Jovens mais estressados?
Jairo Bouer
Psiquiatra
Pesquisas podem ajudar a entender oscilações de humor
comuns
nessa fase da vida
Novo
estudo divulgado no Canadá revela um
perfil do adolescente de lá muito parecido com o que se nota por aqui:
* estressado
e
* mais dependente de
tecnologia,
o
que pode aumentar o risco de dificuldades emocionais e problemas de saúde.
O
trabalho mostra que um em cada três
alunos de 12 a 17 anos enfrenta estresse psicológico moderado ou grave. O
estudo do Centro de Dependência e Saúde
Mental de Ontário avaliou mais de 10 mil estudantes. Em dois anos, o número de jovens mais estressados saltou de 24% para
34%. [Isso é muito grave e pode gerar uma série de
graves consequências!]
Os sinais mais comuns do estresse psicológico
foram sintomas ansiosos e depressivos,
como:
* sentir-se sem esperança,
* irritado,
* tenso,
* com dificuldade de manter a
atenção, etc.
Os
dados mostram que o problema é pior
entre as garotas (46% delas e 23% deles mostraram altos níveis de
estresse).
A situação tende a se
agravar entre os 16 e os 17 anos, quando o jovem passa a enfrentar mais
pressões da “vida adulta”, como:
* namoro,
* vida sexual,
* padrões mais rígidos de
imagem corporal,
* maior cobrança na escola,
* seleção para faculdade e
* escolha de carreira
profissional, entre outros.
Em
relação ao uso de tecnologia, o trabalho mostra que dois terços dos jovens passam pelo menos três horas na frente de algum
tipo de tela – computador, tablet, celular ou TV –, 86% usam redes sociais diariamente e 16% exageram, ficando 5 horas ou mais, por dia, conectados.
Estudos
anteriores já mostraram que, quanto mais
intenso o uso das redes sociais, maiores os riscos de fatores potencialmente
geradores de ansiedade, como exposição exagerada, ciberbullying e problemas de
autoestima, desencadeados por uma percepção irreal e distorcida do que é
publicado pelos pares. Parte dessa sensação de inadequação do jovem pode
ter relação com o exagero da mediação da tecnologia em suas interações sociais.
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA DO CÉREBRO |
Um
cérebro que muda
Outra
pesquisa divulgada na última semana identificou que as áreas do cérebro que mais sofrem mudanças na adolescência são
aquelas associadas a processos de pensamento complexo e tomadas de decisão.
Já as áreas envolvidas com visão, audição e movimentos estão totalmente
desenvolvidas nesta fase da vida.
Os
pesquisadores da Universidade de
Cambridge, no Reino Unido, avaliaram
com uso de ressonância magnética o cérebro de 300 jovens de 14 a 24 anos.
Os resultados foram publicados na revista Proceedings
of the National Academy of Science (PNAS) e divulgados pelo site da BBC News e pelo jornal Daily Mail. Essas mudanças nos centros de conexão dos neurônios, que integram os
processos de avaliação e decisão, podem ajudar a entender as oscilações de
comportamento e humor tão comuns nessa fase da vida.
Os pesquisadores também
investigaram os genes responsáveis pelo desenvolvimento dessas áreas de
processamento mais complexo e perceberam que eles são semelhantes aos
envolvidos no desencadeamento de algumas doenças psiquiátricas, como a
esquizofrenia.
A descoberta pode ajudar a entender o peso que a genética tem no
desencadeamento dos transtornos mentais, mais comuns no final da adolescência e
começo da vida adulta.
Mas
lógico que não é só a genética. Fatores
ambientais, como famílias negligentes, o uso de alguns tipos de droga e o
estresse psicológico gerado pelas experiências cotidianas podem aumentar esse
risco [de transtornos mentais].
Daí
a importância de perceber que esse jovem
que vive mais estressado pode estar sujeito a questões importantes para suas
emoções. Sem interferir nesse processo, buscando um estilo de vida mais
saudável, com uso mais moderado das tecnologias e redes sociais, corremos o
risco de ter uma geração mais propensa a problemas de comportamento e transtornos
psíquicos.
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