«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Festa da Sagrada Família: Jesus, Maria e José – Ano B – Homilia

 Evangelho: Lucas 2,22-40 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Ser família de Jesus significa acolher e praticar a sua palavra


Lucas 2,22-24: «Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor. Conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”. Foram também oferecer o sacrifício — um par de rolas ou dois pombinhos — como está ordenado na Lei do Senhor.»

Trinta e três dias depois da circuncisão de Jesus, os pais, Maria e José, levam a criança a Jerusalém, ao templo, para cumprir duas prescrições da lei: a primeira é a da purificação da mãe prescrita no livro de Levítico (cf. cap. 12), era necessário trazer uma oferta de um cordeiro, mas para os mais pobres dois pombos ou duas rolas bastavam, como farão Maria e José. A outra, prescrita no livro do Êxodo, era o resgate do filho primogênito. Deus queria que todo primogênito masculino fosse completamente seu, se os pais o quisessem teriam que pagar o preço do resgate (cf. Ex 13,1-2.11-15). O resgate foi de cinco moedas de prata, cerca de vinte dias de trabalho.

Pois bem, o evangelista apresenta Maria e José que ainda estão sob o peso da lei e o termo “lei” será mencionado nesta passagem cinco vezes (vv. 22, 23, 24, 27 e 39) como os cinco livros escritos da Torá (instrução, ensino) atribuídos a Moisés. 

Lucas 2,25-33: «Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso, e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor. Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”. O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele.»

E há o encontro dos dois com Simeão que tira o filho dos braços dos pais e o abençoa. Aqui, o evangelista relata os temas que já apresentou no anúncio do Anjo aos pastores, por ocasião do nascimento de Jesus. Haviam dois elementos que eram o da luz e do desconcerto. Os pastores esperavam ser incinerados pela ira de Deus, mas são transformados pelo amor, pela luz do Senhor, e, quando contam o que lhes aconteceu, todos ficam desconcertados. Bem, aqui, o evangelista traz de volta o tema da luz e o tema da perplexidade.

O tema da luz é que Simeão falando, abençoando o menino diz que ele será “Luz para iluminar as nações”. O termo usado pelo evangelista, o grego etne (fonético), do qual procede étnico, indica povos pagãos e isto é desconcertante. A tradição dizia que Israel, com o Messias, deveria dominar os pagãos e em vez disso, aqui, estava o anúncio do homem do Espírito. Não, o amor do Senhor é universal e chega até aos pagãos. Por isso, escreve o evangelista, o pai e a mãe de Jesus ficaram maravilhados, estão desconcertados, há algo que não bate, algo novo! 

Lucas 2,34-40: «Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”. Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. Depois ficara viúva, e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do Templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações. Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade. O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.»

Então, de repente, Simeão fala com Maria com uma bênção que parece dramática, ele diz: “E uma espada traspassará a tua alma”. O que isso significa? Esta espada não tem, de forma alguma, o significado da dor, das tristezas que Maria terá de enfrentar na sua vida. A espada, na Bíblia, é uma imagem da palavra de Deus. Na carta aos Hebreus no capítulo 4 há uma bela descrição que o autor faz desta espada, ele diz: “A palavra de Deus é viva, eficaz e mais cortante que qualquer espada de dois gumes, ela penetra até a divisão da alma e do espírito, até as juntas, até a medula e discerne os sentimentos e pensamentos do coração” (4,12). O que Simeão está dizendo? Ele está dizendo à mãe que: “A palavra de teu Filho irá forçar-te a fazer escolhas dolorosas”. E assim como Maria acolheu as palavras do anjo e se tornou mãe de Jesus, agora ela deverá acolher as palavras do seu Filho para continuar o seu crescimento e tornar-se sua discípula. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«Minha mãe e meus irmãos são estes: os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática.»

(Lucas 8,21)

A Igreja, sempre, apresentou a Sagrada Família ― Maria, José e o Menino Jesus ― como modelos, exemplos para a vivência das famílias cristãs. E ela está certa em fazê-lo. No entanto, é preciso tomar cuidado, pois essa é uma idealização, ou seja, uma representação ideal. Representação esta que vem ao encontro de um modelo tradicional e conservador de família, que jamais representou o conjunto das famílias existentes em nossa sociedade. É desconcertante e, ao mesmo tempo, belo verificar, à luz dos evangelhos, as características dessa Sagrada Família. Esses traços não coincidem com a idealização que fazemos. Vamos conferir:

1) Maria fica grávida sem o conhecimento de seu marido.

2) Segundo o evangelista Mateus, assim que o menino nasceu, a família se viu ameaçada, ao ponto de ter que fugir a um país distante, o Egito. Tornando-se, assim, autênticos fugitivos das autoridades!

3) No templo de Jerusalém, como lemos hoje, Maria recebe de Simeão a explicação que o seu filho não lhe pertence, mas a Deus e, ainda mais, que ela é mãe de alguém que será um “sinal de contradição”.

4) Quando adolescente, Jesus desgarra-se de seus pais e permanece em Jerusalém sem o conhecimento e consentimento deles.

5) Jesus deixa a sua casa e a sua família em Nazaré e vai viver em Cafarnaum, percorrendo a Galileia, pregando e fazendo coisas que assustarão as autoridades.

6) Os parentes de Jesus dirão que sua atitude é de um louco (cf. Mc 3,21). Eles não acreditarão nele (cf. Jo 7,5). Inclusive, o desprezarão quando de seu retorno a Nazaré (cf. Mc 6,1-6).

7) Até os vizinhos de sua família, em Nazaré, quiseram matá-lo (cf. Lc 4,22-30). 

Portanto, a Sagrada Família pode ser modelo, mas não de uma família nos moldes idealizados por alguns piedosos religiosos! Ela é modelo daquilo que uma família verdadeiramente cristã deve ser, ou seja:

a) aberta ao serviço de toda a sociedade, não fechada sobre si mesma e satisfeita, apenas, com a sua própria felicidade. Afinal, os pais devem formar filhos e filhas para Deus e para o mundo.

b) Espaço de aprendizado do diálogo, não do autoritarismo e da opressão das pessoas.

c) Escola de verdadeira solidariedade e doação de si, onde o egoísmo não prevaleça. O desapego é algo a ser vivido e ensinado desde a mais tenra idade. 

Enfim, como nos recordou Johan Konings, uma autêntica família cristã é aquela que forma filhos:

«Nem abandonados nem mimados, mas filhos de Deus e homens e mulheres para o mundo». 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Nós te louvamos e bendizemos, Pai, porque mediante teu Filho, nascido de mulher pelo poder do Espírito Santo, nascido sob a lei, tu nos redimiste da lei e encheste a nossa existência de luz e de nova esperança. Que as nossas famílias sejam acolhedoras e fiéis aos teus projetos, ajudem e apoiem os sonhos e os novos entusiasmos dos seus filhos, envolvam-nos de ternura quando estão frágeis, eduquem-nos a amar-te e a todas as tuas criaturas. A ti nosso Pai, toda honra e toda glória.»

(Fonte: SECONDIN, Bruno, O.Carm. Orazione finale. In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno liturgico B. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 63)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – Santa Famiglia di Gesù, Maria e Giuseppe – Anno B – 27 dicembre 2020 – Internet: clique aqui (Acesso em: 19/12/2023).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.