«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Vamos falar de... Deus

 O que significa Deus em nosso contexto

 Brendan MacCarthaigh

Irmão religioso irlandês da Congregação dos Irmãos Cristãos, psicólogo, educador, escritor e conferencista muito renomado na Índia, onde trabalha há mais de 50 anos 

Existe uma entidade não-dimensional de amor, e ela dá significado a todos nós – não pela obediência, mas pela pura irresistibilidade

 

Como a espécie da raça humana teve um longo caminho para seguir para se tornar orgulhosa do que se diz ser, homo sapiens, até homo sapiens technologicens. 

Quando em nossa idade adulta nós nos deparamos com “sobre o que é isso tudo?”, nós nos encontramos sem respostas. Todas as outras espécies parecem claras a respeito disso, mas nós não. 

Filósofos vem e vão, suas teorias duram um tempo, e então alguém encontra um “mas”. Teólogos mais ainda. Mesmo os evangelistas. Vejam nós. Religiões estão rindo hostilmente uma das outras, política idem, e nosso comportamento insistentemente justificado é mortalmente infantil. 

Isso parece, para mim, que a raiz de toda a nossa miséria é nosso Deus. 

A covid-19 está nos ajudando a identificá-la mais de perto. 

Você não precisa ser um historiador para reconhecer que nós criamos Deus. Houve tribos com chefes, houve monarquias com reis, eles vieram de alguma forma para se verem com Direitos Divinos e até mesmo poderes, que se traduziam em autoridade sobre a vida e a morte de todos os corpos e almas em seu território. 

Modelando-se em monarcas e monarquias, os líderes religiosos deram a si mesmos infalibilidade e autoridade para decidir o que você poderia ou não ler, fazer, e mesmo após a morte – sob ameaça de punição horrível: uma noção que ainda é amplamente aceita. 

Nós inventamos e tomamos decisões sobre conceitos como eternidade, infinito, onisciência, onipotência, infalibilidade e assim por diante, e ainda os promovemos. 

Além disso, insistimos que nós, quem quer que sejamos, estamos definitivamente certos sobre o significado do cosmos e de tudo o que nele há, e deduzimos – ilustrando nossa compreensão miserável até mesmo de legalidades elementares – que se eu estiver certo e você difere de mim, você está errado. Além do mais, por estar errado, você é culpado e deve ser alienado e/ou punido. 

Você pode possivelmente resgatar sua liberdade de viver entregando sua liberdade à Nossa maneira de responder “Sobre o que é isso tudo”, caso contrário, você está condenado de maneiras tanto corporais quanto políticas, religiosas, sociais, relacionais e assim por diante. 

Mas nem tudo está perdido: você ainda pode retornar ao redil executando certos ritos e rituais e, portanto, está livre para fazer o mesmo novamente. E de novo. 

A experiência humana convenceu o mundo inteiro da preeminência do amor 

BRENDAN MACCARTHAIGH - autor deste artigo
Enquanto tivermos um Deus, não vejo como podemos escapar dessa situação horrível. Nada do que escrevi acima o surpreende. 

Cada um de vocês vai insistir que não é assim em sua interpretação particular de seu Deus particular, mas com um pouco de reflexão, você se verá obrigado a ceder. Se você optou pelo ateísmo – simplesmente não existe Deus – sua posição é totalmente consistente e inteligente. 

Mas te deixa desconfortável: essa coisa da morte se intrometer, insiste em uma resposta melhor do que depois dela não deve haver nada. 

Como me parece, e eu disse algo útil (espero) sobre isso na reflexão anterior, o cerne de toda a vida humana é a tensão entre o medo e o amor. 

A combinação de causas químicas e outras que levaram ao surgimento da pessoa humana contém em si essas duas forças, o medo e o amor. Se você insiste em usar o conceito de criação – eu seguro meu pé nisso – então o Big Bang foi criado. 

Eu admito, não sei o que exatamente ele significa, mas acho que se espalha em dimensões muito além de nossa experiência cósmica de agora. 

Mas deixe-me seguir minha interpretação: a experiência humana convenceu o mundo inteiro da preeminência do amor sobre todos os fenômenos humanos em termos de realização. 

Esqueça sua incompreensibilidade essencial: nós o experimentamos de inúmeras maneiras e continuamos fazendo isso. Outra maneira de fazer essa afirmação é, envolve dimensões que não podemos especificar. 

E isso me levou a afirmar que todo o amor que o cosmos experimenta, em cada ser natural, é ele mesmo o repositório de tudo que cada um aspira como realização de sua vida. Demos a ele o nome de AMOR.

Nós o diminuímos usando o nome de Deus, mas isso é realmente o que Deus significa em nosso contexto: amor. 

Certamente não sou o primeiro a tocar nessa base, e você mesmo poderia citar muitas escrituras para reforçá-la. 

Mas eu penso que quando nós diminuímos essa referência do AMOR a Deus, nós então capturamos o monstro encolhido nessas páginas. Isso não é qualquer pessoa, muito menos a trindade ou um infinito disso, ou daquilo. 

Existe uma entidade não-dimensional de amor, e ela dá significado a todos nós – não por obediência, mas por pura irresistibilidade. Onde essa não é a nossa percepção, fomos enganados. 

E isso é o que nós fazemos para nosso mundo, nós precisamos nos livrar do Deus como atualmente o promovemos, e trazer de volta a completude do amor. Ou então o medo vencerá. Deus abençoe. 

Traduzido do inglês por Wagner Fernandes de Azevedo. Publicado pelo «La Croix International», no dia 18 de dezembro de 2020. 

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 23 de dezembro de 2020 – Internet: clique aqui (acesso em: 23/12/2020).

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