«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 12 de dezembro de 2020

A esperança não morreu

 O que aprendemos com a pandemia

 Dom Odilo Pedro Scherer

Cardeal-Arcebispo de São Paulo (SP) 

Temos o privilégio de seguir avante e motivos para erguer os braços para o céu em prece

 

O ano que vai chegando ao fim foi particularmente difícil para todos. Fomos surpreendidos, ainda nos primeiros meses, pela pandemia de covid-19, que atingiu o Brasil inteiro. De uma hora para outra, nossos planejamentos e programações precisaram ser abandonados ou adequados à medida que os problemas avançaram. 

Lamentamos os sofrimentos dos que foram atingidos pelas doenças, sobretudo pela pandemia de covid-19, e nos solidarizamos com eles. Fizemos luto por tantos que perderam a batalha para o vírus e nos sensibilizamos com seus familiares e pessoas próximas. Não desconhecemos as lutas e angústias dos pobres, duramente atingidos e deixados na insegurança econômica. De muitas formas, eles foram e ainda estão sendo socorridos.

Lamentamos os desencontros ideológicos no debate sobre a pandemia e as maneiras de enfrentar a enorme crise sanitária. Infelizmente, a dor e a angústia das pessoas foram objeto de exploração emotiva e de enfrentamentos ideológicos estéreis, até com ondas de agressividade.

Mas é preciso reconhecer que nem tudo foi ruim neste ano, que nos deixa muitas lições importantes. No distanciamento e até isolamento social, necessários para evitar a disseminação do vírus, buscamos novas formas de comunicação, de encontro e interação de pessoas, grupos e organizações. As possibilidades de comunicação virtual mostraram-se especialmente úteis e acabamos descobrindo que o virtual não precisa ser necessariamente frio ou irreal. 

A insegurança econômica das pessoas, decorrente da perda do trabalho, ensinou-nos a olhar mais para o próximo, atentos aos seus sofrimentos e angústias. Muitas iniciativas solidárias foram promovidas e até a política econômica do governo teve de se curvar e ajustar para socorrer as necessidades básicas da população, aceitando que o melhor investimento é aquele que se volta para o cuidado das pessoas. 

A pandemia obrigou-nos a ficar em casa, o que não estávamos mais acostumados a fazer. As famílias tiveram mais tempo para si e para conviver e muitos pais puderam estar ao lado dos filhos por tempo mais prolongado e redescobriram aspectos do convívio familiar relegados a um segundo plano pelo ritmo frenético da vida. E os doentes, mesmo não podendo ser visitados nos hospitais, como antes, tiveram novas formas de atenção e proximidade com eles. 

Este tempo estranho nos ajudou a valorizar mais as pessoas, de uma maneira que antes talvez não as tivéssemos percebido. De repente, fez falta o velório com abraços, histórias familiares e rezas. Não foi fácil despedir-se dos falecidos sem se aproximar deles.

Percebemos melhor nossa fragilidade e a fugacidade da vida e compreendemos a preciosidade da vida, de cada instante.

Aprendemos a valorizar mais a saúde e os hábitos simples e cotidianos para cuidar dela. Os profissionais da saúde nunca foram tão valorizados e que admirados! 

Dom Odilo Scherer em visita à Comunidade da Missão Belém, no Haiti, América Central, em janeiro de 2013 - Ele é o autor deste artigo

A procura de soluções para a superação da pandemia levou o mundo a uma corrida sem precedentes na pesquisa científica, para encontrar vacinas eficazes de combater o vírus insidioso. Graças a esse esforço, vamos fechando o ano mais próximos de soluções para essa crise sanitária. Grandes crises e desafios são, geralmente, oportunidades fecundas para a ciência e o desenvolvimento tecnológico. 

Este tempo de pandemia levou muitos a se questionarem sobre o sentido da vida e sobre os rumos dados a ela no ritmo distraído do dia a dia.

Em muitos cresceu o desejo de orientar a vida mais para a prática do bem e a busca de Deus.

A consciência de nossa finitude ajuda a abandonar alienações ilusórias e arroubos de soberba e pretensão de onipotência e a buscar com mais humildade a verdade a respeito de nós mesmos e do mundo. 

Creio que, apesar das marcas individualistas da cultura contemporânea, nos apercebemos melhor da nossa interdependência e do destino comum que nos envolve. Crescemos em solidariedade e fraternidade ao longo deste ano e estamos menos sós e mais abertos ao próximo, como indivíduos e como sociedades e povos. Caímos na conta de quanto ainda precisamos avançar na superação de preconceitos, injustiças estruturais e violências primitivas. E o Papa Francisco, com a sua carta encíclica Fratelli Tutti, indicou o caminho da fraternidade e da amizade social como solução para os muitos problemas que parecem insolúveis no convívio da grande família humana. 

Se o ano não foi bom, certamente, ele nos deixou ensinamentos importantes e úteis para seguirmos avante, passo a passo, com esperança. Agora é não deixar cair no esquecimento as lições de vida que um ano de sofrimentos e angústias nos deixa. Se não fosse por outros motivos, já seria válido valorizar tanta dor e tanto sofrimento superados e honrar as vítimas que ficaram pelo caminho. Temos o privilégio de seguir avante e temos motivos para erguer os braços para o céu em prece. Deus não está longe de nós! 

O Natal se aproxima: é um convite para celebrar a fraternidade universal, mesmo sem podermos reunir multidões para festejar. 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço Aberto – Sábado, 12 de dezembro de 2020 – Pág. A2 – Internet: clique aqui (acesso em: 12/12/2020).

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