As mentiras do PMDB para o Brasil
Álibis imperfeitos
Dora Kramer
É óbvio que Planalto e aliados trocaram renúncia de Eduardo
Cunha
por adiamento da cassação
Um dos maiores aliados do
equívoco é o maniqueísmo. Aquele estado de coisas em que as nuances são ignoradas de modo a parecer que a alternativa ao claro só pode
ser o escuro. O Brasil já pagou preço alto duas vezes por aderir a
essa lógica.
[1ª] Na
primeira elegeu Fernando Collor no
pressuposto de que representava o novo, oposto ao então presidente José Sarney.
Para
isso o eleitorado contou com a colaboração dos meios de comunicação que
alimentaram o fetiche, a despeito das barbaridades cometidas por ele quando prefeito
de Maceió e, depois, como governador de Alagoas. O falso dualismo deixou de fora da competição gente como Ulysses
Guimarães, Mário Covas, Leonel Brizola, Roberto Freire e Fernando Gabeira, para
citar apenas alguns dos 22 candidatos naquela eleição.
[2ª] Na
segunda vez, acompanhada de uma série de mais três a partir de 2002, o País caiu em conto do vigário semelhante ao
anterior, motivado por igual fantasia
maniqueísta. Trocamos a chance de dar o passo adiante na concepção da
seriedade administrativa plantada no Brasil com o advento da estabilização da
economia, pela ideia de que o PT levaria
os pobres ao paraíso e relegaria os “podres” ao ostracismo.
O
resultado dispensa comentário, embora nos obrigue ao exercício da reflexão
sobre a maneira como funcionam a sociedade e as instituições brasileiras. Ao
que tudo indica, o PT terá o que conquistou por demérito próprio e Dilma Rousseff será definitivamente
afastada do mandato conquistado pela fraude da propaganda enganosa. A
maioria concorda com isso.
Por
mais improvável e indesejável que seja a volta de Dilma ao Planalto, até que a
questão se resolva a possibilidade está no ar. De onde decorre uma evidente boa
vontade em relação ao governo Michel
Temer, por obra daquele referido contraponto. Condescendência que interdita
o exercício da crítica. Enfraquece cobranças
indispensáveis:
* por atitude mais firme no
ajuste dos gastos públicos e
* transparência na
antecipação de medidas que serão implementadas para assegurar a retomada da
economia ao bom caminho.
A
alegada cautela necessária ao período de interregno é justificativa
injustificável.
Tal
tolerância anuvia também a visão do óbvio: o
Planalto e suas áreas de influência fizeram um acordo com Eduardo Cunha
(PMDB-RJ). Em troca da renúncia à presidência da Câmara, as forças
políticas aliadas a Temer atuariam para postergar a cassação do mandato e,
assim, conceder a ele mais tempo na condição de investigado com foro
privilegiado.
RODRIGO MAIA - Dep. Federal (DEM-RJ) Presidente da Câmara dos Deputados também está no jogo de protelar a sessão de cassação de Eduardo Cunha |
Isso não é admitido, mas
fica cada vez mais explícito. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciara a votação do caso Cunha para a
segunda semana deste mês. Pois bem, estamos no primeiro dia dela sem que tenha
sido marcada a data. Amanhã está prevista a leitura do pedido de cassação em
plenário. Etapa importante, mas meramente regimental.
Parlamentares governistas e
ministros agora dizem que é “prudente” deixar isso para depois da votação do impeachment de Dilma Rousseff. Entramos aí, no mês de
setembro durante o qual suas excelências estarão fora de Brasília por causa das
eleições municipais de outubro, mês também perdido em termos de Parlamento.
A história de que todos
temem o que Cunha teria a denunciar é apenas um álibi supostamente perfeito
para justificar a postergação. Se as repudiadas mentiras do PT forem sucedidas
pela aceitação de mentiras do PMDB ou de qualquer partido, o impedimento não
terá valido a pena nem cumprido sua missão.
Comentários
Postar um comentário