Brasil precisa de oposição
Elio Gaspari
Oposição, com algumas ideias na cabeça e pouco dinheiro
no bolso,
é tudo que o Brasil precisa.
DILMA ROUSSEFF saindo do Palácio da Alvorada, residência oficial do Presidente da República em Brasília |
Começa
nesta quinta (25 de agosto) o julgamento de Dilma Rousseff. Ela será condenada.
Os julgamentos que decidem o destino dos presidentes são políticos.
Formalmente, Dilma será deposta pelo desembaraço de sua contabilidade criativa,
mas sempre será repetida a frase da senadora Rose de Freitas, líder do governo de Michel Temer no Senado: "Na minha tese, não teve esse negócio
de pedalada, o que teve foi um país paralisado, sem direção e sem base nenhuma
para administrar".
Pura
verdade, que pode ser contraposta a outro julgamento de impeachment de um presidente, o de Bill Clinton em 1999. Ele era acusado de práticas mais simples,
comuns e disseminadas do que as "pedaladas fiscais". Uma pessoa pode
não entender de contabilidade pública, mas entende o que a estagiária Monica
Lewinsky fazia com o presidente dos Estados Unidos na Casa Branca. Clinton foi absolvido porque o país não
estava paralisado e a renda per capita dos americanos cresceu enquanto a dívida
pública encolheu. Com Dilma, aconteceu o contrário. Todo mundo sabia o que
Clinton fez e, apesar disso, achou-se que deveria continuar. No caso de Dilma, não se sabe direito o que
eram as pedaladas, mas acha-se que ela deve ir embora.
Quando
Dilma entregar as chaves do Palácio da Alvorada, estará encerrado um ciclo de 13 anos de poder do Partido dos Trabalhadores.
Em 2003, Lula vestiu a faixa e a oposição foi para o poder. Hoje, ninguém
haverá de dizer o mesmo. Michel Temer era o vice-presidente de Dilma e seu
primeiro escalão ampara-se em figuras que sustentaram o comissariado petista.
Henrique Meirelles presidiu o Banco Central de Lula, Eliseu Padilha e Gilberto
Kassab foram ministros de Dilma. Mudança imediata, drástica e irrecorrível, só
a do garçom Catalão, do Palácio do Planalto, que hoje está no gabinete da
senadora Kátia Abreu, ministra de Dilma e adversária do impeachment.
CÂNDIDO VACCAREZZA de líder do PT na Câmara dos Deputados a assessor de Celso Russomanno. Quem diria, hein?! |
O PT foi apeado do governo
e, de uma maneira geral, abriu espaço para quem nunca saiu dele. O tempo dirá quanto custou
ao comissariado o inchaço de sua base de apoio e, sobretudo, a expansão de seus
interesses pecuniários. Lula e Dilma
viveram o engano de um governo com o mínimo possível de oposição. Depostos,
Dilma cuidará da vida, Lula tentará se reinventar, mas alguns comissários sabem
que suas carreiras estão encerradas. Outros seguem a ordem de batalha do
coronel Tamarindo em Canudos: "É
tempo de murici, cada um cuide de si". Astro dessa categoria é Cândido Vaccarezza, líder do PT na
Câmara até 2012. Dois anos depois, perdeu a eleição. Deixou o partido e aninhou-se na campanha de Celso Russomanno
(PRB) pela Prefeitura de São Paulo.
[Quanta gente coerente e “militante” havia no PT, não
é?]
Cortando
aqui e perdendo ali, sobra uma
militância cujas raízes estão nos anos 70 do século passado. Defendiam o
fim da unicidade sindical, a reforma da CLT, as negociações diretas entre
empresas e trabalhadores e tinham horror a empreiteiros. (A recíproca era
verdadeira.) Esse era um tempo em que os sindicalistas do PT eram bancários.
Com o acesso aos fundos estatais alguns viraram banqueiros e, como João Vaccari
Neto, ex-tesoureiro do partido, estão na cadeia.
Oposição, com algumas ideias
na cabeça e pouco dinheiro no bolso, é tudo que o Brasil precisa.
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