«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Só o vírus e a morte ganham

Editorial
Jornal “O Estado de S. Paulo”

Mesmo que revele uma competência ímpar, Nelson Teich precisará de um tempo que não existe. A troca de ministro é imprudência que só se explica pelos interesses eleitorais de Jair Bolsonaro
Na posse do ministro da Saúde, Bolsonaro defende reabertura do ...
NELSON TREICH & LUIZ HENRIQUE MANDETTA
na solenidade de posse do novo Ministro da Saúde

O presidente Jair Bolsonaro decidiu trocar seu ministro da Saúde em plena pandemia de covid-19. Trata-se de uma decisão exclusivamente política, já que o atual titular do Ministério, Luiz Henrique Mandetta, vinha fazendo um trabalho tecnicamente bastante razoável, em especial quando consideradas as duríssimas circunstâncias – que, não bastasse a ferocidade do coronavírus em si, incluem sabotagem explícita do próprio Bolsonaro e dos filhos do presidente.

O substituto de Mandetta, o oncologista Nelson Teich, terá o imenso desafio de montar uma nova equipe e se inteirar de toda a estrutura montada para enfrentar a pandemia justamente no momento em que esta começa a atingir o pico no País. Mesmo que revele competência ímpar, o novo ministro precisará de tempo – e tempo é um luxo que as autoridades sanitárias na linha de frente desta crise não têm.

Portanto, a troca de ministros é uma evidente imprudência de Bolsonaro, que só se explica por seus interesses eleitorais. O fato de que Luiz Henrique Mandetta desfruta de popularidade muito superior à do presidente explica, em grande medida, o nervosismo de Bolsonaro com seu agora ex-ministro. O presidente se sentiu desautorizado por Mandetta quando este resolveu ignorá-lo e, baseado na ciência, sustentou o discurso segundo o qual a única forma de conter a pandemia é manter a população em isolamento social.

Como se sabe, Bolsonaro é fervoroso defensor do fim do isolamento e da “volta à normalidade”, mesmo que isso cause mais mortes – mas isso, para o presidente, “é da vida”. Seu comportamento é tão irresponsável que mereceu lugar de destaque na imprensa internacional.
Bolsonaro está entre os piores negacionistas do planeta, diz ...
Traduzindo a manchete do jornal Financial Times:
"A 'Aliança do Avestruz': líderes negando a ameaça do coronavírus"

O Washington Post, por exemplo, considerou Bolsonaro “de longe o caso mais grave de improbidade” entre os líderes mundiais ao lidar com a crise. O Financial Times, por sua vez, colocou Bolsonaro no que chamou de “Aliança do Avestruz”, grupo dos únicos quatro chefes de governo no mundo que minimizam ou negam a ameaça da covid-19 – já chamada de “gripezinha” pelo presidente brasileiro. E a revista The Economist chegou a dizer que Bolsonaro foi tão longe que em seu próprio governo é tratado “como aquele parente problemático que dá sinais de demência”.

Obcecado em mostrar sua autoridade – “eu sou o presidente”, costuma repetir, como se isso fosse necessário –, Bolsonaro provavelmente espera que o novo titular do Ministério da Saúde não o contrarie e, sobretudo, não o ofusque. Não será surpresa se, sob nova direção, o Ministério passar a chancelar os palpites de Bolsonaro – que, além de um inviável “isolamento vertical”, incluem a receita de um remédio cuja eficácia não está comprovada, ao contrário de seus efeitos colaterais, já suficientemente documentados. Também não será surpresa se, no embalo desse discurso, mais e mais cidadãos se sentirem estimulados a abandonar a quarentena, como, aliás, já está acontecendo, o que tende a acelerar o colapso do sistema hospitalar.

O presidente quer também um ministro da Saúde que esteja a seu lado na briga contra os governadores, a quem atribui a responsabilidade pela crise econômica que está erodindo sua popularidade e ameaça sua reeleição. O ex-ministro Mandetta, ao contrário, sempre deixou claro seu pleno alinhamento com as duras medidas adotadas pelos governadores, pois não é possível falar em retomada da atividade econômica com um vírus letal à solta por aí.

Diante disso, espera-se que os governadores e prefeitos fiquem firmes na manutenção do isolamento social. Numa vitória do bom senso, o Supremo Tribunal Federal decidiu na quarta-feira passada que Estados e municípios têm autonomia para estabelecer o grau do isolamento necessário para conter o avanço da pandemia, contrariando o presidente Bolsonaro, que julga ter o poder de deliberar a esse respeito.

Todas essas garantias institucionais, no entanto, não serão suficientes para impedir que um Ministério da Saúde subserviente ao obscurantismo bolsonarista cause ainda mais confusão – com a qual somente o vírus ganha. Como disse o ex-ministro Mandetta à revista Veja, “o vírus não negocia com ninguém, não negociou com o Trump, não vai negociar com nenhum governo”. Só nos resta esperar que o novo ministro cultive as virtudes da paciência, da prudência e do bom senso.

Na disputa, corda arrebentou nas bandas
do Planalto

Carlos Melo
Cientista Político e Professor do Insper

A negação da realidade escolheu o pior de dois mundos,
os desastres na saúde e na economia
Mandetta se despede do cargo de ministro da Saúde; Teich assume ...
LUIZ HENRIQUE MANDETTA
Despede-se do Ministério da Saúde

O desastre principia com a negação da realidade. Como Donald Trump, Jair Bolsonaro é presidente que afronta os fatos porque, para ele, é sempre possível dar o dito por não dito; alegar mal-entendido e acusar os outros. A prática é manjada, mas rebaixar a pandemia à “gripezinha” foi seu o paroxismo. O vírus se impôs e transformou a pandemia em “crise humanitária”.

Indispondo-se com o mundo e com seu ministro da Saúde, o presidente perdeu elos com:
* nações,
* com o Congresso,
* com os governadores e
* com o Supremo Tribunal Federal.
Ficou institucionalmente só, agarrado a radicais e a um paradoxo: sendo contra a quarentena, somente seu sucesso [da quarentena] – com poucas mortes – é que reanimaria a tese da “gripezinha”, para que possa dizer “eu disse”.

A queda de braço com Luiz Henrique Mandetta ficará para a história. Sem admitir que salvar vidas e empregos não é incompatível, tentou se impor ao ministro – o que já é estranho – com certo cálculo: como a Economia de Paulo Guedes já patinava, a Saúde e os governadores seriam bodes expiatórios do fracasso econômico.

Até onde pôde, equilibrou-se na ambiguidade e, assim, num dia condescendia, no outro desdizia. “Isso cansa.” Mas, o presidente não percebia lidar com profissionais. O DEM, partido do ministro, é hoje o que mais se assemelha ao antigo PSD – de Juscelino, Valadares, Tancredo e outras raposas –, sabe andar no fio da navalha. Articulado com os seus, o ministro permitiu que o presidente esticasse a corda para que arrebentasse nas bandas do Planalto.

O cálculo se inverteu: se a quarentena obtiver sucesso, será obra do abnegado Mandetta. Já o fracasso será creditado à irascibilidade de Bolsonaro, algoz do ministro. Mas, ao final, não haverá ganho: suspeita-se que muitos morrerão e o desastre econômico será inevitável. A negação da realidade escolheu o pior de dois mundos.

Fontes: O Estado de S. Paulo – Notas & Informações – Sexta-feira, 17 de abril de 2020 – Página A3 – Internet: clique aqui; IdemPolítica / Análise – Página A6 – Internet: clique aqui.

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