"A Lava Jato está incomodando tanto e a quem e por quê?"
Fausto Macedo,
Ricardo Brandt e Julia Affonso
Durante reunião do Conselho Nacional do Ministério
Público, procurador-geral da República, Rodrigo Janot afirma que sua
Instituição “não tem bandeira, não tem ideologia”
O
procurador-geral da República Rodrigo Janot fez uma indagação enigmática
durante reunião do Conselho Nacional do Ministério Público nesta terça-feira,
23 de agosto. “A Lava Jato, hoje, está
incomodando tanto e a quem e por quê?”
Janot
fez essa colocação ao final de um longo pronunciamento ao colegiado em reação aos ataques desfechados à
Procuradoria pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal [STF].
Gilmar Mendes atribuiu à Procuradoria o
vazamento de detalhes da suposta delação do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS,
que teria citado o ministro do STF, Dias Toffoli.
Janot afirma que jamais
chegou ao Ministério Público Federal, em meio às negociações com a OAS que já
se arrastam há seis meses, qualquer citação a Toffoli. O procurador disse que é “um
estelionato delacional, um factóide, uma invencionice”.
Ao
rebater as acusações de Gilmar Mandes, o procurador foi enfático. “O Ministério Público não tem bandeira”.
Segundo ele, os procuradores realizam
investigações com isenção.
“O
que me chamou a atenção nesse episódio desses dois ou três dias é que o Brasil
vive um jogo Fla-Flu, um jogo de dois lados, e nesse jogo o Ministério Público
tem apanhado de ambos. Portanto, estamos desagradando a ambos os lados. Na
minha visão é um sinal positivo. Caminhamos
bem porque não estamos agradando a lado algum. Não temos bandeira, não
temos ideologia, não temos parte, não temos lado. Temos o lado da investigação
dos fatos.”
Janot
reafirmou que nenhuma informação sobre Toffoli chegou ao Ministério Público.
Ele diz que foi criado “um factoide”.
“Essas
reações me fizeram pensar muito. Fizemos aqui (recentemente), neste Conselho
Nacional do Ministério Público, um evento sobre grandes casos criminais Brasil-Itália.
O que está acontecendo neste exato momento com as investigações da Lava Jato
não é novidade. Isso aconteceu exatamente na Itália (em meio à Operação Mãos
Limpas).”
Janot
“Eu
reafirmo: essa pretensa negociação (com a OAS) não é coisa de agora. São seis
meses de duríssimas negociações. Nenhum fato, ou nenhum anexo, encaminhando ou
insinuando a participação de um alto magistrado da República chegou por
qualquer forma ao Ministério Público Federal. Já compraram a tese do vazamento. A gente vaza aquilo que tem. Se
você não tem a informação, você vaza o quê? Vaza o nada. Não sei a quem interessa essa cortina de fumaça que tem intuito
indireto para sugerir a aceitação do Ministério Público Federal por determinada
colaboração.”
Janot
reiterou uma frase que usa sempre que sua Instituição sofre ataques. “O
Ministério Público tem o couro grosso. Não sofre pressão de poder econômico,
não sofre pressão de partido político, de poder da República. O Ministério
Público tem algo que a Constituição lhe atribuiu e que eu espero que não seja
retirado, numa eventual reforma futura, que é a autonomia e independência na
sua atuação.”
Aos
conselheiros que o ouviam, Janot acrescentou. “Eu me senti na obrigação de prestar essas informações para evitar que o
factóide se espalhe. Reafirmo que não existiu nenhum fato imputado a nenhum
magistrado. Essas reações que se seguiram eu não consigo identificar a razão
pelas quais existem. Nego que, em qualquer tempo da investigação, tenhamos
buscado pessoas.”
Ele
disse que o Ministério Público investiga
os fatos “de maneira equilibrada”.
“Não
é agradável ao Ministério Público abrir uma chaga, mas é sua função fazê-lo.”
Ao
final do pronunciamento, o procurador-geral da República fez a indagação
enigmática. “A Lava Jato, hoje, está
incomodando tanto e a quem e por quê?”
Comentários
Postar um comentário