«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 30 de novembro de 2013

1º Domingo do Advento - Ano Litúrgico A - HOMILIA

Evangelho: Mateus 24,37-44

24,37 Disse Jesus: “Assim como foi nos tempos de Noé, assim acontecerá na vinda do Filho do Homem. 
38 Nos dias que precederam o dilúvio, comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. 
39 E os homens de nada sabiam, até o momento em que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim será também na volta do Filho do Homem. 
40 Dois homens estarão no campo: um será tomado, o outro será deixado. 
41 Duas mulheres estarão moendo no mesmo moinho: uma será tomada a outra será deixada. 
42 Vigiai, pois, porque não sabeis a hora em que virá o Senhor. 
43 Sabei que se o pai de família soubesse em que hora da noite viria o ladrão, vigiaria e não deixaria arrombar a sua casa. 
44 Por isso, estai também vós preparados porque o Filho do Homem virá numa hora em que menos pensardes”. 

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
"Madonna" - África
Foto: Sebastião Salgado

COM OS OLHOS ABERTOS

As primeiras comunidades cristãs viveram anos muito difíceis. Perdidos no vasto Império Romano, em meio a conflitos e perseguições, aqueles cristãos buscavam força e alento aguardando a vinda próxima de Jesus e recordando suas palavras: vigiai. Vivei acordados. Tende os olhos abertos. Estai alertas.

No entanto, os apelos de Jesus para viver acordado, tem algum significado para nós? Que significa, hoje, para nós cristãos, pôr nossa esperança em Deus, vivendo com os olhos abertos? Permitiremos que se esgote, definitivamente, em nosso mundo secular, a esperança numa justiça última de Deus para essa imensa maioria de vítimas inocentes que sofrem sem culpa alguma?

A maneira mais fácil, precisamente, de falsear a esperança cristã é esperar de Deus nossa salvação eterna, enquanto viramos as costas ao sofrimento que há, agora mesmo, no mundo. Um dia, teremos de reconhecer a nossa cegueira diante de Cristo Juiz: Quando te vimos faminto ou com sede, estrangeiro ou nu, enfermo ou no cárcere, e não te assistimos? Este será nosso diálogo final com ele, se vivemos de olhos fechados [cf. Mateus 25,31-46].

Temos de acordar e abrir bem os olhos. Viver vigilantes para ver além de nossos pequenos interesses e preocupações. A esperança do cristão não é uma atitude cega, pois não esquece jamais os que sofrem. A espiritualidade cristã não consiste, somente, num olhar para o interior, pois seu coração está atento àqueles que vivem abandonados à própria sorte.

Nas comunidades cristãs, devemos cuidar, cada vez mais, para que o nosso modo de viver a esperança não nos leve à indiferença ou ao esquecimento em relação aos pobres. Não podemos isolar-nos na religião para não ouvir o clamor dos que morrem, diariamente, de fome. Não nos é permitido alimentar nossa ilusão de inocência para defender nossa tranquilidade.

Uma esperança em Deus, que se esquece dos que vivem nesta terra sem poder esperar nada, não pode ser considerada como uma versão religiosa de certo otimismo a todo custo, vivido sem lucidez e responsabilidade? Uma busca da própria salvação eterna de costas aos que sofrem, não pode ser acusada de ser um sutil "egoísmo ampliado para o além"?

Provavelmente, a pouca sensibilidade ao imenso sofrimento que existe no mundo é um dos sintomas mais graves do envelhecimento do cristianismo atual. Quando o Papa Francisco reclama "uma Igreja mais pobre e dos pobres", nos está gritando sua mensagem mais importante aos cristãos dos países do bem-estar.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Quarta-feira, 27 de novembro de 2013 - 09h05 - Internet: clique aqui.
"Pés" - África
Foto: Sebastião Salgado

SINAIS DOS TEMPOS

Os evangelhos recolheram, de diversas formas, o apelo insistente de Jesus para vivermos acordados e vigilantes, muito atentos aos sinais dos tempos. No início, os primeiros cristãos deram muita importância a esta "vigilância" para estar preparados diante da vinda iminente do Senhor. Mais tarde, tomou-se consciência de que viver com lucidez, atentos aos sinais de cada época, é imprescindível para nos mantermos fiéis a Jesus ao longo da história.

Assim se pronuncia o Concílio Vaticano II sobre esta preocupação: "É dever permanente da Igreja perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho, de forma que, para cada geração, possa responder às perenes interrogações da humanidade sobre o sentido da vida presente e futura..."

Entre os sinais destes tempos, o Concílio assinala um fato doloroso: "Cresce, dia a dia, o fenômeno de massas que, praticamente, se desinteressam pela religião". Como estamos lendo este grave sinal? Somos conscientes do que está acontecendo? É suficiente atribuir esse fenômeno ao materialismo, à secularização ou à rejeição social a Deus? Não deveríamos escutar, no interior da Igreja, um apelo à conversão?

A maioria foi caminhando em silêncio, sem fazer qualquer ruído. Sempre estiveram mudos na Igreja. Ninguém lhes perguntou nada de importante. Nunca pensaram que poderiam ter algo a dizer. Agora, vão embora calmamente. O que há no fundo de seu silêncio? Que os escuta? Sentiram-se, alguma vez, acolhidos, escutados e acompanhados em nossas comunidades?

Muitos dos que foram embora eram cristãos simples, acostumados a cumprir seus deveres religiosos por costume. A religião que receberam desmoronou-se. Não encontraram nela a força que precisavam para enfrentar os novos tempos. Que alimento receberam de nós? Onde poderão, agora, escutar o Evangelho? Onde poderão encontrar-se com Cristo?

Outros vão embora decepcionados. Cansados de escutar palavras que não tocam o seu coração nem respondem às suas interrogações. Angustiados por descobrir o "escândalo permanente" da Igreja. Alguns ainda tateiam. Quem lhes tornará credível a Boa Nova de Jesus?

Bento XVI, durante o seu pontificado, insistiu que o maior perigo para a Igreja não vem de fora, mas está dentro dela mesma, em seu pecado e em sua infidelidade. É momento de reagir. A conversão da Igreja é possível, porém começa pela nossa conversão, aquela de cada um.

Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia - Sopelana - Bizkaia (Espanha) - 28 de novembro de 2010 - Internet: clique aqui.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Indicadores sociais do IBGE revelam os perfis dos brasileiros [Muito importante!]

IBGE
Comunicação Social

Um em cada cinco jovens, entre 15 e 29 anos, não trabalha nem estuda.
Boa parte dos jovens prefere morar com os pais.
74,1% das mulheres de 25 a 29 anos que não estudam nem trabalham têm ao menos um filho.

A Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2013 mostra que, em 2012, cerca de 20% dos jovens de 15 a 29 anos de idade não frequentavam escola nem trabalhavam. A proporção de mulheres nesse grupo foi grande: 70,3%. Entre elas, destaca-se a proporção daquelas que tinham pelo menos um filho: 30,0% entre aquelas com 15 a 17 anos, 51,6% na faixa de 18 a 24 anos de idade e 74,1% daquelas de 25 a 29 anos de idade. Entre as pessoas de 15 a 17 anos de idade que não estudavam nem trabalhavam, 56,7% não tinham o ensino fundamental completo. Entre as de 18 a 24 anos, 47,4% tinham completado o ensino médio.

Com o objetivo de possibilitar um conhecimento mais amplo da realidade social do país através de indicadores atualizados, a SIS 2013 traz informações sobre seis temas: “Aspectos demográficos”; “Famílias e domicílios”; “Educação”; “Trabalho”; “Padrão de vida e distribuição de renda”; e “Saúde”.

Mostra, por exemplo, que, de 2002 a 2012, a proporção de jovens na faixa etária de 25 a 34 anos que moravam com os pais passou de aproximadamente 20% para 24% no Brasil. E que, em 2012, 29,7% dos domicílios urbanos ainda não tinham acesso simultâneo aos serviços básicos de saneamento e iluminação (abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e iluminação elétrica).

Em relação à educação, o estudo indica que, em dez anos, a taxa de escolarização (percentual de pessoas de determinada faixa etária que frequentavam creche ou escola) das crianças de 0 a 3 anos de idade quase dobrou, passando de 11,7% em 2002 para 21,2% em 2012. Entre 4 e 5 anos de idade, a taxa subiu de 56,7% para 78,2%, embora na área rural, uma em cada três crianças nessa faixa etária não frequentasse escola. A proporção de jovens entre 18 e 24 anos que estavam na universidade passou de 9,8% para 15,1% no mesmo período.

A formalização dos trabalhadores também cresceu na última década. Em 2002, 44,6% dos trabalhadores se encontravam formalizados (que contribuíam de alguma forma para a Previdência), percentual que sobe para 56,9% em 2012. Entretanto, a informalidade ainda atinge percentual significativo da força de trabalho brasileira: 43,1% dos trabalhadores neste último ano.

Em 2012, 6,4% dos arranjos familiares tinham rendimento familiar per capita de até 1/4 de salário mínimo, e 14,6% tinham mais de 1/4 a 1/2 salário mínimo per capita. Entre 2002 e 2012, o rendimento de “outras fontes” para o grupo de até 1/4 de salário mínimo per capita ganhou participação relativa, de 14,3% para 36,3% da renda total desses arranjos familiares.

Embora persistam as diferenças regionais, o Brasil reduziu a taxa de mortalidade na infância (até cinco anos) de 53,7 óbitos por mil nascidos vivos em 1990 para 18,6 em 2010. Já o indicador para crianças de até um ano caiu de 47,1 para 16,0. Em 2012, 24,7% da população tinha plano de saúde, sendo que, em São Paulo, a cobertura chegava a 43,6%, ao passo que no Acre eram 5,6%.

A principal fonte de informações da Síntese de Indicadores Sociais 2013 é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2012. Também foram utilizadas outras pesquisas do IBGE, além de fontes externas. A publicação completa e demais resultados estão disponíveis na página www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2013.
Comparando com os dados europeus de 2011
Aspectos demográficos: 
um em cada cinco jovens de 15 a 29 anos não estuda nem trabalha

Em 2012, 9,6 milhões de jovens de 15 a 29 anos de idade (um em cada cinco) não frequentava escola e não trabalhava na semana de referência, sendo a maioria do sexo feminino (70,3%). Entre essas mulheres, 58,4% tinham pelo menos um filho, sendo esta proporção crescente com a idade: 30,0% entre aquelas com 15 a 17 anos de idade, 51,6% na faixa de 18 a 24 anos e 74,1% daquelas de 25 a 29 anos de idade.

No grupo de 15 a 17 anos, a proporção dos jovens que não estudavam nem trabalhavam foi de 9,4%. Essa incidência foi de 23,4% entre aqueles com 18 a 24 anos, e de 21,3% na faixa de 25 e 29 anos. Entre os que não trabalham nem estudam, 10,2% tinham de 15 a 17 anos, 54,6% tinham entre 18 e 24 anos e 35,2% de 25 a 29 anos.

Entre as pessoas de 15 a 17 anos de idade que não frequentavam escola e não trabalhavam, 56,7% não tinham ensino fundamental completo, sendo que com essa idade já deveriam estar cursando o ensino médio. Entre as pessoas de 18 a 24 anos, que já deveriam ter ao menos o ensino médio completo, somente 47,4% das que não trabalhavam e não estudavam tinham completado este nível de ensino, enquanto 52,6% tinham até o ensino médio incompleto. Das pessoas de 25 a 29 anos de idade que não trabalhavam e não estudavam, 51,5% tinham até ensino médio incompleto, 39,2% tinham ensino médio completo e apenas 9,3% tinham ensino superior incompleto ou completo.

Aposentadoria ou pensão 
representa 66,2% do rendimento das pessoas de 60 anos ou mais

As características mais marcantes para os idosos de 60 anos ou mais de idade em 2012 são que há maioria feminina (55,7%) e branca (54,5%); presença de 84,3% em áreas urbanas; inserção no domicílio como a pessoa de referência (64,2%), especialmente no caso dos homens (80,5%); média de 4,6 anos de estudo, sendo que 28,1% tinham menos de um ano de estudo e somente 7,2% tinham graduação completa ou mais; 76,3% recebiam algum benefício da previdência social, sendo que 76,2% dos homens e 59,4% das mulheres eram aposentados; 47,8% tinham rendimento de todas as fontes superior a um salário mínimo, mas cerca de 43,5% residiam em domicílios com rendimento mensal per capita igual ou inferior a um salário mínimo.

A principal fonte do rendimento de idosos de 60 anos ou mais de idade foi de aposentadoria ou pensão (66,2%) sendo que, para o grupo de 65 anos ou mais de idade, a participação desta fonte de rendimento fica mais importante (74,7%). Para o grupo de pessoas de 60 anos ou mais de idade, 23,7% não recebiam aposentadoria ou pensão, enquanto 7,8% acumulavam aposentadoria e pensão. A inserção no mercado de trabalho das pessoas de 60 anos ou mais de idade, em 2012, foi caracterizada pela taxa de ocupação de 27,1%, sendo que 15,3% das pessoas eram ocupadas e aposentadas, e o tempo médio semanal dedicado ao trabalho foi de 34,7 horas. Para as pessoas de 65 anos ou mais de idade, a taxa de ocupação foi de 19,4%, diferenciando-se para homens (29,6%) e mulheres (11,6%).
Famílias e domicílios: 
proporção de pessoas de 25 a 34 anos que moram com os pais chega a 24%

O prolongamento da convivência familiar entre pais e filhos é um fenômeno social com importância crescente nos últimos anos. O termo “geração canguru” é utilizado para designar os jovens dessa faixa etária que vivem com os pais. No período de 2002 a 2012, a proporção de jovens na faixa etária de 25 a 34 anos que moravam com os pais passou de aproximadamente 20% para 24% no Brasil. Cerca de 60% dos jovens nesta condição eram homens e 40% mulheres. Do total de arranjos familiares com parentesco, cerca de 10% tinham jovens entre 25 e 34 anos na condição de filhos. Para as famílias com renda familiar per capita de até 1/2 salário mínimo, esta proporção foi de 6,6%, sendo maior para famílias com renda mais elevada, chegando a 15,3% naquelas na faixa de 2 a 5 salários mínimos per capita.

Cresce a proporção de mulheres responsáveis por domicílios
inclusive entre casais com filhos

A proporção de mulheres como pessoa de referência dos arranjos familiares aumentou de 28% em 2002 para 38% em 2012. No caso dos núcleos formados por casal sem filhos, a proporção de mulheres passou de 6,1% para 18,9%, nos casais com filhos de 4,6 % passou para 19,4%. De cada 100 mulheres na posição de pessoas de referência ou de cônjuges, aproximadamente 52 declararam estar ocupadas, numa razão semelhante à das mulheres ocupadas de 16 anos ou mais (51,3%). Ou seja, a condição da mulher na família não altera o seu ingresso no mercado de trabalho.
Comparando os dados de 2000 com 2010 - clique sobre a imagem para ampliá-la
Esgotamento sanitário 
é o serviço com menor acesso nos domicílios urbanos

Em 2012, 29,7% dos domicílios urbanos não tinham acesso simultâneo aos serviços básicos de saneamento e iluminação (abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e iluminação elétrica). Deles, 93,5% acusaram ausência de esgotamento sanitário. Para cada 100 domicílios com acesso simultâneo aos quatro serviços investigados, havia 42 outros sem acesso a pelo menos um deles. Na região Norte, em Rondônia, essa razão é 10,4 (para cada domicílio com serviço havia 10,4 sem serviço) e no Amapá este valor foi de 18,8. O Piauí, na região Nordeste, essa razão chegou a 20,5.

Educação: 
1/3 das crianças de 4 e 5 anos de idade do setor rural não frequentava escola

A taxa de escolarização das crianças entre 4 e 5 anos de idade subiu de 56,7% em 2002 para 78,2% em 2012. Na área rural, contudo, uma em cada três crianças nessa faixa etária não frequentava escola. As desigualdades de acesso por renda familiar para as crianças deste segmento etário são evidentes: para aquelas pertencentes aos 20% “mais ricos”, o acesso à escola atingia 92,5%, enquanto aquelas cujas famílias pertenciam aos 20% “mais pobres” apresentaram uma taxa de escolarização de 71,2%.

Na faixa de 0 a 3 anos de idade, a frequência à creche aumentou de 11,7% em 2002 para 21,2% em 2012. Entretanto, a desigualdade de acesso permaneceu significativa. Em 2012, a proporção de crianças com idade entre 2 e 3 anos que frequentavam creche era quase o triplo para o quinto mais rico (63,0%) em relação ao quinto mais pobre (21,9%) da distribuição de rendimento mensal familiar per capita. Em 2002, essa razão era ainda maior: 4,1 vezes (48,6% e 12,0%, respectivamente).

Proporção de jovens no ensino superior 
passa de 9,8% para 15,1% em dez anos

A taxa de frequência escolar de adolescentes de 15 a 17 anos no nível educacional adequado à idade subiu de 40,0% em 2002 para 54,0% em 2012. Em relação à população de 18 a 24 anos, a proporção que frequentava o ensino superior era de 9,8% em 2002 e aumentou para 15,1% em 2012. Do total de estudantes nessa faixa etária (6,6 milhões), 52% estavam no nível superior.

A desigualdade por cor ou raça permanece em 2012: enquanto 66,6% do total de estudantes brancos de 18 a 24 anos frequentavam o ensino superior, 37,4% dos estudantes pretos ou pardos cursavam o mesmo nível. Essa proporção ainda é menor do que o patamar alcançado pelos jovens brancos dez anos antes (43,4%). Em 2002, somente 12,2% dos estudantes pretos e pardos de 18 a 24 anos frequentavam o ensino superior.

A escolaridade média da população de 25 anos ou mais de idade aumentou de 2002 a 2012, passando de 6,1 para 7,6 anos de estudo completos, sendo que 40,1% das pessoas dessa faixa etária alcançaram 11 anos de estudo ou mais. O incremento de escolaridade foi mais intenso para os 20% “mais pobres”, cujo aumento foi de 58%, enquanto os 20% “mais ricos” apresentaram uma elevação de 10% na média de anos de estudo entre 2002 e 2012.

Trabalho: 
56,9% dos ocupados são formalizados

Entre 2002 e 2012 a proporção de trabalhadores ocupados em trabalhos formais subiu de 44,6% para 56,9%. Tal crescimento significa o aumento da cobertura por uma série de benefícios. Estão entre os formalizados aqueles que têm carteira assinada, os militares e funcionários públicos e os conta-própria e empregadores que contribuem para a Previdência.

O indicador de formalização apresentou variações significativas nas regiões Sul (de 49,6% em 2002 para 65,6% em 2012) e Centro-Oeste (de 44,3% para 60,8%). A menor variação ocorreu na região Norte, de 33,9% para 38,7%. Essa expansão da formalização também foi evidenciada na região Nordeste, cuja taxa passou de 26,7% para 38,6%. Na região Sudeste, a taxa passou de 55,1% para 66,9%. O estado do Maranhão registrou 74,5% de ocupados em trabalhos informais, enquanto Santa Catarina e o Distrito Federal possuem apenas 26,9% de seus trabalhadores nestas condições.

A informalidade ainda abrange percentual significativo da força de trabalho brasileira (43,1% em 2012). Os jovens de 16 a 24 anos e os idosos de 60 anos ou mais apresentam os maiores percentuais de trabalhadores na informalidade, cujas taxas em 2012 são 46,9% e 70,8%, respectivamente. Entretanto, a redução da informalidade entre os jovens, de 62,1% em 2002 para 46,9% em 2012, foi proporcionalmente superior à queda observada no Brasil (de 55,4% para 43,1%).

Rendimento real da população ocupada 
de 16 anos ou mais sobe para R$ 1.469

De 2002 para 2012, o crescimento do rendimento real da população ocupada de 16 anos ou mais de idade foi de 27,1% (de R$ 1.151 para R$ 1.469); para a população em trabalhos formais esse crescimento foi de 13,6% (de R$ 1.559 para R$ 1.778), enquanto entre os informais o aumento foi de 31,2% (de R$ 751 para R$ 989). Para as mulheres em trabalhos informais, esse ganho real chegou a 38,5%.

Em 2002, o rendimento médio das mulheres ocupadas de 16 anos ou mais de idade era equivalente a 70% do rendimento dos homens. Em 2012, essa relação passou para 73%. A desigualdade é mais elevada nos trabalhos informais, cujo rendimento das mulheres corresponde a 66% do rendimento dos homens.

Os trabalhadores com carteira de trabalho assinada, que em 2012 compunham 39,8% do total dos trabalhadores, apresentaram crescimento real no seu rendimento desde 2002 de 15,0% (de R$ 1.250 para R$ 1.434). Com relação às maiores variações no período, as categorias que tiveram os maiores ganhos reais foram os trabalhadores domésticos com (48,3%, de R$ 547 para R$ 811) e sem carteira assinada (46,6%, de R$ 339 para R$ 497) e os trabalhadores por conta-própria (40,0%, de R$ 941 para R$ 1.318).

População ocupada 
ainda apresenta diferenças significativas por sexo

Há ainda diferenciações na distribuição da população ocupada por sexo, dado que quase 1/4 das mulheres ocupadas em 2012 são trabalhadoras domésticas, trabalhadoras na produção para o próprio consumo, trabalhadoras na construção para o próprio uso e não remuneradas. No caso dos homens nestas categorias, o percentual é de 5,6%.

Em 2012, o acesso de mulheres com 25 anos ou mais de idade aos cargos de direção e gerenciais era menor comparativamente ao dos homens nessa faixa etária: 5,0% e 6,4%, respectivamente. Essa situação não é muito diferente do que se tinha em 2002, cujas proporções de mulheres e homens nesses cargos em relação ao total de ocupados por sexo eram 4,9% e 7,4%, respectivamente.

Em 2012, os homens tinham uma jornada semanal média de 42,1 horas e a das mulheres era de 36,1 horas. No cuidado de afazeres domésticos, as jornadas de homens e mulheres eram 10 e 20,8 horas, respectivamente. Na comparação com 2002, é importante destacar que a jornada masculina com afazeres domésticos praticamente não se alterou, enquanto a feminina teve uma redução de um pouco mais de 2 horas semanais.

Padrão de vida e distribuição de renda: 
transferências governamentais ampliam rendimento das famílias

Em 2012, a PNAD estimou que 6,4% das famílias tinham até 1/4 de salário mínimo per capita de rendimento familiar. Já 14,6% das famílias estavam na faixa de 1/4 a meio salário mínimo per capita. Na PNAD, o rendimento total das famílias é composto de rendimentos de trabalho, aposentadorias e pensões e "outros rendimentos", os quais referem-se a alugueis, juros de aplicações financeiras, bônus, programas de transferência de renda (Bolsa Família, BPC, PETI, etc), entre outros. Pode-se, então, supor que, para essas famílias de mais baixos rendimentos, a origem “outras fontes” refira-se essencialmente aos rendimentos provenientes de transferências governamentais, o que pode explicar o crescimento da participação relativa destes no rendimento total das famílias. Entre 2002 e 2012, o rendimento de outras fontes para o grupo de até 1/4 de salário mínimo passou de 14,3% para 36,3%, enquanto para as famílias com rendimento per capita de mais de 1/4 a 1/2 salário mínimo per capita, a participação das “outras fontes” passou de 6,5% para 12,9%.

Embora o crescimento relativo da renda de outras fontes tenha reduzido relativamente o peso do rendimento do trabalho no rendimento total dessas famílias, não houve redução na taxa de ocupação dos membros familiares em idade de trabalhar, que permaneceu próxima aos 80% no mesmo período. Logo, as outras fontes contribuíram para aumentar a renda média das famílias sem impactar na participação das mesmas no mercado de trabalho.

As desigualdades de rendimento por cor ou raça
persistem

Em termos da distribuição pessoal da renda, com base nos rendimentos individuais das pessoas de 15 anos ou mais de idade captados pelas PNAD (todas as fontes), observa-se que, em 2012, o primeiro décimo da distribuição (10% com menores rendimentos) se apropriava de 1,1% da renda total, enquanto ao último décimo (10% com maiores rendimentos) correspondia a 41,9%. Os 10% com maiores rendimentos tinham um rendimento médio 12,6 vezes superior ao rendimento dos 40% com menores rendimentos (em 2002, essa razão foi de 16,8).

As desigualdades econômicas, aqui medidas pelo rendimento mensal familiar per capita, também se destacam quando se consideram as categorias de cor ou raça da população brasileira. No primeiro décimo (10% “mais pobres”), estão 14,1% da população preta e parda e 5,3% dos brancos. A cada décimo com mais rendimentos, aumenta a participação de brancos e diminui a participação de pretos e pardos. No último décimo (10% “mais ricos”), as posições se invertem (estão 15,9% dos brancos e 4,8% dos pardos). Entre 2002 e 2012 houve uma ligeira melhora na distribuição do rendimento familiar per capita para aquelas pessoas com rendimento do trabalho, mantendo-se, no entanto, o quadro de desigualdade pouco alterado: são 81,6% de brancos no 1% “mais rico” da população, contra apenas 16,2% de pretos e pardos.

60,5% das pessoas tinham ao menos uma restrição de acesso à realização de direitos
em 2002 a proporção era 72,0%

Uma metodologia adotada pela SIS 2013 para medir as condições de vida pela ótica da realização de direitos utiliza, além da pobreza monetária, mais quatro indicadores:

• Acesso restrito à educação: crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos que não frequentavam a escola; pessoas de 15 anos ou mais de idade analfabetas; e pessoas com 16 anos ou mais de idade que não tinham concluído o ensino fundamental. Essa proporção caiu de 38,5% em 2002 para 30,6% em 2012.

• Acesso restrito à qualidade nos espaços dos domicílios: moradores em domicílios cujas paredes não eram de alvenaria ou madeira aparelhada; telhado cujo material predominante não era telha, laje ou madeira aparelhada; e cuja densidade de moradores por dormitório era superior a 2,5 pessoas. Essa proporção caiu de 24,8% em 2002 para 17,0% em 2012.

• Acesso restrito aos serviços básicos de saneamento e iluminação: moradores em domicílios cujo abastecimento de água não era por rede geral; esgotamento sanitário não realizado por rede coletora de esgoto ou fossa séptica; sem coleta de lixo direta ou indireta; ou ainda aqueles sem iluminação elétrica. Essa proporção caiu de 39,9% em 2002 para 31,6% em 2012.

• Acesso restrito à proteção social: moradores em domicílios sem ao menos uma pessoa com 10 anos ou mais de idade em algumas das seguintes condições: contribuinte para instituto de Previdência social em qualquer trabalho; aposentado; pensionista de instituto de Previdência ou beneficiário de programa de transferência de renda. Essa proporção caiu de 23,2% em 2002 para 11,3% em 2012.

Entre 2002 e 2012, a proporção de pessoas que apresentavam ao menos uma das quatro restrições de acesso avaliadas passou de 72,0% para 60,5%.

Saúde: 
Nordeste tem as maiores reduções de taxas de mortalidade entre crianças

Com a meta (Objetivos do Milênio) de atingir um patamar de 17,9 óbitos por mil nascidos vivos, tem se observado no Brasil uma tendência de redução da taxa de mortalidade na infância (até cinco anos), que chegou perto da meta em 2010, com 18,6 óbitos por mil nascidos vivos, bem abaixo de 1990, quando era de 53,7 por mil. A redução foi ainda mais intensa na região Nordeste (de 87,3 para 22,1 por mil nascidos vivos). Mas as diferenças regionais persistem: em 2010, a taxa era de 13,4 no Sudeste, 15,5 no Sul, 25,0 no Norte. A taxa de mortalidade infantil (menores de um ano) também decresceu, passando de 47,1 mortes por mil nascidos vivos para 16,0 por mil. A maior queda também foi no Nordeste, de 75,8 para 19,1 por mil.

Entre 1990 e 2010, também houve queda de 51% da razão de mortalidade materna, que estima o risco de morte de mulheres durante a gravidez, parto ou aborto e puerpério (período até 42 dias após o parto), atribuída a causas relacionadas a essas fases. Em 2010 eram 68,2 mortes por 100 mil nascidos vivos, quase o dobro da meta dos Objetivos do Milênio de 35 óbitos por 100 mil nascidos vivos em 2015, mas bem abaixo do indicador de 1990 (143,2 por mil nascidos vivos).
Jovens pretos e pardos 
são vítimas mais frequentes de morte por agressão

Com relação aos dados de mortalidade por causas externas, as maiores taxas foram entre homens de 20 a 39 anos (184,6 óbitos por 100 mil habitantes). A população preta ou parda apresenta uma taxa de mortalidade por agressões maior que a população branca, com destaque para a população jovem. No grupo de 20 a 24 anos, a taxa de óbitos por 100 mil habitantes é de 30,0 para brancos, contra 82,0 para pretos ou pardos, 2,7 vezes maior que a para brancos em 2010.

Plano de saúde:
43,6% da população de São Paulo tinham; no Acre, 5,6%

Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), estima-se que 24,7% da população brasileira estivesse coberta por plano de saúde em 2012. Essa cobertura estava concentrada regionalmente, com 64% dos planos no Sudeste. Entre os estados, os dois extremos eram São Paulo, onde 43,6% da população tinha plano de saúde, e o Acre, com 5,6%.

Dados do estudo Demografia Médica no Brasil, realizado pelo Conselho Federal de Medicina, mostram que havia 1,95 médico por mil habitantes em 2011, mas também com fortes disparidades regionais, indo de 0,98 na região Norte contra 2,61 na Sudeste. Nas capitais, a razão era de 4,2 por mil. Com dados da pesquisa Assistência Médico Sanitária (2009), o setor privado atende uma proporção menor da população, mas acumula o maior quantitativo de postos de trabalho, principalmente nas regiões Sudeste (58,5%), Sul (64,4%) e Centro-Oeste (54,9%). Os postos de trabalho nos estabelecimentos públicos são maioria nas regiões Norte (62,2%) e Nordeste (54,1%). No início da década, as equipes de Saúde da família cobriam uma população estimada de 17,4%. Em 2012, a cobertura estimada pelo Ministério da Saúde era de 54,8% da população.

Fonte: IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Sala de Imprensa - 29 de novembro de 2013 - Internet: clique aqui.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Papa Francisco e o vento contrário da Cúria

Hans Küng*
Corriere della Sera
27-11-2013


O Papa Francisco dispõe das necessárias qualidades para liderar como capitão o navio da Igreja através das tempestades destes tempos: a confiança dos fiéis lhe servirá de apoio. Ele terá contra ele o vento da Cúria e, muitas vezes, deverá avançar em ziguezague. A Evangelii gaudium é uma etapa importante nesse sentido, mas certamente não é o ponto de chegada.
Hans Küng - teólogo suíço

A reforma da Igreja prossegue: na exortação apostólica Evangelii gaudium, o Papa Francisco reitera não só a sua crítica ao capitalismo e ao domínio do dinheiro, mas também se declara inequivocamente favorável a uma reforma eclesiástica "em todos os níveis". Ele luta concretamente por reformas estruturais, tais como: 
  • a descentralização para as dioceses e paróquias, 
  • uma reforma do ministério de Pedro, 
  • a revalorização dos leigos e contra a degeneração do clericalismo, 
  • por uma eficaz presença feminina na Igreja, especialmente nos órgãos decisionais. 
  • Declara-se também expressamente favorável ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso, especialmente com o judaísmo e o Islã.
Tudo isso encontrará um amplo consenso muito além do âmbito da Igreja Católica. A recusa indiscriminada do aborto e do sacerdócio feminino deverão despertar críticas. Mostram os limites dogmáticos desse papa. Ou talvez Francisco sofre as pressões da Congregação da Doutrina da Fé e do seu prefeito, o arcebispo Gerhard Ludwig Müller?

Este último manifestou a sua própria posição ultraconservadora em uma longa intervenção no L'Osservatore Romano (23 de outubro de 2013), em que reitera a exclusão dos sacramentos dos divorciados em segunda união. Dado o caráter sexual da sua relação, eles vivem presumivelmente no pecado, a menos que convivam "como irmão e irmã" (!). Como bispo de Regensburg, Müller, fonte de inúmeros conflitos com párocos, teólogos, órgãos leigos e o Comitê Central dos Católicos Alemães pelas suas posições ultraclericais, era discutido e mal visto. O fato de que, apesar disso, ele foi nomeado pelo Papa Ratzinger, na qualidade de fiel defensor, além de curador da sua opera omnia [trad.: obras completas], prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, não surpreendeu tanto quanto ter sido, logo, confirmado nesse cargo pelo Papa Francisco.

E os observadores, preocupados, já se perguntam se o Papa Emérito Ratzinger, por meio do arcebispo Müller e de Georg Gänswein, seu secretário, também ele nomeado arcebispo e prefeito da Casa Pontifícia, efetivamente não age como uma espécie de "papa-sombra". Aos olhos de muitos, a situação parece contraditória: por um lado, a reforma da Igreja e, por outro, a atitude com relação aos divorciados em segunda união:
  • O papa gostaria de ir em frente – o "prefeito da fé" freia. 
  • O papa tem em mente a humanidade concreta – o prefeito, principalmente a doutrina tradicional católica. 
  • O papa gostaria de praticar a caridade – o prefeito apela à santidade e à justiça divina. 
  • O papa gostaria que os sínodos episcopais, em outubro de 2014, encontrassem soluções práticas para os problemas da família, também com base em consultas aos leigos – o prefeito se baseia em teses dogmáticas tradicionais para poder manter o status quo, sem caridade. 
  • O papa quer que os sínodos episcopais empreendam novas tentativas de reforma – o prefeito, ex-professor de teologia dogmática, pensa que pode impedi-las logo de saída com a sua tomada de posição.
É preciso se perguntar se o papa, ainda, controla esse seu sentinela da fé [o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, arcebispo  Müller].

É preciso dizer que o próprio Jesus se expressou sem meios termos contra o divórcio. "O que Deus uniu o homem não o separe" (Mt 10, 9). Mas ele fazia isso sobretudo em benefício da mulher, que na sociedade da época era penalizada em nível jurídico e social, e contra o homem, que no mundo judaico era o único que podia apresentar o pedido de divórcio. Assim, a Igreja Católica, na qualidade de sucessor de Jesus, embora em uma situação social completamente mudada, reitera fortemente a indissolubilidade do matrimônio que garante aos cônjuges e aos seus filhos relações estáveis e duradouras.

Os cristãos neotestamentários não consideram a palavra de Jesus com relação ao divórcio como uma lei, mas sim como uma diretriz ética. O fracasso da união matrimonial claramente não corresponde ao desígnio da criação. Mas só a rigidez dogmática não pode admitir que a palavra de Jesus sobre o divórcio já na época apostólica fosse usada com uma certa flexibilidade, isto é, em caso de "luxúria" (cf. Mt 5, 32; 19, 9) e no caso de separação entre um parceiro cristão e um não cristão (cf. 1Cor. 7, 12-15).

É evidente que já na Igreja primitiva se percebia que existem situações em que continuar a convivência se torna irrazoável.

E a credibilidade do Papa Francisco seria imensamente danificada se os reacionários do Vaticano o impedissem de traduzir, logo, em ações as suas palavras e os seus gestos embebidos de caridade e de sentido pastoral. O enorme capital de confiança que o papa acumulou nos primeiros meses do seu pontificado não deve ser desperdiçado pela Cúria.

Inúmeros católicos esperam que o papa examine a discutível posição teológica e pastoral de Müller; que vincule a comissão para a defesa da fé à sua linha teológica pastoral; que as louváveis consultas dos bispos e dos leigos em vista dos próximos sínodos sobre a família levem a decisões dotadas de fundamento bíblico e próximas da realidade.

O Papa Francisco dispõe das necessárias qualidades para liderar como capitão o navio da Igreja através das tempestades destes tempos: a confiança dos fiéis lhe servirá de apoio. Ele terá contra ele o vento da Cúria e, muitas vezes, deverá avançar em ziguezague, mas a esperança é que, confiando-se à bússola do evangelho (não à do direito canônico), ele possa manter a rota na direção da renovação, do ecumenismo e da abertura ao mundo. A Evangelii gaudium é uma etapa importante nesse sentido, mas certamente não é o ponto de chegada.

Tradução do italiano por Moisés Sbardelotto.

* Hans Küng nasceu em 9 de março de 1928 (tem 85 anos), em Sursee, na Suíça. É um teólogo, filósofo, professor de teologia, escritor e sacerdote católico romano. Küng estudou teologia e filosofia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Itália. Foi ordenado sacerdote em 1954. Para saber mais, clique aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quinta, 28 de novembro de 2013 - Internet: clique aqui.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Papa Francisco - A alegria do Evangelho para reformar a Igreja

Gianni Valente
Vatican Insider
25-11-2013
Versão oficial da exortação apostólica Evangelii Gaudium

Poderia ser uma “simples” Exortação Apostólica Pós-Sinodal, como muitas outras. Mas o Papa Francisco escreveu uma que representa um documento chave do seu Pontificado. A rota que sugere os “caminhos para a caminhada da Igreja nos próximos anos”. Quase a profecia de uma renovação profunda proposta a todos os cristãos. Um texto operacional destinado a sacudir todas as instâncias e todas as dinâmicas da Igreja; um convite a emancipar-se de tudo o que entorpece a missão de anunciar o coração palpitante do Evangelho entre os homens de hoje, assim como são.

Em primeiro lugar está a “alegria do Evangelho” [em latim: Evangelii Gaudium], como diz a versão original escrita em espanhol. “A alegria do Evangelho”, lê-se nas primeiras linhas da Exortação, “enche o coração e a vida inteira dos que se encontram com Jesus. Quem se deixa salvar por Ele é liberto do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo sempre nasce e renasce a alegria”. Enquanto “o grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração acomodado e avarento, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada”. Inclusive muitos crentes caem nessa armadilha, “convertem-se em seres ressentidos, queixosos, sem vida”. Ao contrário, “quando alguém dá um pequeno passo ao encontro de Jesus, descobre que Ele já aguardava de braços abertos a sua chegada”.

Experimentar e propor aos outros a salvação alegre que Cristo ressuscitado oferece e os meios dos quais se serve são a vocação de todos os cristãos, além da razão de ser da Igreja. A experiência do encontro pessoal com Cristo é “o manancial da ação evangelizadora. Porque, se alguém acolheu esse amor que lhe devolve o sentido da vida, como pode conter o desejo de comunicação a outros?” Por isso, a evangelização nunca deve ser entendida como “uma heroica tarefa pessoal, já que a obra é, sobretudo, d’Ele, para além do que possamos descobrir e entender. Jesus é ‘o primeiro e o maior evangelizador’. Em qualquer forma de evangelização, o primado é sempre de Deus”.

Se a missão própria dos cristãos é a de anunciar a alegria do Evangelho, o próprio objetivo configura também as formas nas quais esta se manifesta. Todos “têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de anunciá-lo sem excluir ninguém, não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem compartilha uma alegria, assinala um belo horizonte, oferece um banquete desejável. A Igreja não cresce por proselitismo, mas ‘por atração’”. A alegria do Evangelho é missionária que “sempre tem a dinâmica do êxodo e do dom, do sair de si, do caminhar e semear sempre de novo, sempre para mais além”. A comunidade evangelizadora que mergulha “na vida cotidiana dos outros, encurta distâncias, abaixa-se até a humilhação, caso for necessário”. Ela “acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam. Conhece as longas esperas e a paciência apostólica. A evangelização patenteia muita paciência, e evita deter-se a considerar as limitações. Fiel ao dom do Senhor, sabe também ‘frutificar’. A comunidade evangelizadora mantém-se atenta aos frutos, porque o Senhor a quer fecunda. Cuida do trigo e não perde a paz por causa do joio”.

O objetivo declarado da Exortação Apostólica é:

“propor algumas diretrizes que possam encorajar e orientar, em toda a Igreja, 
uma nova etapa evangelizadora, cheia de ardor e dinamismo”. 

E neste percurso que o Papa propõe a todos “não convém que o Papa substitua os episcopados locais no discernimento de todas as problemáticas que sobressaem nos seus territórios. Neste sentido, sinto a necessidade de proceder a uma salutar ‘descentralização’”. Além disso, a “transformação missionária da Igreja” prefigurada por Bergoglio passa por uma renovação eclesial definida como “impostergável”. Trata-se de uma aventura que envolve toda a Igreja em “uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão. Neste momento, não nos serve uma ‘simples administração’. Constituamo-nos em ‘estado permanente de missão’, em todas as regiões da terra”.

O principal critério desta renovação não é uma teologia particular nem nenhuma linha de pensamento eclesial, mas “uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda estrutura eclesial se tornem um canal adequado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação”.

A pastoral ordinária, as paróquias, os movimentos, a hierarquia foram convidados a ter uma atitude de “saída”. O próprio exercício do mistério petrino, segundo o Papa Francisco, está imerso no dinamismo da renovação “em chave missionária”; Bergoglio anuncia também uma “conversão do papado”, para torná-lo “mais fiel ao significado que Jesus Cristo quis dar-lhe e às necessidades atuais da evangelização”. E fala da intenção de descentralizar “alguma autêntica autoridade doutrinal”, posto que “uma excessiva centralização, mais que ajudar, complica a vida da Igreja e sua dinâmica missionária”.
Papa Francisco

Hierarquia das verdades

Ao ter como pontos cardeais a Constituição conciliar Lumen Gentium (sobre a natureza da Igreja), os textos montinianos [cardeal Montini = Papa Paulo VI] Ecclesiam Suam e Evangelii Nuntiandi, além do Documento de Aparecida, a rota que Bergoglio agora traça concentra-se sobre alguns pontos nevrálgicos.

De acordo com o Papa Francisco, é necessário rever a forma como é oferecido o anúncio evangélico. Por exemplo, coloca-se em discussão uma espécie de intervencionismo “midiático-eclesial” que se concentra nas questões morais. Com a seleção interessada dos conteúdos que normalmente os meios de comunicação levam a cabo, “a mensagem que anunciamos corre mais do que nunca o risco de aparecer mutilada e reduzida a alguns de seus aspectos secundários”. Isto acontece quando algumas questões que fazem parte do ensino moral da Igreja são propostas constantemente “fora do contexto que lhes dá sentido”.

Segundo o Papa Francisco, o enfoque sobre a ação moral não pode prescindir da luz própria da vida iluminada pelo Evangelho. Uma pastoral em chave missionária “não está obsessionada pela transmissão desarticulada de uma imensidade de doutrinas que se tentam impor à força de insistir. Quando se assume um objetivo pastoral e um estilo missionário, que chegue realmente a todos sem exceções nem exclusões, o anúncio concentra-se no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário”. Citando Santo Tomás, o Papa repete que no âmbito específico das ações exteriores, a maior das virtudes morais para a inteligência humana iluminada pela fé é a misericórdia. Além disso, a missão de anunciar a todos a alegria do Evangelho manifesta-se dentro dos limites humanos e toma em consideração as condições nas quais vivem os homens (marcada pelo pecado original e pelo fluxo dos condicionamentos que nos rodeiam).

“Há normas ou preceitos eclesiais”, reconhece o Papa, “que podem ter sido muito eficazes noutras épocas, mas já não têm a mesma força educativa como canais de vida”. Santo Tomás de Aquino destacava que os preceitos dados por Cristo e pelos Apóstolos ao povo de Deus “‘são pouquíssimos’”. Além disso, é preciso “acompanhar, com misericórdia e paciência, as possíveis etapas de crescimento das pessoas, que se vão construindo dia após dia. Aos sacerdotes, lembro que o confessionário não deve ser uma câmara de tortura, mas o lugar da misericórdia do Senhor que nos incentiva a praticar o bem possível. Um pequeno passo, no meio de grandes limitações humanas, pode ser mais agradável a Deus do que a vida externamente correta de quem transcorre os seus dias sem enfrentar sérias dificuldades”.

Não à “alfândega sacramental”

A Igreja, explica o Papa Bergoglio, apresenta-se ao mundo como “uma Mãe com os braços abertos”. Uma das amostras desta abertura é deixar abertas, materialmente, as portas das Igrejas e dos lugares de oração. Mas, segundo o Papa, “nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer”. Isto, obviamente também é válido para o batismo. Mas também para a eucaristia, acrescenta o Papa: “não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos. Estas convicções têm também consequências pastorais, que somos chamados a considerar com prudência e audácia. Muitas vezes agimos como controladores da graça e não como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa”.

As tentações dos “agentes de pastoral”

Em seu apelo à conversão missionária da Igreja, o Papa Francisco expõe uma detalhada sintomatologia da autorreferencialidade na qual é fácil tomar direções que inclusive caracterizaram momentos recentes da Igreja, sob a influência da “cultura globalizada atual”. Vai-se desde a sensação de derrota que se instala em pessoas consagradas e leigas, uma espécie de “pessimismo lamuriante” indicado por Bergoglio, que utiliza as palavras de João XXIII sobre os profetas de desgraças, aqueles que “não veem senão prevaricações e ruínas”. A raiz dos piores males que afligem a Igreja é identificada por Francisco com “o mundanismo espiritual, que se esconde por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja, é buscar, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal”.

Bergoglio relaciona com esta atitude as novas expressões de um gnosticismo (que nunca desapareceu) ou do neopelagianismo “de quem, no fundo, só confia nas suas próprias forças e se sente superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico próprio do passado”. As palavras do Papa criticam duramente esses ambientes eclesiais nos quais “alimenta-se a vanglória de quantos se contentam com ter algum poder e preferem ser generais de exércitos derrotados antes que simples soldados dum batalhão que continua lutando”, sonhando “com planos apostólicos expansionistas, meticulosos e bem traçados, típicos de generais derrotados”. Um mundanismo asfixiante que se esconde sob “roupagens espirituais ou pastorais”, e que pode ser curada somente “saboreando o ar puro do Espírito Santo”.

Bergoglio cita o clericalismo que penaliza os leigos e que os mantém “à margem das decisões” ou que os absorve em “tarefas intraeclesiais, sem um compromisso real com a aplicação do Evangelho na transformação da sociedade”. E reconhece que as reivindicações dos direitos das mulheres “colocam à Igreja questões profundas que a desafiam e não se podem iludir superficialmente”. O sacerdócio reservado aos varões “é uma questão que não se põe em discussão, mas pode tornar-se particularmente controversa se se identifica demasiado a potestade sacramental com o poder”.

Uma Igreja plural

Diante destes cenários, Bergoglio insiste em que a missão evangelizadora não é uma questão de especialistas ou de “roupas de elite”. Quem anuncia a alegria do Evangelho deve ser todo o Povo Santo de Deus, “santo por esta unção que o torna infalível in credendo”. Um povo “com muitos rostos” reunido pela graça de Deus e não segundo homologações culturais. O anúncio cristão – reconhece o Papa Francisco – não se identifica com nenhuma cultura, nem sequer com as que “estiveram estreitamente ligadas à pregação do Evangelho e ao desenvolvimento de um pensamento cristão”. Por isso, “não podemos pretender que todos os povos dos vários continentes, ao exprimir a fé cristã, imitem as modalidades adotadas pelos povos europeus num determinado momento da história, porque a fé não se pode confinar dentro dos limites de compreensão e expressão de uma cultura particular”.

“Emergência da homilia”

Quanto às formas primárias mediante as quais se transmite o anúncio evangélico, o Papa Francisco acentua o valor da vida da devoção popular, com a qual o povo “se evangeliza continuamente a si mesmo”, expressando o seu afeto por Jesus, pela Virgem e pelos santos. Depois, o Bispo de Roma, ao assinalar um tema delicado, dedica 23 parágrafos (em 18 páginas) a um dos instrumentos ordinários da pregação, o das homilias durante a missa. Segundo Francisco, a homilia “deve ser breve e evitar que se pareça com uma conferência ou uma aula”. A pregação “puramente moralista ou doutrinadora e também a que se transforma numa aula de exegese reduzem esta comunicação entre os corações que se verifica na homilia e que deve ter um caráter quase sacramental”.

Na homilia, assim como na catequese – sugere Bergoglio –, sempre se deve anunciar ou indicar o núcleo central do anúncio cristão: “o primeiro anúncio ou querigma deve ocupar o centro da atividade evangelizadora e de toda a tentativa de renovação eclesial”. Porque é “prévio à obrigação moral e religiosa”, e é repetido como um tesouro inesgotável que se descobre constantemente.

Fé e compromisso social

De acordo com o Papa Francisco, a missão evangelizadora se desfigura caso não se apreciar ou então se enfraquece o “laço indissolúvel entre a recepção do anúncio salvífico e um efetivo amor fraterno”. Palavras que anulam as falsas dialéticas daqueles que, nos últimos anos, insistiram no risco da “redução” da missão do anúncio à mera atividade de promoção social. A opção preferencial pelos pobres reforça-se sem meias palavras como um traço inocultável do amor de Cristo pelos homens, como indica o Evangelho. Não escutar o grito do pobre quer dizer colocar-se “fora da vontade do Pai e do seu projeto”. Trata-se de uma “preferência divina” que “tem consequências na vida de fé de todos os cristãos, chamados a ter “os mesmos sentimentos de Jesus Cristo”.

Francisco acrescenta, além disso, na Exortação Apostólica julgamentos não genéricos sobre a “idolatria” da economia especulativa e sobre as dinâmicas que condicionam o desenvolvimento e produzem a pobreza. Convida para não confiar nas “forças cegas e na mão invisível do mercado”, na hora de tomar decisões econômicas como “remédios”, que, pelo contrário, “são um novo veneno, quando se pretende aumentar a rentabilidade reduzindo o mercado de trabalho e criando assim novos excluídos”. A opção evangélica pelos pobres está afastada, se poderia dizer “geneticamente”, de “qualquer ideologia, de qualquer tentativa de utilizar os pobres a serviço de interesses pessoais ou políticos”. Literalmente, entre os pobres estão todos os indefesos, os excluídos e os fracos dos quais a Igreja deve se ocupar com predileção. Entre os citados anteriormente o Papa Francisco inclui os que ainda não nasceram, “que são os mais indefesos e inocentes de todos”. Sua defesa está relacionada com a defesa de qualquer direito humano que reconhece cada um dos seres humanos como sagrado e inviolável. “Não é opção progressista pretender resolver os problemas, eliminando uma vida humana”. Mas, ao mesmo tempo, o Papa reconhece que “é verdade também que temos feito pouco para acompanhar adequadamente as mulheres que estão em situações muito duras, nas quais o aborto lhes aparece como uma solução rápida para as suas profundas angústias”.

A vertigem da graça

Depois de ter definido o imenso campo de trabalho da “conversão missionária” à qual a Igreja foi chamada, Francisco, na parte final do documento, que termina com uma oração a Maria, retorna sobre a única fonte que pode propiciar e alimentar essa tão desejada saída da autorreferencialidade. Uma aventura por terras desconhecidas, que acarreta uma certa “vertigem”, pois depende inteiramente do agir de Cristo Redentor e de seu Espírito. Na história da Igreja, desde a época de Jesus, é o Espírito que “faz os Apóstolos saírem de si mesmos e transforma-os em anunciadores das maravilhas de Deus”. O verdadeiro missionário, “que não deixa jamais de ser discípulo, sabe que Jesus caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele. Sente Jesus vivo com ele, no meio da tarefa missionária”. A missão não é “um negócio nem um projeto empresarial, nem mesmo uma organização humanitária, não é um espetáculo para que se possa contar quantas pessoas assistiram devido à nossa propaganda”.

Precisamente, depender inteiramente da Igreja “pode causar-nos alguma vertigem: é como mergulhar num mar onde não sabemos o que vamos encontrar. Eu mesmo o experimentei tantas vezes. Mas não há maior liberdade do que a de se deixar conduzir pelo Espírito, renunciando a calcular e controlar tudo e permitindo que Ele nos ilumine, guie, dirija e impulsione para onde Ele quiser”.


A íntegra do documento, em português, pode ser lida aqui.

A tradução é de André Langer.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quarta-feira, 27 de novembro de 2013 - Internet: clique aqui. Original em espanhol: clique aqui.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

ESCANDALOSO O CUSTO DOS ESTÁDIOS PARA A COPA!!!

Custo das 12 arenas erguidas para a Copa ficará acima do previsto,
aponta balanço

Edna Simão
Valor Econômico
26-11-2013
Estádio "Mané Garrincha" (Brasília) está pronto, mas ainda há muitas obras na cidade para 2014
(Foto: Brito Júnior / Divulgação)

Faltando quase sete meses para a Copa do Mundo de 2014, o Ministério do Esporte divulgou balanço que mostra que o custo dos 12 estádios construídos para o torneio ficará acima do previsto no fim de 2012, mas afirma que todas as arenas estarão prontas no mês que vem. As obras de mobilidade urbana, por outro lado, ainda patinam.

Ontem, o ministério apresentou o quinto balanço das ações do governo para a Copa, referente a setembro. O último levantamento havia sido divulgado em dezembro de 2012, com base em dados de novembro.

Segundo o levantamento, o investimento nos estádios nas 12 cidades-sede da Copa deve chegar a R$ 8,005 bilhões, sendo R$ 3,882 bilhões em financiamentos (esse total não inclui os gastos com o estádio de Curitiba). Esse valor é quase R$ 1 bilhão maior do que o divulgado no fim de 2012, quando se estimava um gasto de R$ 7,107 bilhões.

O custo da arena de Brasília foi bem maior que o projetado. A previsão era de uma despesa de R$ 1,015 bilhão e, em setembro, esse número saltou para R$ 1,403 bilhão. Também tiveram um investimento superior ao previsto no levantamento anterior os estádios do Rio de Janeiro, Manaus, Cuiabá, Salvador e Recife.

Do total de 45 empreendimentos de mobilidade urbana para as 12 cidades-sede da Copa do Mundo, apenas três obras estavam concluídas até setembro. Além disso, muitos dos empreendimentos deixaram de estar na lista da matriz de responsabilidade da Copa, que tem condições especiais de financiamento.

De acordo com documento do Ministério do Turismo, 11 projetos foram transferidos para a carteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em muitos dos casos, a retirada da matriz de responsabilidade foi solicitada pelas prefeituras, que não conseguiam executar os projetos. As obras de mobilidade urbana, que deveriam ser o legado da Copa, envolvem investimentos de cerca de R$ 8 bilhões. No levantamento, a previsão é que os empreendimentos fiquem prontos até maio de 2014.

O balanço aponta ainda que os hotéis de seis Estados (Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte) contrataram R$ 1,034 bilhão em linha do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ProCopa-Turismo, que tem a finalidade de financiar a construção, reforma, ampliação e modernização de hotéis, para aumentar a capacidade e qualidade de hospedagem no Brasil. A maior parte desse valor, R$ 905,8 milhões, foi solicitada pelo Rio.

O balanço prevê investimento total da ordem de R$ 25,6 bilhões na Copa: 
  • valor destinado a estádios (R$ 8 bilhões), 
  • mobilidade urbana (R$ 8 bilhões), 
  • aeroportos (R$ 6,3 bilhões), 
  • portos (R$ 600 milhões), 
  • segurança (R$ 1,9 bilhão), 
  • telecomunicações (R$ 400 milhões), 
  • infraestrutura de turismo (R$ 200 milhões) e 
  • instalações complementares (R$ 200 milhões).
O Ministério do Esporte divulgou ainda um balanço sobre o impacto da Copa das Confederações, realizado no meio do ano, para a economia. Por exemplo, o setor de turismo movimentou R$ 740 milhões. O gasto médio do turista estrangeiro foi de R$ 4,8 mil, e do brasileiro, R$ 1 mil.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Terça-feira, 26 de novembro de 2013 - Internet: Clique aqui.