22º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia
Evangelho:
Lucas 14,1.7-14
1 Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus
foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus.
E eles o observavam.
7 Jesus notou como os convidados escolhiam
os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola:
8 «Quando tu fores convidado para uma
festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar.
Pode ser que tenha sido convidado alguém mais
importante do que tu,
9 e o dono da casa, que convidou os
dois, venha te dizer: “Dá o lugar a ele”. Então tu ficarás envergonhado e irás
ocupar o último lugar.
10 Mas, quando tu fores convidado, vai
sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: “Amigo,
vem mais para cima”. E isto vai ser uma honra para ti diante de todos os
convidados.
11 Porque quem se eleva, será humilhado e
quem se humilha, será elevado.»
12 E disse também a quem o tinha
convidado: «Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos,
nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes
poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa.
13 Pelo contrário, quando deres uma
festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos.
14 Então tu serás feliz! Porque eles não
te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos.»
Pe. Alberto
Maggi
Ordem
dos Servos de Maria (OSM)
Biblista
e Teólogo
Elevar-se
é humilhar-se, humilhar-se é elevar-se!
Segundo
o evangelho de Lucas, esta é a terceira
e última vez que Jesus janta na casa de um fariseu. Sempre que Jesus está à
mesa com os fariseus – esses piedosos, esses líderes espirituais – existe uma
ocasião de conflito!
(É bom e útil ler também, os versículos de 2-6 do capítulo 14 de Lucas
para entender
o contexto).
Desta
vez, o conflito foi o próprio Jesus que o causou, porque nessa mesa havia um
doente
e Jesus pergunta aos fariseus presentes se é lícito curar no dia de sábado, dia
em que a lei proíbe qualquer trabalho, isto é, dia de repouso absoluto.
Pois
bem, os fariseus não respondem. Jesus, então, ataca-os, chamando-os de
“hipócritas”,
dizendo:
“Se alguém de vocês tem um filho ou um
boi que caiu num poço, não o tiraria logo, mesmo em dia de sábado?”. “E
eles não foram capazes de responder a isso”.
Após
essa repreensão Jesus continua. “Jesus
notou como os convidados – eram todos fariseus – escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola”.
O
evangelista estigmatiza esta ambição,
esta vaidade que é típica das pessoas religiosas, especialmente
se elas ocupam altos cargos! Acham-se importantes e, portanto, sentem a necessidade
de exibir-se e manifestar-se, para dar a conhecer a todos a própria
importância, escolhendo os primeiros lugares.
“Quando tu fores convidado
para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha
sido convidado alguém mais importante do que tu...”. Jesus refere-se a um ditado
muito famoso, muito popular, no livro de Provérbios (25,6-7). “...e o dono da
casa, que convidou os dois, venha te dizer: ‘Dá o lugar a ele’. Então tu
ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar”. “Em vez disso...”. Eis aqui
a lição que Jesus dá e é uma lição
que é preciso entender bem: não é por
humildade, mas é um convite a fazer essas coisas por amor.
“... Quando tu fores
convidado, vai sentar-te no último lugar”.
Por
quê? Para permitir aos outros – aqueles que teriam se sentado no último
lugar – de ficar mais adiante, nos
primeiros lugares. Portanto, não é humildade, mas AMOR. Jesus tenta inverter a escala de valores da
sociedade!
“Assim, quando chegar quem
te convidou, te dirá: ‘Amigo, vem mais para cima’”. Jesus convida esses
fariseus – que já havia repreendido dizendo que tudo o que eles fazem o fazem por
interesse – convida-os para passar da categoria do interesse à categoria do DOM.
“E isto vai ser uma honra para ti diante
de todos os convidados. Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha,
será elevado”.
Jesus
que se fez “último” e que se coloca ao lado dos rejeitados e excluídos afirma
que aqueles que se fazem “últimos” têm a
comunhão com Ele, a plenitude da condição divina. Pelo contrário, aqueles que aspiram a colocar-se acima dos
outros e se separam dos outros serão
excluídos.
Em
seguida, Jesus dirige ao fariseu que o
havia convidado uma advertência muito importante que deve ser compreendida
à luz desses laços de amizade, parentesco, interesses, ligações que sustentam a
sociedade e também sustentam grupos eclesiásticos, grupos religiosos, que se autoprotegem
à custa dos outros. Portanto, é uma advertência muito severa e muito atual.
“E disse também a quem o
tinha convidado: ‘Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus
amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos’”. Portanto, Jesus fala de
uma espécie de bancada ou quadrilha onde há amizade, parentesco e, acima de
tudo, há interesses comuns. Uma
quadrilha que se autoprotege dos outros, que exclui os outros e que apenas
cuida dos seus próprios interesses. “Pois estes poderiam também convidar-te
e isto já seria a tua recompensa”. Então, Jesus
denuncia, como atitude hipócrita, a postura dos
fariseus que tudo o que fazem o fazem por interesse.
Eles não conhecem o que é a transparência, a generosidade e o dom.
E
eis aqui a solução que Jesus lhes oferece.
“Pelo contrário, quando
deres uma festa, convida os pobres, – é claro que eles não podem retribuir – os aleijados, os coxos, os cegos”.
Jesus coloca “os aleijados, os coxos, os cegos”, isto é, categorias de pessoas que por suas enfermidades eram excluídos do
templo e do sacerdócio.
Portanto,
Jesus diante de gente muito piedosa,
muito religiosa, como os fariseus que
se achavam os mais próximos de Deus e, de acordo com as suas regras e
normas religiosas, se separavam e excluíam os outros de Deus, Jesus diz: “Não! Convida exatamente aqueles que são
excluídos”. [Vejam só, quem Jesus nos pede para
convidar ao seu banquete, seja à Eucaristia como à vivência na comunidade
cristã!]
Como podemos interpretar e
atualizar essa mensagem de Jesus para o hoje? Aquelas categorias de pessoas que, com base
nas convicções espirituais e crenças religiosas, nas origens étnicas ou raciais,
estimamos como excluídos, invisíveis,
rejeitados, são esses mesmos que devemos incluir e dar-lhes a nossa total
atenção.
“Então tu serás feliz! – Bem-aventurado – Porque eles não te podem retribuir”.
Portanto, Jesus convida essa comunidade de fariseus para não agir mais com interesse, mas para viver na
partilha, sempre com generosidade e amor para com os outros.
Depois,
Jesus, que está falando aos fariseus, usa palavras religiosas que os fariseus
podiam
entender!
... “Tu receberás a recompensa na
ressurreição dos justos”.
Portanto,
Jesus nos convida a não ficar de olho na
recompensa imediata: “Eu faço um
favor a você, porque você vai fazer a mesma coisa para mim” e vice-versa,
criando, dessa forma, um jeito de viver que exclui os outros de seus próprios
interesses e seu próprio bem-estar. Então Jesus
nos convida a dirigir toda a nossa atenção ao BEM e ao BEM-ESTAR dos outros
e, assim, Deus será a nossa recompensa!
Traduzido do italiano por Pe. Bartolomeo Bergese, Diocese de
Pesqueira (PE). Com algumas pequenas correções e adaptações de Pe. Telmo José
Amaral de Figueiredo.
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