«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 6 de junho de 2020

Solenidade da Santíssima Trindade – Ano A – Homilia

Evangelho: João 3,16-18

Clique sobre a imagem, abaixo,
para assistir à narração do Evangelho deste Domingo:


José María Castillo
Teólogo espanhol

AMANDO-NOS, ENCONTRAMOS A TRINDADE

A doutrina oficial da Igreja entende Deus de tal maneira que nela se afirma, como dogma fundamental de nossa fé, que Deus é um. Porém, ao mesmo tempo, Deus uno está constituído por três pessoas reais e substancialmente distintas.

Esta doutrina ficou definida, permanentemente, no terceiro Concílio Ecumênico, o concílio de Calcedônia (ano 381), celebrado em Constantinopla (a atual Istambul) e presidido pelo imperador Teodósio I. A Igreja, pois, não teve consciência plena do mistério da Trindade Divina até finais do século IV. O que parece indicar que se trata de uma doutrina que não esteve plenamente clara durante vários séculos na Igreja.

Por outro lado, a linguagem teológica, sobre esse assunto capital, não ficou clara totalmente. Porque, como bem se fez notar, enquanto que, no Concílio de Niceia (ano 325), falava-se de uma só substância (em grego: hipóstasis) em Deus, no concílio seguinte, o de Constantinopla, fala-se de três hipóstasis: Pai, Filho, Espírito Santo.

Discutiu-se muito se isso é uma mera mudança de linguagem ou, melhor, é uma mudança de conteúdo. De qualquer modo, é evidente que a Igreja necessitou de muito tempo (e muita reflexão) para chegar a ter claro esse assunto. O que é compreensível. Porque, no final das contas, ao aplicar a Deus os conceitos de “pessoa” e de “substância”, na realidade o que se estava fazendo era projetar sobre “o divino” e “o transcendente” ideias e realidades “humanas”, que a mente humana não pode saber se verificam-se ou não em um âmbito ao qual não podemos chegar com nossa mente humana.

Então, o que nos quer dizer este mistério da Trindade?

O evangelho nos dá a pista para pensarmos corretamente: Deus (o Pai) amou-nos tanto, que nos mandou seu Filho (Jesus), para que, pela força do Espírito, possamos alcançar nossa própria humanidade, sermos bons e honrados de verdade, perder o medo à bondade e à ternura. Porque somente isso pode corrigir esse mundo tão louco.

Necessitamos de Deus. Necessitamos desse Deus. Ao qual encontramos amando-nos sem medo. No carinho mútuo o encontramos. Essa é a “Trindade econômica” (segundo Karl Rahner, teólogo jesuíta alemão), na qual encontramos a “Trindade imanente”. Na experiência do carinho humano, que frequentemente tem de ser heroico (nem está ao nosso alcance), encontramos Deus.
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José Antonio Pagola
Biblista e Teólogo espanhol

A INTIMIDADE DE DEUS

Se porventura, em uma impossibilidade, a Igreja dissesse que Deus não é Trindade, mudaria algo da existência de muitos que creem? Provavelmente não. Por isso, alguém fica surpreso diante desta confissão do padre Varillon: «Penso que, se Deus não fosse Trindade, eu seria provavelmente ateu [...] De qualquer modo, se Deus não é Trindade, eu não compreendo mais absolutamente nada».

A imensa maioria dos cristãos não sabe que, 
ao adorar Deus como Trindade, estamos confessando que 
Deus, em sua intimidade mais profunda,
é só AMOR, ACOLHIDA, TERNURA.
Essa é, talvez, a conversão que não poucos cristãos mais necessitam:
a passagem progressiva de um Deus considerado como PODER a
um Deus adorado alegremente como AMOR.

Deus não é um ser «onipotente e eterno» qualquer. Um ser poderoso pode ser um déspota, um tirano destruidor, um ditador arbitrário: uma ameaça à nossa pequena e frágil liberdade. Poderíamos confiar em um Deus do qual somente soubéssemos que é onipotente? É muito difícil abandonar-se a alguém infinitamente poderoso. Parece mais fácil desconfiar, sermos cautelosos e salvaguardar a nossa independência.

Porém, Deus é Trindade, é um mistério de AMOR. E sua onipotência é a onipotência de quem somente é amor, ternura insondável e infinita. É o amor de Deus que é onipotente! Deus não pode tudo.

Deus não pode senão aquilo que pode o amor infinito.
E sempre que o esquecemos e saímos da esfera do amor,
fabricamo-nos um Deus falso, uma espécie de ídolo estranho 
que não existe.

Quando, ainda, não descobrimos que Deus é somente AMOR, facilmente nos relacionamos com Ele a partir de interesses ou do medo. Um interesse que nos move a utilizar sua onipotência para nosso proveito. Ou um medo que nos leva a buscar todo tipo de medos para nos defendermos de seu poder ameaçador.

Porém, essa religião feita de interesses e de medos está mais próxima à magia que da verdadeira fé cristã.

Somente quando alguém intui, a partir da fé, que Deus é somente Amor e descobre fascinado que não pode ser outra coisa senão Amor presente e palpitante no mais profundo de nossa vida, começa a crescer livremente em seu coração a confiança em um Deus Trindade do qual, a única coisa que sabemos por Jesus, é que não pode senão amar-nos.

Traduzido do espanhol por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fontes: CASTILLO, José María. La religión de Jesús: comentario al evangelio diario – 2020. Bilbao: Desclée De Brouwer, 2019, páginas 203-204; PAGOLA, José Antonio. La Buena Noticia de Jesús – Ciclo A. Boadilla del Monte (Madrid): PPC, 2016, páginas 126-128.

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