém-se estável desde 2006 - diferentemente do que a pesquisa apontava pelo menos até 2011.

O tema delicado e caro ao governo parece ter sido atingido pela alta temperatura eleitoral. Na última semana, o sociólogo divulgou ter pedido exoneração de um cargo de confiança que ocupava no Ipea em repúdio à decisão do órgão de suspender a divulgação de estudos até novembro, de modo a não interferir nas campanhas eleitorais.

O Ipea nega. O fato é que os autores chegaram aos números mais altos de desigualdade usando uma base de dados que, segundo Medeiros, retrata muito melhor o topo da renda no Brasil: a declaração do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF). A fatia dos 10% mais ricos da pesquisa domiciliar foi substituída pelos 10% mais ricos do IRPF - ambiente em que os incentivos para a declaração de toda a renda é maior devido, por exemplo, a mecanismos como a restituição do IR.

A conclusão é que quem dita o comportamento da desigualdade no Brasil são os mais ricos. Entre 2006 e 2012, nada menos do que 62% do crescimento da renda ficou com os 10% mais ricos da população. Medeiros, contudo, não acredita que a queda da desigualdade apontada pela Pnad seja mito ou arma de propaganda do governo e rechaça qualquer tentativa de desqualificar pesquisas domiciliares.

Para ele, a Pnad subestima a renda do topo porque "chegar bem em 1% da população é mais difícil", fora que algumas pessoas simplesmente se recusam a responder sobre renda. Segundo Medeiros, em razão da metodologia adotada, a sua própria pesquisa pode estar fazendo o mesmo com os muito ricos (grupo com renda a partir de R$ 74 mil por mês), o que indica que o quadro de desigualdade pode ser "um pouco pior".

Segundo ele, muito do que se sabe sobre desigualdade está correto. "O que a gente, talvez, tenha que reavaliar é o peso de cada uma das causas da desigualdade", diz, apontando ser esse o próximo passo do trio de pesquisadores. "E talvez acrescentar coisas a que não vínhamos prestando atenção", emenda, ressaltando que o "simplismo acaba sendo ruim para as políticas públicas".

Na avaliação de Medeiros, o país ainda é muito desigual, mas não exatamente pobre. "Depende do que se chama de muito pobre. Comparado a outros países do mundo, estamos muito melhor", diz ele. "As elites têm muita dificuldade de ver que o mundo não é um espelho delas. O mundo é pobre."

O pesquisador nega que o estudo sobre desigualdade com dados do Imposto de Renda tenha algo a ver com o trabalho conduzido pelo francês Piketty. "Já me perguntaram se estamos fazendo o trabalho do Piketty para o Brasil e a resposta é não. O trabalho dele é infinitamente mais sofisticado do que o nosso", afirma.

Questionado se as políticas atuais de transferência de renda vão na direção correta, ele se limita a dizer que "toda medida para combater a desigualdade é muito importante, porque não existe uma solução única". Em sua avaliação, o esforço de redução da desigualdade é muito mais ambicioso do que aparenta. Segundo ele, é possível diminuir brutalmente a pobreza com políticas de assistência, mas para abalar a desigualdade "é preciso mexer no sistema tributário, em interesses constituídos, além de políticas em investimento em educação, saúde etc", diz. "Não é um problema trivial".

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 28 de outubro de 2014 – Internet: clique aqui.

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