«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 13 de agosto de 2016

20º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

Evangelho: Lucas 12,49-53

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
49 «Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!
50 Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isto se cumpra!
51 Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão.
52 Pois, daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três;
53 ficarão divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.»

ALBERTO MAGGI* 

LANÇAR FOGO

Lucas é, sem dúvida, o evangelista que, mais que os outros, trata do tema da paz. Seu
evangelho se abre com a imagem da paz no coro angelical proclamando “paz na terra aos homens amados pelo Senhor”(2,13-14) , e se conclui com Jesus ressuscitado que, ao apresentar-se diante dos seus discípulos, dá-lhes a paz, “A paz esteja convosco” (24,36), onde a paz significa a plenitude da vida e da felicidade. Mesmo assim, nesta página de hoje, parece quase existir uma contradição.

Vamos ler o que o evangelista Lucas nos diz no capítulo 12, versículos 49-53. Jesus declara: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra”. Pela terceira vez, nesse Evangelho, aparece o tema “fogo”. A primeira vez que ele apareceu foi nas palavras terríveis de João Batista, que havia anunciado o Messias como aquele que “batizaria com o Espírito Santo e com fogo” (3,17). Espírito Santo, isto é, a energia divina para aqueles que acolhem Jesus e sua mensagem, e “fogo” - imagem da castigo destruidor - para aqueles que O rejeitam, isto é, para os pecadores.

A segunda vez: o tema “fogo” tinha aparecido nas palavras de Tiago e João. Eles, vendo que uma aldeia samaritana não tinha acolhido Jesus, disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para acabar com eles” (9,53-53). Portanto, era um fogo destruidor. A imagem do fogo, até agora, é apresentada como o castigo de Deus.

Porém, não é esse o fogo que Jesus veio “para lançar sobre a terra”! Nós iremos compreender isso, devagarzinho, a partir das expressões dele: esse fogo é o fruto da morte de Jesus. Sabemos que Lucas apresenta, depois da morte de Jesus, a Pentecostes, como a descida do Espírito na forma de “línguas de fogo” (Atos 2,1-3). É a nova realidade da nova comunidade, isto é, da Aliança entre Deus e o povo, não mais baseada na observância das Suas leis, mas na recepção do Seu Espírito, isto é, do seu Amor.

Então Jesus diz: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra...” - portanto esse fogo do Espírito - “...e como gostaria que já estivesse aceso!”. Jesus está esperando ansioso que seus discípulos, sua comunidade, seu povo, estabeleçam um novo e diferente relacionamento com Deus, que não seja aquele decretado por Moisés, mas aquele trazido por Ele, o Filho amado, que oferece esse novo relacionamento entre os filhos e seu Pai.

E Jesus continua: “Devo receber um batismo...”. É claro que aqui a palavra “batismo” não tem a imagem do rito e da liturgia, que, depois terá o termo de “sacramento do batismo” que significa imersão, mas também tem uma imagem negativa, como algo que O puxa, algo que O arrasta! Por isso, é como se Jesus acrescentasse: “Há algo que vai me oprimir e que devo receber”.

“....e como estou ansioso...”. Realmente aqui o evangelista não usa o termo “ansioso”. A palavra usada por Lucas indica ser pressionado, dominado por um forte desejo”. Portanto Jesus experimenta mesmo essa paixão para esse evento, algo de muito negativo: uma situação que o arrastará. “Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isto se cumpra”.

Portanto, poderíamos traduzir: “há um mergulho (um batismo, uma imersão) em que eu vou ser mergulhado!". É a imersão na violência, na morte que O arrasará.

Nesta altura eis a surpresa: começamos dizendo que Lucas é o evangelista da paz. Jesus tira qualquer dúvida sobre o que significa essa paz e diz: “Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão”. Para nós é surpreendente ouvir essas palavras de Jesus, mas, o que quer dizer: “eu vim trazer divisão?”. Essa paz que Jesus veio trazer, fruto de uma nova relação entre os humanos e Deus - como a de filhos e filhas com o pai - vai encontrar a reação e a oposição de muitas forças que se desencadearão.

E quais são essas forças? Jesus fala de divisão, tomando a imagem de uma família, uma família normal.

“Daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três...”, quer dizer, se divide o que representa o velho contra o novo. De fato, Jesus acrescenta: “Ficarão divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”. A iniciativa dessa divisão é tomada pelos representantes do passado: o pai, a mãe, a sogra que não aceitam essa novidade da mensagem de Jesus, que é, pelo contrário, recebida pelos discípulos Dele.

Qual é a causa da divisão? É preciso frisar que aqui Jesus não está falando de divisão de filho contra filho, de irmão contra irmão. Não! A divisão na comunidade dos crentes em Jesus não é permitida, porque onde há divisão a comunidade se destrói! O evangelista aqui refere-se a uma imagem conhecida, a do profeta Miquéias, que no capítulo 7, versículo 6, escreve: “o filho insulta o próprio pai, a filha se revolta contra a mãe e a nora contra a sogra”.

E tinha acrescentado: “E os inimigos do homem serão os de sua própria casa” (Mt 10,36). Os inimigos dessa nova realidade, dessa nova relação com o seu Pai não serão aqueles que estão fora da religião, mas exatamente aqueles que estão dentro da religião que não irão aceitar essa novidade.

No entanto, Jesus é aquele Deus que veio para fazer novas todas as coisas. Quem está parado no passado nunca poderá entender a novidade que o Espírito propõe.

* ALBERTO MAGGI (Ancona, 1945) é um teólogo, estudioso da Bíblia e religioso da Ordem dos Servos de Maria italiano. Estudou na Pontifícia Faculdade Teológica "Marianum" e "Gregoriana" em Roma e na ''Escola Bíblica e Arqueológica de Jerusalém''. Desde 1995 dirige o Centro de Estudos de ''Giovanni Vannucci'' bíblica em Montefano (MC), onde, juntamente com o confrade Ricardo Perez Marquez, dedica-se à divulgação de estudos bíblicos através de reuniões, publicações e transmissões. Ele escreve para a revista "Rocca" e coordenou na Rádio Vaticano a transmissão de "A Boa Nova é para todos." A partir do site do Centro de Estudos Bíblicos transmite ao vivo, através da plataforma Livestream, os encontros do primeiro e do segundo domingo do mês sobre o Evangelho de João, e quinta-feira à noite a leitura e comentário do Evangelho de domingo seguinte. Para saber mais, clique aqui; a versão em português deste mesmo site está acessível aqui.

Traduzido do italiano e adaptado por Pe. Bartolomeo Bergese, diocese de Pesqueira (PE), no Brasil.

Fonte: Centro di Studi Biblici «Giovanni Vanucci»  Português – Homilias – Agosto 2016 – Internet: clique aqui.

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