«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 28 de junho de 2020

Solenidade de São Pedro e São Paulo Apóstolos – Homilia

Evangelho: Mateus 16,13-19

Clique sobre a imagem, abaixo,
para assistir à narração do Evangelho deste Domingo:


Enzo Bianchi
Monge, teólogo e biblista italiano

A Igreja é plural e se nutre da diversidade

Esta solenidade reúne em uma única celebração Pedro, que segundo os evangelhos sinóticos foi o primeiro apóstolo chamado por Jesus, a «rocha» da Igreja, e Paulo, que sem ser discípulo de Jesus nem formar parte dos Doze coube-lhe a honra de ser considerado o missionário por excelência e de receber o título de «Apóstolo». Os escritos do Novo Testamento não descrevem sua morte, porém uma antiga tradição recorda que ambos padeceram o martírio em distintos lugares da cidade de Roma, no mesmo dia; duas vidas oferecidas em sacrifício por Jesus e pelo Evangelho.

Esses dois apóstolos estão, assim, unidos na celebração litúrgica, mesmo quando suas histórias terrenas não estejam isentas de mútuos enfrentamentos (cf. Gl 2,11-14). A comunhão entre eles, vivida na parresía (= sinceridade, destemor) evangélica, nem sempre foi fácil.
Ícone São Pedro e São Paulo 1
Pedro

Simão Pedro era um pescador de Betsaida da Galileia, um homem que alimentava sua fé principalmente no culto sinagogal aos sábados; desde que foi chamado por Jesus, sua fé começou a nutrir-se do ensinamento daquele mestre que falava como ninguém jamais havia falado. Sempre ao lado de Jesus, aparece em certas ocasiões como porta-voz dos outros discípulos, entre os quais ocupava uma posição proeminente.

Não se pode falar da história de Jesus sem mencionar Pedro, que foi o primeiro que ousou confessar a fé em Jesus como Messias. Os discípulos, como muitos entre a multidão, perguntavam-se se Jesus seria um profeta, inclusive, «o» Profeta dos últimos tempos (cf. Jo 6,14; 7,40), ou se, por acaso, seria o Cristo, o Messias.

A confissão pública de Pedro deveu-se a uma força interior, uma revelação que somente podia vir de Deus. Crer que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, não é possível a partir unicamente da interpretação das Escrituras. Foi Deus mesmo quem revelou a Pedro a identidade de Jesus, e este, por sua vez, reconheceu em Simão a pedra sobre cuja fé pode assentar-se a Igreja.

Porém Pedro, qualificado como «bem-aventurado» por Jesus, não estará isento de ser infiel ao seu Senhor. Imediatamente depois dessa confissão de fé, manifestará seu pensamento demasiado mundano acerca do caminho de Jesus que leva à paixão, até o ponto que Jesus será obrigado a chamá-lo «Satanás» (Mt 16,23) e, ao final da vida terrena de Jesus, declarará por três vezes que jamais o conheceu (cf. Mt 26,69-75): o medo e a vontade de salvar a si mesmo o empurraram a afirmar que «não conhece» a esse Jesus, um conhecimento que Pedro havia recebido nada menos que de Deus. E Jesus lhe havia garantido que rogaria por ele para que sua fé não fraquejasse (cf. Lc 22,32).

Após a ressurreição, no entanto, Jesus o confirmará em seu posto, ainda que exigindo-lhe confessar por três vezes que o amava: «Simão, filho de João, tu me amas?» (Jo 21,15.16.17). Na raiz precisamente desta pergunta, está o fato de que Pedro se converterá em apóstolo de Jesus Cristo, o pastor de suas ovelhas, primeiro em Jerusalém, depois nas comunidades judias da Palestina, prosseguindo em Antioquia e, finalmente, em Roma, onde, a exemplo de seu Senhor e Mestre, entregará sua vida. E, em Roma, Pedro encontrará Paulo, não sabemos se no dia a dia do testemunho cristão, ainda que, certamente, no grande sinal do martírio.
São Pedro e São Paulo Apóstolos - Imagens, fotos, ícones, pinturas ... 
Paulo

Paulo é o apóstolo diferente, colocado junto a Pedro em sua alteridade, como para garantir que a Igreja, desde seus primeiros passos, é plural e se nutre da diversidade. Judeu da diáspora, originário de Tarso, foi a Jerusalém para fazer-se escriba e rabino na escola de Gamaliel, um dos mais famosos mestres da tradição rabínica. Paulo era fariseu, experto e zeloso da Lei de Moisés, e não conhecia Jesus nem seus primeiros discípulos, chegando, inclusive, a destacar-se na perseguição do nascente movimento cristão. No caminho de Damasco, encontrou-se, também ele, com Jesus Ressuscitado, converteu-se e recebeu a revelação, como ele mesmo confessa: «A Deus agradou
revelar-me o seu Filho» (Gl 1,15-16).

Paulo define a si mesmo como um «aborto» (1Cor 15,8) comparado com os demais apóstolos, que haviam visto o Senhor ressuscitado, porém exige ser considerado como enviado de Jesus Cristo igual a eles, porque pôs a sua vida a serviço do Evangelho, fez-se imitador de Cristo também em seus sofrimentos, prodigalizou-se em viagens apostólicas por todo o Mediterrâneo. Sua paixão, sua inteligência, seu empenho em anunciar o Senhor Jesus aparecem em todas as suas cartas, assim como, em Atos dos Apóstolos. Ele é o «apóstolos dos gentios» (Rm 11,13), do mesmo modo que Pedro é «o apóstolo dos circuncisos» (Gl 2,8).

Pedro e Paulo, ambos apóstolos de Cristo, ainda que tão diferentes. Pedro, um pobre pescador; Paulo, um rigoroso intelectual, Pedro um judeu da Palestina, de uma obscura aldeia; Paulo, um judeu da diáspora e cidadão romano. Pedro, lento em entender e, por isso mesmo, em atuar; Paulo consumido pela urgência escatológica...

Foram apóstolos com estilos diferentes, viveram a Igreja de modo, às vezes, dialético, senão oposto, porém, ambos procuraram seguir o Senhor e sua vontade, e juntos, precisamente graças à sua diversidade, souberam dar um rosto à missão cristã e um fundamento à Igreja de Roma que preside na caridade. Por isso, a iconografia apresenta-os unidos em um abraço ou sustentando, entre os dois, a única Igreja que juntos contribuíram a construir: uma sinfonia que é memória e profecia da única comunhão eclesial, na qual Pedro abraça Paulo e Paulo deve abraçar Pedro.

Traduzido do espanhol por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: BIANCHI, Enzo. Jesús, «Dios con nosotros» que cumple la Escritura – Ciclo A. Salamanca: Sígueme, 2010, páginas 213-216.

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