“O mundo tem necessidade de perdão”, diz o papa
Elisabetta
Piqué
Jornal “La
Nación” – Buenos Aires (Argentina)
04-08-2016
“Muitas pessoas vivem trancadas no rancor e incubam o
ódio, porque, incapazes de perdoar, arruínam sua própria vida e a dos outros”,
disse Papa Francisco em uma visita relâmpago à cidade
do padroeiro do qual tomou o seu nome
PAPA FRANCISCO Dirige sua palavra aos fiéis concentrados diante da Basílica Santa Maria dos Anjos Assis, 4 de agosto de 2016 |
Em
uma visita relâmpago a Assis, a
cidade do padroeiro da Itália do qual tomou seu nome – São Francisco de Assis –, o Papa Francisco voltou a fazer, nesta
quinta-feira [4 de agosto], um forte
apelo à misericórdia e recordou que “o perdão de Deus não tem limites”.
O Papa disse essas palavras
após rezar em silêncio durante 13 minutos na Porciúncula, a pequena capela que São
Francisco restaurou há 800 anos – e que hoje se encontra dentro da Basílica de Santa Maria dos Anjos da
cidade da região da Úmbria, no centro da Itália. Como fez na semana passada no campo
de concentração de Auschwitz, neste lugar o Papa, sentado em uma cadeira, rezou concentrado, em silêncio, ignorando as
câmeras e as pessoas presentes.
A
história conta que São Francisco de Assis restaurou a Porciúncula após ter tido uma visão mística nas proximidades da
igreja de São Damião, onde tinha escutado uma voz que vinha do crucifixo e lhe
dizia: “Francisco, Francisco, vai e restaura a minha casa”. O santo dos
pobres entendeu então que se tratava da Porciúncula, e a reformou. O lugar
converteu-se depois no berço da ordem franciscana e o Papa argentino quis
visitá-lo – pela segunda vez em seu pontificado – para recordar os 800 anos do “Perdão de Assis”, isto é, quando o Papa Honório III concedeu, em 1216, a
indulgência aos fiéis que visitavam o templo, a pedido de São Francisco.
Ainda hoje, todos os anos, do meio-dia de 1º de agosto até a meia-noite de 02
de agosto, os fiéis podem obter ali a indulgência plenária.
PAPA FRANCISCO ora em silêncio diante da capelinha da Porciúncula no interior da Basílica de Santa Maria dos Anjos Assis - Itália |
Francisco,
primeiro Papa que se atreveu a se chamar como o Santo de Assis – filho de um
rico mercador que se despojou de tudo para estar do lado dos pobres –, foi do
Vaticano para Assis de helicóptero logo depois do meio-dia. A visita, de três
horas, foi marcada por medidas de segurança imponentes – devido ao alerta de
possíveis atentados de origem extremista – e por temperaturas de mais de 30
graus.
Após
rezar por um longo tempo na Porciúncula, o ex-arcebispo de Buenos Aires
pronunciou uma meditação sobre uma passagem do Evangelho de Mateus. A meditação
começou com uma citação de uma frase dita por Francisco: “Quero mandar-vos todos para o paraíso”. Francisco explicou depois
que o caminho para o paraíso “é
certamente o caminho do perdão, que se deve percorrer para conseguir esse lugar
no paraíso”. Mas “é difícil perdoar!
Quanto nos custa perdoar os outros!”, reconheceu, deixando de lado o texto
preparado. “E aqui, na Porciúncula, tudo fala de perdão. Por que devemos perdoar uma pessoa que nos fez mal? Porque nós somos os
primeiros a serem perdoados, e infinitamente mais. Assim como Deus nos
perdoa, assim também devemos perdoar a quem nos faz mal. Precisamente como
dizemos na oração que Jesus nos ensinou, o Pai Nosso”, indicou.
“Sabemos
bem que estamos cheios de defeitos e
muitas vezes recaímos nos mesmos pecados. No entanto, Deus não se cansa de
nos oferecer o seu perdão, sempre que Lho pedimos. É um perdão completo, total,
dando-nos a certeza de que, não obstante podermos voltar a cair nos mesmos
pecados, Ele tem piedade de nós e não
cessa jamais de nos amar. Deus compadece-Se, isto é, experimenta um
sentimento de piedade combinada com ternura: é uma expressão para indicar a sua
misericórdia para conosco”, disse. “O perdão de Deus não tem limites;
ultrapassa toda a nossa imaginação e alcança toda e qualquer pessoa que, no
íntimo do coração, reconheça ter errado e queira voltar para Ele. Deus vê o
coração que pede para ser perdoado”, insistiu.
O
Papa também disse que o perdão de que
falava São Francisco de Assis se fez “carnal” na Porciúncula, “e continua a
‘gerar paraíso’ mesmo depois de oito séculos”. “Neste Ano Santo da
Misericórdia, é ainda mais evidente como o
caminho do perdão pode renovar verdadeiramente a Igreja e o mundo”,
acrescentou.
“Oferecer
o testemunho da misericórdia, no mundo atual, é uma tarefa a que nenhum de nós
pode subtrair-se. O mundo tem
necessidade de perdão; muitas pessoas vivem fechadas no rancor e incubam ódio,
porque são incapazes de perdão, arruinando a vida própria e a dos outros,
em vez de encontrar a alegria da serenidade e da paz”, afirmou. “Peçamos a São Francisco que interceda por
nós, para que nunca renunciemos a ser sinais
humildes de perdão e instrumentos de misericórdia”, pediu.
PAPA FRANCISCO diante da Basílica Santa Maria dos Anjos na cidade baixa de Assis, na Itália Quinta-feira, 4 de agosto de 2016 |
Na
sequência, fora do programa, exortou os
bispos e presbíteros presentes na basílica para irem a dois confessionários
para se colocarem à disposição do Sacramento da Reconciliação, do perdão.
Dando o exemplo, ele mesmo ficou em um confessionário durante uma hora,
confessando 19 pessoas: um frade franciscano, dois padres, quatro escoteiros,
umas senhora em cadeira de rodas e 11 voluntários do serviço da basílica.
Após
saudar alguns religiosos doentes, antes de voltar de helicóptero ao Vaticano,
diante da multidão reunida na frente da Basílica, que o aplaudia, o Papa voltou
a reiterar a mesma mensagem: “Não se
esqueçam, devemos perdoar sempre... Perdoar
de coração... Se nós sabemos
perdoar, o Senhor nos perdoa. Todos temos necessidade de sermos perdoados”.
“Há alguém entre vocês que não necessita ser perdoado? Que levante a mão”,
brincou. “Todos temos necessidade”, disse uma vez mais, despedindo-se,
finalmente, com seu clássico “por favor, não se esqueçam de rezar por mim”.
Traduzido do espanhol por André Langer. Acesse a versão original
deste artigo, clicando aqui.
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