«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Jogando com vidas humanas

Desordem e retrocesso

Rosângela Bittar
Jornalista

Em vez de uma política nacional, o Brasil tem 27 opções de enfrentamento do coronavírus - e o presidente da República trabalhando contra todas elas
ROSÂNGELA BITTAR

O Brasil não foi bem, até aqui, dois meses depois de identificada a pandemia, no enfrentamento da covid-19. Ressalvado o esforço heroico de profissionais da saúde e a responsabilidade dos governadores em procurar fazer o certo, ficamos para trás. Por incompreensão do presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre o momento histórico que fez coincidir seu mandato no comando da Nação com uma doença de extermínio.

Mostrou-se tonto, desordenado e em fuga da realidade.

Como sua perspectiva foi a da negação, aconteceu o pior: nada aprendeu com os erros do presente para consertar e preparar o futuro. Não fez, por exemplo, um plano sério de fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), que se revelou, na crise do coronavírus, um espetacular instrumento de ação governamental.

Os Poderes Legislativo e Judiciário deram tímida contribuição, mas foram pouco demandados. A Presidência da República é que exerce o poder administrativo e cotidiano de fato, além do exemplo a ser seguido. Esteve, porém, abaixo da omissão que se poderia tolerar.

Não há uma política de enfrentamento da doença. O que há é um conjunto de opiniões, contraditórias no essencial, sobre como encará-la e enfrentá-la. E até como conceituá-la e avaliar seus efeitos em profundidade.

Bolsonaro ora não reconhece a existência da pandemia ora se apega a uma informação de que ela está indo embora. O que se faz é, primeiro, emergencial; segundo, setorial; terceiro, descoordenado; e, quarto, livre de estratégia.

No meio da crise e do caos, o presidente trocou o ministro da Saúde, com escárnio e requintes de ingratidão, porque seguia orientação da OMS e não a sua ideia particular sobre como deveria ser recebido e tratado o vírus. O novo técnico do time pediu tempo. E o presidente manteve sua cruzada nacional sobre a falsa questão que abraçou e nela persiste, a do antagonismo entre a saúde (preservada no isolamento social) e o emprego (garantido pela abertura do comércio).

A pandemia é mortal e exige intervenção firme e profunda da medicina e da ciência, havendo perspectiva de controle só quando houver vacina. Mas, por aqui, ficamos na mão de um leigo inconformado por não ser obedecido por um vírus.
Corona in Bolsonaros Brasilien: Auf dem Weg zur Corona-Revolte ...
JAIR BOLSONARO
incomodado e não sabendo usar sua máscara

Bolsonaro é ativista da liberação da quarentena e da normalidade da vida urbana, não importam as consequências. É notório que atribui irrelevância à doença, contagiosa, que mata a população que governa e quer ver nas ruas. Seu chanceler traduziu bem o que pode ser o pensamento também do presidente, este é um vírus inventado por comunistas para acabar com seu governo e impedir sua reeleição.

O governo não acompanha seu raciocínio, mas não tem condições ou forças para demovê-lo. A impressão dominante em Brasília é de que a impaciência do presidente com a pandemia, que veio atrapalhar seus planos, está próxima de levá-lo a decisões radicais.

Seu desespero para desqualificar a saúde e criar uma situação de um mundo já sem pandemia o levou a autorizar a divulgação de um plano de recuperação econômica, já engavetado. Preparado numa emergência, era um esboço de boa notícia, porém falsa. A pandemia não acabou e não há dinheiro para isso, seja lá o que venha a ser quando ficar pronto.

O presidente está na contramão do seu modelo, o presidente dos Estados Unidos, na contramão de países em desenvolvimento e de todos os que reafirmaram sua condição de primeiro mundo ao enfrentar a pandemia do jeito certo.

Em vez de uma política nacional, o Brasil tem 27 opções de enfrentamento do coronavírus [número de estados mais o Distrito Federal] e o presidente da República trabalhando contra todas elas.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Especial Coronavírus – domingo, 3 de maio de 2020 – Página H6 – Internet: clique aqui.

Enquanto isso...

Crise trazida pelo coronavírus acelera o empobrecimento do brasileiro

Érica Fraga

Em 2000, renda no Brasil era 9% maior que a média mundial;
neste ano, deve ser 19% abaixo da média
Caixa continua registrando grandes filas
Filas e aglomerações de pessoas em agência da Caixa Econômica Federal:
símbolo de desorganização e desrespeito com a população!

A crise econômica causada pelo novo coronavírus deverá acelerar o empobrecimento do brasileiro em relação à média da população mundial, iniciado em 2015.

Segundo dados da consultoria britânica EIU (Economist Intelligence Unit), a renda per capita do Brasil recuará de US$ 16.670, no ano passado, para US$ 15.910, em 2020.

Esses valores são aferidos em paridade do poder de compra (PPC), medida que considera e nivela as diferenças nos custos de vida dos países para permitir comparações internacionais.

Se a projeção da consultoria se confirmar, a renda média do brasileiro encerrará este ano 18,6% abaixo da média mundial, que deverá cair para US$ 19.550, um pouco abaixo dos US$ 19.730 registrados no ano passado.

A diferença reflete uma forte reversão ocorrida nos últimos anos. Em 2000, a renda per capita do Brasil (em PPC) era 9% superior à do cidadão global médio. Essa vantagem relativa se manteve — ora maior, ora menor — até 2014, quando teve início uma das mais severas recessões da história do país.

A crise colocou o Brasil em uma espiral de empobrecimento tanto absoluto — a renda per capita em reais caiu — quanto relativo, levando o poder aquisitivo de países diversos, como China, Costa Rica, Botsuana e Iraque, a ultrapassar o do brasileiro.

A lenta retomada da economia a partir de 2017 não foi suficiente para alterar esse processo de distanciamento entre a renda brasileira e a de outros países, e, com a crise econômica provocada pela pandemia de Covid-19, a situação tende a piorar.

A EIU, braço do grupo que publica a revista The Economist, foi uma das primeiras a reduzir, drasticamente, sua projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, após a eclosão do coronavírus. A consultoria espera uma contração de 5,5% da atividade econômica do país neste ano.

Logo em seguida, o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional) também ajustaram significativamente suas estimativas. As duas instituições multilaterais projetam recuos de 5% e 5,3%, respectivamente, do PIB brasileiro em 2020.

Estagnado há uma década, poder de compra brasileiro se distancia do de chineses, uruguaios e chilenos. Veja o gráfico abaixo:

 Renda per capita em 2010 (em US$, ajustados pela paridade do poder de compra)
Singapura
71.564
Estados Unidos
48.516
Alemanha
38.903
Reino Unido
36.056
Coreia
31.746
Chile
18.143
China
9.240
Botsuana
12.945
Mundo
13.530
Tailândia
13.214
Costa Rica
12.653
Iraque
12.886
Brasil
14.381
Colômbia
10.750
Índia
4.300
Entre os analistas brasileiros, as projeções, compiladas pelo Banco Central, vêm se deteriorando semana após semana e, atualmente, indicam uma recessão de 3,3%.

“Esse foi um golpe terrível justamente quando o Brasil parecia se levantar de novo e caminhar para um crescimento superior a 2% de forma mais sustentável”, diz Robert Wood, economista-chefe da EIU para a América Latina.

Ele destaca que, embora o cenário do país ainda fosse frágil, o desemprego vinha caindo lentamente e havia alguma perspectiva de reformas estruturais, como a tributária, apesar do ruído político.

Agora, afirma o analista, o Brasil terá algum poder de fogo para mitigar o efeito da pandemia, mas não tanto quanto outros países.

“Por isso, o sofrimento, particularmente dos mais pobres, será mais severo no Brasil”, diz Wood.

“E há o desafio extra de implementar os programas de assistência anunciados, como os vouchers [de R$ 600] para os mais vulneráveis, em um contexto de alta informalidade e fraquezas institucionais”, completa ele.

No primeiro trimestre do ano, 1,218 milhão de pessoas ficaram desempregadas — dois terços deles atuavam na informalidade —, levando a taxa de desocupação a subir para 12,2%, segundo o IBGE.
Na crise causada pelo golpe, ricos ficaram mais ricos e pobres ...
Desigualdades sociais e econômicas deverão aumentar, ainda mais, no Brasil

Descoordenação e turbulências políticas agravam a situação

De acordo com Wood, o cenário brasileiro é complicado também pela falta de consenso e coordenação em relação às medidas de afastamento social contra a Covid-19.

“Isso é algo problemático, que não tem sido tão visto em outros países onde há maior unidade de propósito, incluindo até os Estados Unidos”, afirma o especialista.

A fraqueza anterior da economia brasileira, somada à turbulência institucional recente e à falta de coordenação nas respostas à pandemia, pode agravar a crise econômica.

A queda de 5,5% esperada pela EIU para o Brasil é mais do que o dobro da contração de 2,5% projetada para a economia global.

Isso contribuirá para aumentar o crescente hiato de renda que separa o Brasil da média mundial e de outros emergentes, como a China.

Segundo a consultoria britânica, apesar de sofrer uma forte desaceleração, a atividade econômica no país asiático encerrará 2020 com uma pequena expansão de 1%.

Com isso, o poder aquisitivo do brasileiro (em PPC) ficará quase 30% abaixo do chinês neste ano. Essa distância representa uma mudança brutal em relação ao verificado no início da década de 1980, quando a renda per capita brasileira era 15 vezes maior do que a chinesa.

Segundo o economista Samuel Pessôa, mesmo se considerados apenas os últimos anos, o distanciamento entre os dois países foi significativo. Isso porque o PIB per capita chinês (em PPC) atingiu o mesmo nível que o brasileiro apenas em 2016.

“Essa abertura de quase 30% de diferença em apenas quatro anos é muito grande”, diz ele, que é colunista da Folha e pesquisador do Ibre-FGV.

“Isso é fruto da nossa tragédia e do desempenho espetacular da China”, afirma.

O economista ressalta que há limites para a replicação das políticas adotadas no país asiático, que vive sob um regime autoritário, em nações democráticas, como o Brasil.

“Eles têm atrasado o processo de urbanização e, portanto, o crescimento desordenado das cidades, porque restringem a mobilidade das pessoas”, cita o economista.
Coreia do Sul: robô substitui professor em sala de aula | Uma (in ...
Escola da Coreia do Sul

Lições dos países asiáticos

No entanto, há aspectos reproduzíveis do desenvolvimento de países asiáticos, como a valorização da educação e a preocupação com a poupança.

“Nesses países, não há servidores públicos com renda como a do Brasil,
não tem criança não estudando, o consumo é mais moderado e
as famílias têm reservas”, diz.

Na América Latina, alguns desses fatores que conduzem ao crescimento não são tão presentes como na Ásia. No Brasil, tanto a taxa de poupança quanto a de investimento estão, há anos, estagnados em patamares muito baixo e a qualidade da educação permanece baixa.

Mas, de acordo com Pessôa, há países na região que têm conseguido melhor desempenho relativo, como Chile, Colômbia e Peru.

Para analistas, o fato de o Brasil ter sido atingido pela pandemia com a economia ainda desequilibrada poderá complicar o cenário de recuperação do país mais do que o de outras nações.

Wood, da EIU, diz que uma de suas preocupações é o impacto negativo que o inevitável aumento da já elevada dívida pública brasileira terá sobre as finanças do governo.

Outra é o risco de que muitas pequenas e médias empresas sejam afetadas de forma permanente e acabem falindo. Esses dois fatores, diz o analista, limitarão o potencial de crescimento do Brasil nos próximos anos.

De acordo com especialistas, seria positivo se os efeitos devastadores da crise criassem ímpeto para a realização de reformas necessárias que vinham sendo discutidas antes da pandemia, como a tributária.

“Há frentes nas quais podemos avançar, como aumentar os impostos pagos por profissionais de renda alta que atuam como PJs [pessoas jurídicas]”, afirma Pessôa.

Wood acrescenta que, após a pandemia, os investidores observarão o avanço do Brasil em sua agenda de reformas. Mas, para ele, a proximidade do ciclo eleitoral de 2022 e o cenário político conturbado tornam as perspectivas de progresso nessa frente mais sombrias.

Fonte: Folha de S. Paulo – Mercado – domingo, 3 de maio de 2020 – Páginas A17-A18 – Internet: clique aqui.

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