A raiz de todas as mudanças é a radical transformação da cultura
José María
Castillo*
Religión
Digital
13-08-2016
“O Evangelho é o fator determinante da vida da Igreja?
Ele está na estrutura fundamental de nossa cultura?
É o critério orientador de nossas vidas?
No dia em que tudo isto ficar resolvido e claro, nesse
dia teremos a resposta resolvida e esclarecida para as nossas perguntas, as
grandes perguntas da vida”
JESUS NA SINAGOGA DE NAZARÉ ocasião em que assume a missão que lhe fora confiada pelo Pai e a explicita inspirado em Isaías 61,1-2 A cena da sinagoga está em Lucas 4,16-30 |
Muita
gente não se dá conta que o mais importante, que estamos vivendo nesse exato
momento, não é a mudança de governo, nem a desejada mudança na economia, nem a
almejada (ou temida) mudança de não poucas leis e costumes, nem as mudanças na
religião e seus governantes. Tudo isso, claro, é importante. Mas, não é o
fundamental.
A raiz de todas as mudanças
está, neste momento, na radical transformação que estamos vivendo em nossa cultura. Por isso, tudo anda revirado. E por isso também,
nesta inquietante situação, são muitas (muitíssimas) as pessoas que se fazem
(ou nos fazemos) incontáveis perguntas para as quais não encontramos resposta.
Em
muitos âmbitos da vida, dos quais não entendo nada (ou quase nada), ignoro
inclusive as perguntas mais urgentes que nesse momento é preciso fazer. No
terreno em que trabalho, há tantos anos, ou seja, no amplo campo da religião e
suas muitas implicações na vida, há uma resposta para nossas perguntas, que é
sem dúvida alguma a resposta mais firme, forte e clara que podemos encarar. E
também a resposta que – a partir das crenças cristãs – precisamos aceitar.
Vou
diretamente ao próprio centro deste assunto capital. Esta manhã, lendo São João da Cruz, encontrei este texto
genial que o santo coloca na boca de Deus: “Se já falei a você de todas as
coisas em minha Palavra, que é o meu Filho, e não tenho outra, que posso eu
agora responder ou revelar que seja mais que isso? Põe os olhos apenas nele, porque nele eu lhe disse e revelei, e
encontrará nele mais ainda do que pede e deseja. Porque você pede locuções
e revelações em parte, e se põe os olhos nele, o encontrará em tudo; porque ele é toda minha locução e resposta e é
toda minha visão e toda minha revelação. Por quem eu já tenho falado,
respondido, manifestado e revelado, dando-o como irmão, companheiro e mestre,
preço e prêmio” (Subida ao Monte Carmelo,
livro 2 – cap. 22, n. 5).
“Põe
os olhos apenas nele, porque nele tenho tudo dito”. Efetivamente, tudo o que Deus pode nos responder ou
dizer, seja qual for a pergunta que façamos, e seja qual for a situação em que
nos encontramos, a resposta que Deus pode nos dar está em Jesus. A resposta está sempre no que foi a vida
de Jesus. Seu projeto de vida. Sua forma de entender a vida. O que foi
importante para aquela vida.
Que
todos tenhamos problemas, quem duvida? Que muitas pessoas possuam perguntas
graves, talvez muito graves, para as quais não encontram resposta, é evidente.
E tão evidente como é tudo isto, é igualmente que, nas situações complicadas que a vida nos apresenta, raro é o caso em
que as pessoas nascidas e educadas na cultura cristã busquem a solução e a
resposta na “Palavra” última, definitiva e total, a resposta aos problemas e
perguntas mais sérias da vida, que é Jesus, a vida que Jesus levou, a
solução que sempre teríamos que buscar e encontrar em Jesus.
E,
por favor, que ninguém me diga que estou exagerando. Os problemas e as perguntas que a vida nos apresenta não são
problemas e perguntas relacionados à saúde, o dinheiro, o êxito e o fracasso, o
poder e seus privilégios, as relações humanas, o sentido ou a contradição da
vida, o amor e o ódio, a felicidade ou a desgraça, a paz ou a violência, a
liberdade ou a submissão, a boa ou a má consciência, a culpa, o perdão ou a
vingança, a bondade ou os maus sentimentos, o triunfo ou o fracasso na vida, a
fama ou o esquecimento geral?
JOSÉ MARÍA CASTILLO teólogo espanhol - autor deste artigo |
Pois
bem, é de tudo isto que nos fala a vida de Jesus, o projeto de
Jesus, a Palavra que é Jesus. Por
isso, muitas vezes, eu me pergunto o que
nós, cristãos, fizemos com o Evangelho? Por que e para que o chamamos “Palavra do Senhor”? Principalmente,
quando sabemos que nosso verdadeiro
“senhor” é o dinheiro, é o poder,
é a segurança para o futuro, é o bem viver, é o êxito, é o desfrutar a vida.
Sejamos
sinceros e honestos. O Evangelho é o
fator determinante da vida da Igreja? Ele está na estrutura fundamental de
nossa cultura? É o critério orientador
de nossas vidas? No dia em que tudo isto ficar resolvido e claro, nesse dia
teremos a resposta resolvida e esclarecida para as nossas perguntas, as grandes
perguntas da vida.
* JOSÉ MARÍA CASTILLO nasceu em 16 de agosto de 1929, na
localidade de Puebla de Don Fadrique
na província de Granada, Espanha. Ele é um padre católico, foi membro da
Companhia de Jesus (jesuítas) até 2007. Ele é doutor em Teologia Dogmática pela
Universidade Gregoriana de Roma (Itália). Professor de Teologia Dogmática na
Faculdade de Teologia de Granada. Professor convidado em diversas universidade,
tais como: Gregoriana de Roma, Comillas de Madri e UCA de El Salvador. É doutor honoris causa da Universidade de
Granada, Espanha. Escritor e teólogo com uma produção de mais de trinta obras
publicadas e inúmeros artigos. Uma boa parte de sua biografia é narrada pelo
próprio teólogo no capítulo do livro "Mi
itinerario teológico" (trad.: Meu
Itinerário Teológico) em Juan Bosch (ed.), Panorama de la teología española (Estella: Editorial Verbo Divino,
1999, pp. 181-198).
Traduzido
do espanhol pelo Cepat. Acesse a
versão original deste artigo, clicando aqui.
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