Um país que não melhora a educação, só pode dar nisso!
Previsão inflada
Antero Greco
A realidade dos Jogos desmente cálculos otimistas do Comitê
Olímpico Brasileiro em relação a conquista de medalhas
Com bronze no Rio, a judoca MAYRA AGUIAR se torna primeira brasileira com duas medalhas olímpicas em esportes individuais: bronze em Londres 2012 e bronze no Rio 2016 |
Empresas
fazem projeções de metas a alcançar – para tanto, armam-se de estudos e traçam
estratégias para garantir sucesso. Com bases em cálculos e hipóteses, ponderam
as perdas e os lucros, baseiam os investimentos, preveem o futuro. No esporte,
não é muito diferente quando se trata de competições de alto nível. Atletas,
times, clubes, federações têm estimativas a respeito de onde podem chegar.
O Comitê Olímpico Brasileiro
seguiu a tendência e, antes da largada dos Jogos, distribuiu mensagens de
otimismo.
Em inúmeras entrevistas preparatórias, que serviram como tira-gosto para a
festa do Rio, dirigentes da entidade despejaram previsões entusiasmantes. Na
avaliação da cúpula, a tropa de mais de 460 atletas iria conquistar número de
medalhas suficiente para colocar o País entre os 10 melhores na edição da qual
é anfitrião – 25, contra 17 de Londres. Por
ora, são 6 medalhas [28º lugar
na classificação geral]. Está difícil, embora não impossível.
Passada
a primeira metade, a realidade faz
desinchar a empolgação. A prática desmentiu a boa cotação de muitos
patrícios, que encerraram as participações sem nada. Não significa que sejam perdedores ou fracassados. Diversos
avançaram no desempenho, em comparação com Olimpíadas anteriores, mostraram
evolução e sentiram potencial para pódio no ciclo de 2020 em Tóquio.
Não
à fracassomania, portanto. Tem gente de qualidade a honrar diversas modalidades
por aí. Merece carinho, apoio e respeito. O
problema está na ânsia da cartolagem de vender a ideia de potência de uma nação
que, no dia a dia, despreza o esporte, a começar pelo desdém com que se trata, na escola, a disciplina de Educação Física,
encarada como espécie de apêndice de lazer. [Corretíssimo!
Além de nossas escolas estarem muito aquém do que seria necessário para formar
pessoas preparadas para a vida, a Educação Física é muito marginalizada!]
Para provar a tese do
crescimento esportivo como legado olímpico, e
justificar a grana gasta, etc. e tal, fechou-se o foco em algumas categorias
que tradicionalmente já nos garantem medalhas. Aposta no certo e vamos em
frente. E, de quebra, se aproveitou para dar uma inflacionada em certas
expectativas e aumentar a dose de chance onde se esperava uma atuação discreta.
Mesmo onde houve atenção
especial, a colheita foi magra até o momento. O judô contribuiu com três medalhas, uma de cada
cor. Mas eram esperados cinco pódios. A natação, há muito com patrocínio forte (e
presidência “eterna” na Confederação), não colocou ninguém no alto. O atletismo
pena diante de portentos internacionais.
Acima
disso, há o maldito imponderável, o imprevisto que desdiz até estudos
científicos. Sim, existem barbadas – havia chance de quase 100% de afirmar que
Michael Phelps iria ostentar no peito mais um punhado de medalhas de ouro. Na
mosca! O gigante norte-americano ganhou cinco. E, mesmo para ele, praticamente
invencível, ocorreu a surpresa de uma reles prata.
Imagine, então, a margem de
erros para nossos atletas, submetidos às vezes a pressão e cobrança desmedidas. A tentativa de transformá-los à força em semideuses leva
da euforia e ufanismo ocos às críticas, quantas exageradas, como no caso de
Joanna Maranhão, para citar exemplo ruidoso.
A
maré baixa por pouco não varreu esperanças nacionais em alguns esportes
coletivos. As moças
do futebol chutaram um caminhão de
pênaltis para avançar para as semifinais. Os rapazes do futebol toparam com sustos nas duas rodadas iniciais, antes
de engrenarem e despacharem dinamarqueses e colombianos. Estão, portanto, na
rota de medalhas, para não esculhambar de vez com as estimativas do COB. Assim
como fizeram bonito rapazes da ginástica.
O basquete feminino foi para o espaço – e dele não se esperava grande
coisa mesmo. Já o masculino está por um fio e define a vida nesta
segunda-feira. Precisa bater a Nigéria e torcer por combinação de resultados
nos outros jogos da chave.
Contas
também são feitas pelo vôlei masculino, vejam só! A turma de Bernardinho
tem obrigação de bater a França para não ser ultrapassada pelos Estados Unidos.
Como nem tudo são sobressaltos, o vôlei feminino vai
bem, obrigado, e com jeito de medalha.
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