«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

O mundo após o coronavírus

“A globalização está morta e enterrada:
a distância social será a regra”

Eugenio Occorso
Jornal «La Repubblica» - Roma (Itália)
29-03-2020

Entrevista com Jeremy Rifkin
Economista, Escritor e Cientista Social norte-americano – autor de vários best-sellers

A hora é de aproveitar a oportunidade dessa trágica pausa
para repensar nosso modelo de desenvolvimento
JEREMY RIFKIN

“Bom, chegamos à redução de energias fósseis e CO2 na atmosfera que venho pregando há anos. Garanto-lhe que teria preferido muito chegar lá por outras vias”. Jeremy Rifkin encontra um momento de amarga autoironia, o guru mundial da economia aplicada à ecologia. Ele imediatamente explica seu pensamento: “Espero que você e sua família estejam bem. Esta é uma enorme tragédia que nos deixa consternados. Quando a carnificina terminar, enfrentaremos uma crise econômica sem precedentes”.

Enquanto conversamos com o professor, trancado em sua casa hiperconectada em Washington, as agências superaram a previsão da Morgan Stanley para o PIB dos EUA: menos 30% no segundo trimestre.

Eis a entrevista.

Não apenas nada será como antes, mas nunca voltaremos à normalidade, escreveu o diretor do Mit Technology Review, Gideon Lichfield. Você concorda?

Jeremy Rifkin: Definitivamente, sim. Teremos que estudar novas modalidades de comportamento, estudo, trabalho, vida social, para manter sempre uma distância segura uns dos outros. Teatros, estádios, cinemas, aviões terão que ser repensados novamente, para que abriguem menos pessoas e menos aglomeradas. Eu vou além. Enquanto a pesquisa de vacinas continua, é necessária uma triagem global. Os dados deverão ser armazenados com alguma forma de proteção de privacidade em uma plataforma blockchain à disposição das autoridades internacionais.

No momento, devemos nos resignar: o vírus permanecerá entre nós e, como o bloqueio não pode ser mantido para sempre para não dobrar definitivamente a economia mundial, teremos que esperar por alguma remissão para reabrir (parcialmente) as portas, resignando-nos a fechá-las rapidamente assim que as terapias intensivas do hospital sinalizarem um anômalo aumento de acessos. Mas a revolução terá que ir além, redesenhando a governança mundial.

É o Waterloo da globalização?

Jeremy Rifkin: Assim como a conhecemos, está morta e enterrada. Devemos nos familiarizar com o termo glocal. Estou envolvido em um projeto da União Europeia propedêutico do Green Deal da Presidente Ursula von der Leyen: as Bio-regiões, também áreas supranacionais com particular homogeneidade e vocação industrial, agrícola, cultural. Estamos delineando as fronteiras para aprimorar as atividades, as produções e as trocas internas. É claro que, visto que as tecnologias o permitem, com o máximo de conexões com o resto do mundo.

A área teste é Hauts-de-France, a espinha dorsal de Lyon até Dunquerque, um histórico rust belt (cinturão industrial) a ser destinado a um desenvolvimento industrial mais moderno. Já temos resultados favoráveis em termos de investimentos. Outras áreas estão na Holanda e em Luxemburgo. Nos últimos dias estávamos focando na Itália. A propósito: estou pensando nas afinidades entre a Lombardia e a Suíça, quais bio-regiões você identificaria, que diferença existe além do clima entre norte e sul?
File:Region Hauts-de-France Arrondissement 2018.png - Wikimedia ...
Região de Hauts-de-France em destaque e pormenores, no alto, canto direito,
vê-se a localização da região no interior da França

Nasce o nacionalismo ecológico?

Jeremy Rifkin: As instituições políticas permanecem na plenitude de seus poderes. Exceto pelo fato de que são acompanhadas por um comitê de especialistas que vive na área, 300 pessoas, incluindo acadêmicos, sindicalistas, pessoas da cultura e estudantes. Eles têm dez meses para fazer as propostas. A presidente von der Leyen estava prestes a tornar público o projeto quando fomos atingidos pelos eventos. Também há um plano semelhante nos Estados Unidos: há cinco bio-regiões aqui, dos grandes lagos do norte ao deserto da Califórnia. Temos dificuldades óbvias com a Casa Branca, mas o divisor de águas foi cruzado com a eleição em novembro de 2018 de Alexandria Ocasio-Cortez, determinada como apenas os jovens sabem ser, com um grupo de seguidores muito forte em sua faixa etária.

Aproveitar a oportunidade dessa trágica pausa para repensar nosso modelo de desenvolvimento?

Jeremy Rifkin: Na história, as transformações de época sempre foram precedidas por epidemias desastrosas, incluindo a revolução industrial do início do século XIX e para trás ao longo dos séculos. Toda vez se pensa nos erros cometidos. Aqui, para não me repetir, o erro, vamos chamá-lo assim para não usar termos mais apocalípticos, se chama mudança climática. Os eventos extremos - incêndios, inundações, maremotos, secas, carestias - ocorrem com periodicidade plurianual e não a cada cinquenta anos, como no passado. E sempre envolvem uma fuga e uma migração desorganizada de homens, animais e vírus: estes últimos, para sobreviver, se prendem desesperadamente nos outros seres vivos e, assim, se disseminam pelo mundo.

Não devemos mais viajar?

Jeremy Rifkin: Estou falando de fugas em massa. Mas, pensando sobre isso: você sabe com as teleconferências quanto se economiza em viagens de negócios, poluição, estresse e tempo tirado da família? Voltamos sempre ao ponto básico: o homem deve diminuir o desperdício e o consumo de combustíveis fósseis. Não sou tão ingênuo a ponto de pensar que a mudança ocorrerá em tempos imediatos, mas os horizontes temporais começam a se estreitar, digamos que ainda temos vinte anos.

Não se corre o risco de decrescimento?

Jeremy Rifkin: Não pensem no empobrecimento generalizado, mas no contrário. A virada dos fundos de pensão de retirar centenas de bilhões de dólares dos investimentos do setor de combustíveis fósseis e indústrias relacionadas para reinvesti-los na economia verde, marca o advento da era do capitalismo social.

Agora temos essa amarga oportunidade: era melhor não a ter, mas vamos tentar aproveitá-la. Todas as revoluções industriais foram caracterizadas pela disponibilidade de meios de comunicação, tecnologias e fontes de energia. Se em 1800 havia a prensa de tipos móveis, hoje temos a web, e a mesma tecnologia nos fornece mil recursos, da Internet das coisas à digitalização de fontes renováveis. Nada será mais como antes, tentemos fazer com que seja melhor.

Traduzido do italiano por Luisa Rabolini.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 30 de março de 2020 – Acesso às 16h30 – 02/04/2020 – Internet: clique aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.