«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Só combatendo a desigualdade

“Se queremos entrar em um novo mundo, precisamos desconstruir a ideologia de nossos regimes embasados na desigualdade”

Anais Ginori
Jornal “La Repubblica” – Roma (Itália)
07-06-2020

Entrevista com Thomas Piketty
Economista francês de renome internacional, autor do bestseller “O Capital no Século XXI”

“Infelizmente, esta crise expressa de maneira extraordinária
a violência das desigualdades sociais e, portanto, 
a necessidade urgente
de encontrar outro modelo econômico”
Carta-aberta. 300 economistas pressionam fim dos paraísos fiscais
THOMAS PIKETTY

Thomas Piketty não esperou a Covid para denunciar as profundas divisões que permeiam nossas sociedades ocidentais.

Diz ele: "Tivemos a brutal confirmação de que, mesmo em nossos países europeus, muitos cidadãos não são cobertos pelo sistema de proteção social", observa o economista francês que publica "Capital e ideologia", a sequência natural de "O Capital no século XXI", bestseller mundial em 2013.

No novo ensaio que traça a história das desigualdades, não apenas no Ocidente, Piketty apresenta propostas para redistribuir a riqueza, como uma herança para todos, a cogestão das empresas, a propriedade temporária, um imposto sobre os rendimentos mais altos até 90%.

Eis a entrevista.

O que mais lhe impressiona na situação atual?

Thomas Piketty: Nos últimos dez anos, celebramos os trabalhadores independentes, os jovens das start-ups, o pessoal do NIF (número de identificação fiscal). Hoje percebemos que muitas dessas pessoas tiveram que continuar trabalhando durante o lockdown porque não tinham outra forma de renda. E na crise econômica que está começando, eles serão os mais atingidos. A outra coisa a notar é que os Estados se endividam para responder à emergência, o que é completamente natural, mas não falam tudo.

Ou seja?

Thomas Piketty: Após a primeira e a segunda guerra mundial, as dívidas públicas subiram para 200, até 300% do PIB. Aconteceu na Alemanha, Japão, França. Estamos caminhando para cenários similares. Não é algo novo nem preocupante por si só, porque existem soluções. O importante é dizer a verdade: no final, alguém terá que pagar. A dívida pública não desaparece como se fosse por milagre.

Quem, em sua opinião, deveria pagar?

Thomas Piketty: É a pergunta fundamental a que muitos governos fogem. Seria bom pensar que ninguém terá que fazer sacrifícios no final. Não é verdade. Se olharmos para as crises do passado, existem duas hipóteses. A inflação pode ser criada, o que significa que quem pagará serão as classes mais pobres e os pequenos poupadores. Ou se pode fazer contribuir as pessoas com rendas mais altas e patrimônios através de alíquotas progressivas. Em muitos países da Europa, já existe uma maioria de cidadãos a favor de um imposto sobre o patrimônio. Os governos agora não querem falar sobre isso, mas serão forçados a fazê-lo nos próximos meses.
Leia online PDF de 'Capital e Ideologia' por Thomas Piketty
LIVRO IMPERDÍVEL!
Será lançado, no Brasil, no dia 23 de julho próximo, pela Editora Intrínseca (RJ)

Uma crise como a que estamos enfrentando tem precedentes históricos?

Thomas Piketty: No livro, lembro do debate sobre as consequências da Grande Peste que, segundo alguns medievalistas, haviam permitido reduzir as desigualdades e até a servidão. Para outros estudiosos, o que aconteceu foi o contrário. Na Europa, especialmente na parte oriental, a servidão se fortaleceu porque as classes dominantes, clero e nobres, quiseram recuperar o que foi perdido durante a epidemia. É o que poderia acontecer hoje.

O mundo pós-Covid será ainda mais injusto socialmente?

Thomas Piketty: As crises, como tais, não têm uma saída política específica, depende sempre de qual narrativa assume a melhor. A Covid não nos permitirá superar as relações de poder entre dominantes e dominados nem reverter a tendência que vem ocorrendo desde os anos 1980. Se realmente queremos entrar em um novo mundo, precisamos desconstruir a ideologia de nossos regimes embasados na desigualdade.

Os governos conseguiram parar a economia para salvar vidas humanas. Você esperava isso?

Thomas Piketty: Foi justo fazê-lo diante de uma ameaça sanitária, mas agora vamos usar a mesma flexibilidade mental para olhar para os desafios ecológicos e sociais. Os primeiros sinais não são animadores. A prioridade parece ser recomeçar como antes.

O Recovery Fund proposto pela Comissão Europeia é um bom sinal?

Thomas Piketty: É melhor que nada, mas continuamos presos a um sistema de governo europeu opaco, vinculado à regra da unanimidade entre 27 governos que tornará atribulado o caminho da aprovação da proposta da Comissão. E quando houver o Recovery Fund, um único governo poderá colocar o veto sobre o que pedirão para fazer Itália, Espanha ou qualquer outro país europeu.

Você está se referindo à resistência dos países "frugais"?

Thomas Piketty: Vamos parar de tentar convencê-los. Vamos seguir em frente com um grupo de países voluntários. Na França, Itália, Alemanha e Espanha já existe uma maioria política para apoiar investimentos conjuntos com atenção ao meio ambiente e às desigualdades sociais. Ao contrário do que muitos dizem, receio que, a médio prazo, o mecanismo institucional do Recovery Fund não resolva o divórcio que existe entre muitos cidadãos e a Europa. Pelo contrário, o fortalecerá porque avança sobre uma única perna, a das despesas orçamentárias. E esquece outra, a dos rendimentos, ou seja, da receita fiscal.

A Itália será o país que mais se beneficia do Recovery Fund.

Thomas Piketty: Poderia ser um entusiasmo efêmero aquele da Itália. Nos últimos anos, tivemos muitos conselhos europeus que teoricamente salvaram a Europa. Enquanto isso, houve o Brexit, a ascensão dos nacionalismos, e o projeto europeu perdeu definitivamente a adesão dos eleitores das classes médio-baixas.

O desafio ecológico, para o qual muitos jovens se mobilizaram, será esquecido pelos governos?

Thomas Piketty: Seria um verdadeiro erro subsidiar apenas atividades de altas emissões de CO2. Setores como o automobilístico ou têxtil terão que reduzir sua parcela de atividade gradualmente, mas de forma decisiva. Se não aproveitarmos esta oportunidade para reajustar nossas prioridades, quando o faremos? Novos empregos também podem ser criados com as medidas para o isolamento térmico, o desenvolvimento de energias renováveis. Proponho no livro um imposto progressivo sobre as emissões de CO2, concentradas principalmente por sujeitos com alta renda e altos patrimônios nos países mais ricos.

Traduzido do italiano por Luisa Rabolini.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias         – Segunda-feira, 8 de junho de 2020 – Acesso às 18h45 – Internet: clique aqui.

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