O pós-impeachment
Eliane
Cantanhêde
Jornalista
À medida que Michel Temer vira presidente de fato, os
problemas
também se efetivam e surgem desconfianças
RICARDO LEWANDOWSKI - Preside sessão do Senado Federal que decide sobre impedimento da Presidente afastada Dilma Rousseff - ao seu lado está o presidente do Senado, Renan Calheiros |
Dá-se
de barato que, passado o impeachment
definitivo de Dilma Rousseff, tudo será diferente no governo Michel Temer. A
base aliada amanhecerá mais dócil, os projetos prioritários serão aprovados do
dia para a noite, os empresários cairão de amores pelo novo Planalto, os
investidores vão voltar correndo, os empregos vão jorrar. Será que é isso mesmo?
Tudo
indica que o impeachment passará
hoje, já sob a presidência do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal
Federal [STF], e chegará virtualmente decidido à fase final em plenário. E é verdade que o fim da interinidade vai
conferir maior segurança para Temer, o governo e o próprio País, o que é muito
importante, sobretudo, do ponto de vista das relações internacionais. Mas, do ponto de vista interno, o fato é
que o Congresso continua exatamente o mesmo,
com a dificuldade adicional de uma Câmara
ultrafragmentada e o Centrão
tentando manter vivo o morto Eduardo Cunha. [O
problema é que continuamos com os mesmos deputados federais e senadores! A
maioria sem qualidades para estar onde está!]
Quanto
mais o impeachment final se aproxima,
mais crescem as dúvidas sobre a
capacidade do novo governo de começar a tapar o buraco fiscal, dizendo “não” a
pedidos variados de Estados, municípios e categorias profissionais, todos
devidamente representados por suas bancadas no Congresso e com enorme
capacidade de pressão.
Temer
está para trocar a interinidade pela condição de presidente efetivo, mas os
problemas continuam e ele tem pela
frente negociações duríssimas para aprovar o acordo com os Estados, o teto
de gastos, a reforma da Previdência e mudanças nas regras trabalhistas, além de
encaminhar, por favor!, o início de uma reforma
política. [Será que vai, mesmo?! Tenho muitas
dúvidas!]
O
líder do governo no Senado, Aloysio
Nunes Ferreira (PSDB-SP), porém, diz que o governo vai muito bem, que as
críticas às vezes são injustas e que até na parlamentarista França, que ele
conhece bem e é um exemplo de democracia, tudo é feito na base da negociação: “O François Hollande, que tem maioria no
parlamento, também teve de negociar a reforma trabalhista. Ele ganhou, mas a
reforma não é exatamente a que ele queria”.
JOSÉ SERRA e MICHEL TEMER apareceram nas delações que diretores da construtora Odebrecht estão fazendo no processo da Lava Jato e muitos outros nomes surgirão! |
Mais
constrangedor e preocupante do que isso, aliás, é que o impeachment caminha numa
rodovia e a Lava Jato em outra, paralela, a mil por hora. Estão começando
agora, por exemplo, as delações da
Odebrecht, que derramou muitos
milhões de reais e dólares em praticamente todas as campanhas majoritárias e em
muitas proporcionais. Levante a mão o presidente de grande partido (como
Temer) e o candidato a presidente e governador que nunca pediu doações da
Odebrecht!
Com as novas delações,
chegam ao noticiário conversas de Temer com as grandes doadoras, a arrecadação
do PMDB, do PSDB,
do PSD... e as contribuições para as campanhas
de ministros de Temer, como o chanceler José Serra, candidato a presidente em
2002 e 2010.
Junto a tudo isso, um velho fantasma do Congresso passa a assombrar também o
governo: o caixa 2 de campanha. E, por falar em fantasma, nunca se sabe se, quando e como Eduardo Cunha pode virar delator.
Logo, a votação do impeachment definitivo de Dilma não é o
fim nem o começo de nada. É apenas mais uma etapa num processo ainda tortuoso, cheio de curvas
perigosas e grande possibilidade de surpresas arrepiantes. Temer vai mudar de
um palácio para outro, mas a vida no Alvorada também não é feita de flores.
Bom
samba
As duas primeiras medalhas
do Brasil na Olimpíada foram de atletas militares: Rafaela
Silva, ouro no judô, é sargento da Marinha e Felipe
Wu, prata no tiro de pistola, do Exército. Além disso, dos 467 integrantes da delegação
brasileira, 145 (quase 1/3) são militares, 52 deles do Exército.
Como
as Forças Armadas vão herdar o Complexo
Desportivo de Deodoro, pode-se prever que a combinação de bons preparadores, recrutamento de talentos e boas
pistas, quadras, piscinas e stands poderá dar um bom samba para a próxima
Olimpíada. Vamos torcer.
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