«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Um crime contra a humanidade

Bolsonaro aproveita a quarentena para destruir o meio ambiente

Nabil Bonduki*

Fazem parte do programa bolsonarista a flexibilização das restrições
e o desmonte da legislação ambiental
Amazônia e desmatamento 2020: quase o dobro de 2019 - Mar Sem Fim
A destruição da porção brasileira da Amazônia aumentou 64% em abril,
em comparação com o mesmo mês do ano anterior,
segundo dados preliminares de satélite do Inpe

Fiscais do Ibama iniciaram, em 4 de abril, ações no sul do Pará para prevenir o avanço da pandemia em terras indígenas, onde estava se registrando as primeiras mortes por Covid-19, e a destruição da floresta provocados por garimpeiros e madeireiros ilegais.

À frente das operações de combate aos crimes ambientais estavam Renê Luiz de Oliveira e Hugo Ferreira Netto Loss, da coordenação geral de fiscalização ambiental. Eles expulsaram os garimpeiros e madeireiros e destruíram o maquinário utilizado pelos invasores nas Terras Indígenas Araweté (do povo Araweté e indígenas isolados do Igarapé Bom Jardim), Apyterewa (dos Parakanã) e Trincheira Bacajá (dos Kayapós e dos Xikrin), onde vivem 1.700 indígenas.
Ministro terá de explicar denúncias de perseguição a fiscais do ...
IBAMA destrói equipamentos ilegais na Amazônia
Isso é considerado "errado" pelo Ministério (da Destruição) do Meio Ambiente!

Ser eficiente e cumprir a lei – risco de demissão!

A eficiência desses servidores públicos no combate ao garimpo ilegal, desmatamento criminoso, tráfico de animais e outros crimes ambientais teve seu preço: no dia 30 de abril, o ministro (da destruição) do Meio Ambiente, Ricardo Salles exonerou esses servidores, que estavam apenas cumprindo sua obrigação.

Em seguida, em 6 de maio, o presidente Jair Bolsonaro assinou o decreto 10.341/2020, determinando que “os órgãos e as entidades públicas federais de proteção ambiental serão coordenados pelos Comandos, alocados pelo Ministro de Estado da Defesa, responsável pela operação. Na prática, a fiscalização ambiental em toda a Amazônia Legal passou para o comando do exército. Outro decreto presidencial proíbe a destruição do maquinário utilizado por garimpeiros e por madeireiros ilegais.

Desmonte da proteção ao meio ambiente

O caso é apenas um, mais um exemplo do processo sistemático de desmonte da estrutura legal e institucional construída durante 40 anos para proteger o meio ambiente no Brasil, o que reúne a maior biodiversidade do mundo. Após 500 dias de governo Bolsonaro, o antigo Ministério do Meio Ambiente é uma estrutura em ruínas e pode se dizer que apenas existe para propor a flexibilização da legislação ambiental e afrouxamento da fiscalização para permitir a exploração econômica selvagem das áreas protegidas.

[1] Técnicos com larga experiência em gestão ambiental foram afastados e, quando concursados, são colocados na “geladeira”.

[2] O Conselho Nacional do Meio Ambiente teve sua composição alterada, com uma drástica redução da representação da sociedade civil, mas, ainda assim, nunca mais foi convocado pelo ministro.

[3] O Sistema Nacional do Meio Ambiente, que tem a função de articular os três níveis de governo para ação articulada de proteção ambiental, foi desmontado.

[4] Foram extintos os programas de apoio à estados e municípios.

[5] O governo recusou recursos da Noruega e da Alemanha destinados ao Fundo Amazônia, voltado à proteção da floresta.

No ano passado, quando os recordes de queimadas ganharam repercussão internacional e ameaçaram o comercio exterior brasileiro, a questão da devastação das florestas estava na ordem do dia. Mas agora, quando as atenções do país estão voltadas a pandemia e para as crises políticas em série criadas pelo governo Bolsonaro, as agressões ambientais tem passado desapercebidas.
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Crescimento criminoso do desmatamento

Em março de 2020, o desmatamento na Amazônia Legal cresceu 279%, em comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, que detectou 254 quilômetros quadrados de desmatamento contra 67 quilômetros quadrados em março de 2019.

O cenário marca o início da temporada da devastação anual da floresta: após a derrubada e retirada da madeira de lei para o comércio ilegal, começam as queimadas. “Quando a estação seca chegar à Amazônia, essas árvores derrubadas vão virar combustível para queimadas. Esse foi o ingrediente principal da temporada de fogo de 2019, uma história que pode se repetir em 2020 se nada for feito para impedir”, explica a pesquisadora Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa da Amazônia.

Até mesmo lideranças do agronegócio, como o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Marcello Britto, estão denunciando avanço do desmatamento e da grilagem neste ano.

Um programa de morte é colocado em prática

Nada disso surpreende. Fazia parte do programa bolsonarista:
* a flexibilização das restrições ambientais,
* o desmonte da legislação,
* a exploração econômica das terras indígenas e quilombolas,
* o apoio a atividades econômicas ligadas a crimes ambientais e
* a saída do Acordo de Paris, implicando no abandono dos compromissos do país na mitigações das mudanças climáticas, em especial a redução do desmatamento.

Sob uma certa apatia da sociedade, com exceção dos movimentos ambientalistas e de alguma resistência no Congresso, esse programa de morte está sendo colocado em prática.

Para enfraquecer a fiscalização das unidades de preservação, a cargo do ICMbio, o ministro Salles determinou, em 12 de maio, a centralização da chefia de 35 unidades dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Com a medida, a sede da fiscalização ambiental, por exemplo, da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, passará para a Alameda Tietê, no bairro paulistano dos Jardins. Nesse processo, 18 chefes de unidades de preservação foram exonerados.

O desmonte da Funai e da Fundação Palmares, responsáveis pela desmarcação das terras indígenas e dos povos tradicionais, como os quilombolas, e a subordinação do Serviço Florestal Brasileiro ao Ministério da Agricultura, com destruição do Cadastro Ambiental Rural (CAR), um dos instrumentos mais importantes para combater a grilagem de terras e promover a recuperação de áreas devastadas, são outras iniciativas em andamento.
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A Medida Provisória (MP) que favorece a grilagem

Já a medida provisória 910, a MP da grilagem, enviada ao Congresso pelo governo, autoriza a titularidade de terras públicas para invasores que devastaram a Amazônia e o cerrado. Sob a justificativa de facilitar a necessária regularização fundiária para pequenos proprietários, a MP abre as portas para uma ampla anistia à grilagem de terras públicas, em especial na Amazônia, como denunciou Ministério Público Federal.

Além da depredação do patrimônio público, o controle do desmatamento ficará seriamente prejudicado caso a MP seja aprovada, o que precisaria correr até esta terça-feira (19), quando perde a validade. [Felizmente essa MP não foi votada, há outra sendo analisada em seu lugar... Mas toda atenção é pouca!]

Para completar a lista, mais por falta de espaço do que de assunto, despacho de Salles, assinado em abril, anistiou e reconheceu como consolidadas as áreas de preservação permanentes (APPs) desmatadas e ocupadas até julho de 2008, em propriedades rurais no bioma Mata Atlântica. Margens de rios e topos de morros devastados para a agricultura e pecuária, por exemplo, não precisariam mais ser recuperados com vegetação nativa. Dessa forma, se consolidaria uma devastação que já eliminou 88% da Mata Atlântica.
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RICARDO SALLES
Ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro

O Ministro (Destruidor) do Meio Ambiente

As atividades econômicas relacionadas com crimes ambientais sempre foram defendidas por Bolsonaro. Aproveitando a grave crise sanitária que afeta e distrai do país, o ministro da (destruição) do Meio Ambiente, recém expulso do Partido Novo, vem na moita fazendo o serviço sujo de seu chefe. As consequências serão gravíssimas, para meio ambiente, para o futuro da humanidade e para a própria recuperação econômica do país, que poderá sofrer graves sanções econômicas por essa irresponsabilidade ambiental.

* Nabil Bonduki é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, foi relator do Plano Diretor e Secretário de Cultura de São Paulo.

Fonte: Folha de S. Paulo – Colunas e Blogs – Segunda-feira, 18 de maio de 2020 – Publicado às 09h54 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui.

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