Papa Francisco no avião de volta da Polônia: não confundir Islã com violência!
Redação
PAPA FRANCISCO responde às perguntas formuladas por jornalistas que o acompanharam no voo de Cracóvia a Roma. Domingo, 31 de julho de 2016 |
Juventude,
terrorismo, Turquia, Venezuela: estes foram alguns dos temas da coletiva de imprensa que o Papa
tradicionalmente concede ao final de suas viagens. De Cracóvia ao Vaticano,
a bordo do voo, Francisco respondeu às perguntas dos jornalistas, recordando
logo no início a morte de uma colega, italiana Anna Maria Bianchini Jacobini, que morreu em Cracóvia enquanto
fazia a cobertura da viagem.
JOVENS SOBEM NO PAPAMÓVEL E TIRAM FOTOGRAFIA COM PAPA FRANCISCO 31ª Jornada Mundial da Juventude - Cracóvia - Polônia |
Polônia
A
primeira questão foi justamente como Francisco viveu esses dias na Polônia,
“invadida” desta vez pelos jovens. «O povo polonês é muito entusiasta. Esta
noite, com a chuva, pelas ruas havia não somente jovens, mas também velhinhas.
É uma bondade, uma nobreza. Eu tive uma experiência com poloneses quando era
criança: onde trabalhava meu pai, muitos poloneses vieram depois da guerra.
Eram pessoas boas e isso ficou no coração. Reencontrei esta bondade. Uma
beleza…obrigado!»
PAPA FRANCISCO faz questão de cumprimentar de perto os jovens participantes da Jornada Mundial da Juventude |
Jovens
«Eu
gosto de falar com os jovens. E gosto de
ouvi-los. Sempre me colocam em dificuldade, porque dizem coisas às quais eu não pensei ou que pensei pela metade. Os
jovens inquietos, os jovens criativos... Eu gosto e dali adquiro a linguagem.
Muitas vezes me pergunto: “Mas o que significa isto?”. E eles me explicam. O nosso futuro é com eles, e devemos
dialogar. É importante este diálogo entre passado e futuro. É por isso que
destaco tanto a relação entre os jovens e os avós, e quando digo “avós” entendo
os mais velhos e os nem tanto, mas eu sim... Para dar também a nossa
experiência, para que sintam o passado, a história e a retomem e a levem avante
com a coragem do presente, como disse esta noite. É importante. Importante! Eu não gosto quando ouço: “Mas esses jovens
dizem besteiras!”. Mas também nós dizemos muitas, eh! Os jovens dizem
besteiras e dizem coisas boas: como nós, como todos. Mas ouvi-los, porque devemos aprender deles e eles devem
aprender conosco. É assim. E assim se faz a história e assim se cresce sem
fechamentos, sem censuras.»
Crise turca e silêncio do Papa
«Quando
tive que dizer algo de que a Turquia não gostava, mas da qual eu estava certo,
eu disse, com as consequências que vocês conhecem. Não falei porque ainda não estou certo, com as informações que recebi,
do que está acontecendo ali. Ouço as informações que chegam à Secretaria de
Estado, e também aquelas de algum analista político importante. Estou estudando a situação com os
assessores da Secretaria de Estado e a coisa ainda não está clara.»
CARDEAL GEORGE PELL australiano - atual Secretário de Economia do Vaticano |
Novas denúncias contra o Cardeal Pell
«As
primeiras notícias que chegaram eram confusas. Eram notícias de 40 anos atrás e
nem mesmo a polícia deu atenção num primeiro momento. Uma coisa confusa. Depois, todas as denúncias foram
apresentadas à Justiça e neste momento estão nas mãos da Justiça. Não se
deve julgar antes que a Justiça julgue. Se
eu desse um juízo a favor ou contra o Cardeal [George] Pell [australiano], não seria bom, porque julgaria antes.
É verdade, existe a dúvida. E há aquele princípio claro do Direito: in dubio pro reo. Devemos aguardar a
Justiça e não fazer antes um juízo midiático, porque isso não ajuda. O juízo
das fofocas, e depois? Não se sabe como acabará. Estar atentos àquilo que a
Justiça decidirá. Uma vez que a Justiça
falar, falarei eu.» [As denúncias que
pesam contra esse cardeal da Austrália, é de ter sido negligente em apurar e
punir crimes de pedofilia praticados por padres dos lugares onde foi bispo
naquele país anos atrás]
PAPA FRANCISCO tropeça em degrau e caiu durante Missa celebrada no Santuário de Jasna Gora, em Czestochowa Quinta-feira, 28 de julho de 2016 |
Queda durante missa
«Eu
estava olhando para Nossa Senhora e
esqueci do degrau… Estava com o turíbulo
na mão… Quando percebi que estava caindo, me deixei cair e isso me salvou.
Porque se tivesse resistido, teria tido consequências. Nada. Estou muito bem!»
PAPA FRANCISCO RECEBE EM AUDIÊNCIA O PRESIDENTE DA VENEZUELA NICOLÁS MADURO Vaticano, segunda-feira, 17 de junho de 2013 |
Mediação vaticana na Venezuela
«Dois
anos atrás, tive um encontro com o
presidente Maduro, muito muito positivo. Depois ele pediu uma audiência no
ano passado: era um domingo, um dia depois da minha chegada de Sarajevo. Mas
depois ele cancelou aquele encontro porque tinha uma otite e não podia vir.
Depois disso, deixei passar um pouco de tempo e lhe escrevi uma carta. Houve contatos para um eventual encontro.
Sim, com as condições que se fazem nesses casos. E se pensa neste momento – mas
não estou certo e não posso garantir isso, é claro? Não estou certo de que no grupo da mediação alguém – e nem sei se o
próprio governo – quer um representante da Santa Sé. Não estou certo. No
grupo estão Zapatero da Espanha, Torrijos e outra pessoa, e a quarta se
falava da Santa Sé. Mas isso não tenho certeza…»
PADRE JACQUES HAMEL sacerdote católico assassinado no interior da igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray, próximo a Rouen, na França Terça-feira, 26 de julho de 2016 |
Assassinato de Padre Jacques Hamel e “violência islâmica”
«Eu não gosto de falar de violência islâmica,
porque todos os dias quando leio os jornais vejo violências aqui na Itália:
quem mata a namorada, outro que mata a sogra... E estas pessoas são violentos
católicos batizados, eh! São católicos violentos… Se eu falasse de violência islâmica, deveria falar também de violência
católica. Nem todos os islâmicos são violentos; nem todos os católicos são
violentos. É como uma salada de frutas: tem tudo dentro; há violentos dessas
religiões. Uma coisa é verdade: creio
que em quase todas as religiões exista sempre um pequeno grupo fundamentalista.
Fundamentalista. Também nós temos isso.
E quando o fundamentalismo chega a matar
– mas se pode matar com a língua, e isso o diz o Apóstolo Tiago e não eu, e
também com a faca – creio que não seja justo identificar o Islã com a
violência. Isto não é justo e não é verdadeiro! Tive um longo diálogo com o Grande Imã da Universidade de al-Azhar e
sei o que eles pensam: buscam a paz, o
encontro. O Núncio de um país africano me dizia que na capital há sempre
uma fila de gente – está sempre cheio! – na Porta Santa para o Jubileu: alguns
se detêm nos confessionários, outros rezam nos bancos. Mas a maioria vai para
frente, avante, para rezar no altar de Nossa Senhora: esses são muçulmanos que
querem fazer o Jubileu. São irmãos. Quando
estive na República Centro-Africana, estive com eles e o imã também subiu no
papamóvel. Pode-se conviver bem. Mas há grupos fundamentalistas. E me
pergunto também quantos jovens – quantos
jovens! – que nós europeus deixamos vazios de ideais, que não têm trabalho, que
usam droga, álcool ou vão lá e se alistam em grupos fundamentalistas. Sim,
podemos dizer que o chamado Isis é
um Estado Islâmico que se apresenta como violento, porque quando nos mostra a
sua carteira de identidade nos mostra como degola os egípcios na costa líbica
ou outras coisas. Mas este é um grupo
fundamentalista, que se chama Isis. Mas não se pode dizer – creio que não
seja verdadeiro e não seja justo – que o Islã seja terrorista.»
PAPA FRANCISCO recebe este "sombrero" das mãos de uma jornalista panamenha - María Cecilia Mutual - como boas-vindas ao Panamá para a próxima JMJ em 2019 |
Iniciativas concretas contra o terrorismo
«O terrorismo está em todos os lugares!
Pense no terrorismo tribal de alguns países africanos... O terrorismo – não sei se
dizê-lo, porque é um pouco perigoso… – cresce
quando não há outra opção, quando no centro da economia mundial há o deus
dinheiro e não a pessoa, o homem e a mulher. Este é o primeiro terrorismo.
Expulsou as maravilhas da Criação, o homem e a mulher, e colocou ali o dinheiro.
Este é terrorismo de base contra toda a
humanidade. Pensemos nisso.»
Dom José Luís Lacunza Maestrojuan, cardeal e bispo de David, no Panamá - afirma que o Panamá estará pronto para receber os jovens de todas as parte do mundo e Papa Francisco em 2019 |
Panamá
Uma
jornalista panamense presentou o Papa com uma camisa com o número 17, sua data
de nascimento, e o “sombrero” usado
pelos camponeses do país, pedindo uma saudação ao povo e afirmando que os
panamenses o aguardam. E o Papa respondeu: «Se eu não estiver, irá Pedro.
Aos panamenses, muito obrigado. Faço votos de que se preparem bem, com a mesma
força, a mesma espiritualidade e a mesma profundidade com a qual os poloneses e
os habitantes de Cracóvia se prepararam.» [A
próxima Jornada Mundial da Juventude, em 2019, será no Panamá, na América Central]
Ao
final da coletiva, com um bolo, o Pontífice agradeceu a dois colaboradores que
encerraram seu trabalho com esta viagem à Polônia: Pe. Federico Lombardi, Diretor da Sala de Imprensa, e o Sr. Mauro, que foi responsável pelas
bagagens dos voos papais por 37 anos.
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