«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 30 de junho de 2020

O “bicho papão” de sempre

Sempre que pessoas autoritárias querem se impor, tiram do bolso a ameaça do “comunismo”

Maurício Horta

Mais um mito cai por terra:
os militares não deram o golpe de 1964 para evitar que o
comunismo dominasse o Brasil
Mito: os militares impediram um golpe comunista em 1964 | Cultura ... 
Marxistas estão organizando camponeses no Brasil”, estampava a primeira página do [jornal] The New York Times, no dia 23 de outubro de 1960. O jornal tinha enviado seu correspondente Tad Szulc ao engenho Galileia, nos campos canavieiros de Pernambuco, onde nasceram as Ligas Camponesas – sociedades de ajuda mútua de camponeses que surgiram em 1955 com o mero intuito de prover caixões dignos para seus mortos, mas que chegaram aos anos 1960 como o maior movimento rural do País. Nas palavras exaltadas de Szulc, as Ligas tinham feito do Nordeste brasileiro um criadouro para a “organização e doutrinação” de comunistas, com objetivo de criar um “exército político de 40 milhões”.

Essa história era familiar para a opinião pública americana e refletia um medo comum entre militares brasileiros – o de que comunistas estavam preparando uma guerra revolucionária para fazer do Brasil uma grande Cuba. A movimentação das Ligas no campo e de sindicatos com dirigentes comunistas nas cidades seria um sintoma disso. Mas não era para tanto. Embora a revolução cubana e a figura romântica de Che Guevara pudessem inspirar jovens idealistas, a luta armada estava fora dos planos das esquerdas brasileiras.
Mito: os militares impediram um golpe comunista em 1964 | Cultura ...
João Goulart -  apelidado de "JANGO"
João Goulart não era comunista

Para começar, Jango não era comunista. Marxistas ortodoxos defendem o fim da propriedade privada dos meios de produção. Já Jango era um advogado proprietário de terras gaúchas. Mas esse tipo de detalhe não importava. Nos tempos de Guerra Fria, bastava dialogar com a esquerda para ser comunista. A base eleitoral de Jango sempre foram trabalhadores e as camadas mais pobres. No Ministério do Trabalho de Getúlio (1953-1954), apoiou sindicatos, não reprimiu greves e tentou dobrar o salário mínimo. Acabou demitido. No Planalto, aproximou-se dos movimentos sociais para pressionar o Congresso nas ruas a aprovar reformas. Acabou deposto.

Seu partido, o PTB, também passava longe do comunismo. Pelo contrário, foi criado por Getúlio Vargas, em 1945, para disputar com os comunistas o eleitorado de trabalhadores urbanos. Enquanto o PCB [Partido Comunista Brasileiro] falava em “luta de classes”, o PTB usava o Ministério do Trabalho para domesticar os sindicatos. Assim, Getúlio ficou para a história como “pai dos pobres – e mãe dos ricos”.

Conforme o País se industrializou, uma ala do PTB deu uma guinada em direção a um nacionalismo de esquerda. Quando governou o Rio Grande do Sul (1959-1963), Brizola encampou as companhias americanas que forneciam eletricidade e telefonia no Estado, e ameaçou uma guerra civil para garantir a posse de Jango, em 1961. Mas esse nacionalismo radical não se confundia com comunismo. Estava muito mais próximo do anti-imperialismo do egípcio Nasser, do indiano Nehru e do indonésio Sukarno, líderes que rejeitavam a liderança tanto dos EUA quanto da URSS na Guerra Fria.

Partido Comunista escolheu a via legal e eleitoral

Até o velho PCB perdeu o espírito revolucionário. Em 1958, o Partidão renunciou à revolução armada. Em vez de lutar contra a burguesia, seu novo objetivo era chegar ao poder pela via legal, apoiando um governo nacionalista eleito. Jango era o aliado perfeito. Uma vez no poder, o PCB passaria a lutar contra o “imperialismo” (o capital estrangeiro) e o “feudalismo” (o latifúndio). Empurrara com a barriga a “ditadura do proletariado”, com prazo indeterminado.

“Com a posse de Goulart, a ideologia do PCB parecia encontrar uma base real de sustentação política”, afirma Marcelo Ridenti, professor de sociologia da Unicamp. “O chamado populismo de esquerda e o PCB tinham muitos pontos de contato. Ambos reivindicavam a libertação do povo para a construção de uma nação brasileira, independente do imperialismo e livre do atraso feudal remanescente no campo.”
As Reformas de Base, o Golpe de 1964 e o Anticomunismo - A Verdade ...
Inventando um “inimigo interno”

Mas a direita civil e militar tinha seus motivos para ver a radicalização de outra forma. Desde meados da década de 1950, a Escola Superior de Guerra e outros think tanks [pensadores, criadores de opinião] de direita divulgavam o temor de que uma guerra não convencional estava em curso no Terceiro Mundo, com o objetivo de implantar o comunismo. Já tinha acontecido na Indochina (1946), em Cuba (1956-1959) e na Argélia (1956-1962). Esse conflito não envolveria Estados, mas um “inimigo interno”, que agiria em todos os níveis da sociedade. Seus meios seriam a doutrinação, a mobilização de massas e a luta armada. No Brasil, só faltaria o último elemento. [Repare: é a mesma cantilena dos tempos de agora, no Brasil!]

Tudo ficava mais ameaçador para a direita com a popularidade da Revolução Cubana entre a esquerda. “Ela foi muito bem recebida por todas as correntes ditas progressistas no início da década de 1960, da esquerda católica aos comunistas, dos trabalhistas aos socialistas”, afirma Ridenti.

Mas não havia risco real de que se instalasse no Brasil uma Cuba do Sul. Uma coisa era celebrar o simbolismo do Davi latino contra o Golias americano. Outra coisa era pegar em armas pela revolução. Enquanto o Brasil foi uma democracia, a luta armada ficou de fora. Em vez disso, a esquerda abraçava a estratégia pacífica do PCB de se aliar a Jango e pressionar por reformas nas ruas. Foi somente com o golpe de 1964 que grupos debandaram do Partidão e abraçaram o modelo de revolução de Fidel Castro. Se essas pequenas e malsucedidas guerrilhas tentaram fazer do Brasil uma segunda Cuba, foi em grande parte em reação ao próprio golpe.

Fonte: Super Interessante – História – Dossiê “21 mitos sobre a Ditadura Militar” – 02 de outubro de 2018 – Publicado às 16h44 – Acesso em: 30/06/2020 – às 17h00 – Internet: clique aqui.

O comunismo como um perigo inventado
no Brasil

Alex Ribeiro
Historiador, Cientista Político e Jornalista

“O comunismo constitui-se o
inimigo mais perigoso da civilização cristã”,
disse Getúlio Vargas
80 anos do Estado Novo em destaque na Rádio Senado — Senado Notícias
Comitiva de Getúlio Vargas (ao centro) durante a passagem por Itararé (SP)
a caminho do Rio de Janeiro após a Revolução de 1930

Fonte: Agência Senado

O comunismo constitui-se o inimigo mais perigoso da civilização cristã”, disse Getúlio Vargas antes de implantar o chamado Estado Novo em 1937 no Brasil. O discurso contra os simpatizantes ao regime comunista assim se solidificava no País e ainda reflete nos dias atuais.

Um dos grandes desafios em relação ao comunismo é a falta de informação sobre esta ideia que sempre foi colocada em oposição ao capitalismo. As eleições de 2018 escancaram esta desinformação realizada nas redes sociais e reproduzida para boa parte da população.

O comunismo, mesmo, jamais foi aplicado

Apesar de toda narrativa contra, o comunismo sempre ficou no campo das ideias e
nunca chegou perto de sua formulação ideal no mundo e muito menos no Brasil. De acordo com Dicionário de Conceitos Históricos, o termo é um conjunto articulado teórico que baseia um tipo de sociedade e também uma ação política fundamentado na luta da classe trabalhadora com as classes dominantes.
ABCs do Socialismo – O Minhocário
Confusão entre comunismo e socialismo

A ideia do comunismo também é confundida com o socialismo. Os dois termos não foram diferenciados pelos seus principais idealizadores: Karl Marx e Friedrich Engels.

Como surgiram nos movimentos políticos do século XIX, alguns grupos seguiram
caminhos diferentes:
* Uns queriam optar pela derrubada do sistema capitalista para adoção imediata do comunismo e
* outros pretendiam chegar ao poder com medidas mais pacíficas e de reformas progressistas – estes começaram a ser chamados de socialistas.

O socialismo foi o ideal de vários movimentos espalhados pelo mundo se espelharam em uma das figuras da Revolução Russa: Lenin. A Guerra Fria e outros movimentos ocorridos na Ásia e América Latina tiveram os ideais soviéticos como espelho e não a passagem pacífica do capitalismo ao comunismo como era argumentado por Marx e Engels.
Pedro Aurélio de Góis Monteiro – Wikipédia, a enciclopédia livre
Gen. Pedro Aurélio de Góis Monteiro (1889-1956)
Fazendo a cabeça dos católicos e da classe média

Vale lembrar que as práticas sobre um ideal comunista eram diferentes em muitos lugares. No Brasil, muitas vezes nem se chegava a ser um projeto de poder. Quando alguns grupos surgiam com apreço a políticas públicas progressistas, de imediato eram associados ao comunismo e havia uma narrativa, fortalecida pela repressão e propaganda, que o sistema iria contra as famílias e os cristãos.

De acordo com Lilia Schwarcz e Heloisa Starling,
o discurso feito na época de Vargas, consolidou um imaginário anticomunista
em boa parte da população católica e das classes médias e altas.

Esse imaginário foi fortalecido pelo General Góis Monteiro que defendeu a suspeição de direitos individuais dos políticos e lideranças populares que tinha apreço pelos ideais comunistas. O mesmo membro das forças armadas também foi responsável pela mesma repreensão na Ditadura Civil Militar Brasileira (1964-1985). Os anos de chumbo no Brasil repudiavam as pessoas que iriam contra o regime, que eram chamados de terroristas e consequentemente associados ao comunismo.

Isso foi postergado na campanha de 1989, na qual o então candidato à presidência da República Fernando Collor de Melo alertava o perigo dos ideais comunistas e “da nossa bandeira jamais será vermelha”. [E todo mundo sabe o que aprontou Collor de Melo para o nosso país!]

Com esses discursos qualquer grupo que estampa a cor vermelha em sua bandeira é taxado de comunista. Este sistema, que ficou preso no campo das ideias, virou um temor apocalíptico. A análise ficou tão delicada que vários atos realizados por sindicatos e grupos que representam a classe trabalhadora são taxados de “desocupados” e “vagabundos”. Onde parece que reivindicar alguma coisa do sistema vigente é ser contra o país, a não ser que esteja trajado das cores verde e amarela – práticas realizadas em campanhas por Vargas, militares e Collor, e sabemos como terminaram essas histórias.

Fonte: Folha de Pernambuco – Blog da Folha – Publicado em 26/10/2018 às 16h05 e atualizado em 26/10/18 às 16h05 – Acesso em 30/06/2020 – às 18h00 – Internet: clique aqui.

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