«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

ALERTA: a situação dos jovens

 Salário baixo e alta informalidade: a cara do emprego dos jovens no Brasil

 Renée Pereira

Jornalista 

Oito em cada dez jovens de até 24 anos têm emprego considerado precário, aponta estudo feito pela consultoria IDados

 

Um caso típico da carreira dos jovens

Em 2017, aos 21 anos, o sul-mato-grossense Enivaldo Cabral Garcia desembarcou na capital paulista para trabalhar e bancar seus estudos. Sozinho e sem experiência, teve de aceitar o que apareceu pela frente para conseguir entrar no mercado de trabalho. A esperança da carteira assinada deu lugar ao trabalho intermitente, sem estabilidade nem benefícios. Na época, o estudante de Direito arrumou alguns trabalhos em eventos, na área de limpeza, e ganhava por dia. 

Aos poucos, ele conseguiu melhorar sua posição, saindo de auxiliar para supervisor. “Mesmo assim, meu salário era bem inferior aos dos colegas mais velhos que faziam o mesmo que eu. Mas, como precisava da renda, não reclamava.” Tempos mais tarde, conseguiu um estágio na defensoria pública e, depois, um trabalho num call center. Este último, no entanto, foi interrompido pela pandemia. Formado em 2019, Garcia aguarda novo calendário para prestar o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), buscar uma vaga na área e tentar melhorar suas condições de trabalho. 

Assista ao vídeo com o depoimento de Enivaldo, clicando sobre a imagem abaixo:

A trajetória de Enivaldo resume a cara do Brasil, onde mais de dois terços dos jovens (77,4%) têm emprego considerado de baixa qualidade. Ou seja, de cada dez trabalhadores com até 24 anos de idade, quase oito trabalham em situação vulnerável, segundo levantamento da consultoria IDados. Em números absolutos, isso significa perto de 7,7 milhões de pessoas. Na faixa etária entre 25 e 64 anos, o porcentual é de 39,6% e, acima de 65 anos, de 27,4%. 

O que é um mau emprego 

Para considerar se um emprego é de má qualidade ou não, foram analisados quatro aspectos do nível de ocupação no País: salário, estabilidade, rede de proteção (INSS, por exemplo) e condições de trabalho. Em todos esses pontos, o emprego dos jovens apresenta fragilidades, mas os piores são renda e estabilidade. Para cerca de 90%, a renda é inferior a 6 vezes uma cesta básica (varia de R$ 398 a R$ 539) e 75% têm menos de 36 meses de tempo de trabalho. 

“No mundo todo, o jovem tem uma renda menor e maior dificuldade de se colocar no mercado. Mas, no Brasil, os porcentuais indicam uma qualidade do emprego pior por causa da maior rotatividade e da informalidade (no mundo, os porcentuais estão em torno de 60%)”, diz o economista Bruno Ottoni, pesquisador do IDados e responsável pelo trabalho, baseado nos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC). Considerando a população total ocupada (não só os jovens), o Brasil tem níveis de qualidade do trabalho parecidos ao de países como Honduras (41,6%) e Nicarágua (43,3%) e bem pior do que Costa Rica (18,8%) e Panamá (29%). 

De acordo com o estudo, em 2019, a qualidade do emprego do jovem atingiu o pico de 79,1% e recuou para 77,4% no segundo trimestre deste ano. Ottoni explica que a crise da COVID distorce um pouco os indicadores e, por isso, eles apresentam melhora no período. O desempenho ocorre porque quem perdeu o emprego foi o trabalhador de renda mais baixa ou o informal. Os mais qualificados continuaram empregados. “Como a qualidade do emprego é calculada com base em quem está empregado, o indicador pode melhorar. Mas vai piorar assim que o trabalhador demitido voltar ao mercado de trabalho, provavelmente em ocupações piores.” 

Falta de experiência, conhecimento e rede de contatos 

Uma das principais explicações para a baixa qualidade do trabalho dos jovens está na falta de experiência, menor nível de conhecimento por causa da idade e uma rede pequena de contatos. Esses fatores também são o motivo para o elevado nível de desemprego dos jovens – fator amplamente analisado e documentado no Brasil. Mas os números do IDados, calculados com base na literatura internacional, revelam que o problema vai além da quantidade de vagas de emprego para essa faixa etária. O trabalho mostra em quais condições o jovem entra no mercado, afirma o economista da Tendências Consultoria Integrada, Thiago Xavier. 

Esse cenário, avaliam especialistas, traz consequências para o País e para toda uma geração de trabalhadores. A baixa qualidade do emprego deixa o jovem mais desprotegido no caso de ser demitido ou de uma doença, sobretudo se esse trabalhador está na informalidade - 32,7% dos jovens não têm carteira assinada. Nesse caso, ele não terá direito ao seguro desemprego e ficará sem renda, diz Ottoni. Em muitos casos, isso tem reflexo direto na renda das famílias, que contam com esses recursos no dia a dia e terão de refazer o orçamento diminuindo o consumo. 

Para o jovem, esse emprego considerado vulnerável poderá representar o abandono dos estudos e uma estagnação do capital humano, que é o conjunto de conhecimento, habilidades e atitudes que ajudam na execução do trabalho. A má qualidade desse emprego também eleva a rotatividade do jovem no mercado. “A experiência adquirida ao longo do tempo desenvolve capitais específicos. Sem isso, poderemos ter trabalhadores que não conseguiram se desenvolver de forma adequada ao longo do tempo”, diz o professor do Insper, Sérgio Firpo. 

Outro reflexo dessa vulnerabilidade do trabalho dos jovens pode respingar na produtividade da mão de obra brasileira, que não tem evoluído muito nos últimos anos. Entre 1981 e 2018, a produtividade do trabalho avançou apenas 0,4%, segundo dados do Ibre/FGV. “A rotatividade elevada, por exemplo, prejudica o ganho de produtividade. Se esse índice é alto, a empresa não vai investir na capacitação desse trabalhador e se torna uma profecia auto realizável. Uma coisa aumenta a outra.” 

De acordo com o estudo do IDados, quase metade dos jovens não contribuem com a Previdência. Além disso, muitos não têm benefícios como plano de saúde ou vale refeição. É o caso de Lais Matos, de 23 anos. Ela acaba de completar um mês empregada numa rede de lojas, na área de recursos humanos. Entra às 8 horas e não tem horário para sair. Só recebe vale transporte e não tem nenhum outro benefício. “E quando precisa tenho de acumular funções para cobrir a falta de mão de obra no departamento, que está sobrecarregado”, diz a trabalhadora. Como outros milhares de jovens, ela busca adquirir experiência na área para buscar melhores oportunidades no mercado. 

Maior perda de renda durante a pandemia 

O economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, diz que os jovens da faixa etária entre 15 e 19 anos e entre 20 e 24 anos foram os que tiveram maior queda na renda entre o primeiro e segundo trimestres deste ano. No primeiro grupo, o recuo foi de 34% e no segundo, de 26%. Com isso, a participação dos jovens no mercado de trabalho recuou 20% e 11%, respectivamente, diz ele. Na média de todos os trabalhadores, essa queda foi de 8,6%. 

“Os jovens já vinham perdendo muito nos últimos anos e perderam mais uma vez (na pandemia). Além da renda, as horas trabalhadas caíram muito e a jornada de estudo também”, diz o economista. Em alguns casos, a perda do emprego também representou o abandono dos estudos, como no caso de Pamela Lacerda Costa, de 20 anos. 

Ela está desempregada desde dezembro. “Para estudar tenho de trabalhar”, afirma ela, que tem procurado emprego como vendedora nas lojas do Bom Retiro e pela internet. Pamela diz que atualmente qualquer loja pede um ano de experiência em carteira.

“Ao mesmo tempo que querem gente nova também exigem experiência.”

Nesse tempo desempregada, ela tem feito trabalhos esporádicos para conseguir algum dinheiro. 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Economia & Negócios – Segunda-feira, 14 de dezembro de 2020 – Págs. B1 e B3 – Internet: clique aqui (acesso em: 14/12/2020). 

Abstenção na eleição cresce 124% entre eleitores de 18 anos e supera avanço dos mais velhos 

José Marques, Leonardo Diegues e Diana Yukari 

Números são relativos ao primeiro turno; ausências cresceram 78% na faixa dos 65 aos 69 anos

 

Apesar de a eleição municipal ter ocorrido em meio a uma pandemia que tem como grupo de risco pessoas acima dos 60 anos, quem mais deixou de ir às urnas em comparação com a disputa de quatro anos atrás foram os jovens de 18 anos. 

Em relação às eleições de 2016, a abstenção entre os eleitores que chegaram à idade obrigatória de votar teve um crescimento de 124% no primeiro turno. Considerando apenas os eleitores de 18 anos, 22,1% faltaram à eleição do primeiro turno deste ano. 

Os números proporcionalmente são ainda mais altos nas duas maiores capitais do país. Em São Paulo, a ausência de eleitores de 18 anos cresceu 142%. No Rio, essa elevação foi de 159,1%. 

Entre os eleitores com 19 anos, o percentual de crescimento da abstenção nacional ainda foi alto, mas bem menos significativo: 72,7%. Entre os de 20 anos, o aumento foi de 50%. 

Mas a abstenção não aumentou só entre os jovens. Em todas as faixas etárias, se relacionadas ao pleito de 2016, cresceu o percentual de pessoas que deixaram de votar. 

Nos extremos das idades em que a votação é obrigatória, todavia, esses números se acentuam. Entre os eleitores de 65 a 69 anos, houve um crescimento de ausentes na ordem de 78%. 

Esse total representou aproximadamente 28% do eleitorado dessas idades. Na cidade do Rio de Janeiro a elevação dos ausentes de 65 a 69 anos foi de 101%. Em São Paulo, houve crescimento de 92,8%. [...] 

A cientista política Flávia Babireski, do Laboratório de Partidos e Sistemas Partidários da UFPR, afirma que essa falta de apego à política pode ter sido aliada neste ano à facilidade em justificar a ausência por aplicativo, tanto no próprio dia da eleição quanto depois. 

"Para quem não está mobilizado, o custo de não participar ficou muito baixo", diz Babireski. 

Para o advogado eleitoral Rafael de Medeiros Chaves Mattos, membro fundador da Abradep (Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político), a pandemia se juntou a outros aspectos que já estavam afastando os jovens da política e, às vezes, fazendo-os questionarem a legitimidade da própria democracia representativa. 

"A sensação é que há uma decepção com o sistema, e os jovens não percebem absolutamente nenhum movimento que tenha o mínimo de viabilidade de se estabelecer com sucesso e dar oxigenação à política, com novos nomes", afirma Mattos. "Isso [abstenção] acaba sendo uma retroalimentação dessa decepção." [...] 

À Folha, logo após o primeiro turno, o cientista político Antonio Lavareda disse que a taxa de abstenção havia crescido tanto que considerava que o Brasil pode ter adotado o voto facultativo “informalmente”. 

"O eleitor que não foi votar nessa eleição muito provavelmente não vai votar na próxima se não se vir motivado", disse ele. Outros especialistas relacionaram também à perda da força da antipolítica, o que tornou a eleição deste ano mais “fria”. 

Apesar do alto crescimento da abstenção entre as pessoas de 18 e 19 anos e de 65 a 69 anos, os mais velhos são os que menos vão às urnas. A partir dos 70 anos esse índice supera os 50% e, entre os 85 e 89 anos, já chega aos 90%. [...] 

Fonte: Folha de S. Paulo – Poder / Eleições 2020 – Domingo, 13 de dezembro de 2020 – Pág. A9 – Internet: clique aqui (acesso em: 14/12/2020).

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