«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

E você, o que pensa?!

 Morte e fome no governo do anticristão

 Vinicius Torres Freire

Jornalista e Mestre em Administração Pública pela Universidade Harvard (EUA) 

Estados e Supremo Tribunal Federal improvisam governo da vacina, Congresso está em pane, Bolsonaro avança

 

O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê o lobo aproximar-se, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as arrebata e dispersa, porque ele é mercenário e não se importa com as ovelhas(João 10,12-13).

Está no Evangelho de João, aquele que Jair Bolsonaro cita de modo blasfemo, como se fora um clichê mundano, sem entender o que quer dizer “a verdade vos libertará”, se é que leu o texto, que de qualquer modo não entendeu, dada a sua grosseria moral e intelectual. 

No início da epidemia, esse homem não apenas abandonou os brasileiros a seu próprio azar, mas sabotou os esforços de quem se bateu para não entregar as pessoas ao lobo da praga. Outra vez agora, o que restou de decência e razão no país se organiza a fim de vacinar o povo, proteger as pessoas que trabalham nos hospitais e salvar da morte pelo menos os nossos avós, de início. 

A maioria dos governadores, prefeitos e o Supremo Tribunal Federal tentam improvisar um governo nacional pelo menos no que diz respeito à emergência da saúde. A desgraça recrudesceu, as mortes outra vez passam das mil por dia. É possível que entre o Ano Novo e o que alguns cristãos chamam da festa de Reis, 6 de janeiro, pelo menos 200 mil brasileiros tenham morrido de Covid-19. Em São Paulo, as internações e mortes aumentaram na casa de 60% desde o início de novembro. 

A iniciativa de criar ao menos um governo para as vacinas é um arranjo precário, o que se tenta salvar do incêndio. Para piorar, o Congresso ou pelo menos o arranjo que continha os piores arreganhos de Bolsonaro está em pane. O Parlamento pode cair sob seu controle ou influência maior na eleição de fevereiro para os comandos da Casa. Uma perna do sistema de governo improvisado para limitar a destruição bolsonarista está para ser cortada. Bolsonaro, pois, ganha força para tocar seu projeto de destruição.

É o anticristão, em todos os sentidos da palavra, no aumentativo do substantivo e no adjetivo. 

Jair Bolsonaro em manifestação antidemocrática em Brasília, quando o Brasil perdia milhares e milhares de vidas para a Covid-19. Ele não escondia seu desejo de golpe!

O mercenário outra vez sabota o trabalho de quem quer proteger as pessoas da morte:

* desmoralizando a vacinação,

* disseminando dúvidas sem fundamento de modo a alimentar o desvario que é sua razão de ser e poder. Faz assim com qualquer instituição ou ideia racional.

* Tenta desmoralizar as eleições, imitando Donald Trump feito um sabujo rábico.

* Nega e estimula a destruição do ambiente, até agora o projeto mais bem-sucedido.

* Difunde a ideia de que o morticínio também pelas armas de fogo é uma solução para o problema da violência.

Não são abstrações, são suas medidas ou propagandas mais recentes. 

No submundo em que vive, tenta manipular com cada vez mais afinco os órgãos de polícia e fiscalização (como a Receita). Espalha agentes da Abin pelos ministérios. Depois de ser obrigado a parar com os comícios golpistas, toca seu projeto de destruição de modo mais insidioso. 

Se o Congresso cair sob a influência de Bolsonaro, será pior [vencendo o seu candidato à presidente da Câmara dos Deputados, o deputado federal do PP por Alagoas Arthur Lira]. Mesmo a fantasia de “reformas” escorre pela vala suja. O capitão da extrema direita jamais se importou com isso. A fim de atacar João Doria, negou até privatização de um entreposto federal de alimentos, a Ceagesp. 

Sem governo e com o Congresso em pane, não haverá socorro para os milhões que cairão em pobreza ainda maior com o fim dos auxílios. Não há plano de recuperação econômica em geral, nem mesmo para as contas do governo, “ajuste” que para os donos do dinheiro grosso justificou a eleição do capitão da extrema direita, o mercenário de João, que passeia pelo Brasil dizendo baixezas e mentiras com seu esgar demoníaco. 

Fonte: Folha de S. Paulo – Mercado – Sexta-feira, 18 de dezembro de 2020 – Pág. A13 – Internet: clique aqui (acesso em: 18/12/2020). 

Liberalismo de destruição

 Angela Alonso

Professora de Sociologia da USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento 

Moto do presidente tem sido pôr abaixo tudo que o Estado brasileiro erigiu

 

Ex-presidentes norte-americanos se vacinarão em público, para atestar a segurança da vacina, e a primeira-ministra Merkel pediu aos alemães que respeitem o distanciamento, sacrificando as festas de fim de ano. Aqui também o presidente opera pelo exemplo: “Eu não vou tomar vacina e ponto final. Se alguém acha que minha vida tá em risco, o problema é meu. E ponto final”. 

O presidente é um legítimo liberal em seu apreço à autonomia dos indivíduos como superior ao bem-estar coletivo. Pode-se acusá-lo de muita coisa, nunca de inconsistência.

O individualismo egocêntrico, autorreferido, é uma constante em sua vida pública. 

É liberal ao estilo hobbesiano, ao imaginar a sociedade como guerra de todos contra todos. Escapa, contudo, da solução de o Leviatã, a criação de um Estado que zele pelos cidadãos. Sua preferência é o permanente estado de natureza, uma guerra ininterrupta. Cada um que cuide de si. 

Bolsonaro não é o liberal que constrói instituições, é um liberal da destruição. Seu moto tem sido pôr abaixo tudo o que o Estado brasileiro erigiu desde a redemocratização. 

Trata de pôr abaixo a cidadania democrática. Dos direitos humanos, sempre escarneceu, o de minorias, ataca sistematicamente. Vê os direitos sociais como formas de estímulo à vagabundagem. O auxílio emergencial, que lhe insufla a popularidade, é obra do Congresso, sem sua adesão ou a do arquiliberal ministro da Economia. 

O presidente é um demolidor de instituições. É certo que teve predecessores nelas próprias, nas políticas como nas jurídicas, que desde 2016, vêm produzindo interpretações tortas e meio envergonhadas das leis. Já o presidente o faz sem pejo. Desafia a Constituição, burla os outros Poderes, o Legislativo, o Supremo, os governadores de estado. 

Seu liberalismo é o da ausência de Estado. Vem desmontando burocracias, órgãos, programas construídos e bem-sucedidos em vários governos. Paradigmática foi a longa vacância no ministério da Saúde, como o é a condução da pandemia. 

Bolsonaro exclui a solidariedade de sua cesta de valores.

ANGELA ALONSO - autora deste artigo

Exceção feita à sua própria comunidade: sua família, sua igreja, suas Forças Armadas. Suas, porque não as defende per se, defende a visão que tem delas. Visão pré-moderna, que enaltece os tempos nos quais sangue, fé e armas falavam mais alto que as leis impessoais. 

É uma visão reacionária do mundo, mas nem por isso deixa de se conciliar com o liberalismo, na versão lockeana da sagração da propriedade. Liberais norte-americanos e brasileiros a usaram para defender a escravidão, afinal, o escravo era também uma commodity. 

O liberalismo bolsonarista combate pela militarização dos cidadãos para que estejam aptos a proteger, com as próprias mãos, suas vidas e propriedades, donde o empenho em remover a taxação das armas. 

É liberal também quando diz que cabe à iniciativa privada, não ao Estado, educar a nova geração. Aos pais competiria definir o que aos filhos convém saber ou ignorar, por exemplo, que a Terra é redonda. 

Pode-se dizer que Bolsonaro não é liberal quando ataca a ciência, mas rigorosamente, o que defende é o mercado livre de ideias, no qual a opinião de pastor negacionista e cientista consagrado se equivalem. Cada um compre a sua. 

É liberal quando transfere a cada indivíduo a decisão de se vacinar: “Devemos respeitar quem não queira tomar”. 

Os antivacina contaminarão os que, por doenças ou outras debilidades, estão impossibilitados de se imunizar.

O presidente é adepto da seleção natural, deixa perecerem os fracos. Liberal por omissão. 

Fonte: Folha de S. Paulo – Poder / Colunas e Blogs – sexta-feira, 18 de dezembro de 2020 – Pág. A8 – Internet: clique aqui (acesso em: 18/12/2020).

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