Quem é que tem moral ? ? ?
Moral pra cá, moral pra lá
Eliane
Cantanhêde
Se a senadora petista Gleisi Hoffmann decreta que
ninguém no Senado – nem ela própria, aliás – tem moral para julgar quem quer
que seja, o que dizer da presença do ex-presidente Lula para dar força moral à
pupila Dilma Rousseff, amanhã, no plenário?
RONALDO CAIADO (DEM-GO) discute com LINDBERGH FARIAS (PT-RJ) na manhã do primeiro dia de julgamento da presidente Dilma Rousseff Quinta-feira, 25 de agosto de 2016 |
Nem
todos os 81 senadores são alvos de processos, mas Lula foi indiciado pela Polícia Federal na sexta-feira, suspeito de
receber mais de R$ 2 milhões da OAS para obras naquele triplex em Guarujá
que ele jura que não é e nunca foi dele.
O
clima já é de “hospício”, segundo o próprio presidente do Senado, Renan
Calheiros. Imaginem como pode ficar com
Dilma cara a cara com seus algozes, falando o que bem entende, cercada por
35 aliados e apoiada pelo estridente trio
de choque Gleisi, Lindbergh Faria e Vanessa Grazziotin. E quantos deles
têm moral para defender quem quer que seja?
Até
a pronúncia, o Senado vinha se diferenciando em qualidade e em elegância da
Câmara. Foi só começar o julgamento final para que a qualidade e a elegância
evaporassem, com acusações cruzando os ares do plenário, os piores adjetivos
ecoando pelas galerias, as ameaças de processos se multiplicando.
Já
no primeiro dia, Gleisi rodou a baiana, Ronaldo Caiado reagiu, Lindbergh tomou
as dores e virou um pandemônio. Agora, Gleisi tenta se explicar, Lindbergh
anuncia que vai processar Caiado por insinuações do tipo “antidoping” e Caiado
expõe na internet uma longa lista de ações e processos contra o senador
petista, além de dizer que pretende entrar no Ministério Público contra Gleisi, por ter contratado para seu gabinete uma técnica que havia acabado de
testemunhar a favor de Dilma.
RENAN CALHEIROS (de óculos) discute com a senadora GLEISI HOFFMANN (loira de costas) do PT Sexta-feira, 26 de agosto de 2016 |
O
segundo dia não foi melhor. Aos gritos, Renan recriminou a fala de Gleisi sobre
a “falta de moral” do Senado e contou que entrou no Supremo para aliviar a
barra dela. Como assim? O Senado
livrando a barra de alguém? E o Supremo aquiescendo? Virou um barraco.
Depois, Renan disse que agiu republicanamente ao defender Gleisi no Supremo Tribunal
Federal e provocou: “Só revendo o Código Penal, para aumentar a pena pelo crime
de ingratidão”.
Enquanto
Renan descia do muro, sinalizando que vai votar a favor do impeachment, o vice
do Senado, Jorge Viana (PT),
exercitava seu conhecido bom senso, negociando com os adversários. E foi assim
que Viana, do PT, e Cássio Cunha Lima,
líder do PSDB, acertaram com o presidente das sessões, Ricardo Lewandowski, dar
um freio de arrumação na bagunça.
Lewandowski, aliás, parece
um Cristo na Santa Ceia ali naquele tribunal, teatro, hospício, ou seja lá o
que for.
Gleisi, Vanessa, Lindbergh e Caiado berram, mas lá está ele impassível, pedindo
calma aos senhores e senhoras senadoras. Quando perdeu a paciência, reclamou
seu “poder de polícia” e gerou sobressaltos até explicar que isso é apenas um
termo formal para discriminar seus poderes na circunstância. Ufa!
No acordão entre Viana e Cássio, não há
mais questões de ordem e outros penduricalhos e, como os pró-impeachment
decidiram não fazer mais perguntas, o resto de sexta-feira foi de palanque, com
as testemunhas pró-Dilma falando sem contestação e a bancada dela fazendo
proselitismo a favor do PT.
Eles
só se esqueceram de combinar com os adversários comuns. Magno Malta não aguentou ouvir calado o economista Luiz Gonzaga Belluzzo defendendo Dilma e
dizendo que o erro dela foi não ter gasto mais (?!?!?!) e gritou: Beluzzo foi expulso do Palmeiras depois de
quebrar o clube. Então, o que ele
fazia ali falando de contas e responsabilidade fiscal? Faz sentido.
Dentro
do plenário, o zunzunzum era sobre o indiciamento de Lula. Fora, Lula tinha uma
conversinha a sós com o ex-ministro Edison Lobão, que era amigão de Dilma, é do
partido de Michel Temer e está enrolado na Lava Jato, desses que, como disse
Gleisi, “não tem moral” para julgar ninguém. Qual será o voto de Lobão?
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